Entrevista com Beto Ismael
Por Matheus Trunk
Conhecemos Beto Ismael, 45 anos, por seu blog, o Pornochancheiro que destaca de forma corajosa e bem humorada a produção cinematográfica da Boca do Lixo.
Nessa longa e extensa entrevista a Zingu!, Beto conta de seu blog e de sua paixão pela pornochanchada, que o acompanha desde o tempo em que ele era adolescente. Também destaca seu trabalho de operador de câmera, onde pôde atuar em filmes publicitários e institucionais com personagens da Rua do Triunfo como Alfredo Sternheim, Jean Garret, Conrado Sanchez, entre outros.
Por Matheus Trunk
Conhecemos Beto Ismael, 45 anos, por seu blog, o Pornochancheiro que destaca de forma corajosa e bem humorada a produção cinematográfica da Boca do Lixo.
Nessa longa e extensa entrevista a Zingu!, Beto conta de seu blog e de sua paixão pela pornochanchada, que o acompanha desde o tempo em que ele era adolescente. Também destaca seu trabalho de operador de câmera, onde pôde atuar em filmes publicitários e institucionais com personagens da Rua do Triunfo como Alfredo Sternheim, Jean Garret, Conrado Sanchez, entre outros.
Z- Você começou a ver os filmes da Boca na sua cidade natal ?
BI- Não, na minha cidade depois. Tinha o cinema de pornochanchada lá, mas eu vim pra São Paulo com dezoito anos. Então, antes eu não entrava lá pra ver esse tipo de filme. Quando cheguei em São Paulo, o primeiro que eu entrei foi o “Dona Flor e Seus Dois Maridos” no Ipiranga. Aí, passei a freqüentar os cinemas. Quando eu voltava pra minha cidade, eu assistia algumas coisas lá porque Rio Preto tinha alguns cinemas que exibiam pornochanchada. E peguei essa passagem quando os filmes foram esquentando, esquentando até que chegou o explícito.
Z- Que salas aqui em São Paulo você mais freqüentava ?
BI- Assistia muito filme no Marabá, no Windsor, no Cine Dom José. Também faziam lançamento o Ouro que era em frente ao Largo do Paysandu...tinha um que era o Premier na Rio Branco, que virou estacionamento que tinha um pouco também. Basicamente eram esses que faziam lançamento, tinham os menores como o Oásis, que virou Igreja na frente da Júlio de Mesquita, o Cine Globo que virou teatro. Tinha uns dois também no Anhagabaú, que passavam sessões duplas ou passavam pornochanchada com kung fu e nesses geralmente passavam filmes mais antigos. Foi lá que eu tive contato com filmes da Boca mais antigos. Mas também os filmes vinham meio cortados, já meio rodados porque rodavam o Brasil inteiro, vinham pulando. Muitas vezes você ia ver um filme e ele começava a pular. No lançamento não, você pegava o filme fresquinho acabando de sair do laboratório. Mas era comum também os filmes vim com cortes, muitos eu acabei vendo inteiros depois que saiu em fita VHS. Aquele do Ary Fernandes, “Cassino dos Bacanais”, assisti no cinema inteirinho picotado, só vim a assistir ele inteiro em vídeo cassete. E eram mais esses cinemas do centro, do centro praticamente todos passavam pornochanchada. Com o explícito, diminuiu um pouco e se dividiu alguns pra filme explícito e outros pra normal. Eu lembro de noites de lançamento que eram nas segundas-feiras. Peguei várias noites de lançamento, então você via os diretores ali, que na última sessão ia a turma que tinha feito o filme.
Z- Tinha uma diferença muito grande entre o lançamento do David e do Tony por exemplo ?
BI- Não, alguns iam mais gente. O Bajon, eu me lembro que todos os lançamentos ele ia na cabine ou ficava observando. Tive o prazer de assistir “Oh Rebuceteio” e estavam as meninas lá, os atores, o Cláudio Cunha. E tinha outros que não, você percebia que não iam...mas você sempre percebia que tinha um pessoalzinho no saguão da última sessão, acho que na sessão das dez.
Z- Você naquela época chegou a acompanhar crítica de jornal ?
BI- Não, eu acompanhava o lançamento que saia muito no “Notícias Populares”. Normalmente era mais uma chamada, botavam uma foto da atriz, falavam alguma coisa. E eles ficavam também anunciando durante muito tempo. Ia entrar muito numa semana, e de repente não entrava na que estava anunciada. Essas coisas a gente acompanhava por jornal, vinha também a lista de todos os jornais em que salas os filmes passavam.
Z- Mas você não lia crítica ? Não tinha preocupação com isso ?
BI- Não, não. Eu vou te ser sincero, pra mim era um pouco surpresa o que eu assistia no cinema. Eu assistia filme comum quando era criança...
Z- Mas você se apaixonou por cinema na adolescência ?
BI- Sim, com um pouco mais que adolescente porque eu comecei a entrar com dezoito anos. Porque você não entrava mesmo, era difícil você entrar em cinema pra maior. Então, comecei e consegui entrar mesmo depois dos dezoito anos e me surpreendi com essa produção nacional. Alguma coisa em chamava atenção.
Z- E você conseguia ver a diferença na direção de um Ody ? De um Khouri ?
BI- Tinha alguns que eu gostava mais, que eu esperava pra entrar mais o filme. O Fauzi, os filmes do Fauzi que entrava o trailer, você já ficava doido, desesperado porque era o que vinha pela frente. Os do Ody também, que eram produzidos pelo Augusto de Cervantes e mesmo do Galante que eram bem produzidos. Lógico que o que te chamava e levava as pessoas eram as mulheres, você queria ver a mulher pelada. Sem você perceber aquilo ia te tomando pela maneira como era feita o cinema, aquele visual que era novo com a fotografia, por exemplo. Não era o que você via num filme americano e os temas abordados era um negócio diferente. O sexo naquela época era um assunto tabu, que estava deixando de ser tabu, um assunto do momento. Talvez era o que hoje é a violência, o que era naquela época era o sexo. Mas com isso você via uma série de coisas que os caras queriam falar ou saia até sem querer. Talvez até eles não sabiam o que estava caindo ali, mas tinha uma diferença entre o filme nacional e o estrangeiro. Os longas de um realizador como Walter Hugo Khouri, era aparte porque você assistia e percebia que era um filme muito particular, autoral, muito dele mas com aquelas caras da Boca. Então, você conseguia ver uma coisa refinada, bem feita mas as atrizes eram a Matilde Mastrangi, Alvamar Taddei, Sandra Graffi. Enfim, era muito interessante esse momento do cinema dele.
Z- E você via também cinema estrangeiro ou era mais restrito ?
BI- Olha, o filme estrangeiro foi perdendo. Pra te falar a verdade, chegou uma época inclusive que eu passava meio por ignorante por cinema, porque você ia falar em cinema comigo e eu só falava em pornochanchada. Porque eu parei de assistir o filme americano. Um pouco mais o italiano, porque o gênero vem desse país.
Z- Mas você via filme gialli ? Faroeste ?
BI- Não, isso na minha infância. Mas depois que começou...Eu até das pornochanchadas as que eu menos gostava que não me chamava muita atenção era os faroestes, os do Tony e ia mesmo pela Claudete Jobert, digamos assim (rindo). Mas mesmo assim você era pego pelo que você menos esperava, aquela maneira, aquele personagem do Gaiotti. Os personagens que você encontrava, os ajudantes de delegado, o Martos Mathias quando ele aparecia.
