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Dossiê Edu Janks

ENTREVISTA COM EDU JANKS

Por Matheus Trunk

José Edward Janczukowicz, 57 anos, é o verdadeiro nome de Edu Janks, um obscuro mas interessante crítico brasileiro. Janks iniciou sua carreira de jornalista em diários da cidade de Osasco, na grande São Paulo. Apaixonado por cinema, era leitor voraz de Rubem Biáfora e Carlos Motta, a quem considera seus dois grandes mestres. De descendência polonesa, formou-se em cinema numa das primeiras turmas da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) no início dos anos 70, tendo aula com Máximo Barro, Alfredo Palácios e Alfredo Sternheim, de quem se tornou amigo pessoal. Foi montador de diversos curtas, até engajar-se no jornalismo, área em que se obteve formação universitária pela Cásper Líbero.

Após colaborar em alguns jornais de bairro, Janks ingressou na editora Ondas, passando a escrever nas revistas Club dos Homens e Big Man Internacional. Por esta última, publicou por anos a coluna “Nosso Cinema”, que destacava produções explícitas da Boca do Lixo. Assim, pode conviver com pessoas como Juan Bajon, Sady Baby, Tony Vieira, Walter e Eliane Gabarron, Oásis Minitti, entre outros. Janks também foi editor da revista Cinevídeo, uma espécie de Paisá dos anos 80, que teve poucos números. Parte de seu expressivo e grande acervo de fotos e releases da época podem ser encontrado no livro “Dicionário de Diretores da Boca” de Alfredo Sterheim, a qual deu grande apoio e colaboração. Atualmente, Edu dá aulas na Universidade São Judas Tadeu

Conheci seus textos graças ao amigo e jornalista Gio Mendes, a quem nos deu o contato de Janks. As colunas publicadas na Internacional, eram muito divertidas, muito engraçadas e escritas com enorme talento. Por isso, o convidei pra ser nosso dossiê e entrevistado da edição de maio.

Nessa extensa e bela entrevista ele abre o baú, contando sua história pessoal, os bastidores das publicações que passou e principalmente cinema (especialmente o da Boca, que acompanhou de perto por muitos anos). Mais uma vez, a Zingu! sai na frente, reativando e relembrando um dos maiores críticos malditos do Brasil que pela primeira vez tem a chance de contar sua trajetória. Para a entrevista, chamei o colunista Domingos Ruiz Júnior da coluna “Cantoras”, que participou de forma ativa desse divertido bate-papo.

(começamos falando um pouco do cineasta Juan Bajon, grande amigo de Janks na época da Boca).

EJ- Conhecia cinema com uma profundidade espetacular. Sobre qualquer tipo de cinematografia ele falava, era muito culto, muito culto mesmo. Se perguntava o que ele estava fazendo ali na Boca. Ele estava fazendo o que podia fazer. Ele tentou fazer alguma coisa mais séria num filme com o Ewerton de Castro, mas depois posteriormente ele acabou entrando pro erótico.

MT- O próprio Marinho (referindo-se a Mário Vaz Filho), é um cara formado no EAD, na USP.
EJ- Pra quem está acostumado a ver filme erótico, eu estou acostumado e vejo a séculos e continuei vendo pra Hustler, pra outras e pra outros freelas que eu ainda fiz, quer dizer eu vi muito filme erótico na minha vida. Chega numa certa hora, não tem muita variação fica muito difícil você encontrar algum gancho. Então, a gente dava uns trololós legais (rindo).
(Janks me mostra algumas edições antigas da Big Men com algumas colunas dele).
MT- O senhor tem um acervo grande dessas coisas seu Janks ?
EJ- Infelizmente não, infelizmente pequeno. Até parte desse acervo eu emprestei pro Alfredo quando ele lançou esse livro pela Imprensa Oficial. Ele tinha muita coisa, eu tinha também então foi fácil. A gente era daqueles que caçavam material e guardava porque na época ninguém tinha. Então você vê que o meu material nem é de divulgação na maioria dos casos, os caras não tinham nada de divulgação.
MT- Não tinha release ?
EJ- Não tinha esse negócio. Alguns tinham, Sady tinha, Juan Bajon tinha, gente mais culta tinha. Mas tinha caras como Francisco Cavalcanti que não tinham porra nenhuma. Então, chegava pra ele e falava: “Na hora da montagem pega um fotograma pra mim e separa”. Então, eles separavam os fotogramas e era daí que eu pegava alguma coisa porque eles não tinham still. Claro, não tinha fotógrafo de cena era brincadeira. Então, todo mundo começou a me separar: o Sady me separava, o Tony separava, todo mundo me separava fotogramas pra ter um pouquinho de coisa e a gente publicava. As fotos que saiam na Internacional raríssimas são fotos de cena, são sempre fotogramas. Eles não tinham fotógrafos de cena. Nem o Bajon fazia isso, nem ele que era um cara mais culto, porque recortava um fotograma...
MT- Nem o que não pode falar o nome que era um cara antigo de TV, quadrinhos..
EJ- Grande amigo meu.
MT- Sério ? E o filme dele, eu ainda não vi, é legal ?
EJ- É legal, bem legal. Ele fez uma gozação com o Damiano, mas é bem feito o filme, bem feito. Ele não conta isso pra muita gente, mas quem é do meio sabe. Mas ele só fez aquele, não era o negócio dele.
MT- Foi só pra ganhar um dinheirinho ?
EJ- É...Eu nem sei qual foi o motivo que ele se meteu pra fazer aquele filme lá. É bem feito, um trabalho legal e de qualidade. Mas eu o entrevistei na época, ele era muito amigo, visitava muito a editora na época. O entrevistei pro filme, um cavalheiro como você me falou.
MT- Pra começar seu Edu, fala um pouco como o senhor se interessou por cinema e como você foi fazer a Faap.
EJ- Olha só...Isso aqui é difícil. Bom, eu me interessei por cinema desde o sete anos, desde os sete anos minha mãe me levou uma vez pra ir ver um filme e eu não deixei mais de ver filmes. Tenho cinqüenta e sete anos, ou seja, há pelo menos cinqüenta anos eu vejo cinema. E é claro que eu via o que se podia, como e quando podia. Na época, eu ficava limitado aos cinemas de Osasco, porque eu morava lá. Na TV, passava muito pouco. Hoje está uma beleza, você vê tudo em TV. No início, eram poucos longas que passavam na telinha e eu fiquei apaixonado por cinema a tal ponto que a primeira coisa que eu fiz na minha vida era isso: querer trabalhar com cinema.
MT- Queria ser diretor ?
EJ- Sim, queria ser diretor. Diretor não, eu queria ser montador por isso uma vez inclusive eu pedi uma vaga pro Walter Wanny. Eu não queria ser realizador, porque na minha sala da Faap todos queriam ser diretores. Eu pensei que tinham muitos, então eu optei pela montagem. Eu falava muito com o Máximo Barro, gente finíssima e até hoje meu amigo. Eu grudava no saco dele, pra aprender montagem. Tanto que eu montei muito super 8, muito curta.
MT- Documentário ? Publicidade ?
EJ- Não, não cheguei a montar. Eu trabalhei muito com super 8, que era o que dava pra trabalhar.
DRJ- Era uma das primeiras turmas da Faap essa ?
EJ- 73, faz tempo né ?
DRJ- Da faculdade de cinema da Faap, era uma das primeiras turmas, primeira, segunda turma ?
EJ- Eu acho que sim.
MT- Quem dava aula lá ? O Máximo, o Alfredinho...O Plínio Sanches o senhor chegou a conhecer ?
EJ- Não. Quem dava aula pra nós era o Rodolfo Nanni, o diretor do curso que fez o “Saci”, Máximo Barro, Alfredinho Sternheim, Fausto Fuzer que hoje é titular na Eca e na época tinha acabado de voltar da Polônia onde fez um curso de cinema lá. Só pra vocês terem uma idéia, além do curso polonês ser um dos melhores do mundo tem duração de seis anos. Os cursos na Europa, não são cursos de cinema e sim de direção. Então, o diretor tipo o Visconti fez isso, o Zefirelli, outros o cara sai realizador e não um cineasta. Portanto ele dirige cinema, teatro, ópera saí um realizador. Ele tinha acabado de chegar da Polônia e o primeiro lugar que ele foi trabalhar pra minha sorte foi na Fundação Armando Álvares Penteado, dando aula pra gente. Quem nos dava aula também era o Alfredo Palácios, o falescido. Dava aula de produção.
MT- Puta ! O Alfredo Palácios, um produtor de vanguarda. Boa essa época né seu Janks ?
EJ- Palácios era gente fina. Entendia de cinema, conhecia muito fez e produziu os “Vigilantes Rodoviário”...
MT- Com o Ary Fernandes.
EJ- Isso. E quem mais estava na equipe ? Não me recordo muito dos outros, mas basicamente eram esses.
MT- O Máximo dava cinema brasileiro ?
EJ- Não, dava montagem.
MT- Ah tá ! Durante muitos anos, ele deu cinema brasileiro na Faap. Quem dava cinema brasileiro ?
EJ- Eu cruzo com ele toda hora por aí, mas na época e no período que eu estive lá foi montagem.
MT- O Alfredinho deu aulas por pouco tempo ?
EJ- Sim, por pouco tempo. Ele dava aulas de assistência de direção, depois ele já assim paulatinamente começou a dirigir e preferiu esse trabalho como realizador.
MT- Mas continuou como crítico inclusive, tendo trabalhado no Estadão.
EJ- Sim, sim. Trabalhou no “Estado de São Paulo”, na “Folha da Tarde” se não me engano. E o Alfredinho trabalhou com um cara fantástico chamado Rubem Biáfora...
MT- O senhor conheceu ele ?
EJ- Não, eu não tive esse prazer.
MT- Mas o senhor lia ?
EJ- (visualmente emocionado) Lia, lia, lia. Aliás, você me perguntou porque eu me interessei por cinema, um dos caras que me fez interessar por cinema foi o Rubem Biáfora. Eu comprava todo domingo o Estadão pra ler a matéria do Biáfora e do Carlos Motta. Esse, eu conheci até pouco tempo atrás que ele falesceu recentemente. Eu cruzava com ele nas cabines, o velho Motta...mas foram os caras que realmente me ensinaram cinema. Sabe, eram cultíssimos. O Biáfora não escrevia crítica, ele dava aulas de cinema e o Motta também dava aula. Então, eu comprava aquele Estadão, regularmente todo domingo e daí eu fui aprendendo coisas assim que era sobre eles sabiam...
MT- Desde cinema clássico até cinema brasileiro...
EJ- Tudo, tudo que era tipo de cinema, eu posso dizer que ali começou a minha formação cinematográfica, são realmente os caras que me formaram. E eu fui fazer o curso na Faap com a clara idéia de fazer cinema.
MT- Embora lendo o Biáfora, o senhor não pretendia ser crítico ?
EJ- Não. Eu queria fazer cinema, crítico só veio bem mais tarde. Eu queria fazer cinema e como todo mundo disputava direção, eu quis fazer montagem (rindo). Não deu certo nem um, nem outro. E é isso, posteriormente eu me formei em cinema e depois eu fiz um curso de fotografia no Senac, um curso de trezentas e sessenta horas, eu sou fotógrafo profissional. Tudo tentando puxar um pouquinho o cinema, tudo zanzando, tal. Como nada deu certo eu fiz jornalismo na Cásper Líbero. E daí como eu não tinha chance realmente de fazer cinema, eu virei crítico. Fiquei trabalhando diretamente com jornalismo e sempre quando possível com coisas ligadas a cinema.
MT- O senhor se formou na Cásper quando ?
EJ- 80, 81 acho.
MT- Antes o senhor fez algum outro tipo de trabalho ?
EJ- Eu trabalhava em empresa antes. Trabalhava em empresa na área de treinamento sempre procurando o tal do cinema que não vinha. Naquela época, a produção estava muito ruim e eu não peguei essa fase de ouro...porque a fase de ouro do cinema erótico vai de 82, 83, 84 e quando eu terminei de fazer o curso a produção era muito pequena, tinha muito pouco que fazer. Então, eu não consegui trabalho, estágio coisa de gênero...
MT- E tinha uns montadores muito bons na época também: Walter Wanny, Roberto Leme, Máximo Barro...
EJ- Tinha uma turma muito boa, tinha gente demais pra época. O Máximo montou várias coisas, montou Mazzaropi.
MT- Sim, “A Ilha” do Khouri.
EJ- Montou Rodolfo, ele tem uma carreira maravilhosa.
MT- Me diz uma coisa, que é uma curiosidade minha. O Máximo gostava do Biáfora ? Como era a relação deles ?
EJ- Olha, não sei. Você pode perguntar pra ele, é só pegar o telefone e falar com ele. Ele fala facilmente esse tipo de coisa, nunca deixando segredos de época.
MT- O Máximo, o Biáfora tem um pensamento muito de contestação ao Cinema Novo, uma idéia de cinema popular. O senhor tinha essa visão ?
EJ- Veja bem...pensar uma forma é uma coisa, ver e imaginar é outra. É claro que você imaginava fazer um cinema mais clássico, mais conteúdo, enfim, de contestação ou coisa do gênero. Mas o que na época se apresentou na época pra gente trabalhar e acredito que não só pra mim, como pra muita gente como o Alfredo foi o cinema erótico. Pra mim não como possibilidade de trabalho, mas possibilidade de crítica. Mas antes disso, eu já tinha escrito muito em Osasco e eu já tinha trabalhado em todos os jornais de lá em 70, 73, 74 e escrevi muita crítica lá de filme sério e não de filme erótico. As coisas que passavam, eu escrevi em todos os bons jornais de Osasco, mas não como crítico ainda. Eu só vou me formar em 80, 81.
MT- Mas já ganhava um dinheiro ?
EJ- Já ganhava e já assinava, o que na época o importante era assinar.
MT- E já tinha o pseudônimo Edu Janks ?
EJ- Não, não. Eu assinava com o meu nome mesmo, o pseudônimo vem com a revista Internacional. Nela, todas as pessoas que trabalhavam quase, trabalhavam com pseudônimo até pra aproveitar problemas.
MT- O Alfredinho inclusive ?
EJ- O Alfredo normalmente não tinha muito problema de assinar, ele nunca tinha muito problema. De uma certa forma, se tomava um certo cuidado e é uma prática jornalística comum quando você está num certo veículo, adotar um pseudônimo. Esse pseudônimo não pode ser assim uma coisa que se desconheça, porque isso é regulamentado. Você tem um caderno em que você registra o nome do jornalista, o pseudônimo que ele usa e de qualquer forma, ele é o responsável por o que ele publica. Muitos começaram com a gente garotões e hoje são famosos, pessoas maravilhosas. Muita gente, porque a gente sempre teve grandes colaboradores. Muita gente preferia o pseudônimo pra evitar algum tipo de problema. Eu cheguei a usar pseudônimos femininos inclusive...
MT- Mas pra contos, outras coisas ?
EJ- Sim, sim. Eu fiz uma editora Ondas chamada “Elas e Elas”, que era uma revista das meninas que gostavam de meninas..
DRJ- Tinha isso já ?
EJ- Já., faz tempo. E claro que não podia ser um editor...tinha que ser uma editora ! Então eu virei Gabriele (risos) e eu respondia como Gabriele, as cartas vinham.
DRJ- A Eleonora era um pseudônimo também ?
EJ- Também, também. Não me lembro de quem. Sinceramente, não lembro, porque se não eu falava.
DRJ- Porque esse Eleonora aparece na “Ele Ela” também...
EJ- A eh ! Então, deve ser a mesma pessoa que colaborava com a gente, porque você tinha colaborador do Rio, fazia pra outras publicações e pra gente também.
DRJ- Mas era pseudônimo também ?
EJ- Também.
MT- A Ondas tinha quantos títulos nessa linha ?
EJ- Veja bem...a Ondas tinha a “Big Men” e ela tinha uma série de filhotes. E ela tinha também a “Club dos Homens”. Essa era uma revista numa linha mais soft.
MT- Tipo “Playboy” ?
EJ- Isso. A linguagem era mais tranqüila, mais suave. Você não pegava tão pesado...
MT- Durou quanto tempo ?
EJ- Durou um bom tempo... “A Club” durou sabe, uma hora parou devido a grande competição com “Playboy”, todas essas foram aparecendo e diminuindo o público da “Club” e uma hora parou. Mas ela durou alguns anos.
MT- Quanto tempo ?
EJ- Uns três anos. Mas a gente entrevistou gente muito boa pra ela, como Raul Cortez, entrevistamos gente séria (risos). Olha, que eu participei: o Angeli, o Raul Cortez, outros entrevistados...o filho do homem que escreveu a Velhinha de Taubaté, Luiz Fernando Veríssimo.
MT- Olha só !
EJ- A “Club” tinha um ar sério, queria ser uma revista erótica como a Playboy ou como a Status mas sempre..
MT- A Big Men já era mais...
EJ- Mais porrada, mais hard uma linha da Hustler, da Private
MT-A Big Men começa quando ?
EJ- Antes dos anos 80, eu comecei a colaborar lá por volta de 81, 82.
MT- Mas naquela época já estava aquela onda da liberação sexual, indo tanto do cinema como o teatro, uma onda não só no Brasil...dos filmes que estavam sendo proibidos e entram, enfim.
EJ- Sim, sim.
MT- Quem mais dessas publicações da época eram na linha da Big Men ?
EJ- Olha, eu não me recordo...A Private era a grande concorrente que a gente tinha. O que mais tinha ? Não me lembro, a velhice é um inferno, não lembro. Mas quem pegava pesado eram nós, a Private, mas quem pegava pesado era a gente mesmo porque queria fazer uma concorrência tipo Hustler, tipo Penthouse...Mas Penthouse já era mais suavezinha, bonitinha. A editora tinha essa vertente, uma revista mais boazinha, bonitinha, a Club e a hard a Internacional, que chegou a vender muito bem. No início, não sei se vocês se recordam não sei exatamente os anos, mas ela foi uma das primeira revistas a publicar um cara que tinha um negócio enorme, um negro. Claro, as fotos foram compradas fora mas ele tinha um negócio fantástico. Essa revista chegou a vender 150 mil exemplares.
