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Dossiê Geny Prado

Casinha Pequenina
Direção: Glauco Mirko Laurelli
Brasil, 1962.

Por Matheus Trunk

Amácio Mazzaropi é talvez o mais conhecido personagem da história do cinema tupiniquim. Sua popularidade ultrapassou anos e décadas, e ainda hoje seu nome é sinônimo de filmes comerciais bem acabados. Nos anos 60, o humorista chegou a ser conhecido como o “rei do cinema brasileiro”, sendo para o público mais humilde uma espécie de Pelé das telas. Dentro de sua vasta filmografia, Casinha Pequenina é uma película bastante especial. Com eficiente direção artesanal de Glauco Mirko Laurelli, este é um dos melhores trabalhos do comediante.

No Brasil imperial, o fazendeiro escravista Coronel Pedro (Roberto Duval) mantém uma vida de cheia de crimes e assassinatos. Porém, sua mulher e filhos nada sabem de sua longa ficha criminal. Seus problemas se iniciam quando é chantageado por Carlota (Marly Marley). Ela testemunhou os capangas do rico proprietário matarem outro homem. Carlota ameaça contar tudo para a polícia se ele não arrumar um bom casamento para a filha dela, Inês.

Para se livrar da testemunha, o fazendeiro envolve um casal de colonos, Chico e Fifica (Mazza e Geny Prado) num plano. Coronel Pedro apresenta o filho deles, Nestor (Tarcísio Meira) como um homem rico da região para Inês. O jovem acaba se apaixonando pela moça. Mesmo assim, os pais do rapaz desconfiam bastante da nova namorada dele. Se estabelece um grande clima de conflito na família.

Pode-se pensar Casinha Pequeninha como o maior desempenho de Geny Prado em toda carreira dela no cinema nacional. Nas dezessete fitas que ela fez com o amigo e eterno parceiro de trabalhos, poucas vezes a rainha do cinema caipira teve um personagem com tanta personalidade e espaço como Fifica.

Chico, trabalhador rural de bom coração, casado e pai de família, é um típico personagem de Mazzaropi. Apesar do lado cômico e gozador, ele sempre procura proteger os mais humildes, muitas vezes roubando mantimentos da fazenda para dar aos escravos. Esse é um traço da grande maioria dos filmes de Mazza: o proprietário, dono das fazendas sempre é visto como um explorador dos mais humildes. O Jeca Tatu vai na contramão, sendo uma espécie de líder dos colonos.

Apesar desse lado revolucionário, nas películas da PAM Filmes sempre são ressaltadas a importância da família e da Igreja Católica. Traços que levavam os espectadores mais pobres a se identificar em cheio com as produções do eterno “rei do cinema brasileiro”.

Passados mais de 25 anos de sua morte, Amácio Mazzaropi faz grande falta ao cinema nacional. Seus filmes eram a cara de um Brasil interiorano e pré-industrial, que quase não aparece mais em nossas telas.

Algumas seqüências inesquecíveis de Geny Prado no filme:

Para entendermos melhor a importância da rainha do cinema caipira em Casinha Pequenina, Zingu! reuniu aqui algumas das melhores seqüências da atriz no filme.

Seqüência 1.
Uma das maiores cenas da dupla Geny-Mazza em toda história do cinema nacional. Fifica (Geny Prado) reclama para Chico (Mazzaropi) da mudança da família para a fazenda.

Fifica- Chico, eu estou preocupada. A gente devia ficar por aqui. Depois eu sei que eu não vou me acostumar na fazenda.
Chico- Mas esse negócio de acostumar é bobagem. Quando nós casamos, você lembra né? Nós só se vimos na hora do altar. Nossos pais negociaram e no entanto...você viu? Acostumemos.
Fifica- Acostumemos. Mas é diferente, Chico. Foi aqui que nós criamos nossos filhos, aqui que nós mora desde que casamos.
Chico- Negócio de criar filhos é besteira. Nós criamos aqui, mas tem outros que criaram pra lá. Tem outros que nem criou, deu pros outros criar.
Fifica- Ah! Mas meu coração ta dizendo que a gente não deve ir pra lá, Chico. A gente tem que ficar aqui.
Chico- Coração dizendo? Eu nunca vi coração falar! Nunca vi.
Fifica- Você tá entendendo o que eu quero dizer. Não tá?
Chico- Estou entendendo mulher. Mas o seu Pedro foi bão até demais com nós.
Fifica- Bão né?
Chico- Ele falou que a gente nem precisa levar os nossos trens. Que pode usar todos os trens da outra casa, perto da lagoa.
Fifica- Mas eu não estou com vontade de ir pra lá Chico!
Chico- Escuta? Eu estou com calma.
Fifica- E daí?
Chico- Não estou com calma?
Fifica- Tá e daí?
Chico- Nós não casemo?
Fifica- Casemo.
Chico- Não passeamos papel? Não selemos?
Fifica- Passemo papel e selemo!
Chico- Quem é que manda em você estropício?
Fifica- Você uai!
Chico- Então, cala a boca com banho maria. Vai, vamos pra frente. Põe essa trouxa na cabeça e desce morro abaixo.

Seqüência 2
Fifica (Geny Prado), pega Chico (Mazzaropi) conversando reservadamente com Carlota (Marly Marley). Ela demonstra ao marido todo seu ciúmes com a situação.

Fifica- Chico, em vez de prozear, porque não vem aqui me ajudar?
Chico- Por que você está brava?
Fifica- O que está acontecendo Chico?
Chico- Acontecendo nada. É a irmã do patrão.
Fifica- Por que ela anda atrás de você?
Chico- Que atrás de mim? Ela pediu pra eu mostrar as vacas pra ela.
Carlota- Seu Chico, vamos?
Chico- Já vou dona!
Fifica- Vai lá ver a vaca vai. Mas não pensa que você vai sozinho porque eu vou inspecionar tudo.
Chico- Mas que bobagem mulher! Você pensa que uma dona dessas vai olhar pra mim. Ela tem olhos da cor azul, que não vai se misturar com os meus.
Fifica- É...não sei não.
Chico- Deixa de ciúmes boba!

Seqüência 3
Fifica (Geny Prado) discute com seu filho Nestor (Tarcísio Meira) sobre o namoro dele com Inês.

Fifica- Depois, nós nem conhecemos bem a moça...
Nestor- Olha aqui, é bom saber que eu estou namorando ela e não é pra se intrometer na minha vida!
Fifica- E também não te esqueça que você tem pai e mão pra te olhar.
Nestor- É, eu tenho pai e mãe. Mas é pra envergonhar a gente!




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