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SUBGÊNEROS OBSCUROS...

DISCO MOVIES

Por Marcelo Carrard

Em meados da década de 70, o jornalista e escritor Tom Wolfe começou a observar uma interessante movimentação em pequenos clubes gays de Nova Iorque. Era uma música diferente, com muitos vocais de cantoras negras e um ritmo acelerado, diferente da Soul Music, mas muito influenciado por ela. Nesses pequenos clubes, além da frequência do público gay, eram vistos artistas, intelectuais e descolados em geral que iam até lá por causa da atmosfera do lugar e principalmente por causa da música. Esse fenômeno inicialmente observado dentro do universo cultural gay, passou a ser observado também em cidades como Los Angeles e São Franciso. Aos poucos a música tocada nesses lugares começou a ser chamada de Disco Music e teve sua popularidade máxima, atingindo todos os tipos de público após o grande sucesso mundial do filme OS EMBALOS DE SÁBADO A NOITE, que transformou seu protagonista John Travolta em um mega-astro, após participar de filmes interessantes como CARRIE de Brian De Palma e o clássico telefilme O RAPAZ DA BOLHA DE PLÁSTICO.

No rastro dos Embalos de John Travolta, e da milionária trilha-sonora do filme que foi a mais vendida por muitos anos, toda uma cultura Disco invadiu o planeta. A publicidade, a moda, o comportamento, tudo foi influenciado por essa avalanche de brilhos, cafonice e muita diversão. No Brasil o grande exemplo de toda essa influência foi a novela de Gilberto Braga: DANCIN DAYS, estrelada pela Rainha da Mídia no Brasil daqueles tempos: Sônia Braga. Antes de falar das produções estrangeiras obscuras que sofreram influências da Cultura Disco, priorizamos sempre na Zingu o Cinema Brasileiro. O grande clássico Disco Tupiniquim é o Cult Movie SÁBADO ALUCINANTE, 1979, dirigido pelo Mestre Cláudio Cunha. O filme retrata o cotidiano de freqüentadores de uma Discoteca carioca, com seus dramas pessoais, suas alegrias e, obviamente suas movimentadas aventuras eróticas. O elenco é encabeçado pela Musa Eterna Sandra Bréa, como a solitária dançarina que arrasa na pista de dança, pela mulher de Cunha na época, a Musa Eterna Simone Carvalho, além da participação dos atores Marcelo Picchi, como uma tosca versão do Tony Manero de John Travolta, o genial Maurício do Valle e o amigo de Cunha, Rogério Fróes. A trilha-sonora é muito bizarra e tem desde o clássico absoluto I’ll Survive, até Grilo na Cuca de Dudu França. O Dj da Discoteca é muito engraçado, ele se acha o máximo e faz caras e bocas o tempo todo. Rolam entre as músicas sons de sirenes, muito populares na época e a câmera trabalha com maneirismos “modernos” para a época fazendo zooms sobre as pessoas na pista de dança. A cena onde Sandra Bréa, de preto e com o cabelo preso se lança drogada na pista é sensacional, um grande filme sem dúvida.

Ainda dignos de nota aparecem dois filmes onde a presença da Disco Music é bem interessante: AMOR BANDIDO, de Bruno Barreto, nas cenas da Boate barra pesada, e em EMBALOS ALUCINANTES, onde Nuno Leal Maia, dirigido por José Miziara, encontra uma cúmplice para aplicar golpes em casais praticantes do swingue, onde várias cenas mostram boates onde rola muita Disco Music, inclusive uma Boate Gay, que pode ser observada também no fabuloso A MORTE TRANSPARENTE, onde o polêmico Wagner Montes, esse mesmo, ainda muito jovem, encarna um golpista que se envolve com homens e mulheres, babado fortíssimo.

