Dossiê Cinema de Bordas 2
Entrevista com Joel Caetano e Mariana Zani
Por Gabriel Carneiro
Imagens: Dênis Arrepol
Z - Quais as dificuldades de fazer cinema dessa maneira?
JC – Acho que a questão do tempo, em primeiro lugar. Porque não pagamos as pessoas para fazerem o filme.
MZ – É a mãe, o pai, a tia, o irmão. Família não cobra.
JC – E as pessoas trabalham. Só tem de final de semana, e é chato você ficar falando “vem fazer o filme”. As pessoas têm uma puta boa vontade, mas a gente queria poder fazer diferente, pagar, por exemplo. O outro fator é a grana. A grana sempre faz falta, principalmente por querermos fazer uma coisa maior e não poder. Mas vamos continuar fazendo, tendo grana ou não. Não há tanta dificuldade, porque a gente pega e faz. Com quase oito anos de produtora, já compramos alguns equipamentos. Fomos juntando aos poucos e compramos luzes, câmera. O ideal é que todo equipamento seja nosso, que não tenhamos que pegar nada emprestado.
Entrevista com Joel Caetano e Mariana Zani
Por Gabriel Carneiro
Imagens: Dênis Arrepol
Joel Caetano, 31, e Mariana Zani, 26, são, junto com Danilo Baía, os fundadores da Recurso Zero Produções. Uma produtora que faz filmes de baixíssimo orçamento, mesmo que esteja cada vez mais profissional. Entrevistamos Joel Caetano, o diretor e roteirista, além de um monte de outras funções, e Mariana Zani, atriz e produtora, hoje casados.
Ao todo, são 11 filmes, desde 2001. Já estão nas filmagens do 12º projeto, Gato. Entre seus filmes mais famosos, estão os três últimos lançados: Minha Esposa é um Zumbi, Junho Sangrento e O Assassinato da Mulher Mental.
Formados em 2004, em Rádio e TV, pela FIRB – Faculdades Integradas Rio Branco, em São Paulo, Joel fez pós-graduação em Comunicação Organizacional e trabalha hoje com edição de vídeos institucionais, para uma produtora. Mariana fugiu um pouco e trabalha com marketing.
Ao todo, são 11 filmes, desde 2001. Já estão nas filmagens do 12º projeto, Gato. Entre seus filmes mais famosos, estão os três últimos lançados: Minha Esposa é um Zumbi, Junho Sangrento e O Assassinato da Mulher Mental.
Formados em 2004, em Rádio e TV, pela FIRB – Faculdades Integradas Rio Branco, em São Paulo, Joel fez pós-graduação em Comunicação Organizacional e trabalha hoje com edição de vídeos institucionais, para uma produtora. Mariana fugiu um pouco e trabalha com marketing.
Eles podem ser lidos no blog Feijoada Cibernética, no blog da Recurso Zero Produções, e no site da Recurso Zero (que anda meio desatualizado)
Em entrevista para a Zingu!, os dois falam do seu trabalho e discutem o cinema de hoje: o curta-metragem, o fazer cinema, a divulgação fílmica, entre outras coisa.
Zingu! - Como surgiu seu interesse pelo cinema?
Joel Caetano - Sempre assisti a filmes. Primeiro como espectador. Sempre adorei cinema, desenho, histórias em quadrinhos – acho que os quadrinhos estão muito relacionados a cinema também. O interesse em fazer surgiu na faculdade, primeiro porque nós tínhamos professores com uma carga de cinema muito forte – eram excelentes, já tinham trabalhado na área. Nossa formação foi muito em cima disso. Comecei a perceber que existiam muitos filmes feitos por pessoas amadoras. Falei comigo: vou tentar fazer, isso já no primeiro ano da faculdade. Com o que a gente tem, com o material disponível, uma câmera emprestada. Assim surgiu o primeiro filme, Afrodite. Eu percebi que dava para fazer, com o advento do cinema digital, barateou muito. Percebi que dava para fazer coisas bacanas com esse tipo de material, de equipamento. E sempre fiz em digital, pois película é muito caro.
Z - E por que fazer Rádio e TV e não cinema?
JC - Fui para trabalhar com produção, com edição, que eu sempre gostei muito. A idéia de fazer Rádio e TV veio, pois eu sempre desenhei, sempre gostei de arte – já fiz música. Queria uma faculdade que unisse todas essas coisas: o áudio, a música, o desenho, o vídeo, a imagem em si. E RTV calhou muito com isso. Nunca fui um cara de grana e cinema é muito caro. RTV foi uma alternativa.
Z - Quando surgiu a Recurso Zero Produções?
JC - Era 2001, primeiro ano de RTV. Eu e a Mariana já namorávamos antes da faculdade. Ela fazia Rádio e TV também. Não era porque estávamos no primeiro ano da faculdade que não podíamos produzir. Queria fazer algo. Ela morava em Pinheiros e tivemos a idéia de fazer um documentário da Praça Benedito Calixto, onde tem a feirinha que todo mundo conhece, bem bacana. Mandamos email para uma série de pessoas, quase toda a faculdade de RTV e marcamos. Todo mundo falou que ia. Marcamos no Fran’s Café da Vila Madalena. Chegamos eu e a Mariana juntos. Esperamos uma hora, duas horas, e nada, ninguém apareceu. Já tínhamos até esquecido do documentário, e de repente chega uma pessoa, uma criatura, que é o Danilo Baía, nosso parceiro da Recurso Zero. Como sempre, ele chegou atrasado (risos). Começamos a conversar, ele tinha um estilo bem parecido com o nosso, mais desencanado. Ele é um cara muito talentoso também. Ótimo fotógrafo, tem um enquadramento muito bom de câmera. E ele tinha câmera, que era um elemento muito importante. (risos) A gente não tinha câmera na época, e ele tinha. Começamos a fazer o documentário e até hoje não saiu.
Mariana Zani – A gente gravou em tudo que é câmera diferente. No meio do caminho, o pessoal viu que começamos a fazer de fato. Entrava um, entrava outro. Gravamos em VHS, digital. Falei para selecionarmos o material para edição, mas não tinha como. Era um monte de fita de diferentes tipos...
JC – Também não havíamos pedido autorização de imagem para ninguém. O filme não rolou, mas formou esse grupo de três pessoas, e ela [Mariana] teve a idéia de Recurso Zero, porque não tínhamos recursos, nunca tivemos. Pensamos então em ir para algo que fosse mais fácil para a gente, que dominássemos melhor, caso da ficção. Tivemos a idéia de fazer Afrodite, um filminho bem curto, que gravamos na casa dela, com a câmera Hi8 e uma luz em cima da escada, com um monte de sangue. Colocamos o filme de maneira clandestina na faculdade. Teve um evento lá, conhecíamos o técnico e falei para ele colocar o filme para passar, falei que um professor tinha mandado. Colocaram. Foi um sucesso na faculdade, porque até então ninguém tinha produzido nada. Depois disso ficamos conhecidos na faculdade. Depois surgiu o Dupla Surpresa, que brinca com o Star Wars. Foi bacana, começou por aí a Recurso Zero. Depois disso fizemos vários filmes, sempre um diferente do outro. Temáticas diferentes, tipos diferentes. Tudo experimental. Nosso lance é fazer coisas diferentes para ver como é que funciona, tanto para gente, quanto para o público.
