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Entrevista com Judson Ovídio

Por Matheus Trunk

“Eu nunca dei entrevista”, foi assim com algum pé atrás que o amigo e colaborador especial da Zingu!, Judson Ovídio concedeu a entrevista para nossa edição de novembro.

Judson é jornalista, tem 32 anos e abandonou uma vida de jornalista estável em sua cidade natal Natal, Rio Grande do Norte para vir a São Paulo e finalmente escrever seu livro sobre a Boca do Lixo.

Admirador confesso de Alfredo Sternheim, David Cardoso e José Mojica Marins (com quem fez um macabro curso e filme), Judson Ovídio tem grandes histórias sobre o mundo do cinema e jornalismo. E também sobre sua carreira de figuração em novelas e filmes. Por isso mesmo, não poderíamos perder a chance de ter um depoimento dele nesta publicação.

Z- Judson, como você começou a se interessar pelo cinema da Boca ?

JO- Eu sempre gostei dos filmes da Boca. Quando eu era criança, eu já passava em frente aos cinemas onde tinha aqueles cartazes dos filmes do David Cardoso, do Alfredo Sternheim, os filmes com Helena Ramos, Matilde Mastrangi. Aí eu sempre gostei de ver aqueles cartazes e eu não podia ir porque era muito criança tinha nove, dez anos. Aí quando eu cheguei a adolescência, chegou o videocassete no Brasil nos anos 80 e eu comecei a assistir alguma coisa. Eu sempre gostei da arte erótica em geral, principalmente dos filmes. Aí eu comecei a assistir filmes da Boca e eu sempre gostei.

Z- Isso com que idade ? Quando ?

JO- No final dos anos 80, mesmo.

Z- Aí já começou a te fascinar ?

JO- Já, eu sempre gostei e aí eu fui assistindo. Quando eu era criança eu não podia ver mas quando eu realmente pude ver falei: “Vou me vingar vou ver muito filme, muita pornochanchada”. E eu gosto de cinema da Boca, porque cinema da Boca não é somente pornochanchada, tem filme de vários gêneros e na minha opinião foi uma das fases mais criativas do cinema brasileiro. Os atores talvez não fossem tão bons, talvez tivesse falhas na produção, direção mas era uma fase muito rica pro cinema brasileiro. Na Boca se fazia não só pornochanchada mas também faroeste, filme de terror como do José Mojica Marins, muita coisa boa. Inclusive quando eu estava pra terminar a faculdade, eu pensei em fazer de trabalho de conclusão de curso ser fazer um livro sobre a Boca, sobre cinema da Boca.

Z- Livro-reportagem.

JO- É, mas como na época eu morava em Natal, ia ser complicado eu vim aqui pra São Paulo pra fazer isso. Aí foi legal porque eu morando em São Paulo estou começando a fazer entrevistas, conhecer esse pessoal da Boca. Estou podendo saber mais, conhecer como era, quem fazia, como era esse cinema.

Z- O que você está achando desse pessoal ?

JO- Muito legal. Eu já conhecia o Alfredo Sternheim no Festival de Cinema de Natal, quando eu ainda estava na faculdade. Não, eu já tinha terminado a faculdade, foi em 2005. Eu conheci ele no Festival de Cinema de Natal e quando eu vim morar aqui em São Paulo as primeiras pessoas que eu estive foram o José Mojica Marins, o Sady Baby super gente boa e conheci a Débora Muniz, deusa da Boca nos anos 80 e estou conhecendo esse pessoal. Um pessoal muito receptivo, gosta de conversar e fala na boa. Seria legal que os diretores de hoje em dia fossem tão legal pra conversar, dar entrevista como esse pessoal é.

Z- Mas você já conhecia o Mojica antes, certo ?

JO- É, eu tinha feito uma oficina de atores com ele em 95.

Z- Fala um pouco dessa oficina do Mojica...como você ficou sabendo ?