Z- Mazzaroppi você via também ?
BI- Mazzaroppi quando criança na minha cidade. Mas num primeiro momento, eu não liguei o cinema da Boca com os filmes do Mazza. Depois eu vim a identificar que muitos técnicos, muita coisa vindo do Mazza tinha relação direta com a Boca.
Z- Do David você gostava também ?
BI- Gostava do David Cardoso. David Cardoso sempre com os filmes bem feitos, bem acabados com a fotografia do Cláudio Portioli. Ele também sempre caprichava no elenco feminino, eu gosto mais das produções que o Ody dirigia, se bem que uma da s histórias que eu mais gosto e que hoje reparei que ele dirigiu que é “O Pasteleiro” do “Aqui Tarados !”. Eu sempre achei que era do John Doo, aquela direção mas é do David. Aquela história é genial, coisa fina.
BI- Não, na minha cidade depois. Tinha o cinema de pornochanchada lá, mas eu vim pra São Paulo com dezoito anos. Então, antes eu não entrava lá pra ver esse tipo de filme. Quando cheguei em São Paulo, o primeiro que eu entrei foi o “Dona Flor e Seus Dois Maridos” no Ipiranga. Aí, passei a freqüentar os cinemas. Quando eu voltava pra minha cidade, eu assistia algumas coisas lá porque Rio Preto tinha alguns cinemas que exibiam pornochanchada. E peguei essa passagem quando os filmes foram esquentando, esquentando até que chegou o explícito.
Z- Que salas aqui em São Paulo você mais freqüentava ?
BI- Assistia muito filme no Marabá, no Windsor, no Cine Dom José. Também faziam lançamento o Ouro que era em frente ao Largo do Paysandu...tinha um que era o Premier na Rio Branco, que virou estacionamento que tinha um pouco também. Basicamente eram esses que faziam lançamento, tinham os menores como o Oásis, que virou Igreja na frente da Júlio de Mesquita, o Cine Globo que virou teatro. Tinha uns dois também no Anhagabaú, que passavam sessões duplas ou passavam pornochanchada com kung fu e nesses geralmente passavam filmes mais antigos. Foi lá que eu tive contato com filmes da Boca mais antigos. Mas também os filmes vinham meio cortados, já meio rodados porque rodavam o Brasil inteiro, vinham pulando. Muitas vezes você ia ver um filme e ele começava a pular. No lançamento não, você pegava o filme fresquinho acabando de sair do laboratório. Mas era comum também os filmes vim com cortes, muitos eu acabei vendo inteiros depois que saiu em fita VHS. Aquele do Ary Fernandes, “Cassino dos Bacanais”, assisti no cinema inteirinho picotado, só vim a assistir ele inteiro em vídeo cassete. E eram mais esses cinemas do centro, do centro praticamente todos passavam pornochanchada. Com o explícito, diminuiu um pouco e se dividiu alguns pra filme explícito e outros pra normal. Eu lembro de noites de lançamento que eram nas segundas-feiras. Peguei várias noites de lançamento, então você via os diretores ali, que na última sessão ia a turma que tinha feito o filme.
Z- Tinha uma diferença muito grande entre o lançamento do David e do Tony por exemplo ?
BI- Não, alguns iam mais gente. O Bajon, eu me lembro que todos os lançamentos ele ia na cabine ou ficava observando. Tive o prazer de assistir “Oh Rebuceteio” e estavam as meninas lá, os atores, o Cláudio Cunha. E tinha outros que não, você percebia que não iam...mas você sempre percebia que tinha um pessoalzinho no saguão da última sessão, acho que na sessão das dez.
Z- Você naquela época chegou a acompanhar crítica de jornal ?
BI- Não, eu acompanhava o lançamento que saia muito no “Notícias Populares”. Normalmente era mais uma chamada, botavam uma foto da atriz, falavam alguma coisa. E eles ficavam também anunciando durante muito tempo. Ia entrar muito numa semana, e de repente não entrava na que estava anunciada. Essas coisas a gente acompanhava por jornal, vinha também a lista de todos os jornais em que salas os filmes passavam.
Z- Mas você não lia crítica ? Não tinha preocupação com isso ?
BI- Não, não. Eu vou te ser sincero, pra mim era um pouco surpresa o que eu assistia no cinema. Eu assistia filme comum quando era criança...
Z- Mas você se apaixonou por cinema na adolescência ?
BI- Sim, com um pouco mais que adolescente porque eu comecei a entrar com dezoito anos. Porque você não entrava mesmo, era difícil você entrar em cinema pra maior. Então, comecei e consegui entrar mesmo depois dos dezoito anos e me surpreendi com essa produção nacional. Alguma coisa em chamava atenção.
Z- E você conseguia ver a diferença na direção de um Ody ? De um Khouri ?
BI- Tinha alguns que eu gostava mais, que eu esperava pra entrar mais o filme. O Fauzi, os filmes do Fauzi que entrava o trailer, você já ficava doido, desesperado porque era o que vinha pela frente. Os do Ody também, que eram produzidos pelo Augusto de Cervantes e mesmo do Galante que eram bem produzidos. Lógico que o que te chamava e levava as pessoas eram as mulheres, você queria ver a mulher pelada. Sem você perceber aquilo ia te tomando pela maneira como era feita o cinema, aquele visual que era novo com a fotografia, por exemplo. Não era o que você via num filme americano e os temas abordados era um negócio diferente. O sexo naquela época era um assunto tabu, que estava deixando de ser tabu, um assunto do momento. Talvez era o que hoje é a violência, o que era naquela época era o sexo. Mas com isso você via uma série de coisas que os caras queriam falar ou saia até sem querer. Talvez até eles não sabiam o que estava caindo ali, mas tinha uma diferença entre o filme nacional e o estrangeiro. Os longas de um realizador como Walter Hugo Khouri, era aparte porque você assistia e percebia que era um filme muito particular, autoral, muito dele mas com aquelas caras da Boca. Então, você conseguia ver uma coisa refinada, bem feita mas as atrizes eram a Matilde Mastrangi, Alvamar Taddei, Sandra Graffi. Enfim, era muito interessante esse momento do cinema dele.
Z- E você via também cinema estrangeiro ou era mais restrito ?
BI- Olha, o filme estrangeiro foi perdendo. Pra te falar a verdade, chegou uma época inclusive que eu passava meio por ignorante por cinema, porque você ia falar em cinema comigo e eu só falava em pornochanchada. Porque eu parei de assistir o filme americano. Um pouco mais o italiano, porque o gênero vem desse país.
Z- Mas você via filme gialli ? Faroeste ?
BI- Não, isso na minha infância. Mas depois que começou...Eu até das pornochanchadas as que eu menos gostava que não me chamava muita atenção era os faroestes, os do Tony e ia mesmo pela Claudete Jobert, digamos assim (rindo). Mas mesmo assim você era pego pelo que você menos esperava, aquela maneira, aquele personagem do Gaiotti. Os personagens que você encontrava, os ajudantes de delegado, o Martos Mathias quando ele aparecia.
Z- Mazzaroppi você via também ?
BI- Mazzaroppi quando criança na minha cidade. Mas num primeiro momento, eu não liguei o cinema da Boca com os filmes do Mazza. Depois eu vim a identificar que muitos técnicos, muita coisa vindo do Mazza tinha relação direta com a Boca.
Z- Do David você gostava também ?
