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Musas Eternas...
PORQUE O QUE É BOM, É ETERNO...

Barbara Crampton

Por Felipe M. Guerra, especialmente para a Zingu!*

Cada geração tem os seus ídolos, mas que às vezes dá saudade de antigamente, isso dá! Afinal, enquanto o pessoal da minha geração cresceu com Legião Urbana, A Hora do Espanto e os gibis da Disney, por exemplo, os jovens de hoje têm NX Zero, Crepúsculo e uns gibis de mangá que nem o cara que escreve/desenha deve ler.

E quanto ao ideal de scream queens da garotada moderna? Quem realmente consegue levar a sério as sem-graça Neve Campbell (Pânico), Jennifer Love Hewitt (Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado) e Jessica Biel (do remake de O Massacre da Serra Elétrica), se, além de não convencer, essas moças nem ao menos tiram a roupa? E é nessas horas, amiguinhos, que bate aquela nostalgia e aquela saudade das scream queens da minha geração, como Linnea Quigley, Jamie Lee Curtis, Monique Gabrielle e, claro, Barbara Crampton.

Duvido que algum garoto dos anos 80 não tenha fantasiado transar com Barbara Crampton pelo menos uma vez. No meu caso, era paixão mesmo: pelo menos uma década antes do surgimento da internet, do Google e do IMDb, lá estava eu, na pré-adolescência, lendo as resenhas do velho Guia de Filmes Nova Cultural, uma por uma, para identificar possíveis filmes com minha amada Barbara no elenco. Isso porque ela não era "importante" o suficiente para ter um verbete com seu nome e com os filmes que protagonizou no índice do livro!

A explicação para o meu amor (e o de muitos outros rapazes da época) é simples: ao contrário de outras rainhas do grito do período, que eram mulheres exageradamente perfeitas (como a já citada Monique Gabrielle), essa loira de olhos azuis tinha um quê de garota comum, sem muita maquiagem ou corpão fenomenal, daquele tipo que o cara podia encontrar no seu colégio - e tinha um quê de menina indefesa também, pois em seus filmes ela raramente fez o papel de "mulher forte", à la Sigourney Weaver em Alien. Mas, principalmente, a srta. Crampton não tinha frescura de tirar a roupa, e exibia seu corpão delicioso nos mínimos detalhes em quase todo filme que fazia. Amor à primeira vista.

Nascida em 27 de dezembro de 1958 (segundo o IMDb, mas algumas fontes indicam 1962), em Levittown, Long Island (Nova York), Barbara Crampton passou sua juventude em Vermont, acompanhando seu pai, dono de um parque de diversões, em excursões pelos Estados Unidos durante as férias escolares. Ela começou a se interessar pela carreira de atriz ainda na escola, e fez faculdade de interpretação, tendo como um de seus primeiros destaques o papel de Cordélia, numa montagem da peça Rei Lear, de William Shakespeare.

No começo dos anos 80, a moça mudou-se para Los Angeles e conseguiu pequenas participações em novelas de TV, até surgir sua primeira grande oportunidade no cinema: Carol, a esposa infiel do personagem de Craig Wasson no clássico Dublê de Corpo (1984), de Brian DePalma. Não dá para dizer que era um grande papel; afinal, nem falas ela tinha na aparição de 20 segundos. Mas foi a primeira vez que Barbara chamou a atenção para, digamos, seus atributos: em sua única cena, aparecia completamente pelada e "cavalgando" sobre o amante. E quem quer saber de Melanie Griffith, a verdadeira estrela do filme, depois dessa participação da loira?

No ano seguinte, a moça apareceu numa comédia adolescente à la Porky's chamada Fraternity Vacation (no Brasil, Quando a Turma Sai de Férias), no papel de Chrissie, uma garota promíscua que cruza o caminho dos jovens interpretados por Stephen Geoffreys, Matt McCoy e Tim Robbins (!!!). Ao lado da igualmente gata Kathleen Kinmont, ambas de biquíni, Barbara protagoniza uma rápida cena de striptease, em que uma garota tira a parte de cima do biquíni da outra!

O papel que transformou a loirinha em musa de toda uma geração viria mais tarde naquele mesmo ano, quando Stuart Gordon a chamou para o papel de Megan Halsey no clássico Re-Animator. No filme, baseado livremente em conto de H.P. Lovecraft, Megan é namorada de Dan (Bruce Abbot), um jovem estudante de medicina que se envolve com um cientista chamado Herbert West (Jeffrey Combs), e se transforma em seu assistente na experiência de reanimar cadáveres com uma misteriosa fórmula verde-fluorescente.

Re-Animator certamente não seria o cult movie que é se não fosse pela cena final, em que o zumbi reanimado do dr. Hill (David Gale), que carrega nas mãos a cabeça decepada, amarra Megan completamente nua sobre uma mesa de cirurgia para uma bizarra cena de sexo oral (exato, a cabeça decepada tenta estuprar a mocinha!). Provavelmente nunca veremos bundonas tipo Neve Campbell ou Jessica Biel protagonizando uma cena com essa, certo?

Em 1986, após um ensaio da moça na Playboy com tema de horror, o mesmo Stuart Gordon chamou de volta parte da trupe de Re-Animator para fazer uma nova versão cinematográfica de um conto de Lovecraft. Em Do Além, Barbara interpreta uma psiquiatra, a dra. Katherine McMichaels, responsável pelo tratamento do cientista vivido por Jeffrey Combs (novamente ele!). A trama envolve uma máquina que torna visíveis criaturas de outra dimensão, e ressuscita um maligno cientista falecido, o dr. Pretorius (Ted Sorel), que retorna ao nosso mundo como uma bizarra e purulenta criatura com estranho apetite sexual. A própria dra. Katherine, afetada pela máquina, acaba vestindo um sensual traje sadomasoquista no auge do filme, e obviamente tem a roupa rasgada pela criatura-Pretorius para que seus peitos apareçam.