Em entrevista para a Zingu!, os dois falam do seu trabalho e discutem o cinema de hoje: o curta-metragem, o fazer cinema, a divulgação fílmica, entre outras coisa.
Zingu! - Como surgiu seu interesse pelo cinema?
Joel Caetano - Sempre assisti a filmes. Primeiro como espectador. Sempre adorei cinema, desenho, histórias em quadrinhos – acho que os quadrinhos estão muito relacionados a cinema também. O interesse em fazer surgiu na faculdade, primeiro porque nós tínhamos professores com uma carga de cinema muito forte – eram excelentes, já tinham trabalhado na área. Nossa formação foi muito em cima disso. Comecei a perceber que existiam muitos filmes feitos por pessoas amadoras. Falei comigo: vou tentar fazer, isso já no primeiro ano da faculdade. Com o que a gente tem, com o material disponível, uma câmera emprestada. Assim surgiu o primeiro filme, Afrodite. Eu percebi que dava para fazer, com o advento do cinema digital, barateou muito. Percebi que dava para fazer coisas bacanas com esse tipo de material, de equipamento. E sempre fiz em digital, pois película é muito caro.
Z - E por que fazer Rádio e TV e não cinema?
JC - Fui para trabalhar com produção, com edição, que eu sempre gostei muito. A idéia de fazer Rádio e TV veio, pois eu sempre desenhei, sempre gostei de arte – já fiz música. Queria uma faculdade que unisse todas essas coisas: o áudio, a música, o desenho, o vídeo, a imagem em si. E RTV calhou muito com isso. Nunca fui um cara de grana e cinema é muito caro. RTV foi uma alternativa.
Z - Quando surgiu a Recurso Zero Produções?
JC - Era 2001, primeiro ano de RTV. Eu e a Mariana já namorávamos antes da faculdade. Ela fazia Rádio e TV também. Não era porque estávamos no primeiro ano da faculdade que não podíamos produzir. Queria fazer algo. Ela morava em Pinheiros e tivemos a idéia de fazer um documentário da Praça Benedito Calixto, onde tem a feirinha que todo mundo conhece, bem bacana. Mandamos email para uma série de pessoas, quase toda a faculdade de RTV e marcamos. Todo mundo falou que ia. Marcamos no Fran’s Café da Vila Madalena. Chegamos eu e a Mariana juntos. Esperamos uma hora, duas horas, e nada, ninguém apareceu. Já tínhamos até esquecido do documentário, e de repente chega uma pessoa, uma criatura, que é o Danilo Baía, nosso parceiro da Recurso Zero. Como sempre, ele chegou atrasado (risos). Começamos a conversar, ele tinha um estilo bem parecido com o nosso, mais desencanado. Ele é um cara muito talentoso também. Ótimo fotógrafo, tem um enquadramento muito bom de câmera. E ele tinha câmera, que era um elemento muito importante. (risos) A gente não tinha câmera na época, e ele tinha. Começamos a fazer o documentário e até hoje não saiu.
Mariana Zani – A gente gravou em tudo que é câmera diferente. No meio do caminho, o pessoal viu que começamos a fazer de fato. Entrava um, entrava outro. Gravamos em VHS, digital. Falei para selecionarmos o material para edição, mas não tinha como. Era um monte de fita de diferentes tipos...
JC – Também não havíamos pedido autorização de imagem para ninguém. O filme não rolou, mas formou esse grupo de três pessoas, e ela [Mariana] teve a idéia de Recurso Zero, porque não tínhamos recursos, nunca tivemos. Pensamos então em ir para algo que fosse mais fácil para a gente, que dominássemos melhor, caso da ficção. Tivemos a idéia de fazer Afrodite, um filminho bem curto, que gravamos na casa dela, com a câmera Hi8 e uma luz em cima da escada, com um monte de sangue. Colocamos o filme de maneira clandestina na faculdade. Teve um evento lá, conhecíamos o técnico e falei para ele colocar o filme para passar, falei que um professor tinha mandado. Colocaram. Foi um sucesso na faculdade, porque até então ninguém tinha produzido nada. Depois disso ficamos conhecidos na faculdade. Depois surgiu o Dupla Surpresa, que brinca com o Star Wars. Foi bacana, começou por aí a Recurso Zero. Depois disso fizemos vários filmes, sempre um diferente do outro. Temáticas diferentes, tipos diferentes. Tudo experimental. Nosso lance é fazer coisas diferentes para ver como é que funciona, tanto para gente, quanto para o público.
Z - Quais as dificuldades de fazer cinema dessa maneira?
JC – Acho que a questão do tempo, em primeiro lugar. Porque não pagamos as pessoas para fazerem o filme.
MZ – É a mãe, o pai, a tia, o irmão. Família não cobra.
JC – E as pessoas trabalham. Só tem de final de semana, e é chato você ficar falando “vem fazer o filme”. As pessoas têm uma puta boa vontade, mas a gente queria poder fazer diferente, pagar, por exemplo. O outro fator é a grana. A grana sempre faz falta, principalmente por querermos fazer uma coisa maior e não poder. Mas vamos continuar fazendo, tendo grana ou não. Não há tanta dificuldade, porque a gente pega e faz. Com quase oito anos de produtora, já compramos alguns equipamentos. Fomos juntando aos poucos e compramos luzes, câmera. O ideal é que todo equipamento seja nosso, que não tenhamos que pegar nada emprestado.
Z - Os primeiros curtas foram feitos durante a faculdade? Eram trabalhos?
JC - O primeiro trabalho feito na faculdade, feito para lá, foi Dupla Surpresa. O professor falou: “vamos fazer um curta, algo simples”. (risos) Eu falei não, quero fazer um curta do Star Wars. Ele disse: “tem certeza, grande” - ele chamava a gente de grande. Disse: “tenho, quero fazer”. Então tá, né? Fiz o roteiro e gravamos no estúdio, tudo com fundo verde, e depois fiz os efeitos. Não sabia fazer nada, fui aprendendo. O computador era um Pentium III, demorava 3 dias para indexar o filme (risos). Fazia o efeito e deixava lá carregando. Para a época, para como foi feito, acho que ficou um resultado bacana. Claro, se tivesse sido feito hoje, seria bem diferente, teria ficado melhor. Na faculdade, teve um barulho enorme. Teve um festivalzinho na faculdade e ganhamos. O voto era popular e ganhamos várias coisas: melhores efeitos visuais, melhor diretor... Foi a primeira reação de que estávamos fazendo certo, pelo nosso caminho. Estávamos começando a criar uma identidade. O Trabalhador, outro curta, era um exercício de luz, de iluminação, e resolvi fazer um curta. Até gosto dele, mas tem bem cara de faculdade mesmo. Despedida também foi feito para faculdade. A maioria dos filmes mais curtos foram feitos para faculdade. O primeiro que fiz pós-faculdade foi uma animação, Bruma, que fiz para mim. Era um personagem que eu tinha criado. Já havíamos feito Trailer Herói com Z de Brazil, um falso trailer, feito para faculdade também, e queria fazer uma coisa diferente, para professora Suzana Amaral, cineasta. O estilo dela é totalmente diferente, mas ela entendeu nosso trabalho. Ela é bem rígida, mas gostou. Deu nota boa. Ela assistiu a Dupla Surpresa e disse que gostou, não, minto, ela disse: “esse filme é um filme”. Vindo dela, isso é algo bacana. Foi uma honra. Esse semestre com ela foi muito bacana, valeu pelo curso todo.