MT- Uma revista segmentada vender isso...
EJ- Era, nunca mais a Internacional vendeu tanto. E aí sim, ela foi trabalhando..é claro que esse material era raro, a gente nunca conseguiu um outro cavalheiro poderoso que ajudasse a vender tanto (rindo). Então, a revista vendia nos tempos razoáveis algo em torno de 50 mil exemplares. Essa foi uma fase...
MT- Vendia mais que a Club ?
EJ- Mais, mais que a Club. Ela vendia menos, 25, 30 mil. Tinha um publico bem menor, previa e a vendagem girava em torno de 20, 30 mil. Quando ela abaixou muito dessa faixa ela foi cortada. Que até 25 mil pros custos da época, você conseguia manter uma revista. Menos do que isso, você não tinha. Até hoje isso é verdade. A revista SET da editora Peixes, deve vender uma 15, 20 mil...desde que ela existe ela só dá prejuízo. Mas uma editora Peixes, Abril uma revista que dá prejuízo tem a Veja e compensa. Pra gente não compensava, era uma editora muito pequena, uma revista que abaixava num mínimo de custo era fechada, acontecia muito disso. Club durou e a gente entrevistou gente de primeiro nível, inclusive eu acho que o Raul Cortez foi o nosso último entrevistado da qual eu tive prazer de participar do Marcos Faerman, um grande jornalista. O Gio foi aluno dele. Eu trabalhei muito com ele, assinava um monte de matérias também.
MT- Ele trabalhou em muitos lugares.
EJ- Sim, na época ele trabalhava no Estado, no Jornal da Tarde e pra nós porque ele era muito amigo do nosso editor. E vira e mexe, ele tinha como um bom jornalista alguns problemas financeiros e de vez em quando ele oferecia alguns textos e claro, um texto do Marcos Faerman a gente não ia recusar, ninguém era louco.
MT- Usava pseudônimos ?
EJ- Ele usava pseudônimos, ás vezes assinava. Ele não dava muita bola pra essas coisas e era um cara excelente. As grandes entrevistas que foram feitas na Club foram feitas por ele praticamente e outros também.
MT- As duas viviam mais de anúncio ou vendas em banca ?
EJ- Venda em banca. O seguinte: quando você tem uma revista tipo Veja ou uma Playboy que seja, o cara acha legal botar o anúncio lá porque fica agregado a revista e valoriza a empresa dele. Numa revista em que a mulherada aparecia de perna aberta pro horizonte, o cara nunca iria botar, de jeito nenhum. Você não conseguia anúncio. Então, os que aparecem na revista são de sex shop, motéis, enfim. Na época em que apareceram aqueles telefones eróticos, não sei se você recorda entravam. Qualquer coisa ligada a sexo entrava, fora isso não. Não se conseguia anúncio sobre hipótese nenhuma.
DRJ- E assinatura tinha também ?
EJ- Não. Ou se comprava em banca ou se pedia e a gente enviava porque não tinha assinatura. Porque pra você manter um departamento de assinatura você tem uma certa equipe e no caso pra uma revista ou duas não valia a pena, dava algum trabalho que não valia a pena. Então, ela dependia da venda em banca porque ninguém anunciava na revista. Mesmo na Club que era mais soft, raramente alguém anunciava, raramente. Na época, a questão de revista de sexo era muito complicada. Hoje é muito fácil o cara dizer vou anunciar na Ele Ela ou qualquer coisa do gênero, porque a Playboy tem uma coisa maravilhosa: ás vezes o cara anuncia na Veja e ganha na Playboy. Então, isso se faz mas revista de erotismo ninguém anunciava, o cara não botava o produto dele de jeito nenhum. Era um preconceito de lascar, um preconceito mesmo porque se você prestar bem atenção todas as matérias que nós editamos e que eu editei por doze anos essas matérias. O Nelson que era o editor oficial da Big Man, era de extrema credibilidade e nós na realidade,éramos a única que ensinava algo sobre sexo e sexualidade. Ensinava e posso te dizer com a boca cheia mesmo. Porque nenhuma outra revista até por ser essa coisa de sexo, pouco se falava. A única que se falava de sexo com conteúdo e que fala até hoje é a Nova, a única. Porque a Playboy é uma porcaria em termos de tratar de sexo e sexualidade. Uma porcaria, de um vazio espetacular porque ali você não vai aprender nada. Não perca seu tempo, quer saber alguma coisa de sexo e sexualidade a Nova é a única publicação que fala claramente de forma madura, moderna, sem preconceitos sobre sexo e sexualidade. E era o que nós fazíamos, a regra básica...
DRJ- Mas na época a Nova não fazia isso ?
EJ- Não. Depois ela começou a fazer. A regra básica da Internacional era permitir que as pessoas tivessem a liberdade de curtir o prazer sexual, sem preconceitos. Não havia preconceito de homem com homem, mulher com mulher ou qualquer coisa. Era o prazer do sexo e o direito que você tinha de curtir sexo.
DRJ- Divulgar informação ? Conhecimento ?
EJ- Sim, claro evidentemente porque a gente entendia e as matérias refletiam isso, quem tem pode checar se quiser é que sexo é algo que se aprende. Por isso, existe algo chamado educação sexual. Sexo se aprende, é verdade e tem gente que não sabe, não tem a menor educação sexual. Na realidade, a revista também fazia esse “serviço” de educação sexual. Você pegava e discutia: a mulher deve ou não deve fazer sexo oral ? Deve ou não deve fazer sexo anal ? Sabe, então você pegava opinião de especialistas, médicos e todas as fontes. A gente tinha uma equipe de colaboradores com uma cabeça moderna: psicólogos, urologistas, sexólogos, a equipe de colaboradores você nem imagina. Porque eu e os meus colegas da revista, como jornalistas não tínhamos esse conhecimento de sexualidade. Não tinha, sou jornalista. O máximo que eu sabia era de cinema (risos), então eu não podia dizer certas coisas porque eu não conhecia, perguntava prum urologista. A gente tinha uma série de pessoas que davam pra nós a informação. Mesmo sendo a revista que era uma informação errada você ia em cana, porque você edita é responsável, não importa o pseudônimo. Por isso eu digo: nós temos o prazer de dizer claramente, eu tenho prazer de dizer de boca cheia que ajudamos na educação sexual de muitas pessoas, mas de milhares de pessoas porque éramos a única revista que fazia isso. Claro você tinha como todo espetáculo o ensaio erótico, as cartas, os contos mas a orientação de edição da Internacional era de respeitar o direito a liberdade do prazer. Essa era a orientação, não era uma coisa reacionária, aliás coisa reacionária não entrava vou deixar isso bem claro. A gente não condenava absolutamente nada, não obstava absolutamente nada. Claro que a gente respeitava os limites da liberdade do ser humano, mas dentro desses limites, dentro do que você gosta, acorda com o seu parceiro e sua parceira ? Amigo vai fundo: é um direito seu. Essas eram as regras que nosso editor impunha pra gente: então não entrava matéria reacionária, cartinha reacionária, não entrava depoimento reacionário, não se falava em pecado, nada disso. O nosso negócio era levantar a bola.
MT- Isso era forte pra época, inclusive porque o Brasil era mais católico que hoje. Hoje ainda está, inclusive o papa vem, mas nos anos 80 era muito mais ?
EJ- Eu vou sabe porque nós descobrimos porque esse negócio funcionava: tem um sexólogo, escritor de vários livros, muito famoso chamado Oswaldo Rodrigues Júnior, anotem esse nome: Oswaldo Rodrigues Júnior. Este homem tem vários livros publicados e ele tinha um instituto de sexologia em São Paulo. E um dia, ele nos telefonou. Ele nos telefonou dizendo que dizia a revista Internacional pros clientes dele lerem a publicação na sala de espera. Esse cara a partir daí disso passou a ser colaborador nosso até o final e tinha uma cabeça maravilhosa. Pegue os livros dele, leia ele sempre aparece, já foi no Jô Soares várias vezes, muito sério mas muito antenado com o que é novo, o que é legal, moderno, diferente, revolucionário e o que é direito seu. Você tem direito a sua sexualidade, você tem direito a sua liberdade. Que papo é esse de pode ou não pode ? Claro, isso você acerta entre quatro paredes. Não pode encher a mulher de porrada de jeito nenhum, isso não pode em lugar nenhum ou forçar uma coisa que ela não queira, é estúpido, contra a lei. Mas dentro dos limites, das variações que você tem de sexo e sexualidade a Internacional era completamente liberal. Tanto que nós tínhamos inclusive na Club, uma coluna de sadomasoquismo escrito por uma das jornalistas mais respeitadas do mundo nesse assunto que era a Wilma Azevedo. Mas você vai me dizer sadomasoquismo ? Bom, eu que editava a Club quando encontrei ela e li o artigo dela pela primeira vez que eu não entendia nada do assunto, falei: “Eu não vou editar essa merda” (risos). Só que aí eu comecei a falar com a Wilma, o meu editor e fui entendendo o espírito do sadomasoquismo e passei a publicar com muito prazer. Você está entendendo ? A nossa revista abriu muito a cabeça das pessoas até de quem trabalhava lá. Eu, particularmente numa relação nunca vou tomar uma atitude sadomasoquista sabe, não é a minha mas agora e quem gosta ?
MT- E é o público da revista também.
EJ- E se não é o público inteiro, você pode ter 50 leitores que gostam. É que a gente ás vezes tem pouca informação. O país onde o sadomasoquismo é mais praticado é a Alemanha, onde é mais difundido. Não é só aquela porrada que todo mundo fala, é uma grande filosofia. Ela escreveu vários livros a respeito, explicando essa questão. Nós tínhamos, eu chegue a publicar Elas e Elas, contos gays, travestis e eu cruzava com todo esse público e você sabe que quando eu entrei na Internacional em 80, eu tinha acho que 30 anos, eu fazia desse grande bloco de pessoas que tinha grande preconceito com sexo, fazia. O brasileiro infelizmente pela sua educação tem muito preconceito contra sexo, isso é verdade e eu falo isso pra quem quiser escutar. Infelizmente, a nossa educação é uma merda, terrível. A educação católica, é um cu, terrível, castradora e até hoje o idiota do papa não quer que se use camisinha. Eu digo idiota e é idiota...
MT- Pode botar ?
EJ- Sim, pode botar. Ele é um idiota só pode ser. Até na China, em todo lugar se usa camisinha porque o louco não quer, pirado, coisa dele. Então, quando eu entrei na Internacional eu tinha uma série de preconceitos. Mas depois que eu passei a conviver com todo esse público, eu convivi com todo esse público, passei a conhecer. Conheci muito travesti, muita lésbica, conheci muito homossexual, muito cara que fazia ménage a trois, sexo em grupo, que era transformista e tal, convivi com essas pessoas. Dentro dessa filosofia da Internacional que é uma filosofia de respeito aos caras. Sabe, não me convide eu não estou afim de sair com um travesti não é a minha. Mas pra quem gosta, é um prato cheio.
DRJ- Uma aceitação do diferente, do diverso ?
EJ- Da liberdade.
MT- De não ter o certo seu Janks ?
EJ- Veja, no fundo a gente brigava pela liberdade do prazer sexual. Isso é uma palavra muito grande: a liberdade é uma coisa grande, então isso refletia em todas as nossas matérias, inclusive quando a gente resolveu fazer essa questão do cinema erótico, da Boca que a gente ia cobrir. Entenda, eu nunca fiz uma crítica negativa, não era pra isso. Quando a coisa pesava um pouco, como num filme do Sady e ele pesa um pouco, eu procurava dar um aviso ao leitor: “Olha, toma cuidado, você precisa ter estômago forte”. Quer dizer, também não sacaneava o leitor, dizia pra ele que ia ver uma coisa muito light não, tinha coisas do Sady vocês já devem ter visto, não pegava leve. Mas no resto que era apenas uma relação normal entre homem e mulher, eu dava uma folheada até pro cara ir ver porque cada um decide o que quer ver. Sabe, eu escrevia não quer dizer que o cara quer ir ver, o problema é de cada um. A nossa função era indicar e eu diria ensinar e incentivar a liberdade da prática sexual, isso era a carteirinha básica do que o meu editor me impôs e eu fazia o que ele me mandava.
DRJ- Os leitores participavam por carta ?
EJ- Olha, eu recebia quilos de cartas. Nós tínhamos inclusive, envelopões de cartas...
DRJ- Não chegava a precisar inventar carta ?
EJ- Não, isso que é o mais curioso porque quem não está dentro pensa que a gente inventava. O que acontece: é claro que ás vezes ou no inicio pra fechar um número de páginas você precisava inventar uma cartinha. Mas com o tempo os leitores começaram a mandar, começaram a mandar e eu tinha tanta carta cara, que não tinha o menor trabalho que vinha uma matéria de graça. Você está entendendo ? Claro que a gente publicava dentro desse espírito: não seja reacionário, não proibida nada, não abuse ou estrapole. Se é positivo entra, se negativo tchau. A regra é simples, é só seguir essa conduta mesmo sendo uma coisa positiva, porque é uma coisa boa. O cara tinha de graça
MT- Logo que o senhor se formou seu Janks, o senhor foi pra Ondas ?
EJ- Não, eu antes trabalhei no Jornal da Lapa, fui editor dele, um jornal de bairro. Depois trabalhei na Votorantin com o doutor Antônio Ermírio de Moraes...
MT- Foi assessor de imprensa ?
EJ- Não havia assessoria de imprensa. Havia um setor de treinamento que fazia um jornalzinho da empresa. Eu fiz o jornal por dois anos na Votorantin.
MT- Gostou de trabalhar com o Ermírio ?
EJ- Gente muito boa, Antônio é um cara muito sério. Eu o digo que o conheci porque conheci, a gente se cruzava junto todo dia. Uma pessoa muito séria, tão séria que você vê que ele não se envolve em política, não se envolve nessas coisas (risos).
MT- Mas ele inclusive poderia...
EJ- Poderia mas ele sabe que país é esse como diz o Cazuza. A única vez que ele foi candidato foi a governador. Engraçado, eu tinha saído da Votorantin faz tempo fui pra Prodesp, eu continuei lá trabalhando na área de treinamento e depois eu fui pro Jornal da Lapa que aí eu fiquei na área de jornalismo e não sai nunca mais. Nesse ano, o Antônio Ermírio é candidato a governador e é claro visita o Jornal da Lapa e a gente entrevista o homem claro. Como editor, você sabe que nessa época de eleições todos os políticos visitam todos os bairros e vão em todos os jornais. Aí eu tive o prazer de entrevistá-lo pela primeira vez, porque quando nós tínhamos o Jornal da Votorantin isso estava totalmente fora da nossa pauta, ele nunca quis dar uma entrevista.
DRJ- Nem pro jornal interno dele ?
EJ- Não, ele não gostava de se expor. O Antônio é um cara que não gosta de se expor, sabe agora ele tem aparecido um pouco mais mas ele é um cara bastante recluso, pouca gente sabe dele. Sempre foi assim, tanto que a primeira entrevista que eu sugeri foi a dele, claro. Ele tinha acabado de ganhar um prêmio de empresário da Fiesp pelo segundo ano consecutivo, e eu pensei: “Que pauta legal”. Veio a resposta: “Não” (rindo), “Não. Aí nós entrevistamos o irmão dele que era o José Ermírio de Moraes, esse gostava mais de aparecer, era conselheiro do Corinthians e era ligado a área de esportes.
MT- Falando em futebol, o senhor dá aula na São Judas certo ?
EJ- Sim, na São Judas.
MT- Você dá aula pro Marcelinho Carioca ou ele está em outra São Judas ?
EJ- Não, ele está lá. Não dou porque eu dou pro segundo ano e ele está no primeiro. Mas eu cruzo com ele lá. Talvez eu dê no ano que vem, se eu continuar lá e não me mandarem embora e ele passar pro segundo ano talvez eu dê aula pra ele. Porque pode ser que eu dê aula pra ele. Mas ele aparece lá, é figura todo mundo chama atenção dele (risos).
MT- É que eu escutei no rádio que ele fazia aula lá, e me liguei.
EJ- Mas ele está lá mesmo.
MT- Aí quando o senhor entrou na Ondas, já entra na Big Man ?
EJ- Não, não. A Ondas é o seguinte: eu fui convidado pra editar a Club dos Homens porque o editor estava saindo. Era uma revista mais soft, todas essas orientações que vocês conhecem bem. Nesse período claro, você vai fazendo outras coisas...aí de repente quem editava a Cinevídeo saiu. Aí me passaram também pra editar a Cinevídeo.
MT- Qual era a periodicidade dela ?
EJ- Mensal e a Club era mensal. Então, eu passei a editar as duas falando de erotismo de um lado e de cinema sério do outro (rindo). Nesse período o Nelson também, que era editor da Big Men Internacional me contatou pra fazer essa parte do “Nosso Cinema”. Eu ainda não editava nenhum dos filhotes da Internacional mesmo, eu editava a Club, Cinevídeo e era colaborador do Nelson. Tanto que eu na Club se você vê, eu assino o meu nome bonitinho. Porque claro era uma revista de respeito e com o Nelson eu já começo com o pseudônimo, eu pensei: “De repente alguém vê”. Se tinha muito medo e medo com razão. As pessoas são preconceituosas, são complicadas e na época eram muito mais. Hoje em 2007 ainda são, imagina em 80 você mesmo falou: tem a liberdade, você tem um processo político que somente em 74 você vai ter um pouco de liberdade. Eu acho que a primeira eleição é nos anos 80, a gente pega esse período de início de liberdade.
