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Inventário Grandes Musas da Boca
Agora, todo mês, uma dama do cinema paulista

Nádia Lippi

Por Adilson Marcelino

Se nos anos 70, deusas que já passavam dos 20 ou quase chegavam à fase balzaquiana faziam a alegria e povoavam a fantasia do público, como Vera Fischer, Sônia Braga e Zezé Motta, um time de ninfetas invadia as telas e não deixava por menos. E, com certeza, Nádia Lippi foi uma das mais belas, talentosas e desejadas.

Nadia Lippi nasceu no dia 12 de março de 1956, em São Paulo. A atriz começou a carreira artística na pré-adolescência ao ser descoberta pelo ator e diretor Dionísio Azevedo, que a convidou para atuar na televisão. Assim, ela estreou na novela A Pequena Órfã, de Teixeira Filho, exibida na TV Excelsior, com grande sucesso entre 1968 e 1969, e dirigida por Dionísio. A partir daí, a atriz fez uma novela atrás da outra até o início da década de 80 e passando por várias emissoras: Record, Tupi e Globo. Alguns destaques são as personagens: Babi, de A Barba Azul (1974/75), de Ivani Ribeiro; Bia de Tchan! A Grande Sacada (1976/77), de Marcos Rey – em que faz um quarteto trambiqueiro com Raul Cortez, Maria do Roccio e Silvia Massari – ambas na Tupi; e Maria Augusta de As Três Marias (1980/81), de Wilson Rocha e Walter Negrão, na Globo – as outras duas Marias eram Glória Pires e Maitê Proença.

Além de ter descoberto Nádia Lippi para a TV, foi também Dionísio Azevedo que levou a atriz para o cinema. Começava aí a ascensão de uma das mais amadas musas da Boca do Lixo. Nádia Lippi é a protagonista de A Virgem, filme que tem argumento, roteiro e direção de Dionísio Azevedo e foi distribuído pela Cinedistri, de Oswaldo Massaini, em 1973.

Em A Virgem , Nádia Lippi tem uma ótima estréia nas telas - uma deusa de beleza. Sua personagem é Lenita, a protagonista do título, que tem a virgindade disputada no palitinho pelo namorado – Kadu Moliterno, que ainda assinava como Carlos Eduardo, e seus amigos – Nuno Leal Maia, Alexandre Rodovan e Tony Tornado. O filme reúne uma turma de amigos que praticam os ideais de liberdade e de amor livre, conceito personificado no modo de vida dos rapazes e suas namoradas – Lenita é a única recatada, e por isso a disputa do palito é o mote para a trama. Vale destacar as atrizes que fazem essas namoradas liberadas, todas elas em ótimas interpretações – Nadir Fernandes, Miriam Mayo e Célia Olga Benvenutti, que carimbaria seu passaporte para o cult Lilian M.: Relatório Confidencial, do grande Carlos Reichenbach. Destaque também para interpretação primorosa de Célia Helena no elenco.

O trabalho seguinte de Nádia Lippi para o cinema é a comédia Efigênia Dá Tudo o Que Tem (1975). No filme, o protagonista é vivido por Ricardo Petraglia, um cantor que herda uma fortuna de uma milionária apaixonada, mas que para botar a mão na bufunfa tem que se casar e ter uma filha para ser batizada de Efigênia, nome da dona da bola. Nádia é Dulce, uma ex-namorada que ele encontra durante sua turnê e com quem se casa, mesmo já tendo outra esposa. A picardia é que além de ser bígamo, todas duas ficam grávidas de meninos e assim fica cada vez mais difícil para ele botar a mão na grana. O filme foi dirigido por Olivier Perroy, cineasta nascido na Suíça, mas radicado em São Paulo.

Em 1976, Nádia Lippi se encontra com um grande diretor da Boca, José Miziara, que a escala para protagonizar o episódio O Furo, do filme Ninguém Segura Essas Mulheres (1976) – os outros episódios são dirigidos por Anselmo Duarte, Harry Zalkowistch e Jece Valadão. Ninguém Segura Essas Mulheres foi produzido pelo SBT, onde Miziara montou um departamento de produção cinematográfica – depois desse primeiro episódio, dirige seu primeiro longa, o sucesso O Bem-Dotado, O Homem de Itu, na Boca.

