Espelho Mágico
Por Sérgio Andrade
Um desses amigos, o professor Heschel (Michel Piccoli), afirma que os evangelhos apócrifos revelam que a Virgem Maria seria uma mulher rica.
Alfreda então, numa conversa com Luciano, confessa seu maior desejo na vida: que a Santa aparecesse para ela.
É então que acontece um momento mágico, quando Luciano tira um fio de linha preso ao roupão dela e acompanhamos a queda desse fio, até o chão, em câmera lenta. Essa cena provoca quase uma ruptura da narrativa.
Poderia-se pensar que um artista na idade de Oliveira só citaria a si mesmo, mas não é o que acontece. Ele reverencia seus mestres, como Dreyer (as pessoas conversam sem nunca se olharem) e Buñuel (as discussões sobre teologia num ambiente burguês), sem deixar de ser totalmente autoral.
E todos aqueles espelhos, refletindo a artificialidade daquele ambiente e o passado, as vaidades, desejos, sonhos, ambições e vacuidades dos que neles habitam.
Por Sérgio Andrade
Espelho Mágico
Direção: Manoel de Oliveira
Portugal, 2005.
Quase centenário (nasceu em 1908) Manuel Oliveira continua comprovando que é o mais jovem cineasta em atividade no momento. Qual outro diretor demonstra tal vitalidade criativa ? Aqui temos a história de um presidiário (Ricardo Trepa, neto do diretor que é a cara do Tom Cruise !), que após sair da prisão vai trabalhar como motorista na mansão de Alfreda (Leonor Silveira), uma burguesa que tem como amigos padres e professores.
Um desses amigos, o professor Heschel (Michel Piccoli), afirma que os evangelhos apócrifos revelam que a Virgem Maria seria uma mulher rica.
Alfreda então, numa conversa com Luciano, confessa seu maior desejo na vida: que a Santa aparecesse para ela.
É então que acontece um momento mágico, quando Luciano tira um fio de linha preso ao roupão dela e acompanhamos a queda desse fio, até o chão, em câmera lenta. Essa cena provoca quase uma ruptura da narrativa.
Começa então a segunda parte, quando entra em cena um outro personagem, o “Falsário” que irá bolar um plano para enganar Alfreda, contratando uma moça para se fazer passar pela Virgem Maria. Mas as coisas acabarão tomando um outro rumo.
Poderia-se pensar que um artista na idade de Oliveira só citaria a si mesmo, mas não é o que acontece. Ele reverencia seus mestres, como Dreyer (as pessoas conversam sem nunca se olharem) e Buñuel (as discussões sobre teologia num ambiente burguês), sem deixar de ser totalmente autoral.
E todos aqueles espelhos, refletindo a artificialidade daquele ambiente e o passado, as vaidades, desejos, sonhos, ambições e vacuidades dos que neles habitam.