MT- O Quércia foi o primeiro governador ?
DRJ- Não, o Montoro.
MT- Tem razão, primeiro o Quércia foi senador, depois foi governador.
EJ- Primeiro senador. Aliás, eu votei no Quércia, era um nome maravilhoso na época...
DRJ- PMDB...
MT- Na linha do doutor Ulisses...
EJ- Votei e me arrependo. Pode escrever (risos). Mas ele era muito liberal, parecia muito liberal, extremamente liberal tanto que todo mundo que de esquerda, meia-esquerda, centro-esquerda votou nele. Ele teve uma votação maciça na época e olha no que deu (risos). Então, nessa época a gente está entrando na Internacional e é claro que começa a ter a liberdade política e começa a ter a liberdade de expressão. Mas mesmo assim, um país que ficou 20 anos calado falar de sexo meu amigo, era uma coisa complicada. Eu comecei primeiro na Club dos Homens ao mesmo tempo passei editar a Cinevídeo e colaborava com o Nelson que era o editor da Big Man Internacional com o “Nosso Cinema”. Essa parte eu fiz até que a produção da Boca parasse.
MT- Que ano era isso ? 88, 89 ?
EJ- Não, não foi tanto tempo. Foi uns dois, três anos.
MT- Toda edição saia ?
EJ- Toda edição saia e eu comecei a fazer edições que eu fazia quatro filmes por edição. Então, se você somar tudo eu acho que eu cheguei a criticar, comentar dentro de uns 100, 150 filmes da produção da Boca. Nós chegamos a fazer duas edições anuais, uma está com o Gio e outra que você está levando agora onde a gente pegava só o cinema da Boca, toda produção que teve. Teve um ano que é a que eu acho que está com o Gio que a produção brasileira foi de seis ou sete filmes. Na Boca chegou a se fazer mais de oitenta filmes, foi uma coisa fabulosa. A gente que participou desse período: eu, Alfredinho e outros caras a gente sempre ficava se dizendo que não podia deixar aquilo morrer. Tudo aquilo era uma produção fantástica, pouco me importa o caráter, a qualidade você está entendendo ? Os americanos pegam qualquer Ed Wood lá e jogam o cara nas alturas. O cara era tão mane quanto os nossos caras da Boca...na verdade, ele era pior do que os caras da Boca (rindo), era pior.
MT- Mas antes o senhor tinha algum contato com o cinema da Boca ?
EJ- Não, eu passei a ter contato a partir da Internacional e da Nosso Cinema. Fui chegando na Boca, conhecendo as pessoas, fazendo os contatos porque eu precisava evidentemente de material pras matérias. E esse material num primeiro momento eu pensei o que todo mundo pensava: release, foto não..
MT- Fotos em alta resolução ?
EJ- Não, nada. Só dois veículos falavam da Boca: nós e o NP. No início, você vê o que eu tenho aí de anúncio era o Notícias Populares e ele divulgava mesmo as fichas, vamos dizer sinopse...
MT- O Jota Santana, um excelente jornalista tinha aquela memorável coluna “Por Dentro da Boca”.
EJ- Sim, sim. Nós e o NP, praticamente o que você tem de herança daquela época são as Internacionais, edições do Notícias Populares que você não acha mais a não ser que alguém tenha guardado e agora esse dicionário que o Alfredo lançou, que é uma coisa maravilhosa, um documento da época. Uma época muito importante, onde se produziu muita coisa, muita coisa, tinha muita gente trabalhando.
DRJ- Toda semana tinha filme ?
EJ- Toda semana. Sempre que eu passava lá pra recolher coisas tinha equipe andando, gente saindo pra filmar...Ia no escritório do Bajon e ele tava preparando a produção do filme, entrava gente, saia gente, o Alfredinho ia dirigir ou não, o Bajon ia dirigir...
MT- Na Galápagos ?
EJ- Na Galápagos, exatamente na rua Aurora.
MT- O que é hoje o local onde era a produtora ?
EJ- Não sei.
MT- Não era na Triunfo ?
EJ- Não, a Triunfo era a rua onde ficava o Soberano e onde ficava a maioria das produtoras. Mas a Galápagos, ficava na rua Aurora não sei se era...mas eu esqueço o nome. A produtora ficava numa rua paralela a Embrafilme. Não era na Triunfo, mas a maioria: o Cavalcanti, Tony, todos os outros produtores ficavam na Triunfo, lá era realmente o local onde você achaca todo mundo, era o centro. Então, a partir daí eu passei também a divulgar esse cinema da Boca, conhecendo fui vendo, conversando, mantendo relacionamento, conhecendo atores, diretores, atrizes. Fui fazendo meu meio como todo jornalista que não conhece o assunto. Bom, pra conseguir informação sobre o filme era um inferno, ninguém sabia. E diretor se tinha falava muito pouco ou falava quase nada porque não tinham o menor interesse, não entendiam o que era divulgação. Ninguém queria divulgá-los também, essa é a verdade, ninguém. Então pra que eles iriam fazer esse tipo de material ? É simples, não tinha motivo. Aí eu com esse trabalho: o primeiro problema foi colocar algo visual, porque eu tinha que colocar, a nossa revista dependia do visual.
MT- Toda revista depende do visual.
EJ- Mas de visual pesado, não digo assim beijinho. Então, eu comecei a falar pros caras que me cortassem fotograma. Na hora da montagem até eu falava com os montadores ou com os próprios diretores: “Olha, aquele pedacinho que você cortou da penetração, separa pra mim”. E a gente ia fazendo, conversava com um, conversava com outro, constituía um roteiro e alguns até chegaram como o Sady, como o Bajon e outros produtores que eu não me lembro o nome agora chegavam até a dar alguns folhetos. Aquele “Como Afogar o Ganso”, ele tinha um folheto bonitinho, ele tinha uma divulgação legal. Quando os caras tinham uma cabeça um pouco mais acertada, eles faziam uma divulgação legal.
MT- O Tony fazia ?
EJ- Tony Vieira ?
MT- É
EJ- Não me recordo. Eu falava muito com o Tony, mas eu falava ali no corre corre. Ele explicava melhor, gostava de explicar as coisas. Eu até tenho uma entrevista com ele, bem pouco antes dele morrer.
MT- O senhor tem ?
EJ- Eu tenho gravado.
MT- Pô seu Janks, que genial vê depois se o senhor acha.
EJ- Vamos ver. Foi feita pouco antes dele falescer, já tava...o cinema ainda estava em alta mas o Tony começa a morrer, quando começa a morrer o cinema da Boca. Porque ele era isso: ele estava jovem e quando terminou os filmes explícitos, ele teve somente de fazer filme explícito, ele começou a ficar mal e falesceu em seguida.
MT- E ele teve de fazer shows ?
EJ- Sim, sim teve de fazer shows, teatro. Mas não era o tipo de coisa que ele gostava. Ele gostava de cinema. O Tony adorava cinema, adorava cinema. Ele achava que estava fazendo o melhor cinema possível. Tanto é que ele resiste muito a fazer o explícito, ele só entrou pra fazer o explícito quando não teve jeito, porque ele fazia os policiais, ele fazia os faroestes, adorava fazer isso. Adorava montar aquelas cidades dele, com um pouco de erotismo mas nada de explicito.
MT- Com a Claudete ?
EJ- Sim, com a Claudete que depois veio a ser esposa dele.
MT- Com o Heitor Gaiotti ?
EJ- Sim, com o Heitor Gaiotti, claro.
MT- Ele criou diversos grandes técnicos pro cinema paulista: Walter Wanny, Jair Garcia...
EJ- Sim, Walter Wanny, o Jair. Eu o conheci, simpaticissimo o Jair, pessoa maravilhosa, excelente pessoa por sinal.
MT- Mas voltando ao Tony em particular seu Janks...O material dele era bom ?
EJ- Era bom, ele fazia aquelas cidades de faroeste sem nenhuma condição, claro você vai dizer era tosco. Bom, mas faroeste italiano é tosco também. Pouco importa, era o nosso faroeste também. Sabe, o policial dele era o nosso policial. Ele levava muito a sério, ele adorava assim já quando ele começa a fazer o explícito, o Tony começa a não ficar legal apesar de falar de mudar, etc...
MT- Tem um problema também da separação dele da Claudete ?
EJ- Sim, porque depois ele começa a trabalhar com outras atrizes. Aí a vida dele começa a dar uma desgringolada e com a decadência do explícito, ele não resistiu. Negócio dele era fazer cinema. Ele nasceu pra fazer cinema, adorava aquilo. Adorava faroeste, os policiais.
DRJ- E entrava em cartaz ?
MT- Sim.
EJ- Sim, o nome dele era bastante conhecido.
MT- Tem até comunidade dele no Orkut seu Janks ?
EJ- (sorrindo) Ah é ! Que legal. Isso é uma maravilha.
MT- Seu Janks...mas voltando ao cinema explícito, a partir de 82, o senhor acompanha ele de maneira presente ?
EJ- Sim, a partir de 82 aí que começou o cinema explícito eu acompanhei toda a trajetória da Boca, toda a trajetória até falescimento da Boca. O que deu a maior parte desse cinema.
MT- Uns três anos...quantas colunas o senhor fez ?
EJ- Olha...era mensal, três anos, 36...uma média de três a quatro filmes, cento e poucos filmes. Vai ate 85, 86 quando o explícito nós paramos de fazer o “Nosso Cinema” visto que ele não rodava mais e passamos a fazer o vídeo erótico que aí tinha uma produção nacional e uma produção estrangeira. A gente continuava alimentando essa coluna.
DRJ- Começou a divulgar o VHS ?
EJ- Isso, exatamente.
MT- Mas quando o senhor fazia a coluna, o senhor ia na Boca ? Ou alguém falava antecipadamente pro senhor: “Olha esse mês vai estrear o filme tal”...
EJ- Não, eu ia na Boca. Com o tempo ficava uma coisa como qualquer jornalista, o cara te telefona: “Olha vou lançar o filme tal, já guardei material pra você” e eu ia lá. Mas eu sempre fui na Boca e o único cara que chegou a levar material pra mim na redação foi o Sady. O Sady é um cara terrível, o Gio tá fazendo o livro dele: o Sady sabia fazer marketing, sabia. Ele me bajulava- bajulava é maneira de dizer- mas ele me tratava muito bem. Ele preparava todo material, o release, ele me avisava que estava lançando, me convidava pra pré-estréia. O Sady realmente se divulgava.
DRJ- Sabia do marketing ?
EJ- Sabia do marketing, sabia. Eu acho que todos os filmes do Sady eu escrevia sobre eles.
MT- O senhor via antes ?
EJ- Eu via na pré-estréia e escrevi sobre todos eles, porque certas horas a única maneira de escrever sobre um filme era vê-lo na pré-estréia porque ninguém te dava informação nenhuma. “Ah não, tem uma transa, tem duas” e o que eu podia fazer com isso ?
DRJ- Isso tem em todos (risos).
EJ- Isso tem em todos e mesmo que você usa um pouco a sua imaginação. Mesmo se a transa é comum, você pega um gancho, um ganchinho, outro ganchinho e tal e puxava e não rolava nada muito diferente do outro, a não ser quando entra sexo com animal ou esse tipo de coisa, quando você tinha algo de diferente. Mas quando era homem e mulher não rolava nada muito diferente de produção para produção. Então, você tinha que dar uma inventada, uma incrementada na história e pelo que eu me lembre eu incrementava bem. Eu lembro que uma vez eu recebi uma carta de um cara dizendo: “Olha, fui assistir o filme que o senhor criticou. A sua crítica é melhor que o filme” (risos). É que de vez em quando tinha filme que tinha três cenas de sexo. O que você vai fazer ? O que vou ? Primeiro, eu tinha que entregar o material porque o editor queria, fechava a revista. Eu tinha as fotos, as três cenas eu dava uma mareada, puxava um gancho...ás vezes saia mas de qualquer maneira eu colocava as cenas. Ás vezes metade da matéria era uma inalação minha e a outra metade sobre o filme porque não tinha o que colocar. Quando tinha uma informação, eu colocava mas muitas eu não colocava. Tipo coisas do Sady, muito pesadas eu segurava a barra mas eu sempre avisava: filme do Sady é pra quem tem estômago, sempre avisava. Até como elogio, porque ele na verdade é um antecessor de filmes bem hard que você tem hoje em qualquer DVD de sexo bizarro, o Sady é o precursor do sexo bizarro. Claro, olha se você pega um DVD de sexo bizarro, que o cara coloca o dedo ou a mão na mulher, meu amigo isso o Sady já tinha feito, já tinha feito.
DRJ- Na época era muito corajoso.
EJ- Muito corajoso.
MT- Muito contestador ?
EJ- Muito contestador, sabe muito corajoso. Realmente o Sady tinha isso, eu brincava com ele: “Sady manda esses seus filmes pra fora, que lá inclusive eles vão ter um público muito melhor”, mas você sabe ele sempre foi um produtor que achava que o filme não tinha futuro lá na frente. Hoje você vê que tem, porque se você entra hoje numa locadora de filme erótico, você vai ver uma sessão que só de bizarro, tem público pra isso. Mas o Sady era muito corajoso, muito corajoso.
MT- Lá da Boca o senhor acha que era o mais ?
EJ- O mais corajoso.
MT- Era o que mais fazia essas coisas extremas ?
EJ- (rindo) Você vê a quantidade de processos que ele tem. O Gio que sabe isso, eu não sei. Os caras pegavam no pé dele mesmo, mas ele não tava nem aí: fazia, fazia mesmo sempre com idéias mais arrojadas e colocava pra fazer. Ele não tinha limite, mandava bala. O Sady era o cara mais arrojado da Boca. O mais corajoso.
MT- Desse pessoal do explícito que o senhor conheceu...Ele era o cara mais audacioso ?
EJ- O mais audacioso. Você tem estilos bem diferentes: o Bajon era um cara mais elegante tinha toda uma cultura; o Alfredo muito culto também, os filmes eram elegantes também mas tinham evidentemente as cenas de sexo que eram necessárias mas ele sabia dirigir, colocar um diálogo, botar uma música. Então, é uma coisa diferente.
MT- E o Jean Garret ?
EJ- O Jean Garret eu acho que ele faz muito pouco explícito porque ele morre muito cedo. Ele era cultíssimo, um cara de uma cultura maravilhosa, excelente diretor. Tanto que os filmes não explícitos dele em que a Débora aparece andando a cavalo e outros são muito bem feitos.
MT- O senhor se refere ao com a Helena Ramos, “Mulher, Mulher” ?
EJ- Helena Ramos, perdão. Sabe o Garret dirigia muito bem, era muito culto e era bom ator até, trabalhou em alguns filmes e é uma pena que o cara morreu cedo. Ele seria uma promessa maravilhosa...sabe a Boca tinha uns caras cultos: tinha o Bajon, tinha o Alfredo, tinha o Garret, tinha o Candeias, o Ody um cara bastante culto..
MT- O senhor conheceu o Ody ?
EJ- Não. Ele já estava muito mal, conheci muito pouco. Tinha outros que á não tinham tanta cultura como Francisco Cavalcanti que era mais chute pra frente...o Tony conversei muito com ele.
MT- Ele era um cara muito legal ?
EJ- Muito legal, ele gostava de conversar e defendia aquele cinema dele com unhas e dentes, aquilo pra ele era muito sério. Ele veio da TV Excelsior e sempre voltado pra mexer com cinema e quando ele tem chance ele não sai de lá até morrer. Então, é isso conheci outros produtores gente que me foge o nome mas me fornecia material desse jeito, mas me dava o resumo do filme em três ou quatro ruídos.
MT- O Rafaelle Rossi você chegou a conhecer ?
EJ- O Rafaelle Rossi eu não cheguei a conhecer pessoalmente. Critiquei coisa dele, recebi material não sei que de forma, mas critiquei, coloquei, mas não o conheci pessoalmente. Muitas vezes eu acabava falando do filme por ir na pré-estréia, porque lá era a chance de eu poder ver o filme e sentir a platéia. Mas principalmente de ver o trabalho, porque muitas vezes os caras não diziam nada sobre o filme te mostravam uma cena e a cena era o que ? Uma penetração, um close (risos). Me lembro que de vez em quando eu chegava num produtor e ele dizia: “Separei um monte de fotogramas pra você”, eu ficava animado mas depois via que era tudo close e eu falava: “O meu editor vai me matar, me vê um plano mais aberto pra que a gente possa mostrar alguma coisa acontecendo”, mas tinha muito isso. Com o tempo a gente criou um círculo de gente que até telefonava: “Olha tem material, tem isso, tem aquilo”. O Sady sempre me convidava e quando eu dissesse: “Eu não posso ir”, ele mandava o Feijoada levar o material (rindo).
MT- O Sady era um cara que o senhor sempre fazia questão de falar ?
EJ- Ele sempre fazia questão de falar comigo. O problema é o seguinte: o pessoal da Boca, ninguém os divulgava, ninguém os levava a sério e eles também em compensação faziam o trabalho deles e fim de papo. Eles não estavam muito preocupados porque ninguém dava atenção a eles, você transitava com todo mundo, porém é óbvio que em quatro filmes, eu não iria botar quatro filmes do Sady, o editor me matava. Era simples, então eu pegava um do Sady, pegava um do Rafaelle Rossi, um do Marinho, do Zé Adauto Cardoso...
MT- Ah ! O Zé Adauto
EJ- O Zé Adauto eu conversava muito com ele, uma pessoa muito culta também e era outro que ele falava. Com ele era fácil, ele sentava com você e te explicava, gente muito boa. Eu o conheci no trabalho quando ele fez os filmes dele e era legal porque era uma cara que falava (rindo), dava pra conversar com ele.
MT- O Juan Bajon começou com essa história dos filmes dos cavalos porque dava sucesso ?