Em O Furo, de Ninguém Segura Essas Mulheres, Nádia Lippi é Dalva, uma moça da roça que é expulsa de casa e se prostitui em São Paulo, encontrando um final trágico. O filme tem fotografia do grande Antonio Meliande, no elenco, as presenças de Jece Valadão, Regiane Ritter e Sérgio Hingst, e marca a estréia da deusa Zilda Mayo no cinema. O Furo tem atuação de destaque de Nádia – veja depoimento do diretor José Mizara abaixo.

No mesmo ano, Nádia Lippi está na tela em mais um filme em episódios fazendo uma ponta em Já Não Se Faz Amor Como Antigamente (1976). Ela é Betina no segmento O Noivo, protagonizado por John Herbert, também diretor do episódio. Na trama, um homem acorda sabendo que vai se casar, mas não consegue se lembrar quem é a noiva. Daí, fica relembrando várias mulheres que passaram pela sua vida. Nádia faz uma cena com Herbert, em que os dois dão um amasso debaixo do chuveiro. O filme é uma produção que reúne nomes atuantes da Boca, John Herbert (ator, diretor e produtor), Aníbal Massaini Neto (produtor), além dos cineastas Anselmo Duarte e Adriano Stuart, que dirigem os outros episódios.

Na Boca, Nádia Lippi se encontra com um dos grandes mestres da Boca: Fauzi Mansur. Com ele, atua em dois filmes: A Noite das Fêmeas (1976) e O Mulherengo (1976). A Noite da Fêmeas é um suspense que reúne várias deusas das telas: Maria Isabel de Lizandra, Kate Hansen, Marlene França, Elisabeth Hartman, e, claro, Nádia Lippi. O filme tem argumento e roteiro assinado em conjunto por Fauzi Mansur e um habituê da Boca, o escritor Marcos Rey, baseado em sua peça Ensaio Geral. A trama se desenrola em um ensaio de uma peça em que quatro atrizes que interpretam prostitutas são assassinadas.

O Mulherengo (1976) é uma comédia que reúne no argumento e roteiro Fauzi e outro grande nome da Boca: Ody Fraga. O filme conta também com a fotografia do excepcional Cláudio Portioli. Na trama, Alípio, o mulherengo do título, é assassinado por um pai de uma donzela ultrajada, mas é proibido de entrar no paraíso por um anjo que exige que ele repare o mal causado às suas vítimas. Edwin Luisi é Alípio e Nádia Lippi o anjo.

É com o cineasta Sílvio de Abreu – hoje, novelista -, que Nádia Lippi vai atuar em seu maior sucesso na Boca: A Árvore dos Sexos (1977). O filme foi produzido por Maurício Rittner, com roteiro de Abreu, Rittner e Rubens Ewald Filho, baseado no livro homônimo de Santos Fernando. A abertura dos créditos com a maliciosa serpente já dá a dica do que virá nessa comédia passada em Brondomil, pequena cidade do interior, onde uma árvore despeja frutos de formato indecente e que desperta a libido de moçoilas e senhoras e engravida a população inteira de desavisadas.

Em A Árvore dos Sexos, Nádia Lippi é Angélica, filha “pra frentex” do prefeito da cidade, o comendador – interpretado com brilho por Felipe Carone. Angélia pilota sua moto envenenada pela cidade, ri da jacuzisse dos moradores e das escapulidas de suas mulheres, e fica balançada pelo mecânico Rodrigo – descendente do obsceno fundador da cidade, interpretado por Ney Santana. O filme é divertido e tem boas presenças de Yolanda Cardoso, como primeira-dama, de Maria Lúcia Dahl, como a recatada professora, e de Marivalda, impagável como a esposa adúltera que durante as puladas de cerca repete o bordão “eu sou uma mulher de respeito”.

