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Dossiê Cinema de Bordas


Peixe Podre
Direção: Rodrigo Aragão
Brasil, 2005.

Peixe Podre
Direção: Rodrigo Aragão
Brasil, 2006.

Por Gabriel Carneiro

O cineasta Rodrigo Aragão tem gosto em filmar criaturas esquisitas, com um quê de morbidez. Em Chupa-cabras, seu primeiro curta, já demonstra um interesse apurado por seres fantásticos, em situações míticas, que sentem enorme prazer pela carne humana. Peixe Podre só viria aguçar esse interesse do diretor, que também é a cabeça e as mãos por trás dos brilhantes efeitos especiais e maquiagem. Peixe Podre é quase um exercício para seu primeiro longa, Mangue Negro.

Nos dois filmes Peixe Podre, a história é simples. Um peixe fisgado no lago da região do Perocão, em Garapari/ES, terra do diretor, contamina as pessoas que o comem, transformando-as em zumbis. A história não apresenta nada de convencional – há nela um paralelo muito próximo ao filme de Jack Arnold, O Monstro Sanguinário, em que, ao se arranhar num peixe pré-histórico, o cientista que o descobriu transforma-se numa besta sedenta por sangue. Em Peixe Podre, ao comerem a carne contaminada (ou mesmo ser mordido pelo peixe enquanto vivo), aquelas pessoas desagradáveis tornam-se seres sanguinários, acéfalos, herança clara dos filmes de zumbis italianos e dos primeiros longas de mortos-vivos de George A. Romero.

Aragão aprendeu bem a lição com os filmes de zumbis e monstros, e adaptaria brilhantemente ao cenário brasileiro, em especial ao capixaba em Mangue Negro. Por isso, os dois filmes Peixe Podre são tão agradáveis exercícios. Aragão molda seus personagens e, em especial, os efeitos gráficos – visuais, sonoros e maquiagem -, para um trabalho futuro. Um tanto primitivos nesses dois curtas, em comparação ao longa, e ainda assim deveras competente.

Outro aspecto que já desponta na série Peixe Podre é o humor sarcástico e um tanto velado do anti-herói e protagonista dos filmes, além de, mais importante, uma noção ecológica, de preservação do ambiente e da região em que vive. Em Peixe Podre II, os peixes são capturados a partir de uma poção (caráter do misticismo) – uma poção, porém, um tanto agressiva ao meio ambiente, composta por detergente, xampu, naftalina, entre outras coisas -, que é despejada nas águas aparentemente limpas em que nadam os peixes. Mesmo expostos a tais substâncias nocivas, inclusive ao seres humanos, eles consomem o animal – e tornam-se, claro, bestas pavorosas. Esse tema seria retomado em Mangue Negro, quando a sábia dona Benedita diz que o mangue está morrendo – e nota-se ser pela poluição e pelo pouco caso com a região.

Ainda assim, Peixe Podre e Peixe Podre II funcionam muito bem sem conhecer o longa. Divertidos e muito bem produzidos, os filmes, com seu heavy metal de trilha sonora e sua fotografia tremida e contrastante, servem para mostrar que o cinema fantástico existe, e vai muito bem qualitativamente, no Brasil.

Quem se interessar, pode assistir aos dois curtas no YouTube.

Peixe Podre
Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=Yd5opU0eEwI
Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=Lnk8UeG08Bs&feature=related

Peixe Podre II
Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=0wEh_9z273A
Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=pF1h6_itIfo




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