EJ- Olha, eu não sei como surgi a idéia. Seria chute dizer que antes dele o Sady tenha feito alguma coisa antes com jegue, alguma coisa do gênero. O que o Bajon faz ? Faz alguma coisa com o cavalo, uma coisa mais soft e dá muito certo. Dá muito certo, então ele faz uma série descobre uma vertente e dá muito certo. Era um homem muito inteligente, um cara que conhecia as coisas e sabia o que fazia e fez uma série.
DRJ- E tinha público ?
EJ- Tinha, tinha.
MT- Não tinha uma história que esses primeiros filmes do explícito, o pessoal levava a namorada ?
EJ- Tinha.
MT- Que tipo de salas passavam o filme explícito ?
EJ- Vamos lá: o Windsor; Art Palácio; o Normandie que ficava ali na Rio Branco exibia explícito; o cinema que ficava ali na Dom José também exibia. Vários exibiam.
MT- Mas exibiam filmes tradicionais ou só explícito ?
EJ- Não, mesclavam e de início mesclavam e depois começou a ficar meio gueto.
DRJ- Como é até hoje...
EJ- Como é até hoje, o Art Palácio é só isso. Mas o Windsor por exemplo exibia esse tipo de filme, mas fui lá que eu vi o primeiro filme explícito...o “Coisas Eróticas” do Rafalle Rossi eu vi no Windsor, um cinema de luxo. Eu vi o “Coisas Eróticas” lá, deu muito público, o cara ganhou muito dinheiro e o próprio ator que fazia a primeira cena de ejaculação, o Oásis Minitti ganhou muito dinheiro. Esse eu conheci, tive o prazer de conhecer, ele fazia a primeira cena de masturbação pra câmera, uma coisa maravilhosa. Mas o Windsor exibiu por que ? Porque tinha público pra xuxu cara, ao mesmo tempo exibia coisas normais. Eu vi “Sem Destino” no Windsor, vi clássicos sabe na época muitos cinemas...na São João tinham outros cinemas que também exibiam outros materiais. Só depois que a coisa ficou muito envenenada mesmo...
MT- Aí que tem essa coisa de no cinema rolar outras coisas ?
EJ- Sim, claro.
MT- No começo ainda não tem ? Era sossegado ?
EJ- No começo não tem e quando o filme tinha alguma qualidade ou o produtor tinha algum contato com o pessoal do cinema ele conseguia colocar o que ele queria, como um filme do Alfredo.
MT- Ou sei lá, um filme que deu muito público que é super underground que é o “Rebuceteio” do Cláudio Cunha ?
EJ- Sim, sim. Inclusive eu tenho em casa ou eu deixei com o Gio as páginas em cores que saíram sobre o “Rebuceteio” no NP, seria legal eu trazer até pra gente ver que cinemas ele entrou, aí a gente podia ver. Esse filme deu certo também porque foi dirigido pelo Cláudio Cunha, um cara respeitado, entra aquele cavalheiro que nós conversamos antes dos quadrinhos. Esse também consegue evidentemente passar o filme dele em salas de qualidade. Com o tempo começa a ter pegação das bruxas mesmo e o tempo vai se fechando, o próprio Windsor acabou virando cinema só disso, o Art Palácio também, o Paysandu eu acho que passava com certeza, o Cine Cairo sempre passou.
MT- Marrocos ?
EJ- Marrocos, sim claro.
MT- O Bijou não chegou ?
EJ- Não, acho que não. Ali já era um pessoal de outro estilo. Mas muitos passavam e não tinha muito problema na época.
MT- Mas isso de certa forma, condenou essas salas ?
EJ- Sim. O Windsor foi um desses casos, era um cinema de luxo. A gente ia lá porque as poltronas eram vermelhas, bonitas, um cinema que passavam grandes clássicos até lançamento de filme. Ele começou a exibir filme erótico porque dava uma grana e acabou sendo condenado como você mesmo falou. Hoje ele está totalmente fora de qualquer pessoa séria (risos), de rotina. O Art Palácio até que passava coisas sérias no início, vocês não recordam porque são mais jovens mas todos os filmes do Mazzaropi eram lançados no Art Palácio cara. Olha, eu lembro que eu fui num só e era uma festa em frente da sala, um publicão. Reunia uma banda que ficava tocando, essas bandas de coreto, era uma festa. Ele chegou a ser um cinema sério, porque o Mazza chegou a lançar todos os filmes dele lá, quer dizer senão todos pelo menos boa parte. E tinha público jovem ver ele, criança.
MT- E ele lançava sempre numa data do ano específica ?
EJ- Sim, sempre tinha uma data específica, exatamente.
DRJ- O Marabá, o Ypiranga nunca entraram no explícito ?
EJ- Eu não me recordo mas acho que teve alguma coisa sim. Teve um período que o centro ali estava bem loteado, algumas sessões, alguns filmes eu acho que chegou a passar. Não vou te garantir, mas se eu der uma molhada nos jornais que eu tenho lá em casa, porque eu tenho o NP então aparecia os cinemas que estavam passando o filme. Eu te mando por e-mail o nome das salas. Onde “O Rebuceteio” foi lançado, onde outros filmes foram lançados.O Cine Dom José, que hoje mudou de nome.
DRJ- O Olido ?
EJ- Olido provavelmente. Precisa checar. Porque era um bom negócio, mas depois foi se condenando, se afastando mas alguns por salvação ficaram só no erótico.
MT- O boom do explícito é de 82 a 84, podemos dizer que ele está no auge ?
EJ- Sim. Mas os cinemas continuam depois exibindo os americanos, italianos, francês, qualquer coisa.
MT- Tinha muita repercussão muito grande a coluna do senhor ?
EJ- Não, não tinha uma repercussão muito grande. Sabe, de uma certa forma é como eu te falei: tinha desse cara que me falou que a crítica estava melhor, mas a impressão era muito pequena, muito pequena. A gente na realidade tinha um trabalho de registrar, de registro mesmo e fazer uma crítica positiva dentro daquela linha da revista de mandar o cara ver o filme, vai quem quer não é obrigatório. E eu dizer que era obrigatório não era absolutamente nada (risos), não sou a Folha, se fosse a Folha (risos). Mas eu acho que a gente ajudou um pouco o público a ver esses filmes, a acompanhar, a conhecer algumas pessoas. Porque você vê o Sady que é o Sady fez uma obra tão grande, claro era pelo trabalho dele e nós e o NP ajudamos ele a empurrar um pouquinho o trabalho desse pessoal: do Alfredo, do Bajon. Sempre divulgamos o trabalho deles, acho que a gente ajudava um pouquinho, não posso dizer que o Ibope dava tanto porque isso, (rindo) porque não tenho nenhuma informação nesse sentido. Mas você veja bem: se a revista Internacional botava 50.000 exemplares na rua alguém lia aquilo ali, pelo menos 50.000 pessoas ou mais porque o cara lia com a parceira ou não ou coisa do gênero...
DRJ- A revista rodava também...
EJ- Rodava também, claro. Então, alguma divulgação teve da Boca. O quanto eu não sei te dizer.
DRJ- O senhor fez outros trabalhos na Ondas ?
EJ- A Ondas fechou, o que eu fiz lá: comecei na Club, Cinevídeo, depois comecei a colaborar com a Big Man Internacional do Nelson e depois eu fui editando os filhotes da Big Men que eram o Elas e Elas, Travestis, cartas eróticas.
MT- Edições especiais ?
EJ- Especiais, isso. Algumas chegaram a ser mensais. Algumas de quadrinhos, inclusive, essas coisas todas também porque precisava de alguém que cuidasse, desse chamada de capa, alguém que pedisse matéria. Imagina só: eu fiz durante um ou dois anos revista de travestis, vai achar pauta pra travesti, é difícil mas eu achava. Pauta pra Elas e Elas, mais fácil ! Pauta pra Eles e Eles.
MT- Também teve ?
EJ- Sim. Nós fizemos revista gay, lésbico- feminina, pra travesti, transexual, tentava pegar todo o público. Eu me virava com a pauta, a gente sempre arrumava.
MT- E vendia bem as segmentadas ?
EJ- Olha, as segmentadas vendiam naquela faixa que eu te falei de limite de 20, 25 mil. Realmente o carro-forte sempre foi a Big Man Internacional, que vendeu 50 mil e era o que segurava a casa. Você já pode considerar esse número de 50 mil, um número de queda porque ela chegou a vender mais de 100 mil exemplares, que eu te falei.
MT- Só pra comparação, o senhor sabe quanto vendia a Playboy na época, por exemplo ?
EJ- Não tenho idéia. Mas uma coisa é certa: a Private sempre vendia mais que a gente, isso é fato. Tanto que está até hoje e é incrível: você dava uma molhada na Private e de vez em quando ela só tinha anúncio erótico do início ao fim. E a gente se esmerava, fazia uma matéria, um ensaio, não sei o que e quando chegava o relatório de vendas, eles vendiam mais que a gente, puta que o pariu ! Eu não sei porque, mas eles sempre vendiam mais que a gente.
MT- Mas seu Janks, fala mais dessas revistas filhotes.
EJ- Então, eu fiz todos esses filhotes inclusive travestis, que era uma revista que durou dois anos e a gente conseguiu alguns meninos poderosos que tinham umas coisas (risos). O legal do travesti é que você precisava mostrar essa mescla: homem e mulher, o cara tinha que ter peito e pinto. Mas o pinto não podia ficar mole, por que qual seria a graça ? Problema é que você tinha contratempo porque quando o cara colocava silicone- o silicone daquela época eram quase cancerígenos- hoje não. Pessoal bota silicone em tudo, e fica uma beleza. Quando o cara colocava no peito pra ficar grande, ele tinha problemas com ereção...
DRJ- Às vezes tomava hormônio feminino também ?
EJ- Aí você tinha dificuldade. Agora uma coisa que é muito curiosa: a gente tinha alguns fotógrafos pelo Brasil que caçavam travestis para ensaios. A gente publicou muito travesti, muito bonito, muito bonito e eu te confesso que eu não tenho a menor atração mas eram muito bonitos. Por que eles eram muito bonitos ? Porque é obvio que eu comprava as revistas estrangeiras de travestis, evidente e fazia a minha comparação. Oh cara ! Os americanos são feios que dói, eram muito feios. Os nossos travestis eram muito bonitos, pelo menos uma boa parte, assim você olhava e quando o cara ainda estava meio vestido ele parecia uma puta mulher. Depois ia e você mostrava os seios e se pensava mais ainda, porém, depois você mostrava a parte de baixo que era a parte que interessava pra alguns e que não interessava pra outros (rindo). Mas uma das que a gente publicou e vendeu legal, ela depois das fotos criou uma fama tão grande que ela foi pra Itália trabalhar como garota de programa, porque ela tinha um chocalhão enorme e funcionava. Então, ela era bonita tinha seios e a coisa lá em baixo funcionava, ela foi pra Itália amigo e levantou uma grana legal por causa da revista.
DRJ- Até hoje o Brasil exporta (rindo).
EJ- Sim e foi por causa da revista. Depois ela voltou já bastante problemas, porque os silicones eram de lascar na época ou ela engordava muito. Então, o tempo de vida do travesti na época era muito curto ou ele aproveitava em dois anos ou três e não dava mais porque começava a deterioração. Infelizmente, hoje essa era a verdade, hoje não: hoje qualquer mulher tem prótese, Eliana tem prótese tudo legal, mas mudou bastante. Na época, aquilo era muito corrosivo.
MT- E essas especiais eram mensais ?
EJ- Algumas eram mensais. Por exemplo, a de cartas eróticas era mensal, a de Elas e Elas saia de dois em dois meses, travesti saia de três em três meses, cartas gays saiam semestralmente, acho que era por aí nessa linha por aí. Mas essa de cartas eróticas, que a gente recebia carta do leitor como eu te falei, saia mensalmente. E eu vou te dizer uma coisa, eu não escrevia uma carta sequer. É claro que eu recebia duzentas cartas, umas cem era uma porcaria horrorosa, jogava fora, não adiantava nada. Algumas que eram boas ou vinham quase limpas e algumas que faltavam alguma coisa e a gente dava uma acertadinha nela pra publicar. E a gente chegava a publicar o que ? Publicava caixa postal do cara, porque evidentemente ele procurava companhia, parceiras, isso era legal porque a carta era publicada e isso foi rendendo o que: uma credibilidade. Então, a gente fazia questão de não fazer carta, de publicar a que o leitor mandava e até incentivava pra ele mandar a caixa postal, porque caixa postal era sigilosa: você botava no correio, não tem nenhum problema. Por isso, a gente não botava telefone por exemplo e sim caixa postal, tudo bem. E eles gostavam porque o cara publicava a caixa postal e recebia a carta de outros caras depois e ele queria um relacionamento ou ele e a esposa...durante um certo tempo eu não me lembro de ter escrito uma única carta, durante anos não precisei encomendar cartas. Claro que no início eu fiz como todo mundo: a edição era de 64 páginas, mas não tinha carta pra 64, então eu fazia mas com o tempo tinha.
DRJ- Mas tinha alguma sessão de “procura-se” ?
EJ- Tinha, tinha uma sessão que a gente chamava de “Classisex” e aí sim, o cara sempre colocava a caixa postal. Tanto a Internacional como todas essas tinham.
MT- A Club dos Homens também ?
EJ- Tinha, tinha todas essas tinham porque era uma sessão muito procurada também. Por incrível que pareça ela tinha um nível de leitura muito grande. A gente fazia umas pesquisas do que o pessoal gostava de ler e essas sessões eram muito vistas, por incrível que pareça.
MT- A concorrência era mesmo com a Private ?
EJ- Sim, a nossa concorrência direta durante muito tempo foi só com a Private, que a gente perdia feio sempre, infelizmente.
DRJ- Todas eram em São Paulo ? Tinha algo no Rio ?
EJ- Se tinha era muito inexpressivo e eu sei que o Brasil inteiro ficava entre nós, a Private, Playboy e outras.
DRJ- Mas vocês eram diferentes...era uma coisa mais hardcore ?
EJ- Sim, era hard como a Private, nessa linha. A orientação do ensaio era a seguinte: você tinha que mostrar o ensaio por completo, não tinha esse negócio da mulher tampar os pelos pubianos o que é isso pô ? Era mesmo, era pra mostrar mas claro que a gente não mostrava penetração porque a gente tinha algum medo da Censura, então penetração a gente não colocava. Mas ali quase que chegando, tipo sexo oral tudo bem mas penetração não, a gente tinha medo de ser classificado como muito hard, a Censura ficasse em cima. Mas ela dar em cima era muito fácil: muitas vezes o amigo César Maia cismava com as revistas mandava botar aquelas capas que cobriam as capas inteiras ou recolhia.
DRJ- Normalmente vinham num plástico preto ?
EJ- Não, num plástico normal. Depois começou a ter uma série de exigências.
MT- Como era a redação ?
EJ- Era uma redação bastante enxuta, quase todos os colaboradores vinham de fora, haviam os editores que ficavam na casa. Todos os colaboradores vinham de fora: tanto fotógrafos, repórteres nas duas publicações.
MT- A Cinevídeo durou dois anos ?
EJ- Dois anos.
MT- A revista tinha outros tipos de publicação, além dos títulos masculinos e da Cinevídeo ?
EJ- Tinha as revistas infantis de colorir e eu também editava essas revistas. Se você pegar alguma dessas de colorir em algum sebo, pegue porque você vai ver o nome do editor e está meu nome lá. Porque lá, eu assinava o nome. Eu fiz revista disso, palavra cruzava, pôster de Chitãozinho e Xororó, porque uma editora pequena ela arrisca, ela chuta algumas coisas. Fizemos revista de cifra pra violão, não lembro se deu certo mas pelo menos você tenta, você joga um número, joga dois e vai tentando. Todo mundo faz isso, a Abril faz isso, arriscando alguns números. Eu me lembro que ela começou a editar uma revista de informática que vinha com uma edição especial da Veja, depois eu acho que ela virou uma revista mais regular. Todo mundo faz isso, arrisca isso pra ver o que o mercado responde. Eu cheguei a editar revista de magia, esoterismo e entrevistamos na época um cara que só estava começando que se chama Paulo Coelho (risos), estava lançando o primeiro livro. Eu tenho esse livro inclusive lá em casa pra mostrar.
MT- Ao todo quantos títulos o senhor cuidou lá na Ondas ?
EJ- Olha, eu cuidava de quatro ou seis por mês e nem todos mensais. Eu ia variando dos que eu te falei, de informática, também tínhamos uma revista de informática, que eu esqueço o nome agora. Claro porque chegou um momento em que todo mundo começou a falar disso e a gente falou também de informática.
DRJ- Isso nos anos 80 ?
EJ- Não, já nos 90.
MT- O senhor ficou na Ondas até quando ?
EJ- Eu fiquei até 2000.
MT- Quanto tempo na Big Men ?
EJ- Todo esse tempo. Porque eu comecei lá como colaborador e só mais tarde eu fui tratado como editor.
MT- A redação sempre foi pequena ?
EJ- Sempre foi pequena, entre os redatores e quem fazia parte da redação fixa era quem vendia anúncio, parte do escritório e tinhamos uma cozinha com uma cozinheira que cozinhava pra nós. Isso era muito bom e o pessoal que cuidava do estoque das revistas, disso você podia dizer de doze a quinze pessoas. Tipo a Galvão, da Private.
MT- Falando desse período explícito ele chega com “Império dos Sentidos”, mandato judicial, como é que foi essa história ? O senhor acompanhou ?
EJ- Olha, eu não sei te dizer exatamente como isso acontece mas o que libera as coisas aqui no Brasil foi “Império dos Sentidos”. Porque ele entra no Brasil como um filme de arte e é o primeiro da época que tinha uma cena de sexo explícito, de penetração. Mais de uma inclusive. Então, todo mundo falou: “Agora a coisa vai” e se iniciou a trabalhar nesse sentido, mas eu acho que ele foi o filme que realmente abriu as portas. Outro filme que abriu foi “Garganta Profunda”.
