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Dossiê Ivan Cardoso

O ESCORPIÃO ESCARLATE
Direção: Ivan Cardoso
Brasil, 1990.

Por Matheus Trunk

E o terrir e Ivan Cardoso chegariam aos anos 90. Nem mesmo Margaret Tatcher, Fernando Collor, o fim da Embrafilme e tudo mais impediriam Ivan e toda sua trupe de continuar com o cinema.

“O Escorpião Escarlate”, produzido pelo próprio Ivan e sua Topázio Filmes foi talvez seu único fracasso de bilheteria. Seus dois longas anteriores, foram grandes sucessos e ajudaram o realizador a continuar com seus projetos pessoais de cinema.

Fábula em homenagem aos velhos filmes de aventura e suspense, e inspirado em antigos programas de rádio e em histórias em quadrinho, As Aventuras do Anjo, nos anos 60. Como o episódio de “Os Bons Tempos Voltaram” e mesmo “As Sete Vampiras”, este filme se passa no Rio dos anos 60. Uma jovem desenhista de moda Glória (Andréa Beltrão) fã dos programas de rádio do personagem Anjo (Herson Capri), que luta conta o terrível vilão Escorpião Escarlate. Porém, ela perceberá que os heróis radiofônicos ganharam vida, mudando o cotidiano de todos.

Se o rádio podia ser uma grande influência para Orson Welles, o mesmo pode-se dizer de Ivan Cardoso, que aqui mistura ficção (o mundo do rádio) com realidade. O mesmo pode-se dizer de um filme brasileiro da mesma época, “A Hora Mágica” de Guilherme de Almeida Prado.

O elenco, continua formado tanto por veteranos das chanchadas (Grey, Zezé Macedo, Colé em seu último filme, Ankito, Carlos Imperial, Ivon Cury, Benê Nunes); grandes colaboradores de Ivan (Nuno Leal Maia, John Herbert, Consuelo Leandro, Andréa Beltrão, Léo Jaime, Simone Carvalho, e mesmo Tião Macalé como porteiro que em uma cena genial canta Ataulfo Alves) e mesmo musas de momento na época (Isadora Ribeiro, Monique Evans, Vanusa Splinder, Christiane Torloni, Suzana Matos). O hoje ator e crítico de cinema José Wilker faz uma participação especial bem como o futuro astro Alexandre Frota.

A trilha sonora coube mais uma vez para o maestro Julio Medaglia, que teve a habilidade e a criatividade usual. Mesmo a montagem coube a Gilberto Santeiro, colaborador usual de Ivan e seu grande amigo pessoal.

Embora com todo esse elenco, o filme não consegue chegar a altura de Ivan e de seus personagens. Não digo que este seja um filme ruim, mas é abaixo do esperado para uma pessoa do porte e do talento de um Ivan Cardoso. Poucos diretores brasileiros criaram um universo pessoal tão rico como ele. Pode-se desgostar ou gostar deste ou daquele filme de Ivan, mas tem de se lembrar sempre que ele é um autor.

Mesmo com diversos problemas em sua produção, “Escorpião Escarlate” não deixou de ganhar alguns prêmios. Em Brasília, levou os Candangos de melhor filme para o júri popular, cenografia, montagem e diretor. Já em Gramado, o mais tradicional dos festivais nacionais, a película recebeu três Kikitos: melhor direção de arte/cenografia e música adaptada. No I Festival de Natal, “O Escorpião Escarlate” levou três estatuetas: diretor, atriz para Andréa Beltrão e cenografia.

Não pode-se tentar dizer que este seja um dos melhores filmes de Ivan. Aliás, é mais uma tentativa de um autor manter-se produzindo seus projetos e aspirações pessoais. Mesmo assim, “O Escorpião Escarlate” tem sua importância dentro da obra ivan-carodisana, estando com toda certeza agregada ao gênero terrir.



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