JO- Na época, isso faz muito tempo, 95. Era uma oficina de terror, voltado a filmes de terror e foi o primeiro trabalho que eu estava fazendo de ator e era uma oficina onde ele fazia vários exercícios de teatro para educar o ator para filmes de terror mesmo. No final, ele fez um vídeo com todo mundo que participou do filme: “Coração”. Era baseado numa crônica dele, uma história muito louca e foi legal porque foi uma oficina curta, de uma semana. Foi exatamente na semana que eu completei 21 anos e foi muito legal, tinha uns exercícios muito legais mesmo. Era como treinar um ator pra filme de terror. Esse filme que eu participei, “Coração”, ele chamou todos os atores que participaram da oficina e cada um ganhou um papel. Era a história de um cara que ele tinha uma filha e uma esposa, morava numa cidade de interior. E o pessoal começava a dizer que ele estava levando chifre da mulher. Um dia ele ficava transtornado, ia num celeiro onde ele achava que a mulher estava com o amante e passava o facão pra cima. Ele voltava pra casa, mas quando ele chegava a mulher dizia: “Fulano, onde está a nossa filha ? Estou preocupada que ela ainda não voltou da escola”. Ele se toca que sem querer no escuro ele não matou a mulher, possivelmente uma adúltera e sim a filha. Era uma cena no celeiro que eu fazia o namorado da filha, a gente estava transando lá e o cara chegava passando a faca. Foi uma cena interessante...

Z- O Mojica que dirigiu ?

JO- Quem deu essa oficina foi o Mojica e o filho dele, o Crounel. Essa cena especificamente, foi pelos dois, o Mojica, o Crounel.

Z- Foi difícil fazer essa cena ? Você ficou nu ?

JO- Ah...Fiquei só de cueca, a menina só de calcinha. Foi meio difícil mesmo.

Z- Foi seu primeiro papel como ator ?

JO- Foi. Foi na semana que eu completei 21 anos. Foi engraçado que eu falei: “Pô, vou ficar de cueca fazer uma cena erótica. Tem algum problema de eu estar gordo ?”. Aí o Mojica disse: “Não”. Mas aí eu concordei, tirei a roupa e fiquei de cueca. Mas a menina que ficou nervosa. Tinha uma cena que o Mojica tinha que gravar um close dela gritando e ela não conseguia gritar. Aí ele usou as técnicas dele e eu me lembro muito bem da cena. Ela estava sentada no chão com as pernas abertas e o Mojica se estressou pegou o facão e disse: “Olha, está demorando muito pra gravar essa cena. Eu estou ficando irritado. Lembra que teve uma vez que parece que um ator quase morreu numa gravação minha. Eu estou começando a ficar irritado, vamos tratar de gravar essa cena”. Ele pegou o facão que ele tinha e bateu no meio das pernas dela. Ela estava com as pernas abertas e bateu o facão no meio das pernas dela, não machucou nem nada, no meio mesmo só pra assustar. Depois disso, ela ficou nervosa mesmo e começou a gritar que foi uma beleza. Ele pode gravar a cena do close do rosto dela gritando.

Z- Teve alguma outra direção dele de ator que foi marcante ?

JO- Acho que só essa. E a cena que eu participei foi meio batido de fogo. Porque foi uma cena erótica, que é difícil todo ator diz que é fácil mas é com o tempo que você vai conseguindo. Teve essa cena que eu transava com a menina no celeiro, que o cara matava a menina, ele tirava o coração dela e esfregava na minha cara. Por isso, o filme se chama “Coração”. Esse coração era de verdade, era de um porco. O cara pegou e na hora de gravar a cena usou mesmo (rindo). Acho que hoje eu não toparia mais fazer um negócio desse.

Z- Fedia muito o coração ?

JO- Muito.

Z- Quanto tempo demorou pra fazer essa cena ?

JO- Um dia inteiro. Essa cena do coração foi rápida, mas me lembro que eles foram num abatedouro lá, pegaram o coração de um porco e usaram na cena. Aí era mais ou menos assim: eu estava transando com a menina num celeiro e o cara matava a menina e eu saia correndo. Ele ia atrás de mim com os capangas dele e pegava o coração, como se fosse da menina e ficava esfregando na minha cara. Eu ficava com a cara toda vermelha de sangue. Eu acho que ainda tenho fotos disso, dessa cena que eu gravei. Hoje eu não faria.

Z- Foi no Rio ou em Natal esse curso ?

