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Especial Marabá

Pode entrar

Por Julio Simões, especialmente para a Zingu!*

30 de maio de 2009. O frio da noite já havia se dissipado graças ao sol da manhã, que esquentava o movimento na Avenida Ipiranga em pleno sábado. Roupas grossas ainda eram vistas circulando pela região, mas sem qualquer vestígio da elegância dos trajes da festa de inauguração para convidados. Da noite anterior, apenas o olhar curioso de quem estava de passagem pelo renovado prédio do número 757 permanecia o mesmo.

Um pouco antes da hora do almoço, os funcionários do mais novo cinema da rua já se movimentavam para abrir as portas de vidro para os paulistanos, o que aconteceu pouco antes do meio-dia. Na porta, um esguio segurança vestido com um longo terno preto, gravata vermelha e sorriso no rosto convidava os transeuntes para conhecer o cinema. “Pode entrar, está aberto” e “Quer conhecer? Hoje é de graça”, eram as frases mais ditas por ele.

Aos poucos, dominados pela curiosidade, muitos paulistanos interrompiam a caminhada e venciam o receio por entrar em um ambiente novo e luxuoso. Em todos os casos, a primeira impressão era a mesma: surpresa. O lustre, o espelho, as colunas, a (argh!) bombonière e os plasmas já exibindo a programação do dia distraíam quem aceitava o convite do porteiro simpático. Poucos, porém, adquiriam ingresso para as primeiras sessões do dia.

A primeira sessão, aliás, foi um caso a parte. Apenas cinco heróis (um casal e uma criança, uma mulher e outra criança) pagaram para ver A Festa do Garfield, filme que havia estreado quase um mês antes e já estava esquecido em algumas salas distantes. Para piorar, o infantil fora exibido às 12h10 de um sábado, em uma sala pequena que não tinha nem um pouco do glamour do espaço de exibição restaurado. Performance um pouco frustrante, claro. Mas perfeitamente compreensível.

Assim, enquanto o salão principal permanecia abarrotado de curiosos, poucas pessoas ultrapassavam a barreira criada pela PlayArte para recolher os ingressos e permitir o acesso às outras áreas do cinema. Ou seja, quem quisesse conhecer a sala restaurada, o mezanino e as áreas coloridas de acesso, tinha que pagar e ver um filme. Só que a programação inicial escolhida pela exibidora, focada em filmes dublados e blockbusters, não parece ter empolgado muito.

Na sala 1, a restaurada, a animação Monstros vs. Alienígenas disputava espaço com o terror Dia dos Namorados Macabro, ambos em 3D, dublados e já saindo de cartaz. A sala 2, por outro lado, trazia os nacionais Divã e A Mulher Invisível, este ainda em pré-estréia. Já na sala 3, a única estréia da semana, o policial Killshot. De resto, nada de novo: A Festa do Garfield e Anjos e Demônios, ambos dublados, na sala 4; e Uma Noite no Museu 2, também dublado, na sala 5.

No entanto, a programação não prejudicou completamente o primeiro dia. Curiosamente, as pessoas não demonstravam qualquer receio em freqüentar o Centro e, conforme o horário ia avançando, mais movimento havia no cinema. No fim da tarde, D. Elda Bettin Coltro, presidente da PlayArte, foi conferir o movimento e, pessoalmente, reorganizou a fila da bilheteria. Bastante satisfeita com o que via, exibia no rosto um sorriso parecido com o do porteiro simpático.

*Júlio Simões é jornalista é autor do livro Cine Marabá - O Cinema do Coração de São Paulo, que pode ser adquirido através de contato pelo site http://cinemaraba.wordpress.com/




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