html> Revista Zingu! - arquivo. Novo endereço: www.revistazingu.net
SUBGÊNEROS OBSCUROS...

Apocalypse Movies - parte II

Por Sergio Andrade

Se você estiver lendo este artigo, significa que o mundo (ainda) não acabou. Vamos rapidamente, então, para a segunda e última parte do subgênero filmes apocalípticos:

A Tragédia do Fim do Mundo (La Fin Du Monde) – Abel Gance (1931) – Um dos primeiros filmes apocalípticos, se não for mesmo o primeiro, esta produção francesa dirigida pelo grande Gance. Aqui ele contrapõe fé e razão na história de dois irmãos: um ator, que no momento está interpretando Jesus Cristo numa peça e passa a ter um comportamento místico após levar uma pedrada na cabeça; e o outro astrônomo, que descobre que um cometa dirige-se em direção à Terra. O mundo entra em pânico com a notícia, fazendo com que as pessoas ou procurem consolo divino, ou participem de uma última e gigantesca orgia. Vendo em retrospecto, percebe-se que o filme americano “When Worlds Collide” (que comentei na primeira parte deste artigo, no mês passado) tomou de empréstimo várias situações deste. Até o mês que acontecerá a colisão é o mesmo, mudando apenas o dia (aqui, 04 de agosto).

A Mais Cruel Batalha (No Blade of Grass) – Cornel Wilde (1970) - No início dos anos 70 os níveis de poluição ambiental global fugiram totalmente do controle, provocando uma epidemia de fome que começou na Ásia e na África, logo se espalhando por todos continentes. Na Inglaterra o governo decide decretar estado de quarentena. Um renomado biólogo é avisado com antecedência e, temendo o pior, resolve fugir de Londres com a família, dirigindo-se para a Escócia. Como ele previa, o caos se instala por toda Grã-Bretanha. Assim como Ray Milland, Wilde era um galã dos anos 40 que passou para trás das câmeras, tendo realizado alguns bons filmes. Não é bem o caso deste, que copia várias seqüências de “Pânico no Ano Zero”, justamente do Milland (ver parte 1 do artigo). Melhora bastante em sua meia hora final, quando o grupo de sobreviventes enfrenta um bando de motoqueiros vikings e quando irmão luta contra irmão pela posse de uma fazenda.

Colossus 1980 (The Forbin Project) – Joseph Sargent (1970) – O presidente dos EUA anuncia, em rede nacional, o início de operação de um supercomputador que gerenciará, de modo independente, todo setor de defesa do país, o que inclui seu arsenal de armas nucleares. Mas assim que é ligado, Colossus identifica a existência de outro sistema praticamente idêntico, The Guardian, desenvolvido pelos russos. Os dois sistemas passam a se comunicar, demonstrando inclusive ter uma inteligência e a intenção de dominar o mundo. No final, quando Colossus exige submissão total do cientista responsável pelo projeto, a resposta deste sugere que uma longa batalha entre homens e máquinas está para começar.

Malevil – Christian de Chalonge (1981) – Numa bela região rural da França a vida segue tranqüila, no seu ritmo próprio. Um fazendeiro desce até a adega com mais algumas pessoas para tratar de negócios quando sentem tudo balançar à sua volta. Ao saírem dali descobrem que toda a região foi destruída por uma bomba atômica, que transformou tudo em ruínas e cinzas. A primeira parte deste filme impressiona pelo excelente trabalho de cenografia e fotografia. Na segunda parte, quando eles enfrentam um grupo rival comandado por um fanático religioso, a qualidade cai muito.

Kaze no Tani no Naushika aka Nausicaä of the Valley of the Wind – Hayao Miyazaki (1984) - O filme passa-se num futuro distante, séculos depois da Terra ter sido devastada por uma guerra conhecida como “Os Sete Dias de Fogo”. No Vale do Vento vive uma pequena comunidade, governada pelo Rei Jil. Sua filha e herdeira do trono, a princesa Nausicaä, gosta de sobrevoar em sua asa-delta uma floresta tóxica habitada por insetos gigantes, com os quais ela estranhamente consegue conviver em paz e tenta compreender o mistério da floresta. Tudo ia bem até que o vale é atacado por um povo guerreiro que faz Nausicaä prisioneira, mas ela escapa e tem início uma batalha que pode significar a destruição definitiva do planeta. De onde menos se espera, da floresta tóxica e seus estranhos habitantes, é que pode vir a salvação da raça humana. Mais uma obra-prima do mestre da animação, utilizando referências mitológicas (a heroína não tem esse nome por acaso).