JO- Foi em Natal. Eu já estava morando no Rio, na época mas eu estava passando férias em Natal e aproveitei pra fazer essa oficina. Foi na semana do meu aniversário em 95, mas foi legal, muito legal.

Z- Que filmes da Boca te impactaram mais ?

JO- Os do Mojica, sou fã de carteirinha dele. O primeiro “A Meia-Noite Levarei Sua Alma”. “Delírios de Um Anormal” que tem cenas de todos os filmes dele. Os filmes do Mojica: “Esta Noite Encarnarei No Teu Cadáver”. David Cardoso também são muito bons: “Pornô”. Não vi tantos dele mas “Dezenove Mulheres e Um Homem”, que é legal. Tem um filme muito legal chamado “A Reencarnação do Sexo” do Luiz Castellini com a patrícia Scalvi que é uma mistura de pornô, erótico com filme de terror mas muito criativo. Os filmes do Alfredo e do Juan Bajon eu gosto porque são filmes pornôs com música clássica, eles procuravam dar um tom maior nos filmes.

Z- Do Mário Vaz Filho você não gosta tanto ?

JO- O Mário Vaz Filho, ele é bem popular. Os que eu vi dele: “Abre As Pernas Coração’, os filmes dele era bem popular mas tinha seu charme também. “A Grande Trepada”...Inclusive ele está nesse filme “A Reencarnação do Sexo”.

Z- Ele atua e foi assistente de direção. Do Cláudio Cunha você gosta ?

JO- Cláudio Cunha só conheço “Rebuceteio”, que eu gostei algumas cenas. O Jean Garret é ótimo “O Gozo Alucinante”, na minha opinião o melhor filme pornô brasileiro se você levar em conta a história do filme, produção, equipe técnica que tem cenografia de Campelo Neto. Fotografia é do Carlão Reichenbach, a Débora Muniz além de bonita uma ótima atriz. E o filme tem toda uma história, bem criativo. Na minha opinião, o melhor filme brasileiro pornô é “Gozo Alucinante” do Jean Garret.

Z- Mas seu diretor preferido seria o Mojica ?

JO- Meio a meio, Mojica e David Cardoso. São os melhores porque eles tinham grande senso comercial de fazer um filme mesmo que eles sabiam que ia se pagar, que ia bem no cinema.

Z- Essa ligação sua com o cinema da Boca você teve ligação com outras pessoas que gostavam de cinema da Boca ? Ou era uma coisa mais sua ?

JO- Engraçado, antigamente quando eu falava que gostava de cinema da Boca todo mundo ficava rindo: “Pô, punheteiro !”. Ficavam malhando. Hoje eu vi que tem muita gente que gosta do cinema da Boca. Estou conhecendo essas pessoas pelo site de relacionamentos Orkut e estou percebendo na internet que tem muita gente que gosta. Se vê que tem muita gente que gosta porque todo o dia no Canal Brasil se passa uma pornochanchada, então tem um público que gosta desses filmes. Outra coisa que eu fiquei surpreso, um cara da minha idade, trinta e poucos, quarenta e poucos que gosta de pornochanchada, beleza. Mas essa geração mais nova, eu fiquei surpreso dessa geração mais nova gostar. Eu achei que essa geração não gostava mas tem uma galera que gosta desses filmes.

Z- Quais são as grandes musas da Boca pra você ?

JO- Pra mim, Helena Ramos que eu acho que é de todas a mais bonita. Com cara de japonesa mas pelo que eu sei ela não é descendente de japoneses, mas de índio parece. A Matilde, hoje eu não gosto dela porque vejo ela falando mal de pornochanchada, guspindo no prato que comeu, não gosto quando ela fala que a pornochanchada eram filmes ruins, que as pessoas não tinham talento. Acho que ela está assim guspindo no prato que comeu. Mas antigamente, ela era bonita, mas hoje está gorda e velha. Aldine...era muito bonitinha uma das únicas que sobreviveu, fez novelas depois. E Patrícia Scalvi, cara...Nicole Puzzi. Eu acho que as melhores em matéria de atuar, que eram boas atrizes mesmo era Patrícia, que sobrevive hoje como dubladora e a Nicole Puzzi. Essas eram realmente boas atrizes. Mas tinham muitas atrizes que só estavam ali porque eram gostosas, que eram bonitas.

