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Dossiê Cinema de Bordas

Vadias do Sexo Sangrento
Direção: Petter Baiestorf
Brasil, 2008

Por João Pires Neto

Um sexploitation ao extremo

Embora indissociáveis, forma e conteúdo contrastam de forma bizarra neste novo trabalho do cineasta Petter Baiestorf. Poderíamos resumir levianamente Vadias do Sexo Sangrento como 30 minutos de violência e sacanagem, da forma mais primitiva e exagerada. Não seria enganoso, mas estaríamos no mínimo ignorando a linguagem anticinema com que um enredo supostamente frívolo foi trabalhado. Petter experimenta de quase tudo em Vadias, de metalinguagens, digressões a mensagens subliminares. O roteiro faz questão de deixar explícito a todo instante que o que vemos não passa de um filme, de um exercício putaneiro de Petter Baiestorf. E faz isto de maneira ousada, utilizando dois narradores, um em off e outro presente fisicamente (o próprio cineasta), que interagem e alteram o percurso das personagens. Para que não haja dúvidas quanto à farsa encenada, Petter encerra o seu Vadias com a câmera se afastando e lentamente desmascarando o set de filmagens.

Não podemos descartar a faceta transgressora de Vadias do Sexo Sangrento: é preciso colhões e estômago para encarar a sucessão de infrações visuais distribuídas. Masturbação, estupro, nudez frontal (masculina e feminina), sangue e esperma jorrando, lesbianismo, palavrões, necrofilia e até tripas arrancadas pelo ânus. Tudo com bom humor e ironia, afinal é apenas uma história de amor.

A trama folhetinesca é a seguinte: Mirza (Lane ABC) terminou com o apaixonado e violento Russ (PC), para ficar com a bela Tura (interpretada por Ljana Carrion, a estrela de Arrombada – Vou Mijar Na Porra do Seu Túmulo!!!). Para apimentar este triângulo amoroso, surge o psicopata colecionador de vaginas que foi estuprado por 48 padres quando criança, conhecido apenas como Esquisito (Coffin Souza, parceiro de longa data de Baiestorf). Nota-se que os nomes das personagens prestam pequenas homenagens às influências do cineasta catarinense: Tura é uma homenagem a atriz japonesa Tura Santana, do cultuado trash Faster, Pussycat! Kill! Kill! (1965), Russ é referência ao diretor do filme, Russ Meyer, e Mirza refere-se à sexy vampira criada pelo cartunista italiano Eugênio Colonnese.

Algumas sequências já nascem antológicas, como a petulante cena de masturbação feminina em close, exibida na abertura (que serve de alerta aos desavisados: tirem as crianças da sala!) ou o impagável duelo de motosserras entre os pelados Coffin Souza e Lane ABC.

No entanto, mesmo diluída em meio à sacanagem e à violência escrachada, o discurso baiestorfiano faz-se presente nos diálogos do psicopata com consciência ecológica, que prefere que literalmente defequem em cima dele do que servir ao exército; ou nos frames escondidos, que revelam o paladar consciente do diretor.

Engajado nas entrelinhas, Vadias do Sexo Sangrento é um criativo manifesto contracultural, filmado pela demente turma do cineasta mais underground do underground tupiniquim, Petter Baiestorf. Experimente, se tiver coragem.

*O filme pode ser adquirido diretamente com Petter Baiestorf, por R$ 20,00, pelo email baiestorf@yahoo.com.br .




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