Z - Seu primeiro grande filme e sucesso foi Minha Esposa é um Zumbi. Como surgiu a idéia?
JC – Nós ficamos sabendo do Festival Curta Fantástico de Ilha Comprida, meio em cima da hora – havia um mês ou dois para fazer um filme. Então íamos fazer um filme. Tinha que ser fantástico, e nessa época eu já começara a descobrir o cinema trash. Peter Jackson começou com cinema trash, Spielberg tem alguns exemplos, Coppola e o Sam Raimi, que fez Evil Dead – A Morte do Demônio, que para mim é tudo. Hoje eles fazem O Homem Aranha, O Senhor dos Anéis. (risos) Porque eu não posso começar assim? Comecei a pesquisar cinema trash e cheguei à conclusão que precisava fazer um filme de zumbi. Assisti a alguns filmes do George Romero e fiquei encantado. Aí fiquei pensando, para fazer um filme de zumbi, precisa de muita gente e eu não tinha muita gente para fazer zumbi. Como eu ia arranjar um monte de zumbi? Resolvi fazer com um só zumbi. (risos) Um parente ou algo assim. Esposa talvez. Pensando sempre no que eu tinha disponível: ator, equipamento e locação. Para fazer a esposa peguei minha esposa mesmo, já tínhamos casado na época, inclusive o apartamento que mostra é o nosso. Fui fazer a história da esposa do cara que vira zumbi. O cara era eu, o amigo é meu amigo [Danilo Baía] também. Peguei a sogra, que era mãe dela [Ivete Zani]. A única pessoa que faz um papel diferente é o pai dela [Luiz Carlos Batista], que faz um doutor. O pai dela é muito engraçado, é um ótimo ator. Fiz o roteiro e gravamos em dois finais de semana. A edição durou umas duas semanas. Colocamos no festival, sem pretensão nenhuma. O pessoal aceitou, foi bacana. Nós não fomos para Ilha Comprida acompanhar o festival, por falta de recursos (risos). Fiquei sabendo pelo organizador que nós tínhamos ganhado pelo júri popular com esse filme. Ele disse que tinha sido uma votação em massa no filme. “Você está brincando comigo?”, eu disse. Virou um fenômeno. Fomos chamados para participar de outros festivais. Teve festival em Goiânia, no Rio, no sul. O mais bacana depois disso foi para participar da mostra do Cinema de Bordas, Nas Bordas do Cinema, em 2008, e depois a publicação do artigo no livro Cinema de Bordas 2. Foi feito um capítulo nesse livro, pelo Rogério Ferraraz, pesquisador do grupo, que falou sobre o nosso trabalho, sobre minha vida como realizador de filmes e fez uma análise muito interessante sobre Minha Esposa é um Zumbi. Ele tirou do filme várias referências, e eu não sei se é algo que fica evidente para quem assiste. Quero ver se faço a continuação, já tenho o roteiro.
MZ – Foi tão bacana que acabamos pegando trejeitos dos personagens. Tem falas que viraram parte do nosso cotidiano. Vários bordões.
JC – O engraçado é que tem gente que sabe o filme de cor.
MZ – É muito estranho, porque conhecemos pessoas que afirmam já ter visto o filme. Ficamos encantados com a recepção.
JC – Quando fiz o filme, falei: ‘vou fazer o pior filme que puder’. Eu tinha uma idéia de que ou você faz um filme muito bem feito, ou o pior que você puder. (risos) Ficar no meio termo não é nada. Tem que ir para um lado ou para outro.
MZ – Não adianta querer fazer um papel todo dramático, se não tem um puta ator para fazer o filme.
JC – Com o tempo, talvez a gente consiga fazer um puta filme, mas do nosso jeito. O que acho importante foi que com esse filme começamos a criar uma identidade, que é algo fundamental para todo artista. Você assiste ao filme e liga à Recurso Zero.
Z – E a atuação é bem exagerada.
JC – Sim, era o que queríamos. Costumo falar que o personagem Tonho [interpretado por ele] é uma mistura de Jim Carrey com Didi Mocó. Falei para o elenco que não precisavam se preocupar, não precisavam ensaiar. As cenas eram gravadas na hora. Decoravam as falas na hora, a gente ficava meio que soprando para eles, e iam falando. Falei para exagerar no máximo que pudessem, para ficar legal. Ficou natural e ao mesmo tempo exagerado. O Danilo tem sotaque de paulistano e no filme ele colocou esse tom mais alto. O segredo foi esse: as pessoas ficaram à vontade para fazer e ao mesmo tempo exageradas. Eu vi muito Jerry Lewis, vi muito Trapalhões, Jim Carrey mesmo. Temos essas referências.
Z – Para você, essa questão, é por ser uma comédia, ser da temática, ou é por não se levar tão a sério, não ter pretensões?
JC – Creio que foi a questão de não ser pretensioso. Nesse filme, a idéia era fazer uma coisa em que nós nos divertíssemos, que queríamos fazer e que o pessoal pudesse dar risada.
MZ – O filme não era para ter uma mensagem, algo óbvio, passar uma moral.
JC – É bem imoral inclusive, porque tudo que ele queria era transar com a mulher. Não à toa, deixa-a como zumbi. Vira um fetiche dele. (risos) Não tem herói no filme – eu sou meio contra eles.