MT- Sim, mas ele entrou depois ?
EJ- Acho que depois.
DRJ- “O Último Tango Em Paris” também entrou depois ?
EJ- Depois, na época foi censurado, na época não passou.
MT- Não tinha uma história do pessoal ir ver “O Último Tango” em Buenos Aires ?
EJ- É verdade. Porque na época da Ditadura brava que nós tivemos aqui e é importante que as pessoas saibam que tivemos uma Ditadura de vinte anos, era comum isso. Eu comprava o jornal de São Paulo, os jornais do Rio e comprava o “Clarin”, claro pra saber o que estava se passando em Buenos Aires, porque lá estava mais liberado que aqui, então lá passava “O Último Tango”, um monte de coisas. O “Bananas” do Woodie Allen, foi proibido aqui, ridículo mas passava lá..
MT- Aquele filme do Costa Graves ?
EJ- O “Z”, o “Z” ficou muito tempo proibido aqui, tudo dele ficou proibido durante muito tempo. O “Sem Destino” quando veio pra cá, eu assisti numa sessão fechada, só para convidados. Eu por sorte estava no meio desses convidados e foi exibido no Cine Windsor ás onze horas da manhã de um domingo. Claro, o “Sem Destino” não tem nada mas é ligado aquele período de liberalização, tem um pouco de maconha na parada, esse tipo de coisa.
DRJ- É, porque é de 69.
EJ- 69, exatamente.
MT- O senhor viu ele quando ?
EJ- Quando ele foi feito, ele passou não sei como que é pra alguns poucos e eu na época fazia parte de um grupo de intelectuais que trabalhavam com teatro em Osasco e boa parte desse pessoal expunha na feira da Praça da República, alguns expunham. E aí veio o buchicho: “Olha, hoje vai ser exibido o “Sem Destino” lá e convidavam algumas pessoas, sorte que eu estava lá. Mas 69 era terrível, terrível nós estávamos no pós AI-5, terrível, um inferno. Pior porque em 69 nós estávamos na era pré Médici, que é a pior fase, uma merda porque o senhor Médici foi o maior carrasco da Ditadura.
MT- Na época da Big Man já estava mais sossegado ?
EJ- Já, já estava muito mais sossegado porque nós já estávamos no governo João Figueredo e ele estava de saco cheio, não queria mais aquilo e o Geisel já tinha proposto, cantado a abertura entende. Então, evidentemente a situação era muito mais tranqüila. Mas 69, 70, 71 era uma loucura, era pau.
MT- Fala um pouco do Oásis, que o senhor falou que o conheceu.
EJ- Olha, eu conheci pouco o Oásis, só conversei com ele uma vez pra falar justamente do “Coisas Eróticas”. Na época, ele estava além de lançar esse filme, estava fazendo teatro porque ele aproveitava as duas vertentes e ainda aproveitava o fato de ainda estar levantando legal porque aquilo não durou muito tempo, ele já tinha uma certa idade. Afinal, ele não começa jovenzinho, não tinha dezoito anos, já tinha trinta, trinta e poucos anos. Então, evidentemente ele não conseguiu seguir muito esse ciclo. O Gabarron não, começa moção e vai até o final.
MT- Esses caras do explícito quem eram os destaques ? A gente fala das mulheres depois..
EJ- Os nomes me fogem...mas o Oásis é uma espécie de padrinho dessa turma. E ele faz pouca coisa, é bom deixar isso bem claro. Ele começa, se torna isso aqui e depois vai ao teatro inclusive pra amenizar a coisa de levantar forte e começa a entrar um público mais novo, que tinha que ter porque não dá pra fazer filme explícito sem que o cara fique de pênis ereto durante muito tempo, é um negócio claro. O Oásis sabia que a idade já vinha chegando e ele sabia disso, apesar de dizer que pegava tudo, mas a gente sabe que ele vai se afastando e ele faz muito pouco cinema explícito e vai entrando uma turma nova que tinha o Gabarron que trabalhava com a mulher. Com a Eliane, que era belíssima e eu adorava ela, era um prazer vê-los (risos). Era ótimo vê-la. Me fogem o nome dos atores, mas tinha um grupo bem grande de caras.
MT- E as moças ? Por que no star sistem da pornochanchada era a Matilde, Helena, Aldine. Com o passar do explícito muda isso ?
EJ- Muda, vai ser a Márcia Ferro, Sandra Midori, aquela do cavalo qual o nome ? Andréa Pucci, muito bonita por sinal.
DRJ- Mas eu achei interessante aquele tópico do cara que fazia faroestes, o Tony Vieira. Só ele fazia isso ?
EJ- Ele gostava muito. O cara pra fazer filme de faroeste no Brasil, precisa ser muito...
MT- Porque lá na Boca tem um faroeste ou outro isolado, mas o único produtor que vai se especializar mesmo..
EJ- Quem fez muito foi ele !
MT- O Clery Cunha também fez muito policial. O senhor chegou a conhecê-lo ?
EJ- Não conheci. Sabe aquela história: você sabe dos caras, recebe material deles mas ás vezes eu não cruzava com o diretor, mas recebia do produtor, o Palácios me passava material, outroS me passava material que eram produtores...o Galante..
MT- O Bajon...
EJ- O Bajon sim no caso porque ele era diretor e passava muito bem. Mas ás vezes ele me passava material do Alfredinho, mas o Alfredinho tudo bem, eu tinha acesso toda hora.
MT- O Alfredinho eo Bajon foram os únicos que foram amigos pessoais seus ?
EJ- Sim. Posso dizer que o Sady era muito próximo também, eu não diria tão próximo quanto o Alfredo e o Bajon, porque o Alfredo eu freqüento a casa dele, sou amigo dele. O Bajon eu cheguei na época boa, a gente se aproximou mais, saia pra jantar, esse tipo de coisa. Depois que ele teve esse problema, ele deu uma sumida.
MT- O senhor não sabe qual foi esse problema ?
EJ- Não sei qual é o problema. Eu só sei que foi uma coisa que envolveu polícia e eu sei que ele foi preso. Agora o motivo, eu não sei. E depois até que ele saiu, eu conversei uma vez com ele mas ele não me falou de detalhes, só estava muito deprimido, chateado. Dizia ele que foi alguma coisa completamente injusta e não sei os detalhes. Isso deve ter em qualquer delegacia ou coisa do gênero devem ter o motivo.
MT- O José Julio Spiewak o senhor conheceu ?
EJ- Não.
MT- O Biáfora não conheceu ?
EJ- Infelizmente não.
MT- Era o grande ídolo do senhor ?
EJ- Era. O Biáfora era o grande ídolo.
MT- E o Motta ?
EJ- O Motta também e eu o conheci bem. Eu ia nas cabines, cruzava com o Motta, conversava com ele. Um dia eu cheguei pra ele, numa das cabines a gente está fora do nosso tema...
MT- Mas não tem tema seu Janks, prossiga !
EJ- Eu cheguei pra ele e falei: “Motta, aquelas suas críticas me ensinaram a ver cinema. Eu queria republicar as suas críticas”, eu tinha um site de cinema na época, o Fan Cine. “Deixa eu republicar as suas críticas ?”, e ele: “Não, porque aquilo vai precisar datilografar”. Eu falei que datilograva, mas ele me enrolou e morreu. Você perdeu algo maravilhoso, maravilhoso. Eu vou te contar uma coisa...isso é um pecado, contar isso é triste, porque é um dos motivos que me levou a depressão profunda.
MT- Oh loco seu Janks.
EJ- Não,é sério. Eu tinha...eu não comprava só o Estado. E não só lia as críticas, eu recortava e guardava todas as críticas. Aí um dia depois que eu casei com uma jararaca da qual eu estou separado, a filha da puta me fez jogar essas críticas fora porque era muita bagunça e eu joguei. Filha da puta ! Joguei fora, porque aí não precisava pedir autorização, eu tinha as críticas ! Olha cara, eu tinha pilhas de críticas, pilhas.
DRJ- Uma hemeroteca ?
EJ- É...E eram aulas, eu aprendi coisas fantásticas de cinema. Porque eu acho que a maneira de pensar do Biáfora de que ele não fazia só crítica, ele de certa forma educava o leitor dele pra ver o filme. Sabe, ele explicava como o diretor trabalhava, como o ator trabalhava, o estilo do cara, o que ele tinha feito, qual era o pensamento. Não era uma historinha contada ! Ele dava todo o aprouxe do que você ia ver. Vamos dizer que eu fui me educando cinematograficamente e hoje eu posso dizer que conheço centenas de cineastas, centenas de filmes através desses caras.
MT- E o Motta era muito gente boa ?
EJ- O Motta era um doce, um doce. Mas era isso aí: era esse cara que dizia que ia dar trabalho. Eu podia ter insistido mais, podia ter insistido mesmo. Inclusive, eu me propus que eu mesmo datilografava. Ele tinha tudo, tinha tudo e não sei onde está porque morreu o desgraçado. E por que eu pedi isso pra ele ? Porque eu já tive essas críticas, mas joguei fora. Cara, isso era hoje sinceramente algo pra pegar e pra publicar um livro dessas críticas. Mas sinceramente, porque elas eram tão premiantes, que seriam algo maravilhosas.
MT- Nós inclusive na nossa edição de fevereiro, fizemos um especial do Motta e publicamos alguns textos dele.
EJ- Fizeram muito bem.
MT- É que é muito difícil achar coisas dele...
EJ- Nem que seja só pra deixar num site disponível, que você não vai obter lucro nisso, pras pessoas terem acesso. Olha, essas coisas sumiram o Biáfora morreu muito jovem, muito cedo...o Motta ainda estava vivo (risos), mas se vocês acharem publiquem. Quero falar aqui que irei reativar o meu site, Fan Cine.
MT- Eu conheci esse site, porque na época o senhor concorreu ao Quepe do Comodoro de melhor blog ?
EJ- Concorri ? Eu não sabia disso.
MT- O senhor conheceu o Carlão Reichenbach ?
EJ- Conheço, conheço. O Carlão encontrei com ele e fiquei quatro horas falando com ele. Engraçado, eu vinha descendo a avenida Angélica e eu vi ele, nunca tinha falado com o Carlão. Comecei a conversar com ele, puxar papo: “Quando vai sair um filme ?”, não sei que. Ficamos mais de uma hora falando de faroeste italiano. Ele é um especialista em faroeste italiano e como ele já viajou pra lá, ele conheceu todos os diretores de faroeste italiano. Sabe que ele viaja muito vai pra Holanda, pra Itália...eu, paticularmente como garoto gostava muito de faroestes italianos, eu vi quase todos. Raramente eu acho algum parceiro pra conversar e vi o homem lá, que sabia muito mais que eu porque ele chegou a conhecer os diretores, tudo isso, foi ótimo. O Reichenbach fez coisas na Boca.
MT- Sim, mas o senhor não o conheceu lá ?
EJ- Não, conheci depois.
MT- Ele fotografou um explícito do Jean.
EJ- Sim, sim é verdade.
MT- “Gozo Alucinante”.
EJ- O Reichenbach...Mas você se lembra da gente falando de pessoas de boa cultura na Boca ?
MT- Sim.
EJ- A gente se esqueceu do Reichenbach ! Cara, o Reichenbach o que ele sabe de fotografia de cinema não é mole não.
MT- Falando no Carlão, o senhor me falou que foi montador...o senhor conheceu o Éder Mazzini ?
EJ- Eu de fato não o conheci pessoalmente, mas o Reichenbach quando vai na Holanda...ele é capaz de contar a história dos fotógrafos de cinema do mundo. Ele entende pra cacete de fotografia, sabe muito, muito e é intelectual de primeira linha mas estava na Boca. O cara tem uma cultura espetacular. A Boca tinha uns caras muito curiosos, a começar tinha outros que continuaram, o Reichenbach está sempre trabalhand...são uns gênios da cultura.
MT- O John Doo o senhor chegou a conhecer ?
EJ- Não, vi os filmes dele mas não o conheci.
MT- Bom diretor também ?
EJ- Eu o vi um dia, não falei com ele. Ele não só dirigiu como trabalhou como ator inclusive...
MT- “Como Afogar o Ganso” do Conrado por exemplo.
EJ- Exatamente ! Eu não o vi, eu o vi num dos filmes, vamos corrigir.
MT- E o David ?
EJ- David: outra pessoa legal. Era um cara mais reservado, que claramente viveu no período pré-explícito. Ele entra também no finalzinho, ele é obrigado a fazer coisa no explícito, com pseudônimo. Ele é obrigado, mas não que ele gostasse, o David acreditava no cinema dele e nisso ele tinha razão e uma obra muito grande, muito grande. Obra muito séria, muito legal pena que a obra do David não apareça. E por incrível que pareça, o David é um cara que tem grana, não sei por que Diabo ele não levanta isso. Ele tem dinheiro, fazendas, tudo, fazendeiro.
MT- Ele soube investir.
EJ- É.
MT- O Tony não sei, acho que também investir ?
EJ- O Tony morreu muito pobre, muito pobre.
MT- Mas ele sabia guardar dinheiro ?
EJ- O que fez o David ele cedo produz, o produtor é que cava a grana. Você está me entendendo ?
MT- Mas o Tony também foi produtor com
EJ- O Tony (rindo)...Eu vi ele em cada pelada assim difícil. O Tony, Ozualdo Candeias não tinha um tostão. Lembro que um dia eu estava na sala de um produtor, não me recordo o nome agora entra Ozualdo Candeias pra ir trocar um cheque pra ele, acho que hoje equivalente a cinqüenta reais, uma dureza espetacular. Aí você olha e fala: Ozualdo Candeias...esse cara é um dos melhore fotógrafos do Brasil, um puta intelectual, um cara maravilhoso e ele está lá pedindo pra trocar um cheque de cinqüenta reais ? Uma coisas assim que a gente via no Brasil. O Ozualdo era ótimo tanto que fotografou pra muita gente.
MT- O Fauzi Mansur o senhor conheceu ?
EJ- Não conheci o Fauzi. Fez muitos, muitos filmes. Fauzi é um expert, foi produtor sempre tinha material de divulgação, sempre material grande, o release por trás, grande, colorido. .Fauzi sempre se divulgou muito bem, não é a toa que ele é o que é, um cara que sempre promoveu bem, os filmes dele deram dinheiro e ele continua trabalhando e parece que está fazendo um filme agora. Também foi o Gio que me falou. Mas o Fauzi sempre foi um cara muito esperto, produziu coisas muito boas, ganhou grande dinheiro.
MT- O Alfredo não produziu, mas ele ganhou um dinheiro razoável ?
EJ- É...O negócio do Alfredo é que ele nunca produziu e ficava muito limitado ao salário e vamos dizer os divindendos de bilheteria, que você sabe que não correspondia...não havia uma forma de conferência muito correta. Quando os produtores eram legais, eram corretos como o Bajon, etc...
MT- Alfredo Palácios...
EJ- Palácios entende, que era advogado na realidade. A formação dele era de advogado e até exercia a profissão. Esses caras pagavam legal, mas tinha outros que eu não vou dizer o nome que...não é a toa. Vocês conhecem aquela história do Mazzaropi que ele botava um cara dele em cada catraca ? Ele não acreditava em ninguém não (rindo), ele botava um cara na catraca pra contar quem entrava.
MT- Tem até um caso que um cara foi ser fiscal e o dono do cinema chamou a polícia.
EJ- Se adulterava, se adulterava. O Mazza era esperto, um dos mais espertos do cinema brasileiro, nunca trabalhou com cheque, sempre com dinheiro. Pegava um dinheiro e sempre andava com dinheiro na mão. Uma vez eu conversei com o Marcos Rey, que eu conheci também. Ele fez um roteiro pro Mazzaropi e contando pra mim: “Olha, eu cheguei entreguei o roteiro pra ele, ele gostou, enfiou a mão no bolso , tirou uma nota e me deu tudo em dinheiro”. Era assim:sem complicação. Não tem cheque, não tinha cheque e ele tinha dinheiro, era assim. O Marcos Rey foi um que eu conheci...
MT- Bastante ?
EJ- Conheci bem, não tão bem quanto eu queria mas conheci legal. Aí um dia pro meu site o Fã Cine, eu agendei uma entrevista com o Marcos Rey: “Semana que vem, eu vou te entrevistar pro meu site”. Marquei no sábado, ele morreu na sexta-feira. É uma piada, é verdade e eu que fico puto com isso. Eu encontrava muito com ele em feira de livros, porque ele tinha livros publicados e era muito legal porque ele vivia falando da Boca, das “Cangaceiras Eróticas”, essas coisas que ele fez o roteiro, essas coisas todas. Eu pensei em um dia pegar ele e só falar da Boca. O Marcos gostava de falar de tudo, de São Paulo antiga, ele tinha todos os personagens dele baseados em personagens paulistas, as histórias também.
DRJ- Ele tinha uma coluna na “Veja”.
EJ- É.
MT- Ele conhecia muito de literatura americana.
EJ- Também, também. O irmão dele também era escritor. Mas um dia eu pensava em pegar ele pra falar da Boca porque essa história do Mazzaropi ele que me contou. Pensei: “Esse cara sabe muita coisa, vou sentar com ele”...morreu. Fui no velório dele com todo prazer.
MT- Sei de umas histórias que ele foi meio passado pra trás pelos produtores, algum outro produtor.
EJ- Sim, sim.
MT- E nós estamos falando do Alfredo, você que foi muito próximo dele. Eu acho legal a gente falar desse lance dele de não usar pseudônimo, porque eu acho que é uma coisa que marcou ele. Tem outros que não usaram e não ficaram. Fala um pouco disso, como o senhor viu esse gesto dele ? Se ele ficou marcado por isso ?