BI- Gostava do David Cardoso. David Cardoso sempre com os filmes bem feitos, bem acabados com a fotografia do Cláudio Portioli. Ele também sempre caprichava no elenco feminino, eu gosto mais das produções que o Ody dirigia, se bem que uma da s histórias que eu mais gosto e que hoje reparei que ele dirigiu que é “O Pasteleiro” do “Aqui Tarados !”. Eu sempre achei que era do John Doo, aquela direção mas é do David. Aquela história é genial, coisa fina.
Z- Com essa relação com a pornochanchada que você pensou em fazer cinema ? Ser câmera ?
BI- Olha, na verdade um pouco. A pornochanchada, o cinema acabou me acompanhando em lugares que eu nunca imaginava. Eu acabei entrando nesse meio de gravação, conversando com um rapaz que já era operador de câmera, que também gostava dos filmes da Boca. Nós nos conhecemos naquele dia e o assunto que apareceu sobre a Boca, então a gente ficou falando sobre técnicos. Um dia esse rapaz precisou de assistente e me chamou. Eu não trabalhava e a gente acabou se identificando justamente por esse assunto. Mas antes, eu não era técnico.
Z- O que você fazia antes ?
BI- Primeiro eu estava numa idade que estava ainda meio faculdade...
Z- Você fez faculdade do que ?
BI- Eu fiz eu acho que um semestre, ou não chegou a um ano de jornalismo da Cásper Líbero. Eu não me lembro muito bem, mas eu matava muita aula pra ir no cinema (risos), então eu não acabei a faculdade. No interior, eu fiz um pouco de teatro amador, fiz um pouco de som em baile. Quando eu vim pra São Paulo, assisti bastante tempo essas pornochanchadas, passou um tempo e foi aí que conheci esse rapaz.
Z- No cinema que você conheceu ele ?
BI- Não. Ele era amigo da minha mãe, eu acho que ele queria namorar a minha irmã (risos). E um dia nós saímos de noite e minha irmã ficou conversando com uma amiga do lado, não deu muita atenção a ele e nós começamos a conversar. Ele tinha acabado de ser mandado embora da TV Cultura, estava entrando num programa independente precisando de um assistente. O assunto que ficou na roda era a pornochanchada, ele gostava muito disso também. Ficamos falando sobre os técnicos, fulano, sicrano.
Z- Você já reparava na fotografia dos filmes ? No trabalho de um Portioli ? Do Toninho ?
BI- Olha, na verdade um pouco. A pornochanchada, o cinema acabou me acompanhando em lugares que eu nunca imaginava. Eu acabei entrando nesse meio de gravação, conversando com um rapaz que já era operador de câmera, que também gostava dos filmes da Boca. Nós nos conhecemos naquele dia e o assunto que apareceu sobre a Boca, então a gente ficou falando sobre técnicos. Um dia esse rapaz precisou de assistente e me chamou. Eu não trabalhava e a gente acabou se identificando justamente por esse assunto. Mas antes, eu não era técnico.
Z- O que você fazia antes ?
BI- Primeiro eu estava numa idade que estava ainda meio faculdade...
Z- Você fez faculdade do que ?
BI- Eu fiz eu acho que um semestre, ou não chegou a um ano de jornalismo da Cásper Líbero. Eu não me lembro muito bem, mas eu matava muita aula pra ir no cinema (risos), então eu não acabei a faculdade. No interior, eu fiz um pouco de teatro amador, fiz um pouco de som em baile. Quando eu vim pra São Paulo, assisti bastante tempo essas pornochanchadas, passou um tempo e foi aí que conheci esse rapaz.
Z- No cinema que você conheceu ele ?
BI- Não. Ele era amigo da minha mãe, eu acho que ele queria namorar a minha irmã (risos). E um dia nós saímos de noite e minha irmã ficou conversando com uma amiga do lado, não deu muita atenção a ele e nós começamos a conversar. Ele tinha acabado de ser mandado embora da TV Cultura, estava entrando num programa independente precisando de um assistente. O assunto que ficou na roda era a pornochanchada, ele gostava muito disso também. Ficamos falando sobre os técnicos, fulano, sicrano.
Z- Você já reparava na fotografia dos filmes ? No trabalho de um Portioli ? Do Toninho ?
BI- Eu via um diferenciado no trabalho dessas pessoas. Na hora que você via o filme era bem visível aquelas produções mais bem-feitas. Mas o que aconteceu naqueles filmes da Boca com o meu trabalho é que eles eram muito primários, então eu comecei a identificar com eles a estrutura de um filme, começo, meio e fim. Enfim, a maneira como você costura um filme. Um longa mais complexo, você não consegue identificar no filme, você teria que ir mais por detrás dos bastidores. Um filme da Boca não: as histórias eram muito parecidas e até na repetição você percebe como eles faziam roteiro, a importância do roteiro, como eles faziam a fotografia, plano aberto, plano fechado. Eram tão parecidos todos, que aquilo acabava entrando como uma aula, a direção da luz, uma iluminação muito simples. Então, você conseguia ver de onde vinha um refletor e aos poucos eu ia usando isso no meu trabalho.
Z- Mas você via Pasolini por exemplo ?
BI- Pasolini sim, gosto muito. O cinema de arte um pouco, porque nesse circuito de pornochanchada passava muito filme estrangeiro de arte, mas por causa de uma nudez, alguma coisa a gente acabava vendo. Assisti muita coisa de susto, mas do Pasolini eu gosto muito da trilogia da vida, dos “Contos de Cantebury”, “As Mil e Uma Noites”.
Z- Tem outro diretor estrangeiro importante pra você ?
BI- Tinto Brass. A primeira vez que vi “Calígula”, fiquei meio...depois vi os outros filme dele. Comecei a achar, me identificar o que vinha de pornochanchada italiana. No circuito nacional vinha esse Landu Buzzanca, alguns filmes que tinham um pouco de explícito mas chegavam todos cortados...O Joe D´Amato...
Z- Jess Franco.
BI- Jess Franco, passava todo cortado e você não sabia bem o que era. Depois, vim a ver eles nem tão cortados. Nesses cinemas de sessão dupla, muitas vezes era um filme estrangeiro e outro. Mas olha, passava longe.
Z- Você ficou grande espectador de cinema de 80 até quando ?
BI- Olha, no cinema de 80 até o final da década. Então, eu peguei o fim da pornochanchada, foi esquentando, esquentando. Começou o explícito com o “Coisas Eróticas” em 1982. Existe inclusive uma confusão com isso, porque ele entrou e ficou muito tempo sozinho porque ele passou pela Censura e os outros não. Passou o “Coisas Eróticas”, depois o “Fome de Sexo” do Ody e por fim “A Pistola Que Elas Gostam” do Alex Prado. Tudo com corte também, mas eles passaram e ficaram nas salas praticamente só eles reinando no centro. O filme do Rafaelle deu mais grana e ficou mais tempo, os outros um pouco menos. Continuaram passando as pornochanchadas, mas a partir de 83, 84 eu lembro que ficou um ano só esses três. Depois os filmes foram entrando com um mandato de segurança que já tinham conseguido com “Império dos Sentidos”, “Calígula”, conseguiram desbloquear e liberar vários filmes sem a famosa certificado de Censura. Abriu a porta e vieram os primeiros pornôs nacionais... “O Analista de Taras”, “Gozo Alucinante”...
Z- Só abrindo um parênteses...você gostava do Jean ?
