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Inventário Grandes Musas da Boca
Agora, todo mês, uma dama do cinema paulista

Magrit Siebert

Por Adilson Marcelino

Na variedade de tipos da Boca do Lixo está também uma musa que veio do sul do país. Seu nome? Magrit Siebert.

Magrit Siebert nasceu em Blumenau, Santa Catarina, em 1945. Dona de uma beleza translúcida e germânica, ela começou a trajetória como modelo em sua terra natal, carreira que desenvolveria depois em São Paulo, paralelamente à carreira de atriz, protagonizando comerciais de sucesso.

Descoberta pelo cineasta Roberto Mauro – vide pitaco de Clery Cunha -, Magrit Siebert encontrou na Boca do Lixo o espaço perfeito para construir sua trajetória cinematográfica.

As Mulheres Amam por Conveniência (1972) foi o primeiro longa de Roberto Mauro, diretor de comédias de sucessos como As Cangaceiras Eróticas (1974) e As Mulheres Sempre Querem Mais (1975). Em As Mulheres Amam por Conveniência, Magrit Siebert atua ao lado do mítico ator e diretor Tony Vieira, com quem viria a contracenar no seu filme seguinte, Um Pistoleiro Chamado Caviúna (1972), aventura dirigida por Edward Freund.

Se em Um Pistoleiro Chamado Caviúna Magrit Siebert tem destaque como Sabrina, a filha raptada do pistoleiro título interpretado por Tony Vieira, é em As Mulheres Amam por Conveniência que ela vai conhecer aquele que lhe proporcionará o papel de destaque em sua carreira, e de quem se tornará musa: o cineasta e ator Clery Cunha.

Clery Cunha é o assistente de direção de Roberto Mauro na comédia. A partir daí, Magrit Siebert passa a integrar o elenco dos filmes do cineasta e atua em três produções seguidas dirigidas por ele: A Pequena Órfã (1973); Pensionato de Mulheres (1974); e Eu Faço... Elas Sentem (1976).

A Pequena Órfã é originária de uma novela de grande sucesso da TV Excelsior escrita por Teixeira Filho, dirigida por Dionísio Azevedo e apresentada de 1968 a 69, e da qual Clery Cunha foi assistente de direção. A adaptação cinematográfica de Clery Cunha é pautada pelo mesmo tom melodramático da obra televisiva, porém com simplificações em seu roteiro que tornam a trama um tanto apressada. No filme, o cineasta contou com os mesmos protagonistas: a menina Patrícia Ayres como Toquinho, e Dionísio Azevedo como o Velho Gui – um dos destaques da produção é a presença do cantor Noite Ilustrada vivendo o alcoólatra Mercadoria.

No filme, Magrit Siebert é Maria Clara, mulher que retorna a uma cidade à procura de um homem do seu passado. No decorrer da trama, descobre-se que ela é, na verdade, mãe de Toquinho, menina que havia sido adotada por um casal circense depois que sua irmã, guardiã da garota, havia morrido e Toquinho desaparecido. Toquinho é explorada pela mãe adotiva e compõe um trio de garotas pedintes de esmolas.

Pensionato de Mulheres, o segundo trabalho de Magrit Siebert e Clery Cunha, é que possibilitará aos dois um grande momento em suas carreiras. No filme, a atriz volta a se chamar Clara, mas agora em condição bem diferente. É uma das moradoras do pensionato dirigido com mãos de ferro por Ismênia, interpretada com brilho pela veterana Silvana Lopes – musa já homenageada nessa coluna.

O pensionato de Clery abre espaço para a história de várias garotas interpretadas por musas como Helena Ramos, Cinira Camargo, Liza Vieira e Guta. A Clara de Magrit Siebert é uma personagem trágica, uma jovem que se descobre grávida e se submete a um aborto pelas mãos da carniceira Elza, mesmo nome da vilã de A Pequena Órfã, mas dessa vez interpretada pela grande e saudosa Ruthinéa de Moraes, em atuação arrebatadora.

Magrit Siebert empresta sua beleza intensa e uma interpretação contida para a triste jovem, com talento e na medida exata. Sua atuação é um dos destaques do filme em um elenco feminino ótimo, e que faz de Pensionato de Mulheres um dos grandes momentos da carreira do cineasta Clery Cunha, diretor de outros filmes marcantes como Os Desclassificados (1972), Joelma, 23º Andar (1980) e O Rei da Boca (1982).

O último filme de Magrit Siebert com Clery Cunha é Eu Faço... Elas Sentem (1976). Nessa comédia, a atriz é Silvana, noiva do protagonista Luís (Antônio Fagundes), um jovem que, inesperadamente, começa a apresentar comportamentos femininos. O fato desconhecido por ele e por todos é que Luís tem uma irmã gêmea, Célia, interpretada por Lúcia Capanema, e os dois vivem sentindo o que o outro faz.