Z- Quais por exemplo ?

JO- Maristela Moreno, Sônia Garcia, Alvamar Taddei. Não acho que elas tenham muitos méritos artísticos não.

Z- Fala um pouco como foi sua experiência trabalhando na TV de Natal...

JO- Foi quando eu estava na faculdade, eu trabalhei na TV Universitária que transmiti os programas da TV Cultura e da TV Educativa. Tem um telejornal diário, que eu trabalhava TV Notícias. Eu trabalhava mais com pauta e produção, mas trabalhava em reportagem também. Os temas eram de cidade, cotidiano as coisas que estavam acontecendo em Natal. Eu fazia algumas entrevistas mas ficava mais na parte da produção. Em um ano que eu fiquei lá, eu procurei aprender de tudo um pouco para tentar trabalhar numa emissora de televisão.

Z- Como foi um outro emprego interessante seu, no Consulado da Holanda em Natal.

JO- É, foi um dos últimos empregos que eu tive lá. Trabalhei lá no Consulado, era parte mais de atendimento. O pessoal que estava indo morar na Holanda, pessoal que estava indo viajar, os estrangeiros que estavam precisando de orientação sobre a cidade, de serviços tipo como pedir um passaporte a gente orientava, entrava em contato com a Embaixada em Brasília. Quando necessário, a gente fazia um novo passaporte mas era mais isso, a parte de atendimento mesmo.

Z- Teve alguma história mais maluca nessa emprego ? Algum turista perdido ?

JO- Não.

Z- Você veio pra São Paulo pra conhecer essas pessoas da Boca ?

JO- Também, porque eu queria conhecer, morar aqui. Eu morei muito tempo no Rio, conhecia o mercado de trabalho no Rio, queria conhecer o mercado de trabalho aqui.

Z- E você está achando mais fácil ? Mais difícil ?

JO- Difícil é em toda parte mas aqui pelo menos eu estou conhecendo todo esse pessoal da Boca que eu sempre tive vontade de conhecer. Eu futuramente pretendo escrever um livro sobre a Boca e eu estou conhecendo esse pessoal, as primeiras oportunidades estão aparecendo.


Judson Ovídio e sua musa Helena Ramos

Z- Como foi a primeira vez que você esteve com a Helena Ramos aqui em São Paulo ?

JO- Ah...Isso foi a segunda vez que eu vim a São Paulo. Ela estava entrando num parque pra correr. Aí eu vi e corri atrás dela. Eu falei: “Poxa, você não é Helena Ramos ?”. Ela: “Sou”. Eu pedi pra tirar uma foto com ela, mas ela falou que estava suada. Eu falei que ela estava linda, pra gente tirar a foto. Aí a gente foi tirar a foto e eu lembro que dentro do parque, o cara pra tirar a foto, a gente aqui. Na hora que a gente estava tirando a foto um carro da polícia passou na frente. A gente tirou duas fotos, eu conversei um pouco com ela mas a impressão que eu tenho é que ela estava um pouquinho assustada. Ás vezes, eu acho que essas ex-atrizes, atrizes de pornochanchada pensam que os fãs são tudo tarados, que vão estuprar elas, sei lá. A gente não conversou muito mas foi legal.

Z- A Helena seria a sua grande musa ? Você acha ela uma atriz injustiçada ?

JO- Não sei lá cara...Tem filmes que ela está bem, tem filmes que ela não está muito bem. Gosto muito da Helena e da Patrícia Scalvi, elas são minhas preferidas mesmo.

Z- Elas estão entre as pessoas que você quer entrevistar da Boca ?

JO- Ainda vou entrevistá-las.

Z- Como você está planejando esse livro que você vai fazer da Boca ?

JO- Um livro bem descontraído, nada assim muito sério ou acadêmico, uma coisa bem descontraída. Na verdade, é uma transcrição de conversas que eu vou ter com esse pessoal da Boca: diretores, atrizes. E a partir daí quem lê tem um pequeno panorama de como era aquilo ali. Mas eu não queria fazer dados técnicos tipo ano tal foram feitos não sei quantos filmes. Eu não quero uma coisa técnica, acadêmica. Eu quero na verdade uma coisa bem tranqüila.