BI- Gostava. Enfim: “Mulher, Mulher”, tem aquele que ele é ator com a Aldine na praia... “A Fêmea do Mar”. Eu trabalhei com o Jean Garret, e tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente. Nós fomos fazer um documentário sobre o caminhão da Engesa. Foi ele e o Antônio Moreras, como fotógrafo.
Z- Era o negócio pra vender pro Iraque ?
BI- Era sim. Era um caminhão que foi feito em São José dos Campos.
Z- Como era o Jean ?
BI- Um cara legal, gente fina.
Z- Você conversou dos filmes com ele ?
BI- Pasolini sim, gosto muito. O cinema de arte um pouco, porque nesse circuito de pornochanchada passava muito filme estrangeiro de arte, mas por causa de uma nudez, alguma coisa a gente acabava vendo. Assisti muita coisa de susto, mas do Pasolini eu gosto muito da trilogia da vida, dos “Contos de Cantebury”, “As Mil e Uma Noites”.
Z- Tem outro diretor estrangeiro importante pra você ?
BI- Tinto Brass. A primeira vez que vi “Calígula”, fiquei meio...depois vi os outros filme dele. Comecei a achar, me identificar o que vinha de pornochanchada italiana. No circuito nacional vinha esse Landu Buzzanca, alguns filmes que tinham um pouco de explícito mas chegavam todos cortados...O Joe D´Amato...
Z- Jess Franco.
BI- Jess Franco, passava todo cortado e você não sabia bem o que era. Depois, vim a ver eles nem tão cortados. Nesses cinemas de sessão dupla, muitas vezes era um filme estrangeiro e outro. Mas olha, passava longe.
Z- Você ficou grande espectador de cinema de 80 até quando ?
BI- Olha, no cinema de 80 até o final da década. Então, eu peguei o fim da pornochanchada, foi esquentando, esquentando. Começou o explícito com o “Coisas Eróticas” em 1982. Existe inclusive uma confusão com isso, porque ele entrou e ficou muito tempo sozinho porque ele passou pela Censura e os outros não. Passou o “Coisas Eróticas”, depois o “Fome de Sexo” do Ody e por fim “A Pistola Que Elas Gostam” do Alex Prado. Tudo com corte também, mas eles passaram e ficaram nas salas praticamente só eles reinando no centro. O filme do Rafaelle deu mais grana e ficou mais tempo, os outros um pouco menos. Continuaram passando as pornochanchadas, mas a partir de 83, 84 eu lembro que ficou um ano só esses três. Depois os filmes foram entrando com um mandato de segurança que já tinham conseguido com “Império dos Sentidos”, “Calígula”, conseguiram desbloquear e liberar vários filmes sem a famosa certificado de Censura. Abriu a porta e vieram os primeiros pornôs nacionais... “O Analista de Taras”, “Gozo Alucinante”...
Z- Só abrindo um parênteses...você gostava do Jean ?
BI- Gostava. Enfim: “Mulher, Mulher”, tem aquele que ele é ator com a Aldine na praia... “A Fêmea do Mar”. Eu trabalhei com o Jean Garret, e tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente. Nós fomos fazer um documentário sobre o caminhão da Engesa. Foi ele e o Antônio Moreras, como fotógrafo.
Z- Era o negócio pra vender pro Iraque ?
BI- Era sim. Era um caminhão que foi feito em São José dos Campos.
Z- Como era o Jean ?
BI- Um cara legal, gente fina.
Z- Você conversou dos filmes com ele ?
BI- Conversei. Eu todos que conheci, apertei (rindo). Ele soltava um pouco, ele tinha mas sempre querendo falar do presente e do futuro. Mas ele falou bastante. Mas eu só tive esse trabalho com o Jean, parece depois que ele morreu cedo, foi administrador de um teatro. Mas eu gostava dos filmes dele, gostava muito do John Doo, do Bajon.
Z- Do Alfredo também ?
BI- Também. Embora, eu pra falar a verdade goste mais dos filmes explícitos do que dos anteriores. Enfim, tinha muita gente que fazia um, dois filmes e sumia.
Z- O Moreras dizem que era um cara meio difícil. Como era trabalhar com ele ?
BI- O próprio pessoal da Boca diz que ele tinha uma mão meio pesada, digamos assim. Esse trabalho nós tivemos um pouco de dificuldade, porque era painel de caminhão, essas coisas. Agora, o Jean era português também mas ele não tinha muito sotaque, falava assim mas não tinha isso.
Z- Quem mais da Boca você trabalhou junto ?
BI- Todos nessa área de institucional, de documentário. Eu fiz um trabalho com o Alfredo Sternheim, por exemplo.
Z- Era sobre o que ?
BI- Sobre soja. Nós fomos pro interior fazer filme sobre soja.
Z- Com ele você também chegou a falar sobre os filmes da Boca ?
BI- Sim. O Alfredo na verdade foi o primeiro e talvez um dos únicos que falou dessa época com prazer. Inclusive da época do explícito, que não se arrependia. Ele pagou um preço muito alto por isso, todos eles pagaram mas que o gênero dele deu oportunidade pra ele fazer o que gostava. Na verdade, ele queria fazer filme e não se arrependia disso.
Z- Esses trabalhos seus com esse pessoal da Boca foi nos anos 90 ?
BI- Foi nos anos 90. Praticamente a Boca já não existia, talvez na época que ainda existia na década de 80 foi com o pessoal que trabalhava com o Bajon. Ele assinava como Fausto Bogato, e o nome dele era Victor Carvalho, um uruguaio. Eu trabalhava numa produtora de um português, o Antônio. Já era em vídeo mas quem fazia iluminação e a parte técnica era o Victor junto com dois ou três assistentes dele. Como eram comercialzinhos pequenos, algumas vezes ele trazia alguns atores. Eu conheci o Vagner Maciel, uma que não chegou a fazer explícito mas era a Mara Carmen, bem das desconhecidas mas fiquei fã dela. Uma loirinha de cabelo enrolado. Nesses últimos tempos, trabalhei na mesma produtora da Neide Ribeiro, que ela está fazendo um comercial de um supermercado. Gente fina ela...
Z- Você não falou da Boca ?
BI- Não. Ela estava numa produção, eu em outra e não dá pra entrar assim se avisar. Trabalhei com o Conrado, já era começo de 90, um trabalho que ele fazia pros japoneses, depois nós fizemos vários comerciais para o Etapa. Ai levamos o Miro Reis. Através do Conrado e desses contatos que eu conheci a Débora Muniz, que é uma figura que eu gosto bastante, admiro também. Acho que será a nova musa do terror nacional...enfim, fui conhecendo meio picadinho. O Índio eu conheci fazendo teste de VT. O Cecílio Giglioti conheci maquiando numa produção.
Z- Bastante gente. O Mário Lúcio também ?
BI- O Mário Lúcio, trabalhei bastante com ele. Uma figura importantíssima, falo pra ele que ele é uma legenda do cinema nacional, porque afinal metade dos filmes ele está como maquiador. Ele veio do meio da pornochanchada, entrou pelo pornô...dirigiu um filme. Muito gente fina ele. Enfim, depois eu conheci o pessoal da Boca eles meio na Boca mesmo, um pouco mais recente.
Z- Como era a sala de cinema que passava pornochanchada ? As pessoas tem uma imagem meio errada...