JC - O primeiro trabalho feito na faculdade, feito para lá, foi Dupla Surpresa. O professor falou: “vamos fazer um curta, algo simples”. (risos) Eu falei não, quero fazer um curta do Star Wars. Ele disse: “tem certeza, grande” - ele chamava a gente de grande. Disse: “tenho, quero fazer”. Então tá, né? Fiz o roteiro e gravamos no estúdio, tudo com fundo verde, e depois fiz os efeitos. Não sabia fazer nada, fui aprendendo. O computador era um Pentium III, demorava 3 dias para indexar o filme (risos). Fazia o efeito e deixava lá carregando. Para a época, para como foi feito, acho que ficou um resultado bacana. Claro, se tivesse sido feito hoje, seria bem diferente, teria ficado melhor. Na faculdade, teve um barulho enorme. Teve um festivalzinho na faculdade e ganhamos. O voto era popular e ganhamos várias coisas: melhores efeitos visuais, melhor diretor... Foi a primeira reação de que estávamos fazendo certo, pelo nosso caminho. Estávamos começando a criar uma identidade. O Trabalhador, outro curta, era um exercício de luz, de iluminação, e resolvi fazer um curta. Até gosto dele, mas tem bem cara de faculdade mesmo. Despedida também foi feito para faculdade. A maioria dos filmes mais curtos foram feitos para faculdade. O primeiro que fiz pós-faculdade foi uma animação, Bruma, que fiz para mim. Era um personagem que eu tinha criado. Já havíamos feito Trailer Herói com Z de Brazil, um falso trailer, feito para faculdade também, e queria fazer uma coisa diferente, para professora Suzana Amaral, cineasta. O estilo dela é totalmente diferente, mas ela entendeu nosso trabalho. Ela é bem rígida, mas gostou. Deu nota boa. Ela assistiu a Dupla Surpresa e disse que gostou, não, minto, ela disse: “esse filme é um filme”. Vindo dela, isso é algo bacana. Foi uma honra. Esse semestre com ela foi muito bacana, valeu pelo curso todo.
Z - Seu primeiro grande filme e sucesso foi Minha Esposa é um Zumbi. Como surgiu a idéia?
JC – Nós ficamos sabendo do Festival Curta Fantástico de Ilha Comprida, meio em cima da hora – havia um mês ou dois para fazer um filme. Então íamos fazer um filme. Tinha que ser fantástico, e nessa época eu já começara a descobrir o cinema trash. Peter Jackson começou com cinema trash, Spielberg tem alguns exemplos, Coppola e o Sam Raimi, que fez Evil Dead – A Morte do Demônio, que para mim é tudo. Hoje eles fazem O Homem Aranha, O Senhor dos Anéis. (risos) Porque eu não posso começar assim? Comecei a pesquisar cinema trash e cheguei à conclusão que precisava fazer um filme de zumbi. Assisti a alguns filmes do George Romero e fiquei encantado. Aí fiquei pensando, para fazer um filme de zumbi, precisa de muita gente e eu não tinha muita gente para fazer zumbi. Como eu ia arranjar um monte de zumbi? Resolvi fazer com um só zumbi. (risos) Um parente ou algo assim. Esposa talvez. Pensando sempre no que eu tinha disponível: ator, equipamento e locação. Para fazer a esposa peguei minha esposa mesmo, já tínhamos casado na época, inclusive o apartamento que mostra é o nosso. Fui fazer a história da esposa do cara que vira zumbi. O cara era eu, o amigo é meu amigo [Danilo Baía] também. Peguei a sogra, que era mãe dela [Ivete Zani]. A única pessoa que faz um papel diferente é o pai dela [Luiz Carlos Batista], que faz um doutor. O pai dela é muito engraçado, é um ótimo ator. Fiz o roteiro e gravamos em dois finais de semana. A edição durou umas duas semanas. Colocamos no festival, sem pretensão nenhuma. O pessoal aceitou, foi bacana. Nós não fomos para Ilha Comprida acompanhar o festival, por falta de recursos (risos). Fiquei sabendo pelo organizador que nós tínhamos ganhado pelo júri popular com esse filme. Ele disse que tinha sido uma votação em massa no filme. “Você está brincando comigo?”, eu disse. Virou um fenômeno. Fomos chamados para participar de outros festivais. Teve festival em Goiânia, no Rio, no sul. O mais bacana depois disso foi para participar da mostra do Cinema de Bordas, Nas Bordas do Cinema, em 2008, e depois a publicação do artigo no livro Cinema de Bordas 2. Foi feito um capítulo nesse livro, pelo Rogério Ferraraz, pesquisador do grupo, que falou sobre o nosso trabalho, sobre minha vida como realizador de filmes e fez uma análise muito interessante sobre Minha Esposa é um Zumbi. Ele tirou do filme várias referências, e eu não sei se é algo que fica evidente para quem assiste. Quero ver se faço a continuação, já tenho o roteiro.
MZ – Foi tão bacana que acabamos pegando trejeitos dos personagens. Tem falas que viraram parte do nosso cotidiano. Vários bordões.
JC – O engraçado é que tem gente que sabe o filme de cor.
MZ – É muito estranho, porque conhecemos pessoas que afirmam já ter visto o filme. Ficamos encantados com a recepção.
JC – Quando fiz o filme, falei: ‘vou fazer o pior filme que puder’. Eu tinha uma idéia de que ou você faz um filme muito bem feito, ou o pior que você puder. (risos) Ficar no meio termo não é nada. Tem que ir para um lado ou para outro.
MZ – Não adianta querer fazer um papel todo dramático, se não tem um puta ator para fazer o filme.
JC – Com o tempo, talvez a gente consiga fazer um puta filme, mas do nosso jeito. O que acho importante foi que com esse filme começamos a criar uma identidade, que é algo fundamental para todo artista. Você assiste ao filme e liga à Recurso Zero.
Z – E a atuação é bem exagerada.
JC – Sim, era o que queríamos. Costumo falar que o personagem Tonho [interpretado por ele] é uma mistura de Jim Carrey com Didi Mocó. Falei para o elenco que não precisavam se preocupar, não precisavam ensaiar. As cenas eram gravadas na hora. Decoravam as falas na hora, a gente ficava meio que soprando para eles, e iam falando. Falei para exagerar no máximo que pudessem, para ficar legal. Ficou natural e ao mesmo tempo exagerado. O Danilo tem sotaque de paulistano e no filme ele colocou esse tom mais alto. O segredo foi esse: as pessoas ficaram à vontade para fazer e ao mesmo tempo exageradas. Eu vi muito Jerry Lewis, vi muito Trapalhões, Jim Carrey mesmo. Temos essas referências.
Z – Para você, essa questão, é por ser uma comédia, ser da temática, ou é por não se levar tão a sério, não ter pretensões?
JC – Creio que foi a questão de não ser pretensioso. Nesse filme, a idéia era fazer uma coisa em que nós nos divertíssemos, que queríamos fazer e que o pessoal pudesse dar risada.
MZ – O filme não era para ter uma mensagem, algo óbvio, passar uma moral.
JC – É bem imoral inclusive, porque tudo que ele queria era transar com a mulher. Não à toa, deixa-a como zumbi. Vira um fetiche dele. (risos) Não tem herói no filme – eu sou meio contra eles.
Z - Pelos parcos recursos, como criar algo de qualidade?
JC – Em primeiro lugar, é a história. Ter uma história interessante para contar para o público. Tem muito curta, e não estou falando mal de nenhum deles, que simplesmente não te dá vontade de assistir até o fim – e ele é um curta. Isso é um grande problema. O pessoal quando faz um curta, não sei se eles se prendem a isso, mas o roteiro é importante. A cada cena, tem que ter um gancho para o cara querer assistir a seguinte. Criar uma espécie de suspense. O que é bacana é o espectador tentar descobrir junto com o personagem o que está acontecendo. É a estrutura que eu uso, sendo certa ou não. Parece que está dando certo. A história é o ponto principal. O recurso técnico é importante, mas no nosso caso, não é o principal. Já vi muitos filmes com uma técnica extraordinária, mas não me deu vontade de assistir.
