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Coluna CINEMA Extremo
ONDE O CINEMA PODE SER VIOLENTO...

Por Marcelo Carrard

Zombie Holocaust
Direção: Marino Girolami
Itália, 1980.

Existem filmes que possuem um sabor todo especial de nostalgia - a lembrança dos velhos cinemas do Centro, com suas cortinas de veludo, um leve cheiro de mofo e os cartazes dos filmes que no passado tinham as fotos dos tais filmes que me faziam viajar naquelas imagens. Dos muitos filmes que eu vi, nesse período mágico de minha cinefilia, algumas pérolas são destaque como: Um Lobisomem Americano em Londres, Phantasm, Barracuda, Black Emanuelle, Cannibal Apocalypse, entre outras produções toscas e geniais de gênero, como o bizarro Alien 2, a produção italiana, não a de James Cameron. Dessa galeria de filmes, me recordo de um em particular, que vi em uma inocente tarde de domingo, no início dos anos 80: Zombie Holocaust, dirigido por Marino Girolami e produzido pelo picareta Fabrizio de Angelis.

Na Itália do final dos anos 70 e 80, dois subgêneros do Cinema de Horror eram produzidos por lá, fazendo muito sucesso, após o êxito de dois filmes: Cannibal Holocaust, de Ruggero Deodato, e Zombie, de Lucio Fulci, respectivamente um filme de canibais e outro de zumbis. Na esteira desses dois filmes, vieram pérolas extremas como: Cannibal Ferox, de Umberto Lenzi, e Hell of the Living Dead, de Bruno Mattei. Eis que o produtor Fabrizio de Angelis resolveu unir em um mesmo filme os dois subgêneros: canibais e zumbis. O resultado desse híbrido é justamente Zombie Holocaust, também conhecido no circuito Grindhouse dos EUA como Dr. Butcher MD. A trama é bem simples: partes de corpos de pacientes de um grande hospital começam a desaparecer e logo se descobre que existe um enfermeiro canibal agindo no tal hospital. Um grupo de pesquisadores viaja então para a ilha de onde veio o enfermeiro e lá descobrem uma tribo de famintos canibais que convivem com zumbis e um cientista demente. Com essa trama bizarra, o diretor aproveita para inundar a tela de muito gore e nudez gratuita da atriz principal. Destaque absoluto para uma extrema sequência de eyeball e outra em que um zumbi tem a sua cabeça estraçalhada pelo motor de uma lancha.

A produção do filme nunca foi até nenhuma locação distante, tentando buscar um cenário tropical ou exótico, como era de costume para diretores como Joe D’Amato. As locações de Zombie Holocaust ficavam em uma praia perto de Roma e os figurantes eram nativos. As sequências dos experimentos gore do tal cientista são geniais e satisfazem plenamente os fãs do gênero. No Brasil, o filme passou com alguns cortes e com o título de Os Zumbis do Holocausto. Após sua passagem pelos cinemas, o filme virou meio que uma lenda entre os fãs do gênero, surgindo somente nos últimos anos em uma versão restaurada e sem cortes. Sem muitos rodeios, o diretor conta sua história de maneira simples e direta e os artesanais efeitos especiais de maquiagem tem grandes momentos, o ataque dos canibais e as serras circulares abrindo as cabeças são um bom exemplo dessa escola italiana de grandes maquiadores, que tem perdido espaço para os efeitos digitais. Como nostalgia, Zombie Holocaust é daqueles filmes que sempre terão um lugar especial no meu coração. São sessões que povoam meu imaginário, minha galeria de filmes vistos em uma época que a cinefilia era tecida pouco a pouco nos velhos e extintos palácios do cinema dos abandonados centros das grandes cidades.



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