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Dossiê Cláudio Cunha

O Gosto do Pecado
Direção: Cláudio Cunha
Brasil, 1980.

Por Matheus Trunk

No cinema da Boca do Lixo paulista, diversos diretores são memoráveis e marcantes. José Mojica Marins, o Zé do Caixão, se notabilizou por seus filmes de terror. Tony Vieira, Rubens da Silva Prado e Francisco Cavalcanti foram os reis dos faroestes e dos filmes policiais baratos. Ody Fraga ficou famoso por fazer pornochanchadas e pornodramas extremamente autorais. Jean Garrett e Cláudio Cunha faziam fitas variadas, bastante caprichadas e com grande produção.

Autodidata, Cunha foi criado na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo e foi um dos realizadores mais representativos de sua época. Seus filmes continuam sendo discutidos por críticos e cinéfilos até hoje.

Dentro de sua obra, O Gosto do Pecado é uma de suas películas mais pessoais e importantes. Sempre gostei de ver esta como a fita mais khouriana dele. É impressionante a semelhança deste filme com trabalhos como Convite ao Prazer e Eros de Walter Hugo Khouri.

A trama gira em torno da vida amorosa do personagem principal: Júlio (Jardel Mello) Ao se separar da esposa, ele entra numa verdadeira depressão. Passa então, a viver em farras e noitadas com o amigo Enéas (John Herbert, em um de seus melhores papéis) e a relembrar a grandeza da ex- esposa (Maria Lúcia Dahl). Apesar do dinheiro, das belas roupas e do carro do ano, Júlio é um homem infeliz.

Com seu cargo e poder, ele consegue estabelecer relacionamentos amorosos com as secretárias de sua firma como Vânia (Simone Carvalho). Esta é uma moça humilde, que aos poucos acaba se apaixonando por ele. Fascinada pelo chefe, ela acaba abandonando o noivo. Apesar da vida sexual ativa, o protagonista parece não conseguir se separar definitivamente da ex-esposa.

Com roteiro assinado por Cláudio Cunha, Inácio Araújo e Jean Garrett, O Gosto do Pecado é um filme extremamente marcante. Segundo o próprio Cláudio, trata-se de um de seus trabalhos mais pessoais. Em 1980, o diretor também passava por uma separação amorosa e o filme acaba sofrendo influência desse momento.

Na direção cinematográfica, Claudião iniciou-se com o ingênuo Clube das Infiéis. Prosseguiu com o genial suspense Snuff, Vítimas do Prazer. Depois, conseguiu fazer um pornodrama sobre a decadência de uma família burguesa (Amada Amante). Fez filmes baseados em ondas da época, como a discoteca (Sábado Alucinante) e em obras literárias (Profissão: Mulher). E conseguiu fechar sua filmografia na Boca com o melhor filme de sexo explícito já feito no Brasil (Oh! Rebuceteio). Mas sua fita mais autoral continua sendo O Gosto do Pecado.

Poucas vezes a solidão masculina na cidade de São Paulo conseguiu ser mostrada de uma maneira tão franca como nesse filme. Por isso, esta película consegue ser comparável a outros trabalhos que estão no mesmo filão como O Quarto de Rubem Biáfora, Jogo Duro de Ugo Giorgetti e mesmo no suburbano Anúncio de Jornal de Luiz Gonzaga dos Santos.

O Gosto do Pecado
é fruto de uma época recente em que o cinema paulista conseguia ser completamente independente dos esquemas oficiais de produção. Com grande talento, Cláudio Cunha, cineasta criado e parido na Boca, realizou um filme marcante que permanece no imaginário de vários cinéfilos brasileiros.



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