MZ – Além do roteiro, e acho que por experiência e do conhecimento que tivemos na faculdade, se não temos uma puta câmera, não temos uma puta luz, temos conhecimento que o diretor não vai sempre usar o mesmo plano. Para editar, não repete dois planos na mesma sequência. Mesmo que usemos uma câmera doméstica, temos alguns cuidados, a usamos a linguagem de cinema para fazer um filme. Não é só um filme feito por um monte de amadores – e isso porque não fazemos algo para o mercado -, há todo um cuidado em todos os processos do filme.
JC – Fazemos roteiro, decupagem, storyboard. Usamos todo processo de linguagem mesmo. É o que vai dar a cara de filme.
Z – O Felipe M. Guerra diz que já é difícil para o pessoal ver um filme brasileiro, ainda mais amador, se não tiver o mínimo de cuidado. Seria essa a questão?
MZ – Creio que sim. Você vai em festival e tem um monte de curta que não parece nada, a pessoa quer passar só um conceito e vende a idéia de filme para o público, mas não é. É uma filmagem apenas.
JC – Em primeiro lugar, é a história. Ter uma história interessante para contar para o público. Tem muito curta, e não estou falando mal de nenhum deles, que simplesmente não te dá vontade de assistir até o fim – e ele é um curta. Isso é um grande problema. O pessoal quando faz um curta, não sei se eles se prendem a isso, mas o roteiro é importante. A cada cena, tem que ter um gancho para o cara querer assistir a seguinte. Criar uma espécie de suspense. O que é bacana é o espectador tentar descobrir junto com o personagem o que está acontecendo. É a estrutura que eu uso, sendo certa ou não. Parece que está dando certo. A história é o ponto principal. O recurso técnico é importante, mas no nosso caso, não é o principal. Já vi muitos filmes com uma técnica extraordinária, mas não me deu vontade de assistir.
MZ – Além do roteiro, e acho que por experiência e do conhecimento que tivemos na faculdade, se não temos uma puta câmera, não temos uma puta luz, temos conhecimento que o diretor não vai sempre usar o mesmo plano. Para editar, não repete dois planos na mesma sequência. Mesmo que usemos uma câmera doméstica, temos alguns cuidados, a usamos a linguagem de cinema para fazer um filme. Não é só um filme feito por um monte de amadores – e isso porque não fazemos algo para o mercado -, há todo um cuidado em todos os processos do filme.
JC – Fazemos roteiro, decupagem, storyboard. Usamos todo processo de linguagem mesmo. É o que vai dar a cara de filme.
Z – O Felipe M. Guerra diz que já é difícil para o pessoal ver um filme brasileiro, ainda mais amador, se não tiver o mínimo de cuidado. Seria essa a questão?
MZ – Creio que sim. Você vai em festival e tem um monte de curta que não parece nada, a pessoa quer passar só um conceito e vende a idéia de filme para o público, mas não é. É uma filmagem apenas.
As expressões de Joel Caetano: já é ator reconhecido
Z - Um ano depois veio Junho Sangrento...
JC – Exatamente. Também foi para o festival. Junho Sangrento é um pouco diferente de nosso estilo, fiz até com esse propósito. Ele tem uma estrutura de roteiro muito simples, não tentei surpreender ninguém. Queria fazer um filme de serial killer. Um cara que vai matando todo mundo e sempre sobra um no final que vai acabar com ele. Queria trazer isso para uma realidade brasileira e acho que essa é a sacada do filme, que é o mais bacana. Ele se passa durante uma festa junina, e é o mais engraçado do filme. Ele nasceu também do Grindhouse. Na verdade, eram para ser gravados dois filmes, Carne Mutante Zumbi do Espaço e Junho Sangrento, separado por trailers falsos. Infelizmente, não conseguimos gravar os dois, por conta de alguns problemas. Acabamos fazendo um filme e os trailers. Ele também ganhou o festival de Ilha Comprida, pelo júri popular. Nós estávamos lá, foi bem legal. Teve uma reportagem super bacana da TV Tribuna, lá da região. Foi outra experiência que acabou dando resultado, mesmo não sendo tão experimental, mesmo parecendo com muitos outros filmes.
Z - Junho Sangrento já se mostra mais sério. É um filme de terror? Ou você ainda vê como terrir?
JC – Não é terror, porque não dá medo. Terror tem que dar medo. Ele flerta um pouco com o terrir, mas não tanto quanto Minha esposa é um Zumbi. Creio que é um meio termo entre os dois. O terrir talvez por ele ser muito exagerado. O cara sair da água, colocar a mão no fogo, umas coisas bem esdrúxulas mesmo. Dá uma cara de cinema bem dos anos 70.
Z - Gosto muito de O Assassinato da Mulher Mental. Como foi o processo de criação do filme?
JC – Esse filme é um xodó. Primeiro, porque eu sou apaixonado por quadrinhos e eu assisto a muitas adaptações, algumas eu gosto, outras não. Queria fazer uma coisa que fosse parecida com os comics americanos - sou bem influenciado por ele -, mas com a nossa temática. O público, como nós, sente falta desse tipo de filme, desse tipo de material sobre qual é o real herói brasileiro. E eu acho bacana criar esse universo. Claro que tem muita influência de Superman, X-Men, Watchmen, até d’Os Incríveis. Mas tem uma coisa nossa, sabe? Uma coisa nossa, mas ao mesmo tempo universal. Lá, você reconhece os tipos. Tinha um cara parecido com o Superman, mas aí eu o faço muito brasileiro, com aquela mistura de verde e amarelo, o cara é moreno e tal. É uma mistura que eu acho bacana. Tem uma mulher parecida com a Jean Grey, tem um pouco de Marvel também. O Bruma que é um Batman, Spirit, sei lá...
JC – Exatamente. Também foi para o festival. Junho Sangrento é um pouco diferente de nosso estilo, fiz até com esse propósito. Ele tem uma estrutura de roteiro muito simples, não tentei surpreender ninguém. Queria fazer um filme de serial killer. Um cara que vai matando todo mundo e sempre sobra um no final que vai acabar com ele. Queria trazer isso para uma realidade brasileira e acho que essa é a sacada do filme, que é o mais bacana. Ele se passa durante uma festa junina, e é o mais engraçado do filme. Ele nasceu também do Grindhouse. Na verdade, eram para ser gravados dois filmes, Carne Mutante Zumbi do Espaço e Junho Sangrento, separado por trailers falsos. Infelizmente, não conseguimos gravar os dois, por conta de alguns problemas. Acabamos fazendo um filme e os trailers. Ele também ganhou o festival de Ilha Comprida, pelo júri popular. Nós estávamos lá, foi bem legal. Teve uma reportagem super bacana da TV Tribuna, lá da região. Foi outra experiência que acabou dando resultado, mesmo não sendo tão experimental, mesmo parecendo com muitos outros filmes.
