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Dossiê Howard Hawks

Heróis do Ar
Direção: Howard Hawks
Ceiling Zero, EUA, 1936.

Por Ailton Monteiro, especialmente para a Zingu!

Quem assistiu PARAÍSO INFERNAL (1939) vai encontrar em HERÓIS DO AR (1936) uma antecipação dos temas que se tornariam arquetípicos na obra de Howard Hawks. Há a figura do grupo de homens em situação de perigo; o forte vínculo de amizade entre o grupo; a mulher como elemento de instabilização; o não reclamar da vida, mesmo diante dos piores momentos.

Em HERÓIS DO AR, James Cagney é um veterano piloto de guerra trabalhando no correio aéreo de Newark e Pat O'Brien é o chefe encarregado do controle aéreo. (Cagney e O'Brien fizeram diversos filmes juntos, incluindo o famoso ANJOS DE CARA SUJA, de Michael Curtiz.) Apesar de não estarem em guerra, os pilotos ainda enfrentam constantemente situações de risco, como o céu com visibilidade zero e a falta de radares. A única ajuda para o piloto era o rádio. Aliás, o filme já começa com uns letreiros homenageando os vários pilotos do correio aéreo que perderam a vida em serviço. O roteiro foi escrito por Frank Whead, ex-piloto de guerra que ficou preso a uma cadeira de rodas devido a um acidente em serviço e que resolver começar a escrever. Ele tinha experiência no assunto em questão, mas quase nenhuma como escritor. Apesar disso, seu trabalho ficou muito bom.

HERÓIS DO AR é um dos poucos filmes de Hawks que mostra um homem passando uma cantada numa mulher. Hawks, depois desse filme, percebeu que isso era ridículo e, a partir de então, em seus filmes, é a mulher que sempre toma a iniciativa. Ainda assim, nesse filme, o interesse amoroso de Cagney é uma moça bastante atirada, principalmente levando em consideração o fato de ela ser comprometida - ela namorava um dos outros pilotos. Interessante que Hawks evitava mostrar homens e mulheres se beijando sob o risco de parecer piegas, mas de vez em quando mostrava homens se beijando, como acontece nesse filme. Não beijos românticos e apaixonados, mas demonstrações de afeto entre amigos.

Além de O PARAÍSO INFERNAL, HERÓIS DO AR também guarda estreita relação com FORÇA DE HERÓIS (1943) e com PILOTO DE PROVAS (1938), filme roteirizado por Hawks e dirigido por Victor Fleming, cineasta que Hawks admirava. Os quatro são filmes que lidam com pilotos de avião, uma paixão do cineasta. Hawks era do tipo de cineasta que gostava de repetir certas cenas ou elementos com o objetivo de se aperfeiçoar. Um dos ápices do filme é a cena do acidente fatal de um dos pilotos, cena que seria repetida com um grau maior de dramaticidade em O PARAÍSO INFERNAL, quando dá até pra imaginar que Cary Grant estaria chorando na chuva.

Ailton Monteiro é cinéfilo de carteirinha e editor do blog Diário de Um Cinéfilo (http://cinediario.blogspot.com), premiado com o Quepe do Comodoro de melhor blog em 2004.



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