BI- Olha, as salas eram normais. Inclusive não eram separadas de pornochanchadas e um filme normal hollywoodiano. O Marabá, na época que lançava filmes tanto que o David Cardoso se vangloriava na época de tirar filmes estrangeiros do Marabá. Quer dizer, deixava de entrar um filme gringo pra entrar um nacional, então eram salas normais a não ser esse circuito “B” onde tinha sessão dupla, onde passavam filmes onde já tinham passado. Era um pouco diferente...ás vezes tinha strip tease entre um filme e outro já em pornochanchada. O Teatro Santana fazia isso...ele já vinha do teatro rebolado. Acho que inclusive era da família do Dino Santana, do Dedé...
Z- Das vedetes, aquela história.
Z- Do Alfredo também ?
BI- Também. Embora, eu pra falar a verdade goste mais dos filmes explícitos do que dos anteriores. Enfim, tinha muita gente que fazia um, dois filmes e sumia.
Z- O Moreras dizem que era um cara meio difícil. Como era trabalhar com ele ?
BI- O próprio pessoal da Boca diz que ele tinha uma mão meio pesada, digamos assim. Esse trabalho nós tivemos um pouco de dificuldade, porque era painel de caminhão, essas coisas. Agora, o Jean era português também mas ele não tinha muito sotaque, falava assim mas não tinha isso.
Z- Quem mais da Boca você trabalhou junto ?
BI- Todos nessa área de institucional, de documentário. Eu fiz um trabalho com o Alfredo Sternheim, por exemplo.
Z- Era sobre o que ?
BI- Sobre soja. Nós fomos pro interior fazer filme sobre soja.
Z- Com ele você também chegou a falar sobre os filmes da Boca ?
BI- Sim. O Alfredo na verdade foi o primeiro e talvez um dos únicos que falou dessa época com prazer. Inclusive da época do explícito, que não se arrependia. Ele pagou um preço muito alto por isso, todos eles pagaram mas que o gênero dele deu oportunidade pra ele fazer o que gostava. Na verdade, ele queria fazer filme e não se arrependia disso.
Z- Esses trabalhos seus com esse pessoal da Boca foi nos anos 90 ?
BI- Foi nos anos 90. Praticamente a Boca já não existia, talvez na época que ainda existia na década de 80 foi com o pessoal que trabalhava com o Bajon. Ele assinava como Fausto Bogato, e o nome dele era Victor Carvalho, um uruguaio. Eu trabalhava numa produtora de um português, o Antônio. Já era em vídeo mas quem fazia iluminação e a parte técnica era o Victor junto com dois ou três assistentes dele. Como eram comercialzinhos pequenos, algumas vezes ele trazia alguns atores. Eu conheci o Vagner Maciel, uma que não chegou a fazer explícito mas era a Mara Carmen, bem das desconhecidas mas fiquei fã dela. Uma loirinha de cabelo enrolado. Nesses últimos tempos, trabalhei na mesma produtora da Neide Ribeiro, que ela está fazendo um comercial de um supermercado. Gente fina ela...
Z- Você não falou da Boca ?
BI- Não. Ela estava numa produção, eu em outra e não dá pra entrar assim se avisar. Trabalhei com o Conrado, já era começo de 90, um trabalho que ele fazia pros japoneses, depois nós fizemos vários comerciais para o Etapa. Ai levamos o Miro Reis. Através do Conrado e desses contatos que eu conheci a Débora Muniz, que é uma figura que eu gosto bastante, admiro também. Acho que será a nova musa do terror nacional...enfim, fui conhecendo meio picadinho. O Índio eu conheci fazendo teste de VT. O Cecílio Giglioti conheci maquiando numa produção.
Z- Bastante gente. O Mário Lúcio também ?
BI- O Mário Lúcio, trabalhei bastante com ele. Uma figura importantíssima, falo pra ele que ele é uma legenda do cinema nacional, porque afinal metade dos filmes ele está como maquiador. Ele veio do meio da pornochanchada, entrou pelo pornô...dirigiu um filme. Muito gente fina ele. Enfim, depois eu conheci o pessoal da Boca eles meio na Boca mesmo, um pouco mais recente.
Z- Como era a sala de cinema que passava pornochanchada ? As pessoas tem uma imagem meio errada...
BI- Olha, as salas eram normais. Inclusive não eram separadas de pornochanchadas e um filme normal hollywoodiano. O Marabá, na época que lançava filmes tanto que o David Cardoso se vangloriava na época de tirar filmes estrangeiros do Marabá. Quer dizer, deixava de entrar um filme gringo pra entrar um nacional, então eram salas normais a não ser esse circuito “B” onde tinha sessão dupla, onde passavam filmes onde já tinham passado. Era um pouco diferente...ás vezes tinha strip tease entre um filme e outro já em pornochanchada. O Teatro Santana fazia isso...ele já vinha do teatro rebolado. Acho que inclusive era da família do Dino Santana, do Dedé...
Z- Das vedetes, aquela história.
BI- Isso. Já era de outra história, época do teatro de rebolado, que aí também já não é da minha época (rindo). Mas na minha época tinha o teatro rebolado já decadente com um filme. As salas comuns, o Marabá por exemplo era comum e o público era interessante. A grande maioria era homem, masculino. Tinha muita gente engravatado, que você percebia que era do centro que o pessoal trabalhava em escritório de advocacia, porque era uma região que tinha Ministério do Trabalho, fórum tudo isso. Eu falava até uma brincadeira que a metade dos amantes da pornochanchada hoje são tudo advogados (risos). Na época eram todos office-boys que deviam fugir da hora do trabalho, enrolar um tempo. As salas estavam sempre cheias, não eram vazias não. Os lançamentos, o primeiro dia, a primeira semana quando entrava em cartaz tinha bastante gente. É gozado porque mulher você via pessoal de idade, sempre tinha uns casais de gente já de idade, deviam ser amantes, alguma coisa. Os dois, homem e mulher velhos, era muito gozado e sempre tinha isso. No fundo, uns dois, três casais namorando, sempre de idade. Então, acho que as espectadoras dessa época ou estão com noventa anos ou já morreram (rindo). E era esse público.
Z- Mas não ia muito pessoal em grupo ?
BI- Não. Não tinha isso de gente fazendo sexo como costumam falar por aí.
Z- E quando entra o explícito ?
BI- Quando o explícito entra, ele entrou com uma idéia no ar da sala especial. Essa seria uma sala só pra esse tipo de filme, se esperava que iam ganhar muito dinheiro com isso e durante muito tempo ficou com essa discussão. Então, algumas salas seriam só pro explícito. O que aconteceu: como esses filmes acabaram entrando com mandato judicial, toda essa discussão foi atropelada e na hora que se conseguiu uma nota judicial, a sala que estava a disposição entrou no explícito. Entrou mais ou menos nesse circuito que rodava a pornochanchada. Quer dizer, não foi muito nos cinemas na Paulista, se manteve mais no centro. Já tinham alguns cinemas na Paulista como o Gazeta, tinha aquele que era enorme no Conjunto Nacional, tinha algumas salas.
Z- Mas não passava pornochanchada nesses cinemas da Paulista ?
BI- Pouco, viu. Passava em alguns cinemas de bairro, e nas cidades você via no interior sempre na cinelândia do centro da cidade.
Z- Em São José do Rio Preto passava ?
Z- Mas não ia muito pessoal em grupo ?
BI- Não. Não tinha isso de gente fazendo sexo como costumam falar por aí.
Z- E quando entra o explícito ?