Z- Mostrar o lado mais humano ?

JO- Também.

Z- O lado histórico e humano ?

JO- Através das entrevistas as pessoas terem uma noção do que era o cinema da Boca.

Z- Tem alguma pessoa especial que você esteja procurando a muito tempo pra entrevistar e não está achando ?

JO- Eu gostaria de entrevistar o Juan Bajon, mas parece que ele não está muito aberto pra dar entrevista não. Mas o resto do pessoal com calma eu vou entrando em contato, porque esse negócio do livro não é pra logo tem tempo ainda.

Z- O que você acha da Zingu! ? O que acha de estar colaborando com ela ?

JO- Gosto pra caramba da Zingu!. Porque é uma revista de cultura alternativa, tem de tudo: cinema, literatura, música eu gosto. É muito legal escrever.

Z- Como foi seu famoso encontro com a Ângela Rô Ro ?

JO- Ah...a Rô Ro faz tempo. Isso faz muito tempo mesmo. Ela foi fazer um show em Natal e depois eu fui no camarim falar com ela, super simpática. Pedi pra tirar uma foto com ela e ela estava sentada numa cadeira. Aí eu falei pra ela levantar pra tirar a foto. Ela falou: “Não, senta aqui no meu colo”. Não foi no colo, mas no braço da cadeira mas quem via a foto parecia que eu estava no colo dela. Ela foi super simpática, adorei ela. Super receptiva. Ela estava com um sapato com a bandeira do Brasil, bem extravagante. Mas ela é um doce, super simpática.

Z- Teve outras pessoas famosas que você conheceu ?

JO- Marília Gabriela. Eu a conheci na gravação de “Senhora do Destino”. Ela foi super simpática. Eu comentei que ela parecia com a Lenny Lenox e ela adorou. Tem artistas que alguns dias estão de bom humor, tem dia que estão de mau humor. Alguns que eu conheci foram bem simpáticos como a Ângela, a Marília Gabriela. Deixa eu ver quem mais ? Esse pessoal da Boca são bem simpáticos.

Z- Você também é ator. Você chegou a fazer teatro ?

JO- Fiz teatro, cheguei a cursar artes cênicas lá em Natal durante um tempo, pouco tempo. Aí eu comecei a fazer teatro, no Rio eu fiz figuração, elenco de apoio em algumas novelas e fiz uma peça infantil. Nessa peça eu fazia papai Noel, engraçado que na época eu era magrinho e a roupa era muito pesada, tinha que colocar uma almofada muito grande, a barba. Teve um dia, eu acho que no segundo dia da peça que era a barba e o bigode postiço, que era separado aí um emendou no outro e eu nem conseguia falar o texto. Deu vontade de sair correndo do palco. Era peça infantil mesmo: “O Seqüestro do Papai Noel”. Era dos brinquedos que ele distribuía e resolviam seqüestrar ele, bem interessante.

Z- Por que você não fez mais peças ?

JO- Eu na época morava com minha família lá e não dava grana. As peças que eu estava fazendo não estava me dando tanto dinheiro então preferia fazer mesmo elenco de apoio e figuração nas novelas que se pagava. Não era muita coisa, mas se pagava.

Z- Como surgiu a oportunidade de você fazer figuração ?

JO- Tem as agências no Rio que cadastram atores. Eu me cadastrei e me chamaram.

Z- Fala um pouco como é o dia de vida de um figurante.

JO- Depende do tipo de gravação. Se é pra se gravado durante o dia, você precisa geralmente chegar geralmente seis horas da manhã. Dão aquele lanche e você passa o dia inteiro gravando. Mas é divertido, porque você vê os artistas e se sente mesmo numa cena de cinema. Porque aqui no Brasil a Hollywood brasileira são as novelas da Rede Globo, e é muito interessante você vê o processo de gravação, vê como é a gravação das novelas.


Judson e Marília Gabriela

Z- Você participou de quais novelas ?

JO- Fiz “Senhora do Destino”, “Chocolate Com Pimenta”. Fiz filmes também, o filme do JK do Zelito Viana que ainda não estreou. É um episódio da vida do Juscelino, o José de Abreu fazia ele. Parece que sobre um caso que ele teve com uma mulher...Princesa o nome dela.