O-Bi, O-Ba - Koniec Cywilizacji aka O-Bi, O-Ba - The End of Civilization - Piotr Szulkin (1985) - A Polônia foi varrida do mapa na Terceira Guerra Mundial (ainda estávamos no período da Guerra Fria). Os sobreviventes se amontoam num enorme abrigo nuclear subterrâneo, divididos em castas. Entre eles corre a lenda de que um navio, conhecido como a Arca, um dia virá resgatá-los. Um funcionário público (eles ainda existirão?) desconfia que há algo de errado com a estrutura do abrigo e passa a investigar, mas encontra todo tipo de obstáculo no caminho, vendo-se envolvido numa trama kafkiana.

Kairo – Kiyoshi Kurosawa (2001) – Uma onda de suicídios assola a cidade de Tóquio. Um estudante de informática descobre que o motivo disso é que os mortos encontraram um modo de retornar à vida através da Internet, e estão se propagando feito vírus de computador, infectando não as máquinas, mas as pessoas, e atingindo todo o planeta. Será que o fato das pessoas, apesar de viverem num mundo totalmente conectado, estarem se sentindo cada vez mais solitárias pode levar ao apocalipse? A julgar pelo final, mostrando uma Tóquio abandonada e em chamas, o diretor Kurosawa acredita que sim.

O Que Você Faria? (El Método Grönholm) – Marcelo Piñeyro (2005) – A rigor este filme, em que sete executivos trancados numa sala disputam uma vaga numa grande empresa sendo submetidos a um método de seleção chamado “Grönholm” e utilizam de todos os truques baixos possíveis para ganhar o cargo, enquanto nas ruas acontece um grande protesto contra a globalização, não poderia entrar numa relação de filmes apocalípticos. Mas basta reparar na cena final, mostrando uma pessoa andando por uma terra arrasada, para nos darmos conta de que a crise econômica pode ser o pior dos cataclismos.

Tooth and Nail – Mark Young (2007) - Produção “Classe C”, mas com algumas coisas interessantes. O apocalipse desta vez se deu pelo fim das reservas de petróleo, que lançou o mundo na anarquia. Um grupo abrigado num hospital abandonado tenta viver segundo as antigas regras da sociedade. Mas com a chegada de um grupo de assassinos canibais irá começar a luta pela sobrevivência. E nessa hora quem vai bater e arrebentar serão as mulheres.

Doomsday – Neil Marshall (2008) - Para evitar que um vírus altamente letal surgido na Escócia, tendo provocado a morte de milhares de pessoas em poucos dias e está se espalhando rapidamente, entre na Inglaterra o governo constrói uma muralha em torno do país, isolando-o e entregando a população à própria sorte. Uma mãe desesperada consegue fazer com que soldados num helicóptero levem sua filha pequena para o outro lado da fronteira. 27 anos depois a garotinha se transformou numa experiente agente de um grupo especial da polícia (a muito interessante Rhona Mitra) e, com a volta do vírus agora na Inglaterra, é enviada numa missão especial na Escócia para tentar encontrar uma cura. Os sobreviventes se dividem em dois grupos: de um lado neo-punks canibais (!) que vivem na cidade; e de outro, no campo, pessoas que se vestem e se comportam como se vivessem na Idade Média (!!), nenhum dos dois muitos dispostos a cooperar. Caberá a Major Sinclair enfrentar esses grupos, além da canalhice do governo inglês, para cumprir sua missão.

No Brasil, que não tem grande tradição no cinema de gênero, tivemos alguns poucos filmes que trataram do tema. De momento lembramos apenas de “Abrigo Nuclear”, do baiano Roberto Pires, que também dirigiu “Césio 137, Pesadelo em Goiânia”, sobre o pior acidente nuclear do país; “Parada 88 – O Limite de Alerta”, de José de Anchieta, sobre poluição ambiental; “Brasil, Ano 2000”, de Walter Lima Jr. e “Quem é Beta?”, de Nelson Pereira dos Santos, que eram mais alegorias contra a ditadura militar. Do filme da Sandy e Junior é bom nem lembrar...

