Coluna do Biáfora
Fechamento do Cine Marachá-Augusta
Por Rubem Biáfora, artigo selecionado por Sergio Andrade
“O novo ano – como a estes tristes altura e estágio dos acontecimentos não poderia deixar de ser – começa mal. Não só pela quase inexistente qualidade da maioria das estréias, como também porque, precisamente hoje, dar-se-á o fechamento do único cinema (o “Marachá-Augusta”, que na certa irá se transformar em “supermercado”, estacionamento ou lá o que seja) que embora não houvesse sido verdadeiramente o que se entende por uma autêntica sala de arte, teve uma fase que, apesar de tudo, apesar de todas as más vontades, oposições, recalques, descasos e menosprezos até dos próprios que o facultaram, nos inacreditáveis 6 anos e meio (26-6-71 a 1-1-78) que durou, foi relativamente profícua e diversificada, aberta e corajosa, cumprindo a importante missão de que se não deixar nas prateleiras, obras que só por milagre ou por acaso conseguiram chegar a este superdeteriorado, medíocre e mesquinho ambiente cinematográfico, obras que de outra forma jamais teriam estado à disposição do sacrificado público paulistano. O encerramento será hoje, com o legendário “O Gabinete do Dr. Caligari”, o clássico alemão de 1919 que lançou o Expressionismo no cinema; encerramento que apesar dos erros da publicidade – que até mutilou o verdadeiro título brasileiro da película – ainda constitui uma chave de ouro, sem dúvida alguma. Esperemos agora que a empresa Haway cumpra o prometido ou o conversado oficiosamente, transferir a profícua e, em media, até comercialmente válida fase para algum de seus cinemas mais a jeito como o Veneza, o Vitrine, o Gazetinha-Centro ou outra sala qualquer adequada e estrategicamente localizada.
Mas com programação criteriosa, com a devida e indispensável preparação e não com imediatismo ou “tapa-buracos” como essa reposição no Veneza de “Risos e Sensações de Outrora” (“Days of Thrills and Laughter”) que mais do que do recentemente falecido Chaplin é de Laurel & Hardy, ou Charley Chase, de Jean Harlow, Carole Lombard, Harold Lloyd ou Mabel Normand e outros grandes cômicos ou mitos do passado.”
*Publicado originalmente em O Estado de S. Paulo de 01/01/78.
“O novo ano – como a estes tristes altura e estágio dos acontecimentos não poderia deixar de ser – começa mal. Não só pela quase inexistente qualidade da maioria das estréias, como também porque, precisamente hoje, dar-se-á o fechamento do único cinema (o “Marachá-Augusta”, que na certa irá se transformar em “supermercado”, estacionamento ou lá o que seja) que embora não houvesse sido verdadeiramente o que se entende por uma autêntica sala de arte, teve uma fase que, apesar de tudo, apesar de todas as más vontades, oposições, recalques, descasos e menosprezos até dos próprios que o facultaram, nos inacreditáveis 6 anos e meio (26-6-71 a 1-1-78) que durou, foi relativamente profícua e diversificada, aberta e corajosa, cumprindo a importante missão de que se não deixar nas prateleiras, obras que só por milagre ou por acaso conseguiram chegar a este superdeteriorado, medíocre e mesquinho ambiente cinematográfico, obras que de outra forma jamais teriam estado à disposição do sacrificado público paulistano. O encerramento será hoje, com o legendário “O Gabinete do Dr. Caligari”, o clássico alemão de 1919 que lançou o Expressionismo no cinema; encerramento que apesar dos erros da publicidade – que até mutilou o verdadeiro título brasileiro da película – ainda constitui uma chave de ouro, sem dúvida alguma. Esperemos agora que a empresa Haway cumpra o prometido ou o conversado oficiosamente, transferir a profícua e, em media, até comercialmente válida fase para algum de seus cinemas mais a jeito como o Veneza, o Vitrine, o Gazetinha-Centro ou outra sala qualquer adequada e estrategicamente localizada.
Mas com programação criteriosa, com a devida e indispensável preparação e não com imediatismo ou “tapa-buracos” como essa reposição no Veneza de “Risos e Sensações de Outrora” (“Days of Thrills and Laughter”) que mais do que do recentemente falecido Chaplin é de Laurel & Hardy, ou Charley Chase, de Jean Harlow, Carole Lombard, Harold Lloyd ou Mabel Normand e outros grandes cômicos ou mitos do passado.”
*Publicado originalmente em O Estado de S. Paulo de 01/01/78.