Z - Junho Sangrento já se mostra mais sério. É um filme de terror? Ou você ainda vê como terrir?
JC – Não é terror, porque não dá medo. Terror tem que dar medo. Ele flerta um pouco com o terrir, mas não tanto quanto Minha esposa é um Zumbi. Creio que é um meio termo entre os dois. O terrir talvez por ele ser muito exagerado. O cara sair da água, colocar a mão no fogo, umas coisas bem esdrúxulas mesmo. Dá uma cara de cinema bem dos anos 70.
Z - Gosto muito de O Assassinato da Mulher Mental. Como foi o processo de criação do filme?
JC – Esse filme é um xodó. Primeiro, porque eu sou apaixonado por quadrinhos e eu assisto a muitas adaptações, algumas eu gosto, outras não. Queria fazer uma coisa que fosse parecida com os comics americanos - sou bem influenciado por ele -, mas com a nossa temática. O público, como nós, sente falta desse tipo de filme, desse tipo de material sobre qual é o real herói brasileiro. E eu acho bacana criar esse universo. Claro que tem muita influência de Superman, X-Men, Watchmen, até d’Os Incríveis. Mas tem uma coisa nossa, sabe? Uma coisa nossa, mas ao mesmo tempo universal. Lá, você reconhece os tipos. Tinha um cara parecido com o Superman, mas aí eu o faço muito brasileiro, com aquela mistura de verde e amarelo, o cara é moreno e tal. É uma mistura que eu acho bacana. Tem uma mulher parecida com a Jean Grey, tem um pouco de Marvel também. O Bruma que é um Batman, Spirit, sei lá...
Z – Ele me lembra muito os detetives dos filmes noir.
JC – Exatamente. São misturados, né? O Batman é um detetive. Então eu quis fazer essa mescla. Na verdade é uma homenagem aos quadrinhos, e é um filme que eu sempre quis ver. O clima é uma coisa meio premeditada, eu queria algo mais sério mesmo. Tem uma comédia nele, mas sempre faço comédia meio humor negro.
Z – É uma coisa difícil de fazer muito sério, né?
JC – É, não dá. Você não consegue. Tem um pouco de pretensão, mas não tanto, se não você não consegue. Tem recursos que não dá para enganar, não tem ator... Mas o resultado ficou bacana. Conseguimos ter a comédia, os quadrinhos, a parte séria da história também e conseguimos passar uma mensagem também, que é algo que eu acho bem bacana.
Z – Como vocês fizeram as roupas deles?
JC - Minha mãe tem uma oficina de costura, e ela mesmo fez as roupas. A gente tinha feito essas roupas para o trailer – como a roupa do Hiper Homem. E resolvemos aproveitar algumas coisas, ou outras que nós tínhamos lá, como um sobretudo. Teve um chapéu que eu comprei na 25 de Março. A roupa do Bruma eu acho que é mais expressiva. O Sem Rosto, que é o vilão, ele tem a marca no rosto, o terno... A bomba foi feita pelo pai do Danilo. Ele pegou uns pedaços de madeira e uns negócios lá que nunca iam parecem com uma bomba. Tem até o barulhinho. Tem a espingarda que pegamos a do meu pai... Cada um da família contribuiu com alguma ajuda.
Z – E os efeitos visuais, como que você fez?
JC – Os efeitos visuais eu explorei bastante. Tudo composição, tudo com tela verde.
Z – E você tem uma tela verde?
JC – Tenho. Acabei adquirindo uma tela verde, na verdade, azul. Por exemplo, a cena em que eles saem voando, que ele agarra o cara e sai voando, eu usei outra técnica. Eu gravei a cena sem ninguém, depois eu gravei com os atores e aí eu fiz uma animação quando ele a agarra, fazendo uma subida bem rápida e aí você acaba sem perceber, eu botei uma fumacinha lá.
Z – E é tudo digital?
JC – Tudo no computador
Z – Você aprendeu isso na faculdade ou mexendo?
JC – Na faculdade, você não aprende isso. Não tem aula de edição. Eles te ensinam a usar o iMovie, que é igual ao Windows Movie Maker. Hoje eu tenho muita prática pela produtora e por ter acesso ao equipamento. Nas horas vagas, eu ia lá. E aprendi muito mexendo. Dá uma diferença muito grande, principalmente na parte técnica. Até na edição também, na filmagem. Filmar o Bruma sem mostrar os olhos. Foi editado no Final Cut, com alguns efeitos de animação que eu usei. As imagens estáticas foram feitas no Photoshop, com ajuda do Danilo, que entende bem.
Z - Qual o custo das suas produções?
JC – Acho que o máximo que gastamos até hoje foi R$ 800,00.
MZ – É, em Junho Sangrento, com um churrasco que montamos. Porque com o filme em si não gastamos nada.
JC – Compramos equipamento nesse, mas com o filme mesmo foi uns R$ 30,00. Minha Esposa é um Zumbi foi muito menos, com esse não gastei nada. Ok, vamos colocar uns R$ 100,00 aí. Junho Sangrento foi R$ 800,00, por causa do churrasco, para animar o pessoal. Lógico, por causa de comida. Com O Assassinato da Mulher Mental gastamos com fita, com transporte e deu uns R$ 500,00.
MZ – E com comida, sempre com comida. Em casa é o que tem, que é macarrão. Aí quando fazemos o filme, isso muda um pouco.
JC – O gasto é bem pouco mesmo. Até mesmo porque tem muita gente que acredita no nosso trabalho e empresta equipamento. Todo mundo faz de graça. Nenhum ator é pago. Mesmo nesse último filme que teve uma diretora de fotografia, que fez com o Danilo, não cobrou também.
Z - Quem banca o filme?
JC – Somos nós dois. O dinheiro extra que entra. Danilo ajudou muito com o transporte, pois o carro era dele, e a gasolina ele que bancou. Somos nós três, na verdade. A Recurso Zero banca os filmes.
Z - Como o dinheiro é gasto principalmente?
JC - Primeiro lugar, o que mais gasta: alimentação. Fitas. Compramos alguma coisa de figurino, objeto de cena é o que tem. Como falei, eu tento trabalhar com o que temos.
Z - Quanto tempo de filmagem? E para finalizar?
JC – Normalmente, no final de semana. Junho Sangrento foi filmado em um final de semana. O Assassinato da Mulher Mental foram três para filmar, mais três semanas para editar. Sexta, sábado virava, domingo. Para filmar, virávamos a madrugada.
MZ – Era muito engraçado, às vezes, e era chato, porque estávamos na casa da minha mãe, e meu pai lá sentado, começava a roncar, com a roupa de Sem Rosto, e tínhamos que ficar cutucando. Aí quando era a vez dele de gravar, agia como se nada tivesse ocorrido.