Para encerrar, fiz uma relação (que não se pretende completa) de outros filmes apocalípticos:
O Dilúvio (The Deluge) – Felix Feist (1933)
Daqui a Cem Anos (Things to Come) – William Cameron Menzies (1936)
Os Últimos Cinco (Five) – Arch Oboler (1951)
Guerra dos Mundos (War of the Worlds) – Byron Haskin (1953)
The Day the World Ended – Roger Corman (1956)
Vampiros de Almas (Invasion of the Body Snatchers) – Don Siegel (1956) – E suas refilmagens de 1978, 1995 e 2007.
A Hora Final (On the Beach) – Stanley Kramer (1959)
A Máquina do Tempo (The Time Machine) – George Pal (1960)
La Jetée – Chris Marker (1962)
Os Pássaros (The Birds) – Alfred Hitchcock (1963)
Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb) – Stanley Kubrick (1964)
Limite de Segurança (Fail-Safe) – Sidney Lumet (1964)
Mortos que Matam (Last Man on Earth) – Sidney Salkow e Ubaldo Ragona (1964)
Uma Fenda no Mundo (Crack in the World) – Andrew Marton (1965)
Konec srpna v Hotelu Ozon aka The End of August at the Hotel Ozone – Jan Schmidt (1966)
A tetralogia (ou quintologia?) dos Mortos Vivos, de George A. Romero
A série de filmes sobre o “Planeta dos Macacos”
A Última Esperança da Terra (The Omega Man) – Boris Sagal (1971)
Corrida Silenciosa (Silent Running) – Douglas Trumbull (1972)
No Mundo de 2020 (Soylent Green) – Richard Fleischer (1973)
A Boy and His Dog – L. Q. Jones (1975)
Fuga no Século 23 (Logan's Run) – Michael Anderson (1976)
Herança Nuclear (Damnation Alley) – Jack Smith (1977)
Trilogia “Mad Max” (1979)
Meteoro (Meteor) – Ronald Neame (1979)
Fukkatsu no Hi aka Vírus – Kinji Fukasaku (1980)
Fuga de Nova York (Escape from New York) – John Carpenter (1981)
Os Novos Bárbaros (I Nuovi Barbari) – Enzo G. Castellari (1982)
Testamento (Testament) – Lynne Littman (1983)
Le Dernier Combat – Luc Besson (1983)
Trilogia “O Exterminador do Futuro”
The Quiet Earth – Geoff Murphy (1985)
Miracle Mile – Steve De Jarnatt (1988)
Hardware – Richard Stanley (1990)
Os Doze Macacos (Twelve Monkeys) – Terry Gillian (1995)
Waterworld – Kevin Reynolds (1995)
Independence Day – Roland Emmerich (1996)
O Mensageiro (The Postman) – Kevin Costner (1997)
Armageddon – Michael Bay (1998)
Impacto Profundo (Deep Impact) – Mimi Leder (1998)
Last Night – Don McKellar (1998)
Trilogia “The Matrix” (1999)
Ever Since the World Ended – Calum Grant e Joshua Atesh Litle (2001)
Trilogia “Resident Evil” (2002)
Ritana – Takashi Yamazaki (2002)
Extermínio (28 Days Later) – Danny Boyle (2002)
O Núcleo – Missão ao Centro da Terra (The Core) – Jon Amiel (2003)
Le Temps de Loup – Michael Haneke (2003)
O Dia Depois de Amanhã (The Day After Tomorrow) – Roland Emmerich (2004)
Shaun of the Dead – Edgar Wright (2004)
O Som do Trovão (A Sound of Thunder) – Peter Hyams (2005)
Guerra dos Mundos (War of the Worlds) – Steven Spielberg (2005)
Filhos da Esperança (Children of Men) – Alfonso Cuarón (2006)
Nihon Chinbotsu aka Sinking of Japan – Shinji Higuchi (2006)
Alerta Solar (Sunshine) – Danny Boyle (2007)
Extermínio 2 (28 Weeks Later) – Juan Carlos Fresnadillo (2007)
Mulberry Street – Jim Mickle (2007)
Eu Sou a Lenda (I Am Legend) – Francis Lawrence (2007)
Planeta Terror (Planet Terror) – Robert Rodriguez (2007)
O Nevoeiro (The Mist) – Frank Darabont (2007)
Cloverfield – Matt Reeves (2008)
Fim dos Tempos (The Happening) – M. Night Shyamalan (2008)
Wall-E – Andrew Stanton (2008)
Missão Babilônia (Babylon A.D.) – Mathieu Kassovitz (2008)
Ensaio Sobre a Cegueira – Fernando Meirelles (2008)

Alguns desses filmes são bem ruinzinhos, mas eles poderão pelo menos servir como guia de sobrevivência para quando finalmente chegar o Dia do Juízo Final!




<< Capa