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Dossiê Geny Prado

A Rainha do Cinema Caipira

Por Matheus Trunk

Dentro do cinema brasileiro, muitos atores se dedicaram a um mesmo personagem durante muitos anos e décadas. Para os mais veteranos, Wilson Grey será para sempre o eterno malandro carioca. Durante muitos anos, em filmes policiais rodados no Rio de Janeiro, a presença de Milton Morais e Jorge Dória era bastante comum. Na Boca paulista, existem casos e mais casos de atores que se eternizaram em sempre fazer um mesmo tipo (Genésio Carvalho, Carlos Bucka, Marthus Mathias, Zé da Ilha, entre outros).

Nos filmes do comediante Mazzaropi, a presença da atriz Geny Prado era praticamente obrigatória. Ela sabia compor a mulher e mãe caipira como ninguém. Ainda hoje, passados tantos anos, sua presença continua na mente de milhares de brasileiros que acompanharam a carreira do eterno Jeca.

Geny Almeida Prado nasceu em São Manuel, município do interior de São Paulo, em 14 de julho de 1918. Iniciou sua carreira artística como atriz no rádio paulista nos anos 40. Naquele tempo, as novelas irradiadas pelo veículo tinham grande aceitação, principalmente em metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo. Geny passou por emissoras como a Cruzeiro do Sul, Excelsior e São Paulo. Também teve presença marcante nos casts das chamadas Emissoras Associadas, que tinham grande audiência naqueles anos.

Em 1946, o ator Amácio Mazzaropi, a convida para atuar no programa Rancho Alegre na rádio Tupi. A nova atração, relativamente simples, com Mazza contando piadas e causos caipiras, obtém grande audiência. Cassiano Gabus Mendes era o responsável pela produção do programa. O sucesso é tamanho que Rancho Alegre acaba se transferindo para a televisão em 1951.

O início da parceria de Geny com o comediante no cinema se inicia com Chofer de Praça (1959) de Milton Amaral, primeira produção da recém-criada PAM Filmes. Nesta película, a atriz já chama a atenção dos espectadores fazendo pela primeira vez a esposa do Jeca.

Com o sucesso comercial de fitas como Jeca Tatu, Casinha Pequenina e No Paraíso das Solteironas, Geny Prado acaba se tornando a rainha do cinema caipira. A presença dela nas produções de Mazzaropi se torna essencial. O desempenho da atriz como a mulher do “Jeca Tatu” eram tão perfeitos, que diversos espectadores pensavam que os dois eram casados na vida real.

Segundo seus contemporâneos, Geny era uma pessoa bastante recatada e concentrada no trabalho. Dava poucos palpites no set de filmagem e seguia atentamente as orientações do realizador e equipe. Eram também raros seus momentos de discussões com o produtor e ator Mazzaropi.

Com a morte dele, no início dos anos 80, a atriz seu viu praticamente sem outras oportunidades de trabalho no cinema. “Convivi com ele durante todo este tempo. Éramos como uma família, devo minha carreira a ele. Nos seus filmes, gostava de improvisar, porque ele era engraçado mesmo na espontaneidade, um artista nato”, afirmou ela em entrevista para o jornal O Estado de São Paulo em 14 de junho de 1981, quando Mazza faleceu. Marvada Carne (1985) de André Klotzel, espécie de homenagem ao eterno Jeca Tatu foi a última oportunidade da atriz no cinema. Geny Prado morreu em 17 de abril de 1998, em São Paulo, completamente afastada da carreira artística, bastante doente e pobre.

Em 2006, o longa-metragem Tapete Vermelho de Luiz Alberto Pereira voltou a abordar o universo rural do comediante Mazzaropi. No filme, o interiorano Quinzinho (Matheus Nachtergaele) quer levar seu filho Neco à cidade grande para assistir a uma fita de Mazza. A atriz Gorete Milagres faz Zulmira, a relutante e teimosa esposa de Quinzinho. O espectador mais atencioso percebe que na personagem de Gorete estão os mesmos olhares, cacoetes e até diálogos que Geny Prado desempenhou em diversos de seus trabalhos. Portanto, sempre que se falar sobre as mulheres do campo e do Brasil rural no cinema nacional, Geny será sempre uma referência.



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