Durante todo o filme, Luís e Silvana tentam realizar a cerimônia de casamento, mas sempre na hora em que ele tem que dizer o sim os tais ataques e trejeitos femininos aparecerem, para desespero de sua noiva Silvana, a personagem de Magrit Siebert, e de sua mãe, interpretada por Lídia Costa.

Além do cinema de Clery Cunha, Magrit Siebert volta a trabalhar com Roberto Mauro em dois filmes: Travessuras de Pedro Malazartes (1974), e O Incrível Seguro de Castidade (1975). Travessuras de Pedro Malazartes é um filme infantil que começou sendo dirigido por Kleber Afonso, mas concluído por Celso Falcão, e que tem Roberto Mauro como gerente de produção. Magrit Siebert está no elenco, que ainda conta com nomes como Nelcy Martins e Lígia de Paula. Já em O Incrível Seguro de Castidade Roberto Mauro é o diretor. A comédia foi lançada em 1975, e gira em torno de um menino registrado como menina e que precisa ficar virgem até os 21 anos para que sua mãe possa botar a mão em uma bolada garantida por um seguro.

Outro nome da Boca do Lixo com quem Magrit Siebert atua é o húngaro Gyula Kolozsvari, técnico do Laboratório Líder e assistente de câmera, e que dirigiu apenas um filme: Um Golpe Sexy (1976). O drama gira em torno de uma jovem que se traveste de homem e se emprega em uma fazenda, onde desperta o interesse do filho do fazendeiro.

Depois desses filmes na Boca do Lixo, Magrit Siebert protagoniza a produção carioca Essa Mulher é Minha... E dos Amigos (1976), dirigida pelo italiano radicado no Brasil, Alberto Pieralisi. No filme ela é Marieta, uma ex-vedete de teatro. De 1976, a atriz está creditada também na ficha técnica de Flor de Lys, episódio dirigido por Adriano Stuart na produção da Boca Já Não Se Faz Amor Como Antigamente (1976) – os outros seguimentos foram dirigidos por Anselmo Duarte e John Herbert.

Magrit Siebert abandonou o cinema, mas se eternizou como uma das musas da Boca do Lixo.

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Pitaco do Diretor

A catarinense Magrit chegou à capital paulista com muitos sonhos e vontade de vencer na vida, sem nenhuma experiência artística, exceto alguns desfiles de moda em sua terra natal. Porém sua beleza estonteante, aqueles olhos claros como um dia de verão, sem dúvida, foram o passaporte para o estrelato na nossa sétima arte em pleno apogeu do cinema nos anos 70 e 80. A descoberta dessa linda musa foi do diretor Roberto Mauro, no filme As Mulheres Amam por Conveniência, em que fui assistente de direção.

Magrit Siebert, inteligente, responsável e de uma sensibilidade aguçada, decolou como um rojão, e não parou mais! Participou de mais de 15 filmes. Comigo fez duas importantes produções Pensionato de Mulheres e Eu Faço... Elas Sentem, como par romântico do ícone Antônio Fagundes.

Casou-se com um industrial e hoje se dedica ao lar e aos filhos. Mas acreditem: todos sentimos muitas saudades do talento e beleza dessa grande estrela.

Com todo o meu carinho, Clery Cunha

Clery Cunha dirigiu Magrit Siebert em três filmes: A Pequena Órfã (1973), Pensionato de Mulheres (1974) e Eu Faço... Elas Sentem (1976).

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Filmografia:

As Mulheres Amam Por Conveniência (1972), de Roberto Mauro;
Um Pistoleiro Chamado Caviúna (1972), de Edward Freund;
A Pequena Órfã (1973), de Clery Cunha;
Travessuras de Pedro Malazartes (1974), de Celso Falcão;
Pensionato de Mulheres (1974), de Clery Cunha;
O Incrível Seguro de Castidade (1975), de Roberto Mauro;
Eu Faço... Elas Sentem (1976), de Clery Cunha;
Um Golpe Sexy (1976), de Gyula Kolozsvary;
Já Não Se Faz Amor Como Antigamente (1976), em episódio de Adriano Stuart;
Essa Mulher É Minha... E Dos Meus Amigos (1976), de Alberto Pieralisi

Fontes:
Livros: Dicionário de Filmes Brasileiros – Longa Metragem (Antonio Leão da Silva Neto); Cinema da Boca – Dicionário de Diretores (Alfredo Sternheim)
Revista: Cinema em Close-Up
Sites: Mulheres do Cinema Brasileiro, IMDb, Estranho Encontro




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