BI- Quando o explícito entra, ele entrou com uma idéia no ar da sala especial. Essa seria uma sala só pra esse tipo de filme, se esperava que iam ganhar muito dinheiro com isso e durante muito tempo ficou com essa discussão. Então, algumas salas seriam só pro explícito. O que aconteceu: como esses filmes acabaram entrando com mandato judicial, toda essa discussão foi atropelada e na hora que se conseguiu uma nota judicial, a sala que estava a disposição entrou no explícito. Entrou mais ou menos nesse circuito que rodava a pornochanchada. Quer dizer, não foi muito nos cinemas na Paulista, se manteve mais no centro. Já tinham alguns cinemas na Paulista como o Gazeta, tinha aquele que era enorme no Conjunto Nacional, tinha algumas salas.
Z- Mas não passava pornochanchada nesses cinemas da Paulista ?
BI- Pouco, viu. Passava em alguns cinemas de bairro, e nas cidades você via no interior sempre na cinelândia do centro da cidade.
Z- Em São José do Rio Preto passava ?
BI- Passava.
Z- O que se tornaram essas salas hoje ?
BI- Hoje, as salas de Rio Preto são de shopping. Talvez dois de rua continuaram sendo de rua, mas reformados perderam a platéia, ficaram pequenos. Um inclusive virou cinema de arte e tem alguém que insiste em continuar com a sala, algum cinéfilo. Mas enfim, as salas de Rio Preto, de todo interior e do Brasil inteiro acabaram tendo a mesma sina. Ou viraram estacionamento, supermercado. Por exemplo, algumas salas inteiras que não estejam em atividade o cinema você não encontra mais. Talvez você encontra o Marabá, o Windsor e o Cine Dom José. Esses não mudaram por dentro, que não foram reformados. Teve uma época que eles reformaram todos esses cinemas do centro. Todos os outros da minha época como o Ipiranga já estava divididas as salas. Ele tinha dois mezaninos, virou um cinema estragaram. Um dos cinemas que o meu pai conta que era maravilhoso era o Marrocos, que está fechado agora. Esse tinha dois mezaninos, fizeram um cinema de cima, outro embaixo, os dois ficaram embaixo, estragaram o saguão. O saguão do Marrocos é maravilhoso, no auge você tinha que ir lá de terno, tinha orquestra recepcionando as pessoas. Está fechado, mas hoje poderia ser um teatro tranquilamente. Tem capacidade, uma platéia e um espaço que você não acha mais desse tamanho.
Z- Você gostava muito de pornochanchada. Como foi a sua relação com o explícito ?
BI- É lógico que a você assistindo pornochanchada, você insistia pras cenas irem esquentando cada vez mais. A gente queria ver o explícito na verdade.
Z- Houve uma comemoração nos cinemas ?
Z- O que se tornaram essas salas hoje ?
BI- Hoje, as salas de Rio Preto são de shopping. Talvez dois de rua continuaram sendo de rua, mas reformados perderam a platéia, ficaram pequenos. Um inclusive virou cinema de arte e tem alguém que insiste em continuar com a sala, algum cinéfilo. Mas enfim, as salas de Rio Preto, de todo interior e do Brasil inteiro acabaram tendo a mesma sina. Ou viraram estacionamento, supermercado. Por exemplo, algumas salas inteiras que não estejam em atividade o cinema você não encontra mais. Talvez você encontra o Marabá, o Windsor e o Cine Dom José. Esses não mudaram por dentro, que não foram reformados. Teve uma época que eles reformaram todos esses cinemas do centro. Todos os outros da minha época como o Ipiranga já estava divididas as salas. Ele tinha dois mezaninos, virou um cinema estragaram. Um dos cinemas que o meu pai conta que era maravilhoso era o Marrocos, que está fechado agora. Esse tinha dois mezaninos, fizeram um cinema de cima, outro embaixo, os dois ficaram embaixo, estragaram o saguão. O saguão do Marrocos é maravilhoso, no auge você tinha que ir lá de terno, tinha orquestra recepcionando as pessoas. Está fechado, mas hoje poderia ser um teatro tranquilamente. Tem capacidade, uma platéia e um espaço que você não acha mais desse tamanho.
Z- Você gostava muito de pornochanchada. Como foi a sua relação com o explícito ?
BI- É lógico que a você assistindo pornochanchada, você insistia pras cenas irem esquentando cada vez mais. A gente queria ver o explícito na verdade.
Z- Houve uma comemoração nos cinemas ?
BI- Houve uma comemoração, mas num momento logo ali depois houve uma certa tristeza porque se perdeu a estrutura como era feita o filme. Eu, por exemplo no meu caso sonhava ver uma pornochanchada com cenas de sexo explícito. Isso aconteceu muito no começo só, você percebe em “Fome de Sexo”, “Gozo Alucinante”, os primeiros filmes ali. Tem um do Ody, você percebe que são ainda historinhas, três episódios, o que era comum na pornochanchada. Isso vinha do cinema italiano, mas eu adorava isso, era um negócio...se você não gosta de uma história, você gosta de outra. Ou então é o mesmo assunto com a visão de três diretores, genial. E o pornô perdeu isso aí, ele não levou a estrutura cinematográfica, a estrutura de filme da pornochanchada. Ele teve que competir com o cinema americano pornô, que já tinha quase uma década sendo feito. Era muito bem realizado os filmes americanos, os filmes explícitos gringos tinham um nível melhor que os comuns como diálogos, iluminação e tudo mais. O pornô americano começa em 70, “Garganta Profunda” é 71, por aí. O explícito começou em 82 no Brasil, e esses filmes não chegavam por causa da Ditadura e não tinha Internet, não tinha como entrar. Através desse mandato de segurança entraram os filmes brasileiros mas também entraram os americanos que já estavam prontos, não tinha que realizar a produção, gastar com filme. Num período muito curto de tempo, a estrutura mudou. Então, houve uma comemoração da chegada do sexo explícito em que você vê a cena mesmo, mas aquele tipo de cinema, aquela comédia foi embora.
Z- Depois de um tempo você percebeu ?
BI- Muito rápido. Eu percebi muito rápido. Fiquei me sentindo meio órfão, isso meados de 85, 86 quando o pornô descamba pra outro lado. São poucos os produtores que mantém uma produção mais bem elaborada que é o Bajon na Galápagos e a Alfa Filmes do senhor Victor Triunfo. Esses mantiveram pelo menos uma boa fotografia, histórias e os outros não discuto pro mérito dos filmes, mas partiram mais pra apelação pra poder enfrentar a bilheteria do cinema estrangeiro americano, francês, italiano que na verdade se inverteu. Na época da pornochanchada, quem tirava o filme americano do Marabá e dos outros cinemas era os filmes da Boca. Com a pornografia se inverteu: o filme nacional já não conseguia pegar lugar. Os principais cinemas ficavam com o filme estrangeiro e o nacional já tinha um pouco mais de dificuldade. Houve também uma mudança nas salas: elas ficaram mais restritas ao pornô. As que eram do pornô, era do pornô mesmo. Eu acho inclusive que o cine Marabá, por exemplo poucos explícitos foram lançados lá, continuou exibindo filmes normais. O Windsor continua pornô até hoje, o Dom José também mas aí já começou tudo a muito aos poucos, mas se mudou o público...
Z- Um público mais restrito.
