html> Revista Zingu! - arquivo. Novo endereço: www.revistazingu.net
Coluna CINEMA Extremo
ONDE O CINEMA PODE SER VIOLENTO...

Por Marcelo Carrard


Cannibal Apocalypse
Direção: Antonio Margheriti
Itália, 1980.

Da mesma galeria de filmes que marcaram as nostálgicas sessões nos velhos cinemas do centro das cidades, surge dos porões de minha memória uma curiosa produção italiana, banida até hoje no Reino Unido, que misturou dois subgêneros clássicos do cinema italiano: os filmes B de guerra e ação e os filmes de canibais. O cenário da selva só aparece no início do filme, onde vemos inicialmente imagens toscas de arquivo do que seria a Guerra do Vietnã, para em seguida vermos a ação de soldados liderados por John Saxon, que descobre dois soldados presos em uma armadilha e que antes de serem resgatados aparecem devorando uma mulher que cai na vala onde eles estão - um dos soldados é interpretado pelo hilário Giovanni Lombardo Radice. A personagem de Saxon é mordida por eles e então desperta daquilo que seria um pesadelo. Ao descer até a cozinha, abre a geladeira e fica hipnotizado ao ver um pedaço de carne pingando sangue. Com essa introdução, fica claro que o desejo incontrolável pela carne foi passado através da mordida recordada no sonho, numa alusão ao mito dos vampiros e também dos zumbis.

Toda a ambientação do filme passa a ser urbana - nada de índios devoradores de homens, animais selvagens e outros elementos presentes nos clássicos filmes de canibais italianos. A sequência em que a personagem de Radice morde o pescoço de uma mulher, no cinema onde é projetado um filme de guerra, é genial. Perseguições e tiros típicos dos filmes de ação se fazem presentes. Além da ambientação nas ruas, boa parte da trama acontece em um hospital, onde os soldados canibais estão internados. A personagem de Saxon aos poucos começa a perceber que está se tornando um deles - o que se torna claro quando abusa violentamente de sua vizinha ninfeta.A cena em que a médica é atacada é perturbadora. Friamente os dois canibais internados, por detrás de uma jaula, mordem a mulher. A visão do soldado negro com seus grandes dentes ensangüentados é marcante e revelam o que todos que serão mordidos por eles se tornarão.

A sequência em que a médica ataca um colega e arranca sua língua após um beijo mórbido, além de ser citada por Tarantino em Kill Bill – Vol. 1, é uma imagem antológica do cinema de horror italiano.

Quando a médica e os três soldados canibais escapam do hospital, passam a ser perseguidos, e então o filme B de ação se configura claramente, com tiros e lutas. Em meio a tudo isso, uma extrema cena de mutilação com serras circulares. A personagem de Radice tem mais uma morte bizarra, em um dos grandes momentos do filme.

No Brasil, o filme se chamou Os Canibais do Apocalypse e passou sem cortes, no início dos anos 80, lançado antes do que Cannibal Holocaust. O macabro e niilista final é muito interessante, subversivo até. Um filme delicioso, um clássico grindhouse por excelência.



<< Capa