Carta ao leitor.
Cinema. Muito mais do que as mil divisões e classificações que dão, o que importa mesmo é que a arte está sendo feita. Não importa como. O objeto desse mês, como o do passado, é o Cinema de Bordas – o cinema sendo feito não importa a falta de recursos, os problemas, a dificuldade. Assim como os cineastas de bordas, nós da Zingu! não ganhamos um tostão com a revista. Pior, pagamos para tentar entregar o melhor produto possível. Quem faz, são amigos, colaboradores, que topam participar. Existem colegas que estão na nossa mesma situação, na crítica (se é que podemos chamar a Zingu! de espaço crítico) ou no cinema. Pessoas que lutam pela propagação dessa arte – fazendo ou comentando.
O importante é que não parem. Muitas vezes, as dificuldades impedem que o trabalho continue. Nesse ano, perdemos duas revistas de cinema importantíssimas. A Paisà, que não vinha sendo atualizada desde o final da Mostra Internacional de São Paulo, de 2008, fechou de vez as portas no dia 20 de março de 2009. Foi um grande impacto, pois era a única revista impressa que trazia um excelente conteúdo. A esperança de que poderia continuar, mesmo depois da mudança para a internet, morreu. Outra foi a Set, a mais antiga das revistas de cinema, há mais de 20 anos no mercado. Não estava mais tão boa como costumava, fato, mas abriu meus olhos para o que era produzido, informando e fazendo entender o processo. Com o tempo a abandonei. Felizmente, a revista Set conseguiu mais uma chance, e voltou às bancas, com equipe completamente diferente. Uma pena não podermos mais contar com os textos saudosos do grande Alfredo Sternheim, a melhor coisa na revista. A Paisà não teve a mesma sorte. O pessoal, precisando sobreviver, enveredou para outros caminhos.
Assim ocorreu com muitos cineastas, em especial os da Boca do Lixo. Quantos ainda fazem cinema? Dias desses fiz um levantamento. Nem 10 diretores que por lá passaram fizeram filme depois dos anos 90 ou fora da Boca, menos ainda lançaram. Um cinema comercial, popular, com exemplos raros de criatividade e de qualidade. Quando o cine Marabá foi reaberto ao público, no dia 30 de maio, foi uma felicidade só, ver que se pode voltar ao centro velho, à Cinelândia, e apreciar um filme. Há tempos não via um local cheio como lá, com pessoas de todos os extratos sociais compartilhando um santuário – porque o Marabá é isso, um santuário, mesmo que tenha passado por uma reforma. A atmosfera está lá, mesmo que aquela bancada de porcariadas que invadiu o cinema de multiplex atrapalhe a visão (fica bem no centro de tudo).
Mesmo que o cinema popular esteja à procura de um novo modelo, sem os moralismos e estética de televisão, da Globo Filmes, é importante pensar que alguns realizadores persistiram, fazendo filmes que estão perdidos, como O Maníaco do Parque, do Rubens da Silva Prado, ou as produções do Francisco Cavalcanti dos anos 1990. Há outros também. No dossiê desse mês, Cinema de Bordas 2, temos dois exemplos admiráveis: Pedro Onofre, cineasta alagoano, que fez um filme nos anos 1960, Nas Trevas da Obsessão, que chegou ao cinema, após a aposentadoria retornou à paixão, e já fez outros dois longas, Homens e Feras e O Suicídio, mesmo que restrito a um grupo de pessoas (e o cinema nacional não é isso hoje? Voltado a um grupo pequeno de pessoas?); e Marcos Bertoni, técnico em efeitos especiais que já trabalhou com importantes nomes do nosso cinema, e teve experiência bem interessantes no Super-8, entre o final dos anos 1970 até meados dos anos 1980, quando o formato praticamente morreu. Bertoni voltou em 2002, com o movimento Dogma2002, que cria cinema a partir da reciclagem do que já foi filmado.
O terceiro cineasta em questão começou em 2001. Joel Caetano com sua produtora Recurso Zero Produções é o futuro. Ele sim faz um cinema popular comercial de qualidade, o único porém é que fica restrito a um nicho de interessados. Mas continua fazendo. Parcos recursos e pouco reconhecimento não o arrefecem. Está lá, preparando sua nova produção, Gato.