BI- Um público mais restrito. Quer dizer, com o pornô começaram a ficar umas salas só de pornô. A pessoa que ia nessas salas estava em busca de sexo e começa a ver pessoas que vão procurar pessoas que estão em busca de sexo (rindo), e começa a coisa sair da tela e vir pra platéia. Então, começa muita azaração dentro dos cinemas, muito lento isso, aos poucos. Também começa isso já no final dos anos 80, muito enxerto, começa a se produzir muito pouco filmes novos e reutilização do que já tinha sido feito. Inclusive se misturando filme nacional com estrangeiro, muitas vezes pegando pornochanchada que tinha ficado empacada por causa do explícito e enxertava. Muitas vezes você entrava nos cinemas e não sabia o que ia assistir. Os cartazes...também parou de se fazer cartaz pro filme, eles tiravam uma fotografia de uma revista americana, você percebia que era um xerox que tinha acabado de ser feito. Já não se produzia mais cartaz pra aquele filme, então você não sabia o que estava passando dentro do filme e aí realmente mudou. Veio também, o VHS no fim da década de 80, que começa a se popularizar o videocassete. A pessoa que gostava realmente do pornô para de ir no cinema e passa a ver em casa. Aí o público das salas restritas é só o público de azaração, independe do que está passando na tela. Você pode até desligar a tela, o filme que ninguém está assistindo, só enxerto mesmo. Alguns filmes eu acabei nem vendo, os últimos filmes da Alfa porque não era anunciado como filme, tinha um cartaz e você não sabia se era enxerto se não era. O último filme que eu assisti em cinema que foi lançado e infelizmente não saiu em VHS é o “Dick Traça” com o Gabarron, uma paródia do Dick Tracy, isso já 89, 90. Infelizmente no Brasil, não foi assim no mundo inteiro um se sobrepôs o outro e o início do pornô acabou sendo o final da pornochanchada. Poderia não ter sido mas eu acho meio difícil, mas por conta do mercado, os próprios produtores, o público mas infelizmente foi aí que acabou a pornochanchada. Ficamos órfãos mesmo.
Z- Como você sabia do lançamento de determinado filme ?
BI- Olha rapaz, eu ia em todos. Eu via pelo trailer, mas eu tentava entrar em todos. Inclusive os que eram feitos no Rio, porque na época tudo passava um pouco pelo sexo. Então, você percebe mesmo aquele cinema que já era de cineastas vindos do Cinema Novo como o Jabor, David Neves, todos tinham uma pitada de sexo. Depois, infelizmente a pornochanchada sumiu e nem metade foi lançada em VHS, muito mal telecinado com os filmes escuros. Eu achava que com o videocassete ia ser uma revisão, mas não foi. Na procura de pornochanchada eu acabei tendo maior contato com os filmes nacionais, uma visão até maior do cinema brasileiro, sabendo em que contexto a pornochanchada estava inserida. Mesmo a relação do sexo na nossa cinematografia, não começa nessa época mas sim lá atrás. O erotismo está presente no cinema nacional desde lá atrás, nessa água todos beberam.
Z- Fala um pouco como você se interessou por câmera e começou a trabalhar com comerciais.
BI- Eu cai. Como na história que eu te contei, conversando sobre a minha paixão sobre a Boca com um rapaz que era cinegrafista, ele acabou me levando pra uma produtora que produzia um cinema independente na televisão Isso foi em 84, 85.. Era um programa sobre cachorro, chamava “Pet Show” e ia ao ar pela TV Gazeta. Então, uma equipe fora da televisão, uma produtora independente e parte do programa era feito dentro de uma locadora de equipamentos, a Moviecenter que é uma locadora tradicional. Aqui em São Paulo talvez tenha sido a primeira do gênero. Eu comecei como operador de VT, depois fui pra câmera. Era uma locadora que mexia mais o pessoal de comercial, do mercado publicitário mas também de tempo em tempo aparecia um pessoal da Boca. Foi aí que eu comecei a conhecer o pessoal e vim sempre caminhando com comercial, institucional. Algumas vezes faço documentário, mas documentário pra empresa diferente desses que passam nas salas de cinema. Fui conhecendo essas pessoas como o Jean Garret. Com o Conrado Sanchez também fiz um trabalho sempre paralelo. Eu sempre tentava, chegava a ir na Boca, andava, via os artistas mas eu não conseguia entrar nesse meio porque era muito novo e sempre fui caminhando meio paralelo.
Z- Você nunca chegou a acompanhar as filmagens ?
BI- Não, de pornochanchada não infelizmente. Mesmo porque quando eu comecei a trabalhar, a Boca só produzia filme pornô. Mas tentei fazer várias vezes mas não consegui.
Z- Como você se aproximou do pessoal da Boca na Boca ?
BI- Num mesmo dia eu conheci o Eliseu Fernandes e o Rodrigo Montana, ali na Aurora eu estava com o Rubens Badaró. Esse dia foi muito gozado, porque a gente estava andando ali e eu acho que o Rubão queria me despachar, então ele falou: “Olha, fica falando com esse cara aí que ele é da Boca”. Ele sabia que eu gostava dos filmes da Boca e o cara que ele tinha falando era o Eliseu Fernandes. O Eliseu foi muito gente fina comigo naquele primeiro momento, já começando a conversar. Depois veio o Montana dali a uns quinze minutos, conversa vai, conversa vem e eu falei da minha paixão pela Boca, tudo e qual foi a minha surpresa quando o Montana me falou que trabalhava no escritório do Fauzi Mansur. Eu pra te falar a verdade não acreditei num primeiro momento, pensando que não existia mais escritório na Boca porque você passava e não via ninguém naquelas ruas. Depois eu encontrei em mais um barzinho em frente do Cine Los Angeles, o Oásis Minitti e era realmente a produtora do Fauzi. Eu tive aquele choque de ver todos aqueles cartazes...eu voltei no tempo, coisas que eu não via a muito tempo de repente eu vi congeladas no tempo. Através do Montana eu fui conhecendo outras pessoas: o Luiz Gonzaga, o Jota Santana, o próprio Fauzi, o Portioli. Tive também o prazer de conhecer ali no escritório o Pio Zamuner, que é uma das grandes figuras e aí comecei a conhecer a Boca por um outro ângulo.
Z- Antes como cinéfilo e agora como amigo.
BI- Como amigo eu fui conseguindo conhecer essas pessoas, eles contando aquelas histórias. Entrando naqueles prédios da Boca, porque eu não entrava, subi e vi. Um já virou bar, outro quadra de futebol de salão. A região está numa constante mudança.
Z- Betão, você que freqüenta muito esses lugares no centro, você acha uma boa o projeto Nova Luz ?
BI- Acho. Acho muito lento, anda muito ao sabor da eleição, sempre na véspera todo mundo mexe nisso aí, mas eu acho que é uma região que já passou da hora de ter uma revitalização. Os prédios que estão ali são lugares muito importantes, merecem sim. Só acho que precisa ter o lugar do cinema lá. Como tem a Sala São Paulo que é de música, a Pinacoteca eu acho que ter um prédio muito bonito com um segundo prédio da Cinemateca, um lugar de projeção de filmes...
Z- Um cineclube.
BI- Um cineclube, não precisa nem ser sócio da Boca, mas ali poderia deixar de ser um lugar de produção. A região tem um forte potencial para o cinema mesmo, é na verdade um cenário vivo. O centro de São Paulo deveria ser visto como um lugar pra filmagem, devia ter apoio pra filmar lá. Se filma muito no centro de São Paulo e você percebe isso pela quantidade de comerciais, filmes que são feitos e essa região da Luz não. Eu não acho que vai voltar a pornochanchada, nada disso, mas eu acho que ainda tem muito cinema pra rodar ali.
Z- Foi a partir desse momento que você foi mais vezes atrás das coisas da Boca ?
