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Dossiê Cinema de Bordas

Zombio
Direção: Petter Baiestorf
Brasil, 1998

Por João Pires Neto

Sangue espirrando, tripas, cadáveres em decomposição e um pouco de sexo servidos em 45 minutos. Esta é a fórmula secreta e divertida de Zombio (1998), o primeiro filme de zumbis genuinamente tupiniquim. Rodado em três dias com apenas 250 reais, o média-metragem fez carreira no underground brasileiro e rapidamente tornou-se um dos maiores sucessos do amalucado cineasta catarinense Petter Baiestorf.

Apesar de Zombio ser uma das produções do videomaker que mais utiliza efeitos de maquiagem, seja nas dezenas de zumbis ou nas incautas vítimas, o diretor conseguiu a façanha de não estourar o orçamento padrão de sua produtora na época, reutilizando figurinos e materiais de seus filmes anteriores. Isso por que, justifica o próprio Baiestorf, a maior parte dos gastos em suas obras normalmente está na composição da maquiagem. Outro fator que permitiu esta contenção foi o sistema de trabalho semi-escravo proposto pelo diretor e aceito pelos seus não menos malucos colaboradores: trabalhar 20 horas por dia à base de sanduíches, refrigerantes e curtição

E como todo filme de morto-vivo que se preze, a trama não tem lá muita importância. Em Zombio, um casal que pretendia aproveitar o final de semana numa ilha isolada acaba sendo perseguido por zumbis controlados por uma espécie de sacerdotisa de outro planeta.

Apesar de toda a repercussão após a exibição de Zombio Palmitos afora, não é difícil compreender o porquê deste filme não ser o filho preferido de Petter Baiestorf. Zombio é uma produção muito bem comportada, tanto esteticamente como na linguagem, principalmente quando comparado às produções mais recentes do cineasta, que esbanjam um humor ácido, debochado e engajado nas entrelinhas.

Zombio, Eles Comem a Sua Carne e O Monstro Legume do Espaço seguem uma linha menos anárquica do diretor, associada ao que poderíamos chamar de horror gore. Gênero que Petter Baiestorf faz questão de renegar, por considerar quadrado e católico demais.

Até o ano de 1998, Petter e a sua Cannibal filmes já haviam produzido, entre curtas, médias e longas, algo em torno de 23 filmes (num prazo pouco mais de cinco anos). O sinema made in Palmitos já se firmava no que o videomaker/cineasta costumava chamar de udigrudi, ou cenário independente, para quem preferir uma terminologia mais sofisticada. Aliás, independente, marginal, amador ou de bordas. Indiferente do rótulo que receba este tipo de produção, ela representa o verdadeiro anti-cinema, que foge da artificialidade encomendada dos grandes estúdios e é autoral até às vísceras. Em Zombio, embora ainda não tenhamos o Petter Baiestorf amadurecido de Vadias do Sexo Sangrento (2008), um ouvido mais atento pode identificar sussurros da genialidade profana que viria aflorar 10 anos mais tarde.

*O filme pode ser adquirido diretamente com Petter Baiestorf, por R$ 15,00, pelo email baiestorf@yahoo.com.br.




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