JC – O bacana da Recurso é que todos tem algum envolvimento com arte. O pai da Mariana é autor de teatro, ele escreve para um grupo de Bauru, o Grupo Ato. E junto com a mãe dela, foram atores de teatro nos anos 70. Mexem com arte até hoje. São pessoas que entendem. Os pais dela são excelentes atores. Sempre podemos contar com eles. A Mariana também fez teatro, eu fiz teatro. O Danilo é ele mesmo. As pessoas falam que o personagem dele em Minha esposa é um Zumbi é muito engraçado, mas é ele. Eu tento aproveitar isso: o que a pessoa tem de engraçado. Os atores são sempre da família ou amigos. Pensamos em abrir para outros atores, mas isso pode fazer perder a identidade dos filmes. Talvez façamos diferente, com outros atores, mas não pela Recurso Zero. Temos que estar em cena, nem que seja uma ponta.
Z - Há retorno financeiro?
JC – Ainda não. Para falar a verdade, o primeiro retorno financeiro foi do Itaú Cultural [devido à mostra Cinema de Bordas, em 2009], que pagou pelos direitos. Foi bacana, a gostamos. (risos) Não vou falar quanto que é, mas vamos fazer o próximo filme com esse dinheiro. Estamos começando a comercializar os filmes agora. Achava meio prepotente. Eu queria que ficássemos conhecidos para começar a comercializar. Acho meio sacana fazer um filme e sair vendendo. Queria também me testar, não tinha muita segurança para fazer isso. Queríamos ter aprovação antes.
MZ – Retorno financeiro não foi muito mesmo. O que entrou foi o apreço, a divulgação. Se formos contar quanto custa um livro [Cinema de Bordas 2], qual foi a tiragem, o interesse dos organizadores. Se colocarmos na calculadora quanto que gastaríamos, equivale. Teve a mostra na Anhembi-Morumbi [Nas Bordas do Cinema, em 2008], no Itaú Cultural, as reportagens, inclusive para Globo. Se não pensarmos em dinheiro – porque pense, ficamos quatro minutos no ar na Globo, pense em quanto isso custaria, fora a apresentação do jornal que faz a chamada, e termina no jornal com cena do filme, teríamos de pagar o resto da vida a Globo. Não entrou dinheiro, mas também não gastamos nada para divulgar o trabalho.
JC – Acho que num futuro teremos retorno financeiro, de alguma maneira. Como todo artista, não sabemos mexer com dinheiro, não sabemos ganhar dinheiro. Pelo menos eu não sei. Não fazemos pensando nisso, queremos que o pessoal assista e goste.
JC – Exatamente. São misturados, né? O Batman é um detetive. Então eu quis fazer essa mescla. Na verdade é uma homenagem aos quadrinhos, e é um filme que eu sempre quis ver. O clima é uma coisa meio premeditada, eu queria algo mais sério mesmo. Tem uma comédia nele, mas sempre faço comédia meio humor negro.
Z – É uma coisa difícil de fazer muito sério, né?
JC – É, não dá. Você não consegue. Tem um pouco de pretensão, mas não tanto, se não você não consegue. Tem recursos que não dá para enganar, não tem ator... Mas o resultado ficou bacana. Conseguimos ter a comédia, os quadrinhos, a parte séria da história também e conseguimos passar uma mensagem também, que é algo que eu acho bem bacana.
Z – Como vocês fizeram as roupas deles?
JC - Minha mãe tem uma oficina de costura, e ela mesmo fez as roupas. A gente tinha feito essas roupas para o trailer – como a roupa do Hiper Homem. E resolvemos aproveitar algumas coisas, ou outras que nós tínhamos lá, como um sobretudo. Teve um chapéu que eu comprei na 25 de Março. A roupa do Bruma eu acho que é mais expressiva. O Sem Rosto, que é o vilão, ele tem a marca no rosto, o terno... A bomba foi feita pelo pai do Danilo. Ele pegou uns pedaços de madeira e uns negócios lá que nunca iam parecem com uma bomba. Tem até o barulhinho. Tem a espingarda que pegamos a do meu pai... Cada um da família contribuiu com alguma ajuda.
Z – E os efeitos visuais, como que você fez?
JC – Os efeitos visuais eu explorei bastante. Tudo composição, tudo com tela verde.
Z – E você tem uma tela verde?
JC – Tenho. Acabei adquirindo uma tela verde, na verdade, azul. Por exemplo, a cena em que eles saem voando, que ele agarra o cara e sai voando, eu usei outra técnica. Eu gravei a cena sem ninguém, depois eu gravei com os atores e aí eu fiz uma animação quando ele a agarra, fazendo uma subida bem rápida e aí você acaba sem perceber, eu botei uma fumacinha lá.
Z – E é tudo digital?
JC – Tudo no computador
Z – Você aprendeu isso na faculdade ou mexendo?
JC – Na faculdade, você não aprende isso. Não tem aula de edição. Eles te ensinam a usar o iMovie, que é igual ao Windows Movie Maker. Hoje eu tenho muita prática pela produtora e por ter acesso ao equipamento. Nas horas vagas, eu ia lá. E aprendi muito mexendo. Dá uma diferença muito grande, principalmente na parte técnica. Até na edição também, na filmagem. Filmar o Bruma sem mostrar os olhos. Foi editado no Final Cut, com alguns efeitos de animação que eu usei. As imagens estáticas foram feitas no Photoshop, com ajuda do Danilo, que entende bem.
Z - Qual o custo das suas produções?
JC – Acho que o máximo que gastamos até hoje foi R$ 800,00.
MZ – É, em Junho Sangrento, com um churrasco que montamos. Porque com o filme em si não gastamos nada.
JC – Compramos equipamento nesse, mas com o filme mesmo foi uns R$ 30,00. Minha Esposa é um Zumbi foi muito menos, com esse não gastei nada. Ok, vamos colocar uns R$ 100,00 aí. Junho Sangrento foi R$ 800,00, por causa do churrasco, para animar o pessoal. Lógico, por causa de comida. Com O Assassinato da Mulher Mental gastamos com fita, com transporte e deu uns R$ 500,00.
MZ – E com comida, sempre com comida. Em casa é o que tem, que é macarrão. Aí quando fazemos o filme, isso muda um pouco.
JC – O gasto é bem pouco mesmo. Até mesmo porque tem muita gente que acredita no nosso trabalho e empresta equipamento. Todo mundo faz de graça. Nenhum ator é pago. Mesmo nesse último filme que teve uma diretora de fotografia, que fez com o Danilo, não cobrou também.
Z - Quem banca o filme?
JC – Somos nós dois. O dinheiro extra que entra. Danilo ajudou muito com o transporte, pois o carro era dele, e a gasolina ele que bancou. Somos nós três, na verdade. A Recurso Zero banca os filmes.
Z - Como o dinheiro é gasto principalmente?
JC - Primeiro lugar, o que mais gasta: alimentação. Fitas. Compramos alguma coisa de figurino, objeto de cena é o que tem. Como falei, eu tento trabalhar com o que temos.