EJ- Eu acho o seguinte: eu acho o Alfredo muito corajoso. Ele não usava pseudônimo como o Juan Bajon não usava, mas o Alfredo nisso acabou sofrendo conseqüências, tanto é que além de fazer cinema, claro ele começou fazendo “Anjo Loiro”, um pouco outros trabalhos, “Pureza Proibida” cujo título fui eu que dei. Posteriormente, quando entrou o erótico, ele apostou muito no erótico...no explícito, ele trabalhou bastante, fez muita coisa. Era um cara que trabalhava muito rapidamente, conhece muito cinema, sabe muito cinema, o Alfredo é um diretor completo. Um: ele escreve, dirige e escolhe a trilha sonora. Conhece música, ópera profundamente. O Bajon a mesma coisa: escreve, dirige e conhece também, os caras de uma cultura exemplar. E o Alfredo nunca botou pseudônimo, nem nas nossas revistas quando ele escrevia pra nós na Internacional, ele sempre assinou. Se você pegar uma Internacional velha, que tenha qualquer matéria dele, ela estará assinada com o nome dele. Mas isso realmente queimou ele na Globo. Porque ele trabalhou na TV Cultura e na TV Cultura ele dirigiu algumas coisas como o Telecurso 2000, que era exibido em outras emissoras como a Rede Globo. O pessoal do meio adora o Alfredo, ele é excelente profissional: em televisão, cinema, excelente profissional. Eu digo isso porque você pode perguntar a outras pessoas, eu posso te dar nomes que irão reafirmar isso. Agora, porque é que ele não é convidado pra não ir fazer nada na Globo ? Por causa dos filmes explícitos. Olha, tem gente na emissora do Jardim Botânico que o jornalista me falou na minha frente: “Eu estou precisando de roteirista, daquilo, daquilo, mas eu nem posso propor o nome do Alfredo aqui na Globo”. Eu acho ele muito corajoso, acho evidentemente a Globo reaça pra xuxu porque tem muita gente hoje na maior rede de televisão do Brasil que fez explícito amigo. Um cara que assina e não está na Globo, mas no SBT o Miziara, esse cara fez explícito...
MT- Sim, “A Praça É Nossa”.
EJ- “A Praça É Nossa”, tudo bem um pouco...mas tem muito ator, atriz que fez novela na Globo e fez explícito mas alguns caras infelizmente se queimaram. O Alfredo é um cara que se queimou mesmo, tanto é que ele hoje tem condição de pegar qualquer programa educativo da TV Cultura, de outras emissoras- mas o fato dele ter batido de frente. Talvez se ele tivesse usado um Mauri Queiroz cara. Porque ninguém se lembra quem é. Eu lembro que é Mauri Queiroz, agora saí na rua pra perguntar. Ninguém sabe, a não ser nós, os velhos da Boca. Eu, outro cara lembra mas não tem problema. Eu te falo isso porque o cara da Globo me disse isso, procurando roteiristas, procurando gente e nós citamos o Alfredo. O cara trabalhou com o Sternheim na TV Cultura e ele: “Conheço o Alfredo. Ele é ótimo, só que eu não posso citar o nome dele lá”. Ele realmente teve problema e sempre terá na Globo, sempre. Daqueles caras que está na lista negra, infelizmente, infelizmente. Não sei em outras casas, mas nela certamente. Uma porcaria, reaça até o rabo assim. Tanto sem vergonha que trabalha lá dentro, tanto cheirador e logo o Alfredo um puta cara honesto, trabalhador, correto. Não dão opções pro cara somente porque fez um filme erótico, isso é muito moralismo, é muito moralismo meu Deus do céu. Eu conheço atores que ás vezes apareciam na Globo e eram da Boca, acho que tudo bem, o cara entrou que bom, que Deus ajude.
MT- (rindo) Tem uns inclusive que hoje são diretores de TV.
EJ- Tem, tem. Tem diretor de fotografia que você reconhece o cara. O caso do Alfredo, infelizmente ele entrou nessa lista negra. Eu acho muita coragem, acho que os filmes dele tinham um diferencial legal que é um diferencial importante a gente ressaltar que eram poucos dos filmes em que incluíam relações homossexuais nas suas histórias. Se você vê os filmes do Alfredo além de relações regulares, você tem ás vezes um caso ou outro de relação homossexual que era pra época, praticamente não encontrava isso. E ele tinha a coragem de colocar isso. Até porque os outros caras eram muito machos, o Deni Cavalcanti era muito macho, o Tony Vieira era muito macho, homem com homem ? De jeito nenhum, não pode.
MT- Não sei se o senhor conheceu o Rubens da Silva Prado ?
EJ- De nome, de nome.
DRJ- E o famoso Anão Chumbinho ?
MT- O senhor seu Janks, chegou a conhecer o Anão Chumbinho ?
EJ- Não conheci, eu só vi nos filmes. Acho que é no Sady ?
MT- Não.
DRJ- “Alucinações Sexuais de Um Macaco” ?
EJ- Esse eu não vi. Eu não me lembro. Talvez porque a gente acabava como eu te falei, a minha caminhada era uma caminhada de busca de material pra revista.
MT- Como jornalismo né seu Janks ? Tem prazo, tem que fechar, certo ?
EJ- Exato. Eu até ás vezes por um pouco mais de aproximação com um ou com outro, esticava um papo, ficava mais um tempo melhor mas o resto era mais buscar material mesmo. Era tempo de buscar material e procurar saber o que estava acontecendo, quem estava filmando, quem não estava basicamente isso. Então, muita gente eu acabei não tendo um contato direto.
MT- Pelo que o senhor está falando a gente vê que é mais o Tony, o Alfredo, o Juan e o Sady.
EJ- O Zé Adauto também. Eu conversei muito com ele, um cara muito legal conhecia muito de cinema, um cara muito culto, fácil de conversar. Conheci o Deni Cavalcanti, mas como te falei falava pouco. Conheci o Mojica, rapidamente também que fez um filme chamado “24 Horas de Sexo Explícito” (rindo), que trabalha o Sílvio Júnior. A Débora Muniz, que é outra mulher maravilhosa.
MT- Quem mais ? A gente está esquecendo de alguma das moças ?
EJ- Não sei, em casa eu dou uma olhada e te mando por e-mail. A Débora eu via nas pré-estréias, mesmo de roupa ela era muito bonita (risos), elas eram muito bonitas.
MT- E eram as que moviam as platéias?
EJ- Sim, sim.
DRJ- Iam muito ver os filmes por causa delas.
EJ- Sim, sim. A Márcia Ferro, ela era belíssima também.
MT- Tem um colega nosso da Bahia que quer vir de lá somente para conhecê-la (refiro-me a Yuri Kochen de http://www.necrofilmes.zip.net/).
EJ- Cara ! Eu a vi uma vez, mas ela fazia muito mal pra gente.
MT- Ela era complicada ?
EJ- Complicada ela era, mas olhar pra ela já fazia um bem assim (risos). Era muito linda, muito bonita, um corpo muito certinho, ela era super atraente. Seguinte o Alfredo, meio maluca, mas ela era muito gostosa, era sim...
MT- Parece que ela fez um filme agora.
EJ- É o Gio me falou. Essas mulheres eu via quando elas cruzavam no escritório do Bajon, quando elas passavam lá e eu estava com o Alfredo, com o Bajon e cruzava com elas por lá ou nas pré-estréias que todas iam. Grande parte das atrizes, atores iam. As pré-estréias aconteciam todas as segundas-feiras, dez da noite.
MT- Tem algum cinema que tinha mais ou menos ?
EJ- Um: o Windsor era um que tinha, aquele o Normandie também na Rio Branco não sei o que era hoje e também no antigo Cine Bruni, ali na Don José de Barros. Não sei o nome que ele tem agora, ele teve diversos. Ali também aconteciam as pré-estréias, nem sempre quando ela acontecia no Windsor fala que o filme ia passar por lá, apenas uma sessão ás dez da noite numa segunda-feira quem ia assistir ? Pensa bem...então eles aproveitavam e locavam pros caras e ganhavam uma grana legal porque o público que vinha ás dez da noite porque freqüentemente toda semana tinha uma pré-estréia. Era legal.
MT- O senhor tem idéia do que o Zé Adauto faz hoje ?
EJ- Não tenho idéia. Não tenho nenhum contato até hoje. Seria um prazer saber o que ele está fazendo, porque é uma pessoa que era muito legal, gentil, acessebilíssimo.
MT- O Bajon parece ter esse problema.
EJ- O Bajon tem esse problema que eu te falei, mas também se você conseguir falar com ele, você abrir a porta aí ele fala quem nem uma matraca.
MT- Ele contava muita coisa do Biáfora ? Porque ele foi muito próximo.
EJ- Sim, sim. Veja bem: nunca falávamos muito do Biáfora, quando eu sentava com o Bajon a gente falava de cinema. Praticamente eu confesso ter uma cultura razoável, como eu falei eu comecei a ler desde 57 o Biáfora, eu aprendi alguma coisa nessa vida. E o Bajon também, rapaz a gente ficava lá buscando gente de 1930, filmes desse, daquele e ele sabia tudo, ele tinha uma cultura e claro, ele ganhava de mim longe porque ele tinha um cultura grande de cinema oriental que eu não tenho. Ensinaram o cinema japonês aqui em São Paulo.
MT- O Biáfora conhecia muito.
EJ- Sim, o próprio Alfredo é um especialista em cinema japonês. O Biáfora era.
MT- Esse cara descobriu tudo da Nouvelle Vague japonesa.
EJ- Sim, sim. Isso, isso.
MT- O próprio Biáfora descobriu o Bergman antes dos críticos franceses. E o Jairo Ferreira o senhor conheceu ?
EJ- De nome só de nome. Jairo é um cara mais recente. Porque ele conhecia tanto esse cinema japonês, que pouca gente conhecia: ele, o Alfredo, o Carlão, Bajon que não estava aqui na época...
MT- Ele é do Vietnã ?
EJ- Sim, eu acho que sim.
MT- A família dele morreu ?
EJ- Sim, eu acho que sim. Ele era de um país comunista, Vietnã.
MT- Ele era de Direita, tinha uma coisa assim ?
EJ- A mãe dele estava viva. A mãe dele estava porque eu a vi, não a conheci. Mas acho que era só ele e a mãe.
MT- Não sei se é correto dizer assim, mas se diz que ele era mais reacionário ?
EJ- Não, ele era...Sim. Veja bem, você tem razão. Evidentemente, você conversa com o Alfredo é uma coisa, você conversar com o Bajon é outra coisa. O Alfredo é um homem de extrema consciência, uma clareza política maravilhosa. O Bajon tinha isso: um rancor do comunismo, mas um rancor sabe e quando a conversa caia nessa área aí ele pegava pesado.
MT- O próprio Biáfora tinha um pouco isso...
EJ- O Biáfora eu também concordo, vamos dizer que o Carlos Motta também. Agora o valor deles mesmo era sabe te ensinar, era maior enquanto que muita gente no Brasil se setorizou muito falando de certos filmes ideologicamente catalogados e esqueceu de cinema. Esses caras falavam de cinema, então eu até concordo porque o Biáfora inclusive vê com uma certa mágoa.
MT- Ele tem um puta repúdio com o Cinema Novo, ele era inimigo.
EJ- Sim, sim. Mas em compensação “O Quarto” o filme que ele faz, foi muito curtido pelo pessoal de Cinema Novo. Você vê ? Mas ele tinha bronca, tinha bronca e você falava com ele, tinha bronca. Você falou com o Máximo Barro ?
MT- Não, não conheci. Mas quero e tenho muita vontade de conhecer.
EJ- Uma pessoa maravilhosa. Agora quer brigar com ele, fala bem do Glauber, quer brigar com ele vai falar bem do Glauber. Agora cultura, meu Deus do céu !
MT- Mas acho que o Máximo é até mais maleável nesse meio ideológico que o Bajon.
EJ- Sim. O Juan é essa coisa do visceral, uma pessoa que viveu. Então, era incrível porque era uma pessoa com uma visão tão aberta de certas coisas, mas quando entrava nessa questão do político dava pra perceber que ele dava pancada legal. Isso que você falou é verdade.
MT- Algumas pessoas que conheceram ele, em deram esse toque.
EJ- Ele evitava um pouco quando entrava nesse tema, ele furava um pouco. Quando entrava nesse tema, ele pulava um pouco fora.
MT- Mas então com ele se acertar o assunto, ele curtir...
EJ- Ah ! Fala que é um Diabo, fala que é um Diabo. Conhece muito cinema.
MT- Ele nunca tentou ser crítico ? Ele podia ser um excelente crítico.
EJ- Olha eu vou te dizer uma coisa: eu conheço bem o Alfredo, em todos os sentidos. Até porque ele é uma pessoa muito gentil, nos permitiu se aproximar dele, fui aluno e depois me aproximei mais dele, hoje sou amigo, a gente sai pra pizzaria, essas coisas. Eu quando dirigi a Cinevídeo, o Alfredo escrevia pra mim e quando ele dirigia outra revista, eu escrevia pra ele. A gente vive trocando figurinha, somos muito amigos e posso dizer que conheço bem o Alfredo. Agora se eu te disser que conheço bem o Bajon, estou mentindo. Ele falava muito, discutia muito com ele mas por opção dele, ele sempre vivia um pouco escondido, estava um pouco trancado. Não era uma pessoa de abrir muito o coração e olha que eu fui jantar com ele, saí com ele.
MT- O senhor conviveu na casa dele ?
EJ- Sim, mas quando você fala de geral tudo bem, mas nada muito pessoal. O Alfredo não, ele é outro papo. Então, o Bajon era um cara estranho, meio fechado.
MT- Normal, jeito dele.
EJ- O jeito da pessoa.
DRJ- Um pouco excêntrico ?
EJ- Excêntrico, um pouco excêntrico. O Alfredo que me vivia dizendo coisas, que ele ia filmar na chácara do Bajon em Campinas e que quando chegava a noite, vendo o roteiro ou alguma coisa, o Juan se trancava no quarto, ligava musica erudita em altos prantos e passava a noite toda ouvindo música erudita.
MT- E como que foi essa coisa que no “Variações do Sexo Explícito”, que tem alguns personagens que tem o nome de alguns críticos da época ?
EJ- Olha, eu não conheço...
MT- Mas eu li num texto do senhor, o senhor que escreveu isso.
EJ- Eu escrevi ? Olha eu não conheço (risos). Sabe por que eu escrevo isso ? O Alfredo era ótimo, legal porque ele estava fazendo um filme, eu ia na casa dele e ele falava tudo. É um homem interessado, um homem que fala. Então, eu sabia de tudo isso e eu não conversava com o Alfredo somente sobre o filme, eu fazia toda uma entrevista com ele, gravava duas horas com fita pra ele falar do filme dele, eu tinha essa liberdade porque ele é uma pessoa deliciosa de falar, uma cultura maravilhosa. E eu não era bobo, então ás vezes até uma informação que na época me entrou e eu notei, mas hoje meu amigo eu não me lembro mais de porra nenhuma. Mas com o Alfredo era fácil obter informação, com o Bajon era fácil caras versados, caras que falavam. Zé Adauto falava tudo, contava tudo, a intenção, como que vai ser feito, tudo, tudo e eu sempre tinha a maior facilidade pra escrever. Enquanto alguns grunhiam, caras que falavam duas frases ou quantas cenas de sexo tinham, e eu: “Mas como que é ?”, e eles “Tem um homem, uma mulher”, e depois: “Mas tem cena de lesbianismo ?”, “Não tem”. Sabe, eu fazia pergunta e não saia a reposta. E eu cheguei a fazer matéria meio no escuro sem um mínimo de indicação, e eu pegava as fotos e daí eu fazia as críticas. Aí o que a gente faz: a gente não filma nada, trabalha um pouco na imaginação, no sombreiro, alguma foto boa você faz algum ensaio daquela situação. Vai fazer o que ? Então era por aí. O Sadyzão contava tudo também: “Vou fazer isso...vou fazer aquilo, que aquele lá tirou a roupa, peguei aquela menina” e pronto, outro que falava. Além de fazer um release, além de me preparar as fotos, fazia questão de falar o que eu quisesse, é o que eu te digo: ele fazia o marketing dele. Tanto é que o Sady vivia no NP, o Gio fala isso, claro porque ele era um cara que percebeu que tanto o NP, quanto nós íamos dar espaço a ele. Ele pegava no pé mesmo, gentilíssimo, excelente fonte, falava de tudo. Só não falava dos escândalos dele, dos processos, isso ele corria fora e eu também não perguntava. Eu não sou polícia, o meu papo é outro e a minha pauta não era essa aí. Então, com ele era legal de conversar. Tinha um produtor que eu não me lembro o nome dele agora que era um cara que me fornecia muito material, mas ele nunca sabia nada. Ele conhecia porque produzia muita gente na Rua do Triunfo, mas agora me foge o nome dele. Memória é problema, mas depois eu complemento num e-mail pra você com todas essas informações, porque aí eu pego o nome desses caras e tenho todo material que eles me passavam. Mas quando o cara era produtor, pior ainda ele estava muito mais longe do filme e pra conseguir alguma informação era assim de lascar. Então, é isso: as informações da Boca eram escassas, elas vinham assim de meios diversos e olhe, eu adorava quando podia ver o filme. Ah ! Quando podia ver eu adorava...Então, sabe como ás vezes eu pegava informação do filme ? Quando eu tinha um conhecimento dessa turma maior do Zé Adauto, o próprio Sady de vez em quando eles estavam dublando o filme. Aí me convidavam pra ir lá no estúdio e eu via a parte da dublagem e me dava algum alento, alguma idéia do que se tratava. Pelo menos algumas cenas eu sabia do que era, então o resto a gente dava um jeito.
MT- O senhor preveria ver antes de fazer ?
EJ- Ah sim.
MT- Mas tem muito filme que você fez sem ter visto o filme ?
EJ- Muitos, muitos.
MT- Quantos em porcentagem ?
