Direção: Joe D’Amato
Itália, 1977.
Em sua jornada pelos extremos do Cinema Exploitatio nosso amado Mestre Joe D’Amato não poderia deixar de contribuir para o deleite de seus fãs com um exemplar dos famigerados Filmes de Canibais Italianos. Antes de Ruggero Deodato assombrar o mundo com o clássico Cannibal Holocaust, D’Amayo, em 1977, ambientou uma história absolutamente bizarra na selva amazônica. Emanuelle e Gli Ultimi Cannibali aka Emanuelle and The Last Cannibals é mais um filme da série Black Emanuelle onde Laura Gemser interpreta a aventureira repórter nova-iorquina que está sempre em busca de reportagens perigosas e repletas de sensualidade e mistério. Depois do impactante Emanuelle in América, resenhado nessa Coluna na Zingu #2, testemunhamos a investigação de Emanuelle em um hospital onde descobre uma jovem enlouquecida que se transfigurou em canibal após uma traumática viagem à Floresta Amazônica.
A máquina fotográfica de Emanuelle oculta em uma boneca é uma tirada genial do roteiro. Ao acariciar a jovem canibal durante a noite descobre em seu ventre uma pintura tribal ligada aos mitos pré-colombianos da América do Sul. A sequência dessa descoberta só perde em bizarrice para a abertura no Hospital onde uma enfermeira tem o seio arrancado pela tal jovem. Tudo isso depois das créditos iniciais mostrando paisagens urbanas de Nova Iorque com trilha-sonora Disco-Brega de Nico Fidenco, o principal trilheiro dos filmes de D’Amato. Ao investigar o tal símbolo tribal pintado no ventre da jovem canibal Emanuelle vai para o Museu de História Natural ao encontro do Prof Mark Lester, interpretado por Gabriele Tinti, recém casado com Laura Gemser. Logo rola um caso entre os dois e o fato de estarem casados na vida real aumenta a atmosfera de sensualidade entre os dois nas muitas cenas de sexo que irão protagonizar durante o filme.
Um detalhe interessante é que em uma das cenas do encontro inicial entre Emanuelle e o Prof Lester, ele mostra para ela um filme sobre os costumes de uma tribo africana onde um casal de adúlteros é punido e posteriormente aparece a insinuação de que o pênis do adúltero teria sido devorado ritualisticamente. O tal filme antropológico é na verdade um trecho do “Documentário”, NOITES ERÓTICAS DO MUNDO, que chegou a ser exibido no Brasil e onde são mostradas “curiosidades” sobre a sexualidade humana ao redor do mundo. O tal trecho com as cenas da punição do casal de adúlteros na África é, obviamente, falso, como muitas cenas desse tipo de “Documentário” Mondo, produzidos em larga escala na Itália e que desembocaram nas famigeradas séries FACES DA MORTE e FACES OF GORE.
A cena de Emanuelle e sua nova amiga loirinha se banhando no rio é de puro fetichismo, mesclada a bizarra imagem de um Chimpanzé, em plena Selva Amazônica, fumando Marlboro, sim, isso mesmo que vocês leram. Elementos clássicos de filmes de ação e aventura na selva aparecem: ataques de cobras, areia movediça e o tempo todo nossos aventureiros são observados da mata. Um casal e seu guia se juntam ao grupo. A sequência da mulher na selva transando com o seu guia negro é puro clichê de Cinema Erótico, mas diverte. O ataque dos canibais devorando a pobre Irmã Ângela viva é um dos momentos mais inacreditáveis e absurdos da filmografia de D’Amato. A atriz Annamaria Clementi, que interpreta a Irmã Ângela, deve ter deletado de seu curriculum essa participação no filme de D’Amato. As figuras que interpretam os canibais são muito toscas e seu “dialeto” não tem o menor sentido.
A parte final de EMANUELLE AND THE LAST CANNIBALS guarda os momentos mais “emocionantes” da história. A cenografia até que se esforçou na construção da aldeia indígena. D’Amato sabe construir atmosferas doentias e chocar o público com cenas cada vez mais extremas. O homem partido ao meio por cordas cria um dos piores e mais toscos efeitos especiais de toda História do Cinema Exploitation, mas ao mesmo tempo temos mutilação genital extrema mostrada com requintes de sadismo na montagem da sequência. O “Ritual de Fertilidade” seria citado posteriormente em EATEN ALIVE de Umberto Lenzi e a cena onde Emanuelle surge das águas do rio com a pintura tribal no ventre é de grande força e beleza, mostrando todos os extremos de D’Amato que vai da abjeção total, ao poético/sublime.
Menos barroco do que Emanuelle in America, onde D’Amato aturou para todos os lados, Emanuelle and The Last Cannibals é mais centrado na sai mistura de filmes de aventura na selva, horror e erotismo. Por motivos óbvios o filme teve vários problemas com a censura sofrendo cortes em vários países. Somente agora com a recente edição em DVD do filme é que tivemos acesso ao filme de maneira completa e sem cortes, como o diretor o concebeu. Misturando imagens de locações reais captadas como imagens de arquivo na selva, com cenas rodadas em locação em Nova Iorque e em estúdio na Itália, o filme é um clássico dentro do subgênero italiano dos filmes de canibais, mas é um dos menos conhecidos do grande público devido ao sucesso internacional e comercial de filmes como Cannibal Holocaust e Cannibal Ferox. A transferência da ambientação da trama para a Amazônia, muda o foco dos filmes anteriores ambientados na Ásia em países como Filipinas e Tailâmdis, sem esquecer de Papua Nova Guiné. Para 2008 essa Coluna continua com o foco em outros filmes extremos de outros diretores, mas teremos outras novidades muito interessantes. Aguardem!!!