Quando estreou como novelista na Globo, depois do sucesso Éramos Seis na Tupi (em parceria com Rubens Ewald Filho), Sílvio de Abreu levou a serelepe serpente da abertura do filme e também sua protagonista, Nádia Lippi, para a novela Pecado Rasgado (1978/79). Ao ouvir Ney Matogrosso cantando Não Existe Pecado ao Sul do Equador, de Chico Buarque, e ver a serpente com sua maça na abertura da novela, é impossível não se lembrar do filme.

Nádia Lippi se casou com o ator Ney Santana e seus dois filmes seguintes, já fora da Boca, foi com o pai do seu marido, o cineasta Nelson Pereira dos Santos. Os filmes são Estrada da Vida (1979/81), protagonizado pela dupla sertaneja Milionário & José Rico, e Um ladrão, episódio do longa Insônia (1982) – os outros segmentos foram dirigidos por Emmanuel Cavalcanti e Luiz Paulino dos Santos.

Na década de 80, Nádia Lippi posou para a revista Playboy, publicação que tirou a roupa de dez entre dez estrelas da época. O destaque para Nádia foi grande, pois ela foi capa da edição de seis anos de aniversário da revista.

Também na década de 80, a atriz se encontra com o universo de Os Trapalhões, primeiro no solo de Renato Aragão, O Trapalhão na Arca de Noé (1983), de Del Rangel, e mais tarde com o quarteto em O Casamento dos Trapalhões (1988), de José Alvarenga Jr.

O último trabalho na telas de Nádia Lippi foi uma produção da Boca assinada por Fauzi Mansur e dirigida por Custódio Gomes: Cio dos Amantes (1988). O filme é um drama que tem outra deusa e musa amada no elenco: a estonteante Rossana Ghessa.

Logo depois, Nádia Lippi se afastou da carreira artística e se tornou uma empresária. E, é claro, deixou uma legião de órfãos saudosos de seu talento e de sua beleza. Como atriz, fez apenas participações na TV em episódios da série Você Decide, em 1996 e 97, na Globo, e em mais duas novelas: Brida, de Jayme Camargo, em 1998, na Manchete, e Prova de Amor, de Tiago Santiago, em 2005/2006, na Record. Em 1996, atuou também nos palcos na peça Nó de Gravata.

A musa voltou recentemente aos holofotes quando sua filha, Thalita, foi uma das participantes de uma das edições do Big Brother, na Rede Globo.

Nádia Lippi continua uma bela mulher e faz muita falta nas telas do cinema nacional.
E aqui vai um pedido, que tenho certeza é de muito marmanjo:
- volta, vai.

***

Pitaco do diretor

Das atrizes com quem trabalhei, a melhor foi Nádia Lippi. E foi exatamente no primeiro filme que dirigi, que foi o episódio O Furo, do longa Ninguém Segura essas Mulheres. Foi a atriz com a qual consegui o melhor resultado como diretor. E eu duvido que haja no cinema nacional outro trabalho dela melhor do que o nesse filme.
José Miziara dirigiu Nádia Lippi em O Furo, episódio do filme Ninguém Segura Essas Mulheres (1976).

***

Filmografia

A Virgem (1973), de Dionísio Azevedo;
Efigênia Dá Tudo o Que Tem (1975), de Olivier Perroy;
A Noite das Fêmeas (1976), de Fauzi Mansur;
Ninguém Segura Essas Mulheres (1976), episódio O Furo, de José Miziara;
O Mulherengo (1976), de Fauzi Mansur;
Já Não se Faz Amor como Antigamente (1976), episódio O Noivo, de John Herbert;
A Árvore dos Sexos (1977), de Sílvio de Abreu;
Estrada da Vida (1980), de Nelson Pereira dos Santos;
Insônia (1980), episódio O Ladrão, de Nelson Pereira dos Santos;
O Trapalhão na Arca de Noé (1983), de Del Rangel;
O Casamento dos Trapalhões (1988), de José Alvarega Jr.;
Cio dos Amantes (1988), de Custódio Gomes.



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