EJ- Meio a meio, porque eu ia muito nessas pré-estréias. Eu acho que a menor parte, uns 20%, o resto eu via. Eu ia ver mesmo, veja bem o que acontece: ás vezes num mês estreavam dez filmes. Mas eu só tinha espaço pra quatro, e eu já ia assistindo mais pra ir acumulando, claro não tinha outro jeito. Ás vezes não tinha isso, aí eu me virava.
MT- Mas na Big Men o senhor fazia outra coisa ou só a Nosso Cinema ?
EJ- Não, não. No início, eu só fazia o Nosso Cinema, posteriormente eu continuei fazendo como editor, aí eu editava todas como eu te disse anteriormente o Elas e Elas, todas as segmentadas, editava uma revista de pintar para crianças. O que você faz numa revista de criança ? Nada, você só olha, vê se as páginas estão em ordem, faz as chamadas de capa que muitas vezes não existem, prepara o expediente e leva na gráfica. Só era editar, vinha quase tudo pronto, tinha joguinho, palavrinha cruzada, essas coisas todas.
MT- O senhor ficou na Big Men até quando ?
EJ- 2000.
MT- O senhor viveu só da Ondas todo esse tempo ?
EJ- Todo esse tempo, até 2000.
MT- Mas teve outros tipos de publicação, digo além das já faladas, sei lá nos anos 90 ?
EJ- Como eu te falei eu ajudei a editar revista de magia, de informática, ajudei a editar uma revista sobre drogas, maravilhoso (ri) a gente faz de tudo nessa vida prum cara sério chamado Augusto Khouri, que é um cara que conhece muito essa parte e tem uma clínica de reabilitação, um cara muito sério. O que mais ? Tinha essa revista infantil, uma de jogos que era baseada numa revista argentina de juegos que um cara editava aqui que eu ajudava também.
MT- Tudo na Ondas ?
EJ- Sim, como eu te falei: elas tinham uma vida curta porque as coisas duravam uma ou duas edições saiam. Fiz muita revista de cifras pra violão, uns amigos do editor tocavam violão e tinham um método de cifras. Revista de palavras cruzadas, que praticamente não editava porque elas já vinham prontas. Só acertava, olhava, via a chamada. Tem coisas legais que você tem observar numa revista pra você editar. Mas nas grandes, as filhotas aí eu participava de todo processo, ativamente desde a idéia, das escolhas das pautas, dos colaboradores. Uma coisa legal que a gente fazia tanto na Big Man como nas filhotas era escolher um ensaio fotográfico. Você sabe que um ensaio fotográfico é o seguinte: você recebe vamos dizer duzentas fotos de uma mulher mas pra você fazer o ensaio dela, você usa vinte fotos. Mas só que você olha duzentas pra escolher vinte. E é pouco, isso é pouco porque na Playboy os caras olham duas mil. Você pensa o que ? Que essa mulher do BBB que saiu agora quantas fotos fizeram ? Umas duas, três mil. Claro ! Claro, a gente como era uma editora pobre comprava pouco material, então aí tudo bem.
DRJ- Nunca chegou a produzir ensaio, sempre comprava ?
EJ- Tinha um fotógrafo do Rio que produzia ensaio pra gente, mas lá na própria editora nunca, nunca.
MT- Mas das meninas que faziam ensaio, quantos em porcentagem eram nacionais e quantas estrangeiras ?
EJ- Olha, a maior parte era nacional, sempre que possível. Por incrível que pareça, o público gostava de material nacional. Quando não tinha jeito, ia uma gringa.
MT- Na Club dos Homens é tudo nacional ?
EJ- A Club dos Homens ? Tinha internacional, tinha internacional. A gente tinha de mesclar, então dizia que ela era de Santa Catarina, mas não era de lá (risos). Nenhuma era de fora, nenhuma mesmo sendo. Quando você tem uma revista erótica, você edita o seguinte: você edita o ensaio, você dá um nome pra mulher e escreve um texto pra essa mulher.
MT- Dá um nome também ?
EJ- Dá, dá. A não ser que ela já venha com nome, senão você dá um nome, faz um texto contando a história dela que só você sabe essa história, você inventa evidente. E ás vezes você inventa em cima do perfil do ensaio, de um tema ou coisa do gênero. Agora, um pouco mais difícil é quando você tinha uma revista de gays (rindo). Aí vinham cem fotos de homem ou travestis de pau duro...não era bem um trabalho saboroso. Eu não tenho nada contra, mas particularmente não é a minha (risos), mas se fosse a minha até que era legal mas a gente escolhia cara. Tem que escolher e a gente ficava: “Esse aqui o pau está mais duro que o outro”. Com o tempo isso vira normal porque todo dia você está escolhendo, todo dia o editor me falava: “Olha, vamos escolher as modelos da próxima edição”. A gente passava o dia inteiro numa sala projetando mulheres e separava umas, escolhendo. Após a gente escolher um ensaio, chamava outra no negócio no slide. Aí olhava uma vez, olhava duas vezes, três, jogava fora uma que não prestava, algumas que não aparecia a mulher ou como fica o corpo fica feio. Ás vezes a perna de uma mulher está de um jeito, mas se você vira um pouco o ângulo da câmera afina e não fica do mesmo jeito, fica feia. Então, se você quiser pegar o melhor da mulher era bom a gente olhar e nem tinha problema algum a gente olhar, agora dos travestis dava um certo trabalho (rindo), mas fizemos.
DRJ- E não tinha retoques nessa época ?
EJ- Não, não tínhamos. Não existia, nessa época não tinha, nessa época não existia fotoshop não. Nessa época se quisesse fazer retoque, você fazia o chamado retoque americano. Vocês chegaram a conhecer isso?
DRJ e MT- Não.
EJ- Vocês não conhecem isso né ? Coisa antiga.
MT- Mas como funciona essa história do retoque americano ?
EJ- É um retoque assim, bastante realista que dá muito trabalho e o profissional é caríssimo. Ele retocava mesmo, retocava pra valer e isso era muito usado em publicidade. Hoje com o fotoshop faz isso numa fração de segundos e direto na foto. O cara cobrava uma grana espetacular porque pouca gente fazia isso. Por exemplo: você tinha uma foto de algo, se isso tivesse algum riscadinho aqui, o cara pegava e retocava pra você tirando o retoque e tanto que ele aproveitava e dava até um brilho a mais inclusive pra a foto ficar melhor. Esse era o chamado retoque americano, que era feito na raça e custava uma puta grana. Quem usava muito era agência de publicidade que você podia pagar, quando não tinha fotoshop que hoje tem.
DRJ- Os ensaios eram todos exclusivos ?
EJ- Não.
DRJ- Não corria o risco da Private publicar no mês seguinte ?
EJ- Não, não. Era exclusivo, porque o meu editor todo ano ia para Europa e lá tinha algumas agências que ele comprava material desses caras. A mesma coisa fazia o editor da Private e todas as demais pra tudo tanto pra travesti, mulher, homem, comprava tudo que tinha peludas, brancas, etc.
MT- Essas tiveram edição especial também ?
EJ- Tivemos uma edição especial de peludas. Tinha uma que tinha a parte dela assim, era um matagal vamos dizer assim (risos). Só uma porque era muito difícil achar material, até porque essas moças normalmente fazem outras coisas como filmes eróticos, tal e você sabe como erótico é muito preferível que ela seja depilada ou quase depilada pra você ver o sexo. Imagina aquele matagal que você não sabe se é homem, gato, elefante ou com o que o cara está transando de repente (risos). Era muito difícil achar material de peludas, mas tem. Se você entrar hoje na internet você acha.
MT- E vendeu bem essa de peludas ?
EJ- Foi bem, mas a gente não tinha como fazer uma segunda, não tinha material, não se achava material. Era uma raridade, sabe.
DRJ- Os ensaios se faziam sempre com exclusividade ?
EJ- Você fazia um contrato, você assinava, era registrado. Era um contrato porque as empresas lá fora eram muito sérias, o fotógrafo vendia pra uma agência e ela vendia pra você. As regras eram claras: você pode publicar uma vez, tantas fotos ou tudo, se você poderia republicar isso aí sem pagar os caras, esse tipo de coisa e eles se comprometiam a não vender a nenhuma outra revista concorrente aqui no Brasil.
MT- Vamos dizer assim, vocês tinham uma agência dela, a Private uma outra ?
EJ- O que acontecia também é o seguinte: ás vezes vinham fotógrafos de fora trazendo material. Tinha um fotógrafo português que fazia isso, só fotografava mulheres nuas e ele vendia pro mundo inteiro. Então, ele chegava na Ondas, vendia pro meu editor alguns ensaios. Vendia não, vendia os direitos de publicação, porque depois você devolvia as fotos pro cara, você não ficava com as fotos, porque eram dele. Apenas você comprava o direito de publicar, o direito de imagem. Ele saia de lá e ia pra Private a quem ele também vendia, mas aqueles que ele vendeu pra nós não, se a Private quisesse outros ele dava outros. A mesma coisa, era um acordo de cavalheiros tanto porque se você der uma olhada você nunca vai ver a mesma mulher batendo. Com os americanos, holandeses que também tinham muito material...sabe que por incrível que pareça você encontra muito material na Austrália. A Austrália tem revista erótica pra cacete.
MT- Vendia muito pra vocês também ?
EJ- Também.
MT- E colocava que ela era de Santa Catarina ?
EJ- Oh amigo ! Eu contava cada história (risos). Você acha que eu ia falar que ela era australiana ! Porque as cartas que a gente recebia muitas pediam mulher brasileira, mulher brasileira. Muitas vezes eles percebiam que uma loirona é claro que não era nascida no Brasil, mas você contava uma história de que umas bem loironas eram filhas de Santa Catarina, você está me entendendo ? De pais poloneses de Santa Catarina, aquele negócio, vai entrando. Porque claro, lá fora você não vai encontrar morenas, negras é muito difícil, lá é só as branquelas então eles precisavam dar um jeito. A não ser um caso especial quando você dizia que a moça era de fora, por uma questão especial mas em geral ela era uma mulher que o cara poderia estar passeando no Rio de Janeiro e encontrar com ela. Essa era a idéia, não é ? E o cara que vai ver a revista de travesti, porque ele vai ver a revista senão pra encontrar com o cara ?
DRJ- Ao menos pensar que possa encontrar na rua.
EJ- Exatamente, exatamente. Essa é a idéia e de todo mundo.
MT- O senhor lembra algum número memorável que vendeu muito ? Além daquela do cara que o senhor já disse anteriormente.
EJ- Aquele do cara parece que conseguiram mais um outro, também com um camarada bem poderoso que vendeu bastante, bastante.
MT- Na primeira ou na segmentada ?
EJ- Na normal, esses caras de primeira linha iam sempre na normal. Na segmentada ficava com...a única segmentada que vendeu legal foi uma de travesti que eu falei pra vocês que realmente se achou um travesti belíssimo, belíssima e tinha um cacetão enorme (risos). Tanto é, eu te digo isso porque o que essa mulher recebia de cartas ! O que ela dizia que depois aumentou o faturamento dela, um negócio impressionante. Por que ? Porque a revista publicou aquilo que ninguém lia e o pior é que funcionava. Esse é o X da questão, os americanos travestis todos vinham com alguns defeitos ou feios, ou sem muito peito, era um horror assim. Vida ! (risos).
MT- O senhor nunca pensou em trabalhar numa revista desse tipo ?
EJ- Não, não. Quando eu fiz a Cásper Líbero, eu achei que ia jornalista da Folha, do Estado (risos). Aí caí lá e também aprendi o valor disso: acho que isso tem o seu valor, como eu te digo a questão dos ensaios que tem seu atrativo e eles fazem parte de um espetáculo, de um todo o que nós ajudamos muitas pessoas a entender o que é sexo e sexualidade. Isso eu não abro mão, tanto é que nós éramos um dos únicos juntamente como a Nova é, concorrente que fala francamente sobre isso. A Playboy é um traste, a Hustler trata os artigos muito mal. Ninguém enfrenta de frente o negócio desse tipo é muito preconceito ou é muita coisa ou é muito machismo sabe, são de lascar. A Nova fala tim tim por tim tim como que são as coisas, te abre a cabeça e te explica como nós te fazíamos. Tanto que o cara que era sexólogo botou a gente lá pros clientes dele ler e depois virou nosso colaborador até o final da revista de graça. Eu ligava e dizia pra ele: “Doutor Osvaldo, eu tenho um depoimento assim, assim. O que o senhor acha ?”. E ele respondia se estava ou não, e eu mandava o repórter checar e nunca publiquei uma matéria dele sem checar, nunca não sou louco. Sou um cara sério, tudo sério porque jornalismo é tudo sério. É claro que quando começou o famoso período da AIDS, a gente batia forte na camisinha: camisinha, camisinha, camisinha, camisinha. A gente chegava em final de toda matéria ou no começo: “Use camisinha, use camisinha”, daqueles fortes mesmo. Daqueles fortes mesmo porque a gente não ia dizer pro sujeito não fazer sexo, faça ! Mas não deixe de usar camisinha, muito simples e larga de ser bobo.
MT- Ao contrário do que o papa falou.
EJ- Ao contrário do que aquele imbecil alemão fala. Nada contra os alemães, mas que filho hein ! Puta merda e o cara mais parece o Hitler pô ! Mas infelizmente é a Igreja, o papa anterior que era polonês falava a mesma coisa. Outra besta ! Você não pode, não pode. Todo mundo depende em todo mundo do uso da camisinha e todo mundo sabe que é a única, a única forma de prevenção, a única. Não tem outra e é tão simples, custa um real e cinqüenta. Você acha em qualquer lugar e vai lá e compra três, cinco, quantas quiser. Esse pessoal que eu fui cobrir fazer um filme erótico do Roger Lemos e da Aretusa, é legal porque eu sai dele desde que eles começaram o trabalho que era em Campinas. Eles iam me levar junto com os atores e atrizes, então a Aretusa ela ia sair e me chamou pra ir com ela e fomos até a farmácia. Chegamos na farmácia, ela comprou um pacotão de camisinha, mas um pacotão eu acho que mais de cem camisinhas, porque claro o cara vai usando e só camisinha, ator também só camisinha. Qualquer hora que ela ficava desconfortável, qualquer coisa botava outra.
DRJ- Mas na época da Boca não se usava ?
EJ- Não, mas na época da Boca você ainda não tem informação da AIDS, informação de AIDS você começa a ter em 82, 84. Ela pega pesado no final e você começa a ter alguma informação, mas na Boca não se usava. Agora, hoje usa e hoje eu escrevo ou vejo só por prazer, os vídeos eróticos hoje usam camisinha, porque não dá depois que morreu o John Holmes. Que era um cara que começou na antiga e deve ter pegado a muito tempo porque AIDS demora a se desenvolver. Parece que outros caras da antiga, também acabaram pegando essa droga de doença. No Brasil, você teve atores da Boca que morreram por causa do HIV.
MT- Não só da Boca, Sandra Bréa por exemplo.
EJ- Tem um ator da Boca que morreu disso. Eu juro por Deus, mas não lembro o nome, o Alfredo sabe.
MT- Seu Janks, depois que o senhor saiu da Ondas, o senhor fez o que ?
EJ- Depois que eu saí da Ondas, a primeira coisa que eu fiz foi me associar com um jornalista chamado Marcos Petrucelli e ele tinha um site. Nós fizemos um site, que estava na UOL e se chamava Guia Filmes e continuávamos falando de cinema. Nós ficamos juntos, dentro de um ano e posteriormente ele está na rádio Eldorado até hoje. Aí nos tivemos um pequeno desentendimento, eu deixei a sociedade e aí fui freelar fazendo site, texto pra publicidade, coisas do gênero. Aí eu fugi um pouco do âmbito e mesmo revista não aparecia nada. Eu fiquei acho que nesse período por mais um ano meio que freelando fazendo texto pra site, pra panfletos, folhetos, (rindo) a gente sempre faz texto. E aí veio a faculdade, me convidaram pra dar aulas na São Judas Tadeu e eu comecei dando aulas de fotojornalismo em 2002 e estou lá até hoje, hoje dou aula de fotojornalismo e ao mesmo tempo dou aula pro pessoal de publicidade e propaganda sobre técnicas de som e imagem. Ou seja, eu estou meio sempre ligado a meio da imagem e som em movimento, sempre ali zanzando perto da fotografia e das coisas que eu sempre cultivei, está legal.
MT- Mas o senhor não sentiu falta de tentar participar de cinema ? Talvez pelo Alfredo, trabalhar em algum filme dele ?
EJ- Olha, eu acho que de uma certa forma não quis, mas a vida foi nos empurrando a fazer outras coisas. Então, você vê: o fato de ter um site sobre cinema, e eu mantive um site meu sobre cinema que era o Fã Cine.
MT- Sim, eu acessei. Tinha muita coisa sobre a Vera Cruz ?
EJ- Sim, eu que joguei coisas da Vera Cruz. O meu namoro com cinema é um namoro velho e eu acho que não morreu e nem vai morrer. O problema é que você vai tocando a sua vida, vai pagando as suas despesas, o pessoal cobra telefone, luz, água (rindo). Eu não sei porque eles fazem isso, são uns desalmados ! O governo me cobre imposto de renda. Eu estou fazendo o que é possível, as aulas vieram e eu gostei muito da idéia de dar aula e acho que de uma certa forma nas aulas eu ainda trabalho com uma extensão de idéias que a gente trabalhava na própria revista. Que a gente entende como coisas corretas pro dia-a-dia, tentando não imprimir um clima muito reacionários nas aulas, essa coisa e tentar manter uma certa forma de pensamento. Eu trabalho com propaganda e publicidade, uma coisa difícil sendo por princípio reacionária. Eu digo isso pros meus alunos: “A propaganda é reacionária”, ela é reacionária, porque ela trabalha com o que você já tem de conteúdos, informação e de aceitação, o que ela pode ser ? Já se falaram. Eu vejo alguma vida útil em videoclip, porque o diretor disso saí como louco e aí ele pira e faz o filme que quiser, sem muito compromisso com quase nada. Mas a propaganda e a publicidade tem com o produto, que tem a ver com quem ? Quem paga. Mas a gente tenta conversar com as pessoas, tentando que elas matutem um pouco mais e lembrem de ética, de cidadania, desse país, um pouquinho mas é difícil.