Chamem a Zingu! de e-zine ou o que for, é mesmo. Rótulos não importam. Os conceitos existem para que façamos uma diferenciação, para que compreendamos dentro de um panorama. Mas na hora, o que importa mesmo é o cinema, é que está sendo feito!
Gabriel Carneiro
Editor-chefe da Zingu!
O importante é que não parem. Muitas vezes, as dificuldades impedem que o trabalho continue. Nesse ano, perdemos duas revistas de cinema importantíssimas. A Paisà, que não vinha sendo atualizada desde o final da Mostra Internacional de São Paulo, de 2008, fechou de vez as portas no dia 20 de março de 2009. Foi um grande impacto, pois era a única revista impressa que trazia um excelente conteúdo. A esperança de que poderia continuar, mesmo depois da mudança para a internet, morreu. Outra foi a Set, a mais antiga das revistas de cinema, há mais de 20 anos no mercado. Não estava mais tão boa como costumava, fato, mas abriu meus olhos para o que era produzido, informando e fazendo entender o processo. Com o tempo a abandonei. Felizmente, a revista Set conseguiu mais uma chance, e voltou às bancas, com equipe completamente diferente. Uma pena não podermos mais contar com os textos saudosos do grande Alfredo Sternheim, a melhor coisa na revista. A Paisà não teve a mesma sorte. O pessoal, precisando sobreviver, enveredou para outros caminhos.
Assim ocorreu com muitos cineastas, em especial os da Boca do Lixo. Quantos ainda fazem cinema? Dias desses fiz um levantamento. Nem 10 diretores que por lá passaram fizeram filme depois dos anos 90 ou fora da Boca, menos ainda lançaram. Um cinema comercial, popular, com exemplos raros de criatividade e de qualidade. Quando o cine Marabá foi reaberto ao público, no dia 30 de maio, foi uma felicidade só, ver que se pode voltar ao centro velho, à Cinelândia, e apreciar um filme. Há tempos não via um local cheio como lá, com pessoas de todos os extratos sociais compartilhando um santuário – porque o Marabá é isso, um santuário, mesmo que tenha passado por uma reforma. A atmosfera está lá, mesmo que aquela bancada de porcariadas que invadiu o cinema de multiplex atrapalhe a visão (fica bem no centro de tudo).
Mesmo que o cinema popular esteja à procura de um novo modelo, sem os moralismos e estética de televisão, da Globo Filmes, é importante pensar que alguns realizadores persistiram, fazendo filmes que estão perdidos, como O Maníaco do Parque, do Rubens da Silva Prado, ou as produções do Francisco Cavalcanti dos anos 1990. Há outros também. No dossiê desse mês, Cinema de Bordas 2, temos dois exemplos admiráveis: Pedro Onofre, cineasta alagoano, que fez um filme nos anos 1960, Nas Trevas da Obsessão, que chegou ao cinema, após a aposentadoria retornou à paixão, e já fez outros dois longas, Homens e Feras e O Suicídio, mesmo que restrito a um grupo de pessoas (e o cinema nacional não é isso hoje? Voltado a um grupo pequeno de pessoas?); e Marcos Bertoni, técnico em efeitos especiais que já trabalhou com importantes nomes do nosso cinema, e teve experiência bem interessantes no Super-8, entre o final dos anos 1970 até meados dos anos 1980, quando o formato praticamente morreu. Bertoni voltou em 2002, com o movimento Dogma2002, que cria cinema a partir da reciclagem do que já foi filmado.
O terceiro cineasta em questão começou em 2001. Joel Caetano com sua produtora Recurso Zero Produções é o futuro. Ele sim faz um cinema popular comercial de qualidade, o único porém é que fica restrito a um nicho de interessados. Mas continua fazendo. Parcos recursos e pouco reconhecimento não o arrefecem. Está lá, preparando sua nova produção, Gato.
Chamem a Zingu! de e-zine ou o que for, é mesmo. Rótulos não importam. Os conceitos existem para que façamos uma diferenciação, para que compreendamos dentro de um panorama. Mas na hora, o que importa mesmo é o cinema, é que está sendo feito!
Gabriel Carneiro
Editor-chefe da Zingu!