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Especial Marabá

Enfim, de volta

Por Julio Simões, especialmente para a Zingu!*

29 de maio de 2009. Naquele dia, o incipiente inverno paulistano obrigou o uso de roupas um pouco fora do comum, mais quentes e elegantes, que contribuíram para recompor um pouco da atmosfera dos anos 1940, quando ir ao cinema em traje social era pré-requisito. Assim, ainda que poucos homens vestissem ternos e que só algumas mulheres exibissem seus vestidos longos naquela ocasião, a fila formada pelos convidados ia do Cine Marabá à esquina da Avenida Ipiranga com a São João, recriando um cenário que fez muita gente voltar ao passado.

Afinal, era grande a expectativa para conferir com os próprios olhos a reforma que tirou o Cine Marabá de circulação por um ano e sete meses, sendo dez apenas para a reforma e restauração propriamente dita. Embora pareça pouco, a idéia de rejuvenescer o cinema já vinha desde 1999, mas acabou esbarrando em dificuldades de projeto e financiamento, já que o prédio é tombado como patrimônio histórico e não pode perder suas características fundamentais – a autorização do órgão responsável na Prefeitura de São Paulo, por exemplo, demorou três anos para sair.


Fechado para reforma

Mas toda aquela espera, enfim, se encerrou naquela noite. Canhões de luzes apontados para o céu e para a fachada recém-restaurada davam o tom da festa de apresentação do novo cinema para políticos, jornalistas, empresários, artistas e todo tipo de gente influente, convidados que tinham a oportunidade (para alguns, única) de desfilar em um tapete vermelho estendido na frente do cinema antes de entrar no saguão restaurado. Logo na entrada, a presidente da PlayArte, Elda Bettin Coltro, acompanhada dos filhos, fazia a recepção com o sorriso de satisfação no rosto. Missão cumprida.

O deslumbramento pela reforma do hall de entrada era inevitável. Tudo brilhante, do espelho enorme e ornamentado no fundo do salão até os menus eletrônicos da moderna bombonière colocada bem no centro. Tal balcão que vende combos de pipocas enormes com refrigerantes exagerados e até cachorro quente, aliás, foi alvo de críticas por parte dos cinéfilos mais conservadores. Afinal, como era possível algo tão robusto e supérfluo quase encobrir a visão do velho e luxuoso lustre? Falha grave, dona Elda, falha grave.

Já atrás da porta vermelha e estofada que antigamente dava acesso direto à sala de 1655 lugares, surge a área apontada como a menina dos olhos pelo arquiteto Ruy Ohtake. Segundo ele, o formato circular das salas 2 e 3 e o estilo multiplex (paredes coloridas, com telas de plasma e outra bombonière) foram pensados para contrapor a parte histórica do cinema e dinamizar o fluxo no interior do prédio. Isso sem falar na sala 1, que teve a boca de cena e o forro restaurados, além de ter sido transformada em stadium e habilitada para 3D, o que a coloca como a melhor sala da PlayArte.

No dia da festa, a PlayArte aproveitou para mostrar toda a tecnologia instalada no novo cinema em algumas sessões. Na sala principal, após discursos de personalidades e uma bênção católica que se arrastaram até quase às 23h, foi exibido U2 3D, lançado no país há quase um ano. Ao mesmo tempo, as outras salas apresentavam A Mulher Invisível, Killshot – Tiro Certo, 17 Outra Vez e A Festa do Garfield para distrair os convidados. Tudo perfeito, não fossem os cidadãos comuns terem que esperar um dia a mais para conferirem o retorno do cinema...

*Júlio Simões é jornalista é autor do livro Cine Marabá - O Cinema do Coração de São Paulo, que pode ser adquirido através de contato pelo site http://cinemaraba.wordpress.com/




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