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Dossiê Cláudio Cunha

Snuff, Vítimas do Prazer
Direção: Cláudio Cunha
Brasil, 1977

Por Miguel Pereira
Seleção e transcrição: Matheus Trunk

A idéia original de Carlos Reichenbach e Cláudio Cunha não é desprezível. Contém inclusive uma certa ironia critica em relação às condições de produção do cinema que se faz no Brasil. Este é talvez seu maior mérito. A vontade de transformar um fato sensacionalista numa reflexão sobre o trabalho artístico e técnico dos nossos profissionais é bem visível. Da idéia, para o filme, no entanto percebe-se uma evidente pela defasagem pelo modo como esses elementos entram na narrativa. O tratamento que Cláudio Cunha deu ao filme procura, com certa habilidade, tornar convincentes essas idéias. Joga em cima dos atores a maior parte da mise-en-scene, usando sempre planos próximos e pouco descritivos, fazendo com que a narrativa se sustente em grande parte dos diálogos e acelerando-o ritmo com a mudança constante dos planos. Esse tratamento naturalmente torna o filme atraente para um público habituado a ver e não pensar no que está vendo. Ainda assim há momentos no filme que não se sustentam dramaticamente, inclusive o final que, além de ser um artifício, torna-se uma solução cômoda, pouco imaginativa e nada convincente.

Portanto, apesar dos esforços de Cláudio Cunha, Vítimas do Prazer- Snuff não sabe consegue expressar de forma aceitável suas propostas. Não funciona como espetáculo do gênero suspense e as criticas ou ironias pretendidas tem um alcance limitado pelo simples fato de pararem na merca constatação da evidência. Faltou crítica a crítica e ironia a ironia. Certos tipos possuem alguma verdade, como o Juarez, interpretado por Canarinho que vai bem em seu papel. Mas Hugo Bidet, por exemplo, apesar de fazer o tipo certo exigido pela direção e roteiro está muito irregular e merecia melhores oportunidades no cinema, pois, talento, sem dúvida ele tinha. Carlos Vereza compõe bem seu personagem nos limites que foi concebido. O mesmo se pode dizer dos outros atores e atrizes que participam do elenco. O grande público, no entanto, segue com interesse a narrativa, que, na verdade, está satisfatoriamente estruturada.

*Publicado originalmente no O Globo em 08 de junho de 1977



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