Z- Qual o seu papel no filme ?

JO- Eu faço elenco de apoio, faço o papel de um intérprete dele.

Z- Quem faz a Princesa ?

JO- A Mariana Ximenes.

Z- Como é trabalhar com ela ?

JO- Na cena que eu estava, ela não tava. Mas falaram que ela é simpática.

Z- Fala um pouco do seu papel na “Senhora de Um Destino”. Você entregava um negócio...

JO- Eu era recepcionista. Era engraçado, porque acho que era o primeiro capítulo em que a Marília Gabriela vai falar com o Carlos Lacerda lá no hotel Glória, que é um hotel tradicional do Rio. Eu era o recepcionista. Engraçado porque na hora de gravar a cena o pessoal da recepção tinha que sair um pouco de perto e a gente ficava mesmo pra gravar. Tem hóspede que chegou lá e veio falar comigo como se eu fosse recepcionista do hotel (risos). Isso foi engraçado. Era uma cena que ela ia na recepção, nada em especial.

Z- Em “Chocolate com Pimenta você fez o que ?

JO- Era uma cena com Mariana Ximenes, que ela era a Ana Francisca na novela. Uma cena de tribunal que ela ia ser julgada, só figuração mesmo. Eu estava parado lá feito poste, eu era um dos guardas do júri.

Z- Nesse filme recente do Marcos Palmeira o que você fez ?

JO- Figuração. Esse filme é muito legal, eu pessoalmente recomendo a todos os fãs de pornochanchada pra assistir porque em alguns momentos tem um pouco do humor escrachado e erotismo das pornochanchadas. E tem mulheres muito bonitas: Fernanda Paes Leme, Flávia Alessandra. É a história do Ojuara, que é um Macunaíma potiguar e ele é casado com uma mulher que reprime ele. Ele resolve se separar e sair por aí curtindo a vida e o Diabo fica perseguindo ele. É bem interessante e ele fica pegando as mulheres, bem legal o filme. Eu estou numa cena em que o Marcos Palmeira, o Ojuara está transando com a Fernanda Paes Leme no quarto e chega o amante dela que quem faz é o Otto. Os dois saem na porrada num cabaré e eu estou nessa cena, é só figuração mesmo.

Z- Não fala nada ?

JO- Não.

Z- Você continua na agência ? Você continua nesse meio ?

JO- Aqui em São Paulo eu não fiz nada. Estou procurando, mas aqui estou procurando mais a parte de jornalismo mesmo.

Z- O que é mais difícil Judson: ser ator ? Ser jornalista?

JO- Os dois são complicadas. Se eu pudesse seria ser só ator, mas eu me formei em jornalismo pra ter uma segurança, uma profissão. Mas a profissão de jornalismo é tão insegura como a de ator, complicada pra caramba.

Z- Você se arrepende de alguma coisa ?

JO- De muitas (risos). Todo mundo tem arrependimento sim, mas depende como você liga com eles. Eu tenho mas caguei, sigo em frente. Remendar o que eu ainda puder remendar, desfazer o que eu puder desfazer e seguir em frente.

Z- Quais os seus próximos projetos futuros além do livro ?

JO- Voltar a trabalhar como ator. Vê se eu consigo entrar em algum grupo de teatro, participar de curtas, de filmes aqui em São Paulo.

Z- Colaborar na Zingu! ?

JO- Lógico, isso aí sempre. E futuramente escrever um livro sobre a Boca. Mas o livro não vai ser sobre a Boca, vai ser na verdade meio que a história no cinema erótico no Brasil no início dos anos 80 até aqui. Vai ser uma coisa mais ou menos com a Zingu!, bem descontraída, bem tranqüila e sem nenhuma preocupação de seguir um padrãozinho certinho.

Papo Furado Especial

Hobby: Ouvir música
Um ídolo: José Mojica Marins
Um cineasta: Wes Craven
Um filme: “Carandiru” de Hector Babenco
Uma música: “João e Maria” Chico Buarque
O que você acha de estar colaborando às vezes com a Zingu!: Muito legal. Pena se eu tivesse computador em casa eu colaborava mais, mas eu gosto. Eu adoro escrever para a Zingu!.



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