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Especial Marabá

Marabá: O Retorno do Último Moicano

Por Júlio Henrique Silvestre Simões, especialmente para a Zingu!

Pode tirar o smoking ou o vestido longo do armário e mandá-los à lavanderia: o veterano Cine Marabá está voltando à ativa. É verdade que ainda não há data prevista para o retorno da sala de 63 anos (a reestréia já foi adiada duas vezes!), mas o fato é que acontecerá. Afinal, basta passar pela Avenida Ipiranga, lá perto do badalado Bar Brahma, olhar por entre as frestas das divisórias que revestem o imponente prédio para constatar que ali existe uma obra – e que ela está perto do fim.

Talvez muita gente com mais experiência de vida se lembre, mas é importante dizer: o Marabá é um símbolo da cidade de São Paulo. Além de estar localizado no coração da cidade e ser tombado patrimônio histórico, ele ainda fez parte da vida de muita gente, que esteve lá para acompanhar os principais lançamentos do cinema nacional e internacional. No começo, por exemplo, os filmes eram prioritariamente românticos ou dramáticos – só às vezes uma ou outra fita de comédia e suspense surgia por lá. Por outro lado, já quando estava perto de fechar, o cinema só exibia filmes de ação e aventura que tinham apelo popular.

Mas voltemos ao começo de tudo: em 1945, mais precisamente no dia 15 de maio, a Empreza Paulista Cinematográfica abriu as portas de mais uma sala de exibição. O circuito do empresário mineiro Paulo de Sá Pinto já contava com mais de uma dezena de cinemas, mas inaugurou naquele dia o que seria o seu principal, o “carro-chefe”, o local onde todos os principais filmes da época estreariam. Para começar com o pé direito, optou por exibir aos convidados, em uma noite de gala, um filme que teria tudo para ser um sucesso (mas não foi): o drama “Desde que Partiste”, produzido por David O. Selznick, o mesmo de “E o Vento Levou” e “Rebecca”, com Claudette Colbert e Shirley Temple no elenco.

A partir daí, o cinema da Avenida Ipiranga tornou-se um dos ícones da chamada Cinelândia, região que foi pólo de produção e exibição cinematográfica na capital durante as décadas de 50 e 60. Não só porque conseguiu elevar Sá Pinto a condição de grande concorrente de Francisco Serrador, principal exibidor paulistano na época, mas também porque arrastava multidões para dentro de sua única sala, que no início comportava 1655 lugares. Era tanta gente que a fila costumava dar a volta na esquina imortalizada por Caetano Veloso, rasgando a Avenida São João até perder de vista.

Com o tempo, porém, o cinema foi ficando decadente. As filas na bilheteria já não eram quilométricas toda semana, embora aparecessem em filmes superbadalados. As poltronas vermelhas já não estavam mais novas, embora fossem conservadas pelos poucos funcionários que resistiam. Os vizinhos da região quase não existiam, embora alguns ainda sobrevivessem graças ao pornô. O Marabá, entretanto, não se entregou e resistiu até 25 de outubro de 2007, quando exibiu o brasileiro “Tropa de Elite” pela última vez antes de fechar as portas para a tão sonhada restauração, que levou três anos para ser aprovada pelo Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), órgão da Prefeitura de São Paulo.

Fechado desde então, a expectativa pelo retorno é a maior possível. A primeira intenção da PlayArte, empresa que administra o cinema, era reabrir o cinema em 07 de novembro de 2008, com o novo filme do agente James Bond (“007 – Quantum of Solace”). Porém, a data de estréia acabou adiada para o último dia 25 de dezembro, quando a empresa pretendia exibir o fantasioso “Coração de Tinta”. No entanto, alguns detalhes impediram que São Paulo recebesse o Marabá como presente de Natal. Agora, ninguém sabe dizer quando será a reinauguração da imponente sala – a Zingu! tentou contato com a PlayArte, mas ouviu que não há data prevista. Mesmo assim, é bom já ir verificando o estado de conservação de suas roupas de gala, pois a volta do Marabá será um dos principais acontecimentos da cidade em 2009. O Centro e os cinéfilos agradecem.

Júlio Henrique Silvestre Simões é jornalista é autor do livro Cine Marabá - O Cinema do Coração de São Paulo, que pode ser adquirido através de contato pelo e-mail . Mantém: http://despojo.blogspot.com/



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