No mesmo ano, Barbara novamente mostrou os peitinhos no divertido slasher Chopping Mall, de Jim Wynorski. Dessa vez ela não era a protagonista: sua personagem, Suzie Lynn, é a típica loirinha fácil, coadjuvante, num grupo de adolescentes que invade um shopping center à noite e é perseguido por um robô-segurança fora de controle (!!!). Ao seu lado, no elenco, estavam nomes cult como Paul Bartel, Mary Woronov, Dick Miller, Mel Welles e Gerrit Graham.

Os anos seguintes foram de inexplicável esquecimento para a atriz, que só voltou à ativa em uma ponta minúscula e esquecível em O Mestre dos Brinquedos (1989), de David Schmoeller - a primeira parte da interminável franquia Puppetmaster, produzida por Charles Band. Neste filme, Barbara aparecia apenas como uma mulher que queria ver o futuro com uma cigana num parque de diversões.

Em 1990, Brian Yuzna dirigiu A Noiva do Re-Animator, fraca seqüência do filmaço de Stuart Gordon, e nem ao menos chamou a atriz para uma pontinha. Numa cena inicial que seria deletada (mas pode ser vista no YouTube), a reanimada Megan Halsey foi "interpretada" por outra atriz, Mary Sheldon. Em compensação, o novo interesse amoroso do personagem de Bruce Abbott é vivido por Kathleen Kinmont, que havia dividido a cena com Barbara anos antes na comédia Quando a Turma Sai de Férias.

Depois de outra pequena participação em Trancers 2 - O Tira do Futuro (1991, dirigido por Charles Band), Barbara voltou a estrelar filmes classe B produzidos pela empresa de Band, a Full Moon (antiga Empire Pictures). Foi a protagonista de uma impagável aventura futurística sobre robôs gigantes, Robot Wars (1993, dirigido por Albert Band), e voltou a trabalhar com Stuart Gordon em mais uma adaptação de H.P. Lovecraft, Castle Freak (1995), no Brasil batizado Herança Maldita (em VHS) e O Castelo Maldito (em DVD). Nesse filme, Barbara interpreta Susan Reilly, esposa em crise do personagem de Jeffrey Combs, às voltas com o "freak" que vive aprisionado nas catacumbas de um velho castelo italiano.

Em 1996, Stuart Gordon (mais uma vez!) convidou sua atriz-fetiche para uma pequena participação em Space Truckers - Piratas do Espaço, aventura de ficção científica estrelada por Dennis Hooper e Stephen Dorff. Sorte dela que foi apenas uma ponta: o filme é uma bomba monumental, que por pouco não enterrou a carreira do diretor.

A partir de então, Barbara voltou suas atenções para trabalhos na TV, embora volta-e-meia retorne para alguma produção classe B, tipo a aventura pós-apocalíptica No Limite da Vingança (Cold Harvest, 1999, dirigida por Isaac Florentine), contracenando com o galã de quinta Gary Daniels, e Poison (2001, de Jim Wynorkski), thriller erótico bagaceiro em que novamente mostrou o corpão. A estas alturas, a atriz já era praticamente uma cinqüentona, e (desculpe, Barbara!) desconfio até que foi usada uma dublê de corpo nos takes em close dos seios e das nádegas da moça.

O último papel de destaque da atriz no gênero fantástico foi em The Sisterhood, terror teen de 2004, inédito no Brasil, e dirigido pelo especialista em trash David DeCoteau, sobre vampiros atacando numa fraternidade.

Hoje, os fãs de Barbara Crampton podem vê-la nas novelas ou seriados da TV norte-americana, ou então em reprises dos seus filmes clássicos, como Re-Animator e Do Além, quando a loirinha estava no auge da sua beleza. Ela está praticamente afastada do cinema, e atualmente vive em San Francisco com o marido Robert Bleckman e seus dois filhos.

Mas Stuart Gordon (olha ele aí de novo) promete, há anos, seu retorno à franquia Re-Animator (que teve um terceiro filme, ruim, dirigido por Brian Yuzna em 2003). O novo filme, House of Re-Animator, está anunciado para 2010, e envolve a morte do presidente dos Estados Unidos e sua reanimação pelo insistente Herbert West. Gordon já anunciou não só a volta de Jeffrey Combs, em seu papel mais famoso do dr. West, mas também de Barbara, que nesse novo filme fará o papel da primeira-dama dos Estados Unidos!!! É esperar para conferir o charme maduro da atriz, que dessa vez certamente não vai fazer sexo oral com nenhuma cabeça decepada...

PS: Para quem quer ver mais fotos dessa linda e eterna musa, um bom ponto de partida é o site "não-oficial" de Barbara Crampton, que não é atualizado há séculos. Já o site oficial da loira, http://www.barbaracrampton.net, infelizmente saiu do ar há um bom tempo.

*Felipe M. Guerra é cineasta, diretor dos longas Canibais & Solidão e Entrei em Pânico ao saber o que vocês fizeram na Sexta-feira 13 do Verão passado, e articulista e crítico do portal especializado em cinema de horror Boca do Inferno. Mantém o blog Filmes para Doidos.




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