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Coluna CINEMA Extremo
ONDE O CINEMA PODE SER VIOLENTO...

Por Marcelo Carrard

EMANUELLE IN AMERICA
Direção: Joe D’Amato
Itália, 1976.

Os anos 70 foram marcados por uma filmografia repleta de extremos e deslimites onde a liberdade de criação, a ousadia e o escândalo eram elementos freqüentes nas telas de cinema. Foi a década de SALÓ de Pasolini e O IMPÉRIO DOS SENTIDOS de Nagisa Oshima, sem esquecer de pérolas como CANNIBAL HOLOCAUST de Ruggero Deodato e CONVENT OF THE SACRED BEAST de Norifuni Suzuki. Em meio a essas maravilhas da Cinematografia Extrema temos um filme muito interessante, repleto de imagens chocantes, despudoradas e cruéis: EMANUELLE IN AMERICA, 1976, dirigido pelo lendário JOE D’AMATO, cujo nome verdadeiro era Aristide Massaccesi. Fotógrafo da maioria de seus filmes e de outros cineastas italianos, D’Amato/Massaccesi lançou nos anos 70 a série Black Emanuelle, estrelada pela atriz javanesa LAURA GEMSER. Em EMANUELLE IN AMERICA ela encarna a sensual repórter que investiga práticas sexuais bizarras ligadas a produção de Snuff Movies. Em sua jornada, sublinhada pela antológica trilha-sonora de Nico Fidenco, ela aparece vestida em poucos momentos. Em um primeiro momento ela investiga uma espécie de Clube Prive onde mulheres de top less são nominadas por signos do zodíaco. Nesse local acolhedor nos deparamos com três seqüências memoráveis: Na primeira, Emanuelle brinca com suas coleguinhas, todas peladas, dentro de uma piscina onde a câmera parece participar das tais brincadeiras. Em outro momento uma das mulheres excita um cavalo, sendo observada pelas outras mulheres e seus acompanhantes, essa cena de zoofilia é simplismente absurda e genial, muito citada em vários artigos sobre Cinema Extremo, mesmo não mostrando uma relação sexual entre a tal mulher voluptuosa e o seu amigo de quatro paras. Depois vemos Emanuelle consolando uma amiga na sauna do tal Clube onde tudo acaba numa forte cena de sexo entre as duas com um poder encandescente de erotismo indicada a todos os fetichistas que curtem observar duas garotas transando. Desse tal Clube Emanuelle foge para a bela cidade de Veneza onde as orgias prosseguem, ainda sem mostrar cenas de sexo hardcore. Tudo culmina em uma festa onde nobres senhores e senhoras chafurdam em uma bacanal onde uma gráfica cena de sexo oral instaura as cenas hardcore no filme que irão prosseguir em um terceiro momento da trama onde Emanuelle vai para uma ilha onde mulheres ricas escolhem homens para a realização de suas fantasias sexuais. Uma coletânea de cenas de sexo hardcore são mostradas e testemunhadas por Emanuelle com todas as características estéticas típicas das produções pornográficas dos anos 70. A grande ruptura do roteiro surge quando a protagonista descobre um filme Snuff sendo projetado em um quarto onde um casal está transando. Esse filme Snuff mostra cenas extremas de tortura praticadas por militares estilizados contra uma mulher. Ao investigar o tal filme Emanuelle faz uma delirante descoberta e tem uma viagem de LSD onde uma brutal cena de tortura é encenada de maneira bastante realista que acabou causando problemas para o diretor pois muitos acharam que se tratava de um filme real. Na verdade as cenas de violência gráfica encenadas tiveram efeitos especiais de maquiagem criados pelo Mestre Giannetto de Rossi, colaborador de muitos filmes de outro Mestre do Horror Italiano: Lucio Fulci.

Em sua versão integral e sem cortes EMANUELLE IN AMERICA é um show de extremos estéticos que jamais seria realizado nos dias de hoje. Polêmico, maldito, com o tempo o filme se tornou Cult e um iten obrigatório para colecionadores. A liberação sexual que estava em seu auge em 1976 fica evidente no filme onde a figura da mulher surge de maneira subversiva questionando o Mundo Masculino, buscando seu prazer e seu gozo sem culpas, visando a liberdade, a anarquia e a fúria. Um documento muito forte de seu tempo EMANUELLE IN AMERICA é muito mais do que um filme dito EXTREMO ou EXPLOITATION. Ele tem a marca autoral de Joe D’Amato do início ao fim. Marginal, obscuro, depravado, insano, muitos foram os adjetivos para o Cinema de D’Amato. Poucos tem uma filmografia tão vasta e variada como ele e poucos o reverenciam por preconceitos tolos que devem ser esquecidos para que suas obras saiam das trevas do limbo marginal em que foram aprisionadas e se tornem mais conhecidas do grande público.



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