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Lançamentos

Por Vlademir Lazo Correa

Lunar
Direção: Duncan Jones
RU, 2009.
em DVD.

Essa não é a ficção cientifica que vai salvar o gênero (o que é mais provável que ocorra no retorno de James Cameron com o aguardadíssimo Avatar), mas é um filme que traz uma lufada de ar ao gênero em declínio. Para começo de conversa, é um raro sci-fi atual que está longe de parecer um videogame. Na verdade, o primeiro longa de Duncan Jones (filho do cantor David Bowie) bebe diretamente da fonte do maior clássico do gênero, 2001 – Uma Odisséia no Espaço, homenagem confessa do jovem realizador.

A referência é mais do que evidente. O cineasta procura recriar o clima, o tom, o visual e a estética das cenas que se passavam dentro da nave Discovery no filme de Kubrick, para contar a experiência de um astronauta em um futuro não muito distante no fim do seu período de três anos de pesquisas em uma estação orbital na Lua. O acabamento surpreendentemente simples e bastante eficaz é resultado da carência de recursos em virtude do baixíssimo orçamento do filme (cinco milhões de dólares), inviável para a materialização de efeitos visuais espetaculosos. O diretor estreante contornou a situação buscando inspiração no clássico de 1968, recorrendo para o que seriam técnicas rudimentares hoje em dia e muita improvisação para tocar adiante a produção. Nas seqüências fora da nave, que reproduzem a superfície lunar, foram utilizadas miniaturas, com o seu visual mais tarde incrementado com ferramentas digitais.

O filme não é o que se pode chamar de uma experiência empolgante, e certamente não se propõe a tanto, mas deverá ser fascinante aos interessados em ficção científica. Lunar é um trabalho muito bonito, realista, convincente. A estação espacial é reproduzida com seus cenários que produzem um ambiente facilmente reconhecível como algo humano, solitário e afastado.

No lado escuro da lua, o astronauta Sam Bell (Sam Rockwell) passa a ter alucinações que questionam a sua existência, visões que perturbam a sua rotina e o trabalho na estação, o que aproxima o filme de outro clássico do gênero, Solaris, do russo Andrei Tarkovski. A estação lunar é responsável por fornecer gás Hélio-3 para a Terra, com a extração de minérios de pepitas capazes de gerar energia para as indústrias do planeta. O astronauta tem como única companhia o computador Gerty, com quem dialoga e conversa o filme inteiro (Kevin Spacey é o responsável pela voz de Gerty). Enquanto isso, começa a ouvir outras vozes e enxergar vultos diferentes, como conseqüência do seu processo de alienação e isolamento.

Cult internacional que está aportando nos cinemas brasileiros depois de ser premiado como melhor longa-metragem britânico no Edinburgh International Film Festival, Lunar é um trabalho bastante modesto em comparação às obras cânones as quais faz alusão, no entanto representa nesse começo de novo século um dos primeiros passos na exploração de um terreno fértil como a ficção científica em suas dimensões mais arrojadas e literárias.



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