MT- Eu trabalho na área, e eu vejo algumas coisas. Pelo que o senhor fala, o senhor é um cara de redação.
EJ- Sim, muito em redação.
MT- O senhor por trabalhar em redação, tem um pessoal que tem um pouco em dar aula, academia essas coisas. Teve o senhor algum embate nisso ? Ou foi fácil ?
EJ- Foi difícil no início, mas depois que eu comecei, acabei gostando muito. Inclusive porque eu na São Judas, consegui dar aula pro pessoal da terceira idade. Eles tem um curso pra pessoal de terceira idade e eu dei duas matérias pra ele, vejam só: eu dei matéria de jornalismo e a segunda matéria era política. Eu falando com os velhinhos de política (rindo), na época em que a Marta foi candidata a prefeita e foi uma confusão. Mas o legal deles é que por serem de terceira idade, eles são muito interessados porque saem pouco de casa e quando eles estão lá na faculdade eles debatem muito, conversam muito, entregam muito e são muito legais. Eu gostei muito de dar aula pra terceira idade, aliás se eu pudesse e pra te ser sincero eu só daria aula pra terceira idade.
MT- Melhor do que pra jovem ?
EJ- Melhor. O público é muito mais receptivo, não que os jovens não sejam das aulas mas o público da terceira idade é muito mais receptivo. Qualquer matéria que vocês trabalhem com eles, eles acabam te devolvendo coisas importantes. Por exemplo, eu fui discutir política e pô, discutir política é uma coisa feia. Ainda mais discutir num país como o nosso, eu tive que ir dar aula fazer o que ? A coordenadora perguntou se eu daria aula pra eles de política. “Dou”, respondi. Claro que eu dou, pra ganhar dinheiro já que eu estava precisando. Aí fiz todo um plano e é duro porque elas são pessoas que já viveram os anos 50, 60, 70 e estão totalmente desacreditadas, achando política uma merda. O meu objetivo era fazer com que elas voltassem a acreditar. Eu acredito e tenho que fazer elas acreditar, e não é fácil e não foi fácil. Eu me lembro que numa das aulas eu falei sobre a Ditadura, aí levantou um velhinho, velhinho mesmo de 93 anos, muito gentil e me falou: “Professor, o senhor está falando da Ditadura do Getúlio ? Ou da 64 ? Eu já vivi cinco ditaduras”. Ele era português e falando que viveu o regime do Franco, Salazar, Getúlio e uma coisa assim, porque ele tinha passado por cinco ditaduras. Aí, quem aprende sou eu e ele contava coisas do franquismo, do que ele conviveu.
MT- Coisas que de repente não estão nos livros.
EJ- Em livro nenhum, convivência do cara. E falar de política, você falando mal dos políticos aí me chega uma senhora e fala: “Meu filho é assessor do Maluf”, e aí ? É duro defender esses caras, teve outra que falou que o filho era assessor do Hanna Garib, essa turma. Aí o que eu vou dizer pra velhinha ? Eu saio, não tem o que dizer. Mas na aula inteira e sem essa conversa particular, eu defendo o meu ideal de liberdade, goste ou não goste mas é a minha posição. E acredito na política, na mudança e eu já vivi isso tudo mas eu tenho que falar pra eles que eu acredito. Eu não baixei o pau na revista e não vou baixar o pau pros velhinhos também não. Eu tenho uma filha de 16 anos, o que eu posso fazer ? Eu tenho que acreditar nisso, que merda ela vai ficar ? Eles também tem filhos e netos. Eu falo: “Está bom que vocês estejam também descrentes da política, mas e os seus netos ? Vão viver com o que ? Em que regime ? Em que situação ?”. O que eu vou fazer ? Mas foi tranqüilo dar aula, mas você tem razão, porque gente que sai da redação, da prática do jornalismo não gosta dessa idéia de dar aula. Eu gostei muito, acho muito bom e acho que dá pra continuar conversando e acho muito legal porque você pode continuar dando aula enquanto você estiver vivo, até os setenta anos. Só que você não trabalha numa redação até os setenta anos. Aliás, não trabalha nem até os cinqüenta, você pode ver o pessoal da redação da Folha: tem 20, 21, 22, 25, 27 achar alguém de 30 é muito. Vai com 40 anos pedir emprego numa redação, pergunta pro Alfredo o que ele sofre por aí. Um puta jornalista, o Alfredo viajou o mundo inteiro cara e entrevistou gente que você não imagina: o Fritz Lang, Marlene Diretich. Foi júri em festival na Índia, da puta que pariu, você tá me entendendo ? Esse cara tem uma puta bagagem cultural, agora com a idade dele é complicado. Só que ele está dando aula no Senac agora, ainda dá mas eu acho que esse embate existe.
MT- Sempre existiu ? Ou é de agora ?
EJ- Eu não saberia te dizer isso com tanta certeza. Eu acho que jornalista gosta de ser jornalista e é bom que goste, porque é uma profissão muito importante, fundamental. Eu dou aula de fotojornalismo e digo pros caras que a nossa profissão é tão importante quanto a do médico, a do dentista e a do engenheiro. Da mesma forma que o médico salva vidas, nós também a mesma coisa. Não seja irresponsável, o negócio é sério você quer ser jornalista não é só pra se divertir, você tem uma missão e a missão fundamental sua é defender a liberdade de expressão caralho, do Brasil. Isso não é pouco coisa, não é pouca coisa. Se você é meio babaca, você está aí só pra perder seu tempo vai embora. i fazer outra coisa, sabe você vê que a tua missão não é essa, o que você está fazendo na faculdade ? Tá pensando que você tem só que ver filme, tal, não é isso não. Você quando vai fazer uma crítica você tem engolir tudo isso senão vou fazer o que ?
MT- O senhor chegou a falar com os seus alunos, que teve uma vivência numa revista desse gênero.
EJ- Eu falo muito pouco, muito pouco. Falo mais ou menos, o pessoal é muito reacionário, muito reacionário, muito reacionário.
MT- O senhor tenta driblar um pouco isso ? Mas fala que trabalhou em redação ?
EJ- Sim, eu falo e digo porque fiz. Há 27 anos que eu sou jornalista, tenho que dizer pros caras, quer dizer eles estão aprendendo olham pra minha cara e de repente não me respeitam, eu falo: “Pera aí, há 27 anos eu sou jornalista. Eu tenho alguma coisa pra dizer”. Aí eu digo que já fiz revista erótica, fiz isso, aquilo só não conto os detalhes (risos).
MT- O senhor fala ?
EJ- Falo, falo. Só não conto os detalhes porque eles são muito reaças, os jovens são muito reacionários cara ! É uma tristeza porque pouca gente tem boa cabeça, pouca gente. Infelizmente amanhã eles estão mandando no nosso país. Mas gostei muito da idéia de dar aula, acho bom dar aula, acho que as pessoas de boa cabeça ou com boa experiência deveriam dar aula. Você pode ter setenta anos e pode lecionar, é importante e é legal porque isso você vai de certa forma passando a sua mensagem e umas pessoas sempre pegam, algumas pegam. Algumas deixam passar, mas você nunca para de falar, você nunca para de ter alguma importância. Se você se trancar na sua casa e só falar com a televisão, você não chega a lugar nenhum.
DRJ- Circular, renovar.
EJ- Circular, exato estimulando outros professores, puxa tem cada cara brilhante lá na faculdade que eu aprendo pra cacete com eles. É muito bom, muito bom isso sabe e tem cara lá que é doutor da PUC, não sei de onde. Eu sento com ele, conversamos, aprendo com ele, que bom ! Estou vivo, pelo menos eu acho.
MT- Como o senhor se acha Janks por ser percussor da Zingu! ? Da nossa publicação, como influência.
EJ- Olha, eu devo te dizer que eu me sinto bem. Eu me sinto bem e acho que durante um certo tempo a turma que fez isso, que cobriu isso, participou desse movimento que foi grande, importante e seria importante em qualquer país do mundo, mas aqui no Brasil por preconceito acaba sendo totalmente esquecido, eu acho fantástico que vocês estejam continuando com isso. Eu acho assim, quando o Alfredo foi o primeiro a me falar de você e de uma moça do Rio de Janeiro que faz alguma coisa...
MT- A Andrea.
EJ- Quando o Alfredo me falou de vocês, eu falei: “Meu Deus do céu, que beleza !”. Porque isso é um oásis, um oásis. Sério, eu acho vocês meio malucos (risos), mas felizmente, bons malucos. Não pode morrer uma coisa dessas, esse país já é um traste de memória, sabe então, eu e o Alfredinho ficávamos loucos quando não saia nada. Quando o Alfredo foi convidado pra fazer esse dicionário da Boca, vocês não imaginam a festa que a gente fez, sabe eu juntei tudo que eu tive, que eu tinha e levei pra ele, tudo pra ele, um pacotão. Eu falei: “Usa o que você quiser”, ele tinha muita coisa também mas eu tinha muito também porque eu sempre tive essa idéia de guardar e por isso eu trouxe alguma coisa pra vocês.
MT- Eu liguei algumas vezes pro senhor, acho que eu falei com a filha do senhor.
EJ- Isso, isso.
MT- Como é que é saber que o senhor colaborou com o cinema da Boca ? Da pornochanchada...
EJ- Ela sabe pouco, mas ela não dá muita bola.
MT- Nem a esposa do senhor na época ?
EJ- Não, não.
MT- De trabalhar numa revista desse gênero ?
EJ- Não, não ela era uma das colaboradoras da revista também (risos). Mas depois se revelou uma jararaca miserável, da qual eu me divorciei e é uma peste.
MT- O senhor quer que depois, na hora que eu for decupar, eu enxugue isso ?
EJ- Não, não isso pode deixar, por favor ! (risos).
DRJ- (rindo) Ela fez você jogar fora todos os recortes da hemeroteca !
EJ- Uma das culpadas, olha sem brincadeira cara pelo que eu julgo de mais...pelo que eu prezo mais na vida, porque eu tinha uma pilha desse tamanho das críticas do Biáfora, por que eu tinha isso ? Porque eu pretendia mexer nisso, juntar, botar no meu site. Mas por um motivo de mudança ou um outro qualquer a filha da puta com o perdão da expressão, a gentileza que eu a trato (risos), não reparem com isso, sou carinhoso com ela fez eu jogar isso fora. Eu não sei porque o idiota jogou. Mas falando de vocês, eu acho maravilhoso, acho maravilhoso. Olha se precisarem de alguma coisa, de alguma indicação, algum nome, alguma coisa que vocês queiram colocar e se eu conhecer, liga pra minha casa. Eu deixei meu cartão com vocês ?
MT- Acho que não seu Janks, mas pode deixar. O senhor é da Polônia seu Janks ?
EJ- Meu pai, meu pai era polonês. Eu nasci em Osasco (risos).
MT- (pegando o cartão), mas que coisa genial seu Edu esse cartão: “José Edward Janczukowicz (Edu Jancz): jornalista/editor/professor de fotografia, cinema, sexualidade, terceira idade”.
EJ- Não, eu faço qualquer negócio (risos).
MT- Olha só que sensacional.
EJ- A verdade é a seguinte, ás vezes eu não colocava isso como você mesmo falou, você fala com os alunos mas não coloca. Um dia eu pensei, que durante 12 anos passei meu dia-a-dia discutindo sexo e sexualidade, todo dia, todo dia era arroz e feijão. Eu vou dizer que eu não sei uma coisa a respeito ? Desculpe, eu sei, eu sei mais que a maioria dos brasileiros, então eu posso botar no cartão. Eu não estou mentindo, eu não sou médico mas pelo menos conceitualmente de literatura eu tenho uma pilha de livros lá em casa que eu comprei e li. O que eu já conversei com urologista, psicólogo, sexólogo, o doutor que eu falei o nome, doutor Osvaldo li os livros dele, ah eu sei muita coisa vou dizer que não sei ? Sei. E posso muito bem fazer uma palestra, posso preparar um pequeno curso. Por que não ? Por que eu vou esconder ? Eu sei porque fui obrigado a aprender como qualquer área que você trabalha, se fosse turismo eu ia saber de turismo. É isso aí, então se precisar de alguma coisas vocês usem e abusem, procura o Alfredo que é também uma pessoa gentilíssima, com certeza não se negará a nada pra passar qualquer informação e que também deve estar muito contente, aliás a primeira coisa que escreveram alguma coisa sobre o Alfredo foi aquela moça do Rio de Janeiro. Ele ficou tão contente, me ligou falando: “Olha, me acharam !”, aí depois vocês se cruzaram, cruzou com o Gio, esse tipo de coisa.
MT- É, ele ficou meio assustado comigo: “Pô, o menino sabe tudo” (risos). Mas ele foi muito gentil, uma pessoa muito generosa, muito aberta.
EJ- Sim, sim. Infelizmente, como eu te falei é uma pena que esse cara acabou sendo muito marginalizado principalmente pelos meios de comunicação, muito. Pelo menos televisão, basicamente. Imprensa tudo bem, ele sempre teve espaço e nenhum problema por ter feito erótico ou não, ele sempre teve espaço. Mas imprensa é aquilo, você passou de trinta anos, você está velho nunca mais. Agora, ele poderia estar dirigindo TV mas não entra, então a situação do cara não é uma maravilha, porque ele vive freelando, freelando, freelando. É difícil e a gente sempre lamenta isso, mas é uma pessoa deliciosa, eu digo isso só porque eu o conheço a trinta e quatro anos, só isso. E continuo achando ele um cara legal (risos), difícil isso depois de tinta e trinta e quatro anos, ainda acho ele um cara legal. O Alfredo é integro, uma pessoa integra, uma pessoa correta. Ele não é capaz de fazer mal, não é capaz de fazer uma coisa errada contigo, integro. Essa coisa de integridade nesse país está acabando, tem muita pouca gente integra nesse país, então por isso a gente tem que preservar esses caras.
MT- Ele é um deles ?
EJ- Ele é um deles, ele é um deles e digo isso pelo tempo que eu conheço. Eu abro a porta da minha casa e dou a chave pra ele e digo: “Pode entrar”. Pra ele sim, agora pra outros se passarem perto eu peço um cachorro bem grande e jogo pra cima das coisas. A dignidade é uma coisa muito importante, e o Alfredo tem isso. Sabe, certas pessoas tem isso e isso tem um valor inestimável porque está morrendo, tá morrendo gente. Não pode sabe, não pode. Eu era fã do Zé Genoíno, aí o irmão dele tem um assessor que saiu com dez mil dólares na cueca, eu votei nele pra governador. Hoje acho ele um canalha, votei nele mas depois dos cem mil dólares na cueca do assessor, acho ele um canalha. Sabe, é um cara da guerrilha e você entende ele como um cara sério, tem um irmão que leva cem mil dólares na cueca, Zé Dirceu outro sem vergonha de marca melhor. É duro, por isso a gente fica desanimado com a política mas a gente continua acreditando, tem que acreditar. Mas parabéns pelo negócio da revista, acho maravilhoso, maravilhoso acho que vocês tem que manter porque vocês são uns dos poucos pólos dessa resistência ainda porque a gente não teve coragem de manter, eu tentei manter um pouco no site, no meu site eu tinha alguma coisa da Vera Cruz, alguns cartazes eróticos da Boca. Muita gente me escreveu e entrou em contato comigo porque tinha coisa da Boca, então entrava em contato comigo por causa dos cartazes que eu coloquei no meu site. Então, você vê é um negócio que não dá pra negar, mantenham, mantenham firme por favor, por favor. Uma coisa maravilhosa, parte da história, não pode jogar fora, não pode jogar fora. Esse país vai ficar como eu, um dia vai jogar um monte de críticas do Biáfora fora (risos), então não pode fazer isso. E eu tive a chance de rever o Motta, pedir as críticas pra ele e ele me nega e morre e você vê que azar maravilhoso. Eu sou um azarado (risos).
MT- Seu Janks, só pra fechar, a última pergunta.Desse cinema da Boca, dessa batalha pelo jornalismo tudo...o que o senhor acha que fica de você para a posteridade ?
EJ- Posteridade é difícil, posteridade (rindo). Essa é boa. Não sei, quer dizer se não fica eu pelo menos quero que fique essa idéia que o maior valor que a gente tem é a tal da liberdade sabe e parafraseando o Caetano eu diria: a gente nasceu pra ser feliz. Então porra, não vamos censurar nada, sacou ? Feliz, não Censura e com respeito e dignidade, essas coisas que são coisas básicas que sempre moveram a gente, a gente sempre tentou passar isso e eu acho isso fundamental e que vou morrer brigando por isso, deteste gente preconceituosa. Brigo com qualquer tipo de preconceito, até preconceito contra mim também porque parece que eu tenho um nome desgraçado. Dizem que só existe preconceito contra negros, judeus e tal não, existe preconceito contra cara que tem o nome complicado, contra estrangeiro, existe também mas eu não dou muita bola pra isso. Acho que se ficasse essa idéia da liberdade e o respeito ao ser humano são as coisas mais fundamentais que a gente tem e se a gente passar um pouco isso, a gente está passando a melhor coisa que tem. É isso que vai manter a gente como gente, senão não sei o que a gente vai virar. Tem gente que já perdeu essa identidade de gente, está sendo nem sei o que. Senão a gente vai esquecendo o humano, humano, humano e na medida que a gente vai esquecendo, daqui a pouco ele desaparece e a gente nem vai saber mais o que é. Bom, tem que manter isso vivo, acesso, manter essa chama acessa e pelo amor de Deus, dignidade já como diz sei lá quem dizia isso, acho que o Leão Lobo mas está certo (gargalhadas).



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