Z - Quanto tempo de filmagem? E para finalizar?
JC – Normalmente, no final de semana. Junho Sangrento foi filmado em um final de semana. O Assassinato da Mulher Mental foram três para filmar, mais três semanas para editar. Sexta, sábado virava, domingo. Para filmar, virávamos a madrugada.
MZ – Era muito engraçado, às vezes, e era chato, porque estávamos na casa da minha mãe, e meu pai lá sentado, começava a roncar, com a roupa de Sem Rosto, e tínhamos que ficar cutucando. Aí quando era a vez dele de gravar, agia como se nada tivesse ocorrido.
JC – O bacana da Recurso é que todos tem algum envolvimento com arte. O pai da Mariana é autor de teatro, ele escreve para um grupo de Bauru, o Grupo Ato. E junto com a mãe dela, foram atores de teatro nos anos 70. Mexem com arte até hoje. São pessoas que entendem. Os pais dela são excelentes atores. Sempre podemos contar com eles. A Mariana também fez teatro, eu fiz teatro. O Danilo é ele mesmo. As pessoas falam que o personagem dele em Minha esposa é um Zumbi é muito engraçado, mas é ele. Eu tento aproveitar isso: o que a pessoa tem de engraçado. Os atores são sempre da família ou amigos. Pensamos em abrir para outros atores, mas isso pode fazer perder a identidade dos filmes. Talvez façamos diferente, com outros atores, mas não pela Recurso Zero. Temos que estar em cena, nem que seja uma ponta.
Z - Há retorno financeiro?
JC – Ainda não. Para falar a verdade, o primeiro retorno financeiro foi do Itaú Cultural [devido à mostra Cinema de Bordas, em 2009], que pagou pelos direitos. Foi bacana, a gostamos. (risos) Não vou falar quanto que é, mas vamos fazer o próximo filme com esse dinheiro. Estamos começando a comercializar os filmes agora. Achava meio prepotente. Eu queria que ficássemos conhecidos para começar a comercializar. Acho meio sacana fazer um filme e sair vendendo. Queria também me testar, não tinha muita segurança para fazer isso. Queríamos ter aprovação antes.
MZ – Retorno financeiro não foi muito mesmo. O que entrou foi o apreço, a divulgação. Se formos contar quanto custa um livro [Cinema de Bordas 2], qual foi a tiragem, o interesse dos organizadores. Se colocarmos na calculadora quanto que gastaríamos, equivale. Teve a mostra na Anhembi-Morumbi [Nas Bordas do Cinema, em 2008], no Itaú Cultural, as reportagens, inclusive para Globo. Se não pensarmos em dinheiro – porque pense, ficamos quatro minutos no ar na Globo, pense em quanto isso custaria, fora a apresentação do jornal que faz a chamada, e termina no jornal com cena do filme, teríamos de pagar o resto da vida a Globo. Não entrou dinheiro, mas também não gastamos nada para divulgar o trabalho.
JC – Acho que num futuro teremos retorno financeiro, de alguma maneira. Como todo artista, não sabemos mexer com dinheiro, não sabemos ganhar dinheiro. Pelo menos eu não sei. Não fazemos pensando nisso, queremos que o pessoal assista e goste.
Z - Você faz filmes com pouco dinheiro por opção ou por que é a única maneira?
JC – Começou primeiro por não ter opção. Não havia grana. Continuamos a não ter grana, mas agora se tornou uma identidade. A proposta da Recurso Zero é fazer um produto de qualidade, com menos recursos possíveis. É mostrar que é isso é possível. É muito legal o advento do digital, porque democratizou a coisa. Quem é bom, hoje, aparece. Ele vai lá, coloca um vídeo no Youtube. Quantas pessoas você não conhece, quantos artistas, não colocaram um vídeo no Youtube, ou uma música no Myspace e hoje está aí na mídia?
MZ – Quanto à questão da opção: estamos nisso há oito anos, mas só começamos a pensar efetivamente nos últimos três. Os cinco primeiros era quase uma brincadeira, uma gozação. Não pensávamos em mercado, em divulgação. Agora estamos mais conscientes.
JC – Tanto que você pode notar não só uma evolução no quesito técnico, como no comercial.
MZ – Talvez se tivéssemos mais dinheiro, perderíamos essa identidade. Nesses últimos três anos procuramos isso. È importante que o Joel tenha uma identidade como roteirista, como diretor. Se formos fazer algo com mais dinheiro, diferente, será algo paralelamente à Recurso Zero.
Z - Tem novos projetos?
JC - Estamos filmando um novo roteiro, chamado Gato. Não posso falar muito sobre ele. Quero fazer para lançar na Mostra Curta Fantástico, porque é a mostra que me revelou. Tenho uma espécie de compromisso de participar todo ano. A organização é muito boa, para mim, uma das melhores mostras que tem hoje no Brasil. O filme conta a história de um cara solitário e um gato – que é nosso. Comecei a observar algumas coisas nela e achei que dava para criar uma história bacana. Tem outro projeto, do meio do ano para frente, que é começar a fazer meu primeiro longa. Mas está muito cru para falar.
JC – Começou primeiro por não ter opção. Não havia grana. Continuamos a não ter grana, mas agora se tornou uma identidade. A proposta da Recurso Zero é fazer um produto de qualidade, com menos recursos possíveis. É mostrar que é isso é possível. É muito legal o advento do digital, porque democratizou a coisa. Quem é bom, hoje, aparece. Ele vai lá, coloca um vídeo no Youtube. Quantas pessoas você não conhece, quantos artistas, não colocaram um vídeo no Youtube, ou uma música no Myspace e hoje está aí na mídia?
MZ – Quanto à questão da opção: estamos nisso há oito anos, mas só começamos a pensar efetivamente nos últimos três. Os cinco primeiros era quase uma brincadeira, uma gozação. Não pensávamos em mercado, em divulgação. Agora estamos mais conscientes.
JC – Tanto que você pode notar não só uma evolução no quesito técnico, como no comercial.
MZ – Talvez se tivéssemos mais dinheiro, perderíamos essa identidade. Nesses últimos três anos procuramos isso. È importante que o Joel tenha uma identidade como roteirista, como diretor. Se formos fazer algo com mais dinheiro, diferente, será algo paralelamente à Recurso Zero.
Z - Tem novos projetos?
JC - Estamos filmando um novo roteiro, chamado Gato. Não posso falar muito sobre ele. Quero fazer para lançar na Mostra Curta Fantástico, porque é a mostra que me revelou. Tenho uma espécie de compromisso de participar todo ano. A organização é muito boa, para mim, uma das melhores mostras que tem hoje no Brasil. O filme conta a história de um cara solitário e um gato – que é nosso. Comecei a observar algumas coisas nela e achei que dava para criar uma história bacana. Tem outro projeto, do meio do ano para frente, que é começar a fazer meu primeiro longa. Mas está muito cru para falar.