Retornando aos EUA, temos um filme muito interessante para destacar, onde aparece em cena a Rainha da Disco Music: DONNA SUMMER. Feito no rastro de Os Embalos de Sábado a Noite, o filme ATÉ QUE ENFIM É SEXTA-FEIRA aka THANK GOD IT’S FRIDAY, 1978, dirigido por Robert Klane. O filme traz uma visão completamente heterossexual em torno do Universo Disco retratando uma frequência de pessoas de classe média em busca de diversão. Na trama rola um concurso de dança onde a atração principal seria o Grupo The Commodores. Donna Summer aparece em cena como a cantora Nicole Sims, e o grande momento do filme é quando ela canta LAST DANCE e todos se jogam na pista de dança, uuuuuiiii, arrasou... Bom, voltando ao normal agora, o filme tem uma ótima direção de arte e de quebra tem no elenco um jovem Jeff Goldblum, que nem imaginava que um dia viraria A Mosca de Cronemberg. Num universo de obscuridades não poderia deixar de citar o Mestre Joe D’Amato, claro. No clássico BUIO OMEGA, num intervalo da trama de necrofilia e gore extremo, o protagonista Frank vai até uma Discoteca, devidamente trajado e descola a boazuda SIMONETTA ALODI, creditada como Disco Queen. Essa sequência nada tem a ver com a trama, a única função da atriz em cena é aparecer pelada na banheira, depois ela vai embora, maravilhosa. Creio que os produtores pediram para o D’Amato: “Dê um jeito de colocar uma gostosa peladona no filme, se vira”, daí surgiu a bela SIMONETTA.

Outro Bravo Maestro Italiano: Il Signore Ruggero Deodato, lançou em 1980 seu maravilhoso filme HOUSE ON THE EDGE OF THE PARK aka LA CASA SPERDUTA NEL PARCO. Essa obra inacreditável teve quase 12 minutos de cortes em países como a Inglaterra e tem momentos brilhantes de sadismo, tortura e bizarrices proporcionadas pela dupla de “Psicopatas Disco”: Alex e Ricky, respectivamente interpretados pelos impagáveis DAVID HESS e GIOVANNI LOMBARDO RADICE. O assustador Hess interpretou sempre o mesmo papel do tarado/psicótico/escroto, que o consagrou no clássico THE LAST HOUSE ON THE LEFT de Wes Craven. No filme de Deodato seus diálogos são muito cínicos e sua performance é excelente. O tal do Radice é uma figura muito divertida que participou de vários clássicos extremos como The City of the Living Dead, de Lucio Fulci, onde morre com a cabeça perfurada por uma furadeira, em CANNIBAL FEROX, onde morre quando os canibais tiram o tampão de sua cabeça com um facão após ser castrado e ter o pé mutilado e em CANNIBAL APOCALYPSE onde leva um tiro que abre um enorme buraco em seu tronco. Uma dupla e tanto esses dois que funcionam muito bem em cena. A trama mostra a chegada dessa dupla em uma festa chique onde irão promover momentos de horror entre os convidados sem saber que uma surpresa os aguarda. A trilha-sonora Disco de Riz Ortolani é ótima e o momento mais engraçado é quando o hilário Ricky faz uma “Dança Sensual” ao lado de uma modelo negra e careca e da luxuosa Lorraine De Selle, também atriz de Cannibal Ferox. É muito bizarra essa seqüência, só vendo para entender.

Quanto a questão inicial da sonoridade Disco ligada aos clubes gays, com a popularização do estilo, seu público original aos pouco passou a ouvir um novo tipo de som, com a mesma ênfase dos vocais femininos de cantoras em sua maioria negras, mas com batidas eletrônicas mais pesadas, que inicialmente em Chicago, passou a se chamar de HOUSE. Finalisando destaco ainda filmes interessantes como o Giallo feito nos EUA, com roteiro de John Carpenter: OS OLHOS DE LAURA MARS, com muita Disco Music na trilha e uma atmosfera mórbida muito interessante além do recente BOOGIE NIGHTS. Chegou a ser feita uma história sobre o lendário STUDIO 54 de Nova Iorque, mas o filme é muito, muito, muito ruim, só se salva a trilha lançada em CD Duplo. Mas O VERÃO DE SAM de Spike Lee tem grandes momentos e uma puta trilha Disco, e o filme em si é muito bom. Sem esquecer do tosco mas genial MURDEROCK de Lucio Fulci que teve como um de seus títulos italianos: GIALLO A DISCO...

AVISO ESPECIAL. No próximo mês (JUNHO) essa Coluna será escrita pelo amigo SÉRGIO ANDRADE, aguardem. Em julho estarei de volta.




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