BI- Colecionar filmes, ir atrás das coisas da Boca eu sempre fui. A partir do momento que parou de passar no cinema, eu fiquei órfão. Eu sempre procurei os filmes, até hoje estou procurando muitos filmes pra assistir (rindo) então isso sempre foi uma coisa, meu hobby, que eu tive minha atenção voltada pra isso. Sempre que eu ouvia uma coisa da Boca pra colecionar filmes, ou tem uma fotografia, uma revista que fala eu sempre estou do lado. Sempre perturbei as pessoas que vinham trabalhar comigo. Depois desse período mais novo, sempre indaguei o pessoal mais novo se sabiam da pornochanchada, e muitos não sabiam. Então, sempre foi uma constante na minha vida mas durante uma época eu não saia falando por aí. Afinal, eu podia ser sempre mal interpretado. Mas hoje as pessoas parece que estão mais abertas, todo mundo está dizendo do que gosta.
Z- Você teve algum problema com a sua família por gostar de cinema ? Mexer com isso ?
BI- Não. Muito pelo contrário, o pessoal tira um barato um pouco em casa. Meu irmão sabe que eu gosto de cinema nacional e vira e mexe ele me chama de Nacional inclusive como se fosse o meu nome (risos). O pessoal sabe, tem inclusive uma história muito engraçada que minha mãe conta que foi uma vez que ela foi fazer uma reforma em casa e quando ela tirou a pia do lugar caiu revistas de tudo quanto é tipo no chão (risos), sendo revista que estava guardada a muito tempo. Olha, então eu acho que surpresa não é porque toda mãe sabe o filho que tem. As coisas foram mudando e hoje as pessoas olham com outros olhos. Tem gente que fica surpresa, mas muitas vezes a pessoa gosta, então ela fica surpresa quando encontra alguém que também gosta daquilo. O meu meio mesmo de gravação, eu percebo que quando eu falo com as pessoas algumas tiram sarro, mas no fundo, no fundo todo mundo gostaria de fazer um pornozinho, uma pornochanchada. Todo grande diretor que tem aí gostaria de ter feito uma ceninha mais hardcore, tem alguns que tem coragem e outros que não tem.
Z- Como você conheceu o cinema do Khouri ? Porque você me falou que é seu cineasta brasileiro preferido.
BI- Olha, na verdade eu gosto de vários realizadores. Tem vários na mesma faixa que a dele, como o Ody Fraga, o Fauzi Mansur. Mas os do Khouri não me lembro se foi o “Eros” ou o “Convite Ao Prazer”, mas a paixão foi a primeira vista. Primeiro eu percebi o acabamento técnico dele, a expressão que ele conseguia tirar das mulheres e ele sempre mexeu com alguns elementos que me chamam a atenção: apartamentos, São Paulo. Aquele apartamento do “Eros” é um negócio sensacional, aquelas janelas meio redondas. “Convite Ao Prazer”, o loft, aquilo eu ficava alucinado porque o visual do apartamento, tudo isso no Khouri. Muitas vezes não era o filme inteiro, mas esses elementos que ele usa me chamam muita atenção. No “Eros”, algumas cenas foi num lugar que eu não sei como não tem em outros filmes, que é aquele castelinho de tijolinho que fica na Anhanguera, pela Bandeirantes você vê a direita, um lugar de tratamento de farinha. Eu acho aquelas cenas maravilhosas, em Itatiaia nas pedras também, que coisa fenomenal. Então, são esses elementos do Khouri que eu acho que diferencia ele de todos os diretores não só brasileiros. Comparam muito ele ao Bergman, o Bergman brasileiro mas você percebe inclusive o interesse dos estrangeiros no Khouri. Eu conheço colecionador gringo por aí que gosta dele, tenta arranjar filme dele lá pra fora a todo custo.
Z- Você não chegou a conhecê-lo pessoalmente ?
BI- Infelizmente não. Conheci algumas pessoas que trabalharam com ele, o Alfredo, o Miro, o Conrado. Esses dias eu vi outro filme do Walter na Tv Cultura, “Paixão Perdida”, que não me chamava minha atenção. Mas eu vi com mais cuidado sem o controle remoto na mão e eu tive surpresa atrás de surpresa no filme que eu achava até meio chato. Fiquei impressionado como ele foi dentro do universo dele, como ele foi depurando até o último filme e não perdeu o rebolado. A iluminação, os olhares das atrizes, os enquadramentos, o Marcelo que é o personagem dele, a relação com a mãe. Tudo ficou na obra dele durante todos os filmes.
Z- Como surgiu a idéia do blog ?
BI- Olha, o blog surgiu como tudo desde o último dia que eu vi a última pornochanchada, tudo foi muito difícil. Pra arranjar uma fita é impressionante como é difícil, pra rever o filme que você gosta é mais difícil ainda. Enfim, o que eu coloquei num comentário, pornochanchada é mosca branca, ninguém fala, televisão nenhuma coloca, é impressionante. Eu fiz várias buscas na internet, fotografia de um, de outro e você não acha nada. Eu comecei a ver que era uma dificuldade que todo mundo tinha, que se era difícil ver das conhecidas imagina da nossa querida Alvamar Taddei.
Z- Você já era fã da Alvamar Taddei ?
BI- Eu sempre fui fã do segundo time. O segundo time não do modo pejorativo, mas das menos conhecidas. Da Vanessa, Jussara Calmon, Valmara Ribas, Nilce Contrim, as mais desconhecidas sempre foram as que eu mais gostei. Você não acha nada e se você tem a sorte de conhecer alguma delas pessoalmente pra arrancar duas palavras é muito difícil infelizmente. Eu não sei se é por puro preconceito, mas é difícil. Mas voltando a idéia do blog: eu percebi isso e como eu tenho algumas imagens disso aí de revistas, que foram caindo na minha mão...
Z- Do “Notícias Populares” também né ?
BI- Olha do NP, eu tenho alguns jornais que na verdade vem daquele acervo com algumas coisas que vieram da Boca pra mim que eu acho que as pessoas recortavam pra saber se realmente os filmes passavam em algum lugar.
Z- Esses negócios da Boca que saiam no NP, saiam em jornal grande como “Folha”, “Estado” ?
BI- O anúncio só no “Notícias Populares”. Mas todos os jornais tinham o quadro de todos os cinemas, só que tinha uma época que metade daquilo era de filmes da Boca porque eles realmente tomavam conta de metade dos cinemas. Então, isso estava nos jornais na “Folha”, no “Estado”. Agora, existia uma propaganda em torno da Boca, existia um mundo.
Z- Como você vê a Zingu hoje ?
BI- Eu acabei lendo na internet, inclusive no seu blog que não tinha imagem e acabei colocando o meu bloco na rua. Tem várias pessoas e o blog movimenta. Eu acho a Zingu! e tudo isso que está acontecendo, muito interessante. Porque eu acho que é a única maneira de criar um público, uma demanda. Porque existe uma falta de filme e muita gente querendo ver fazem os filmes voltaram a tona. A gente só vai voltar a ver esses filmes se tiver gente falando e querendo eles, se ninguém falar nada eles vão sumir. Eu acho muito importante tudo isso e o objetivo final é justamente trazer a tona esses longas, passarem na televisão, Canal Brasil, essas mostras que estão sendo feitas. Eu achava que muitos desses filmes tinham ido pro lixo, mas muita coisa está na Cinemateca, muita coisa pode ser feita lá e só dessa forma o público mais jovem tem contato porque eu acho que é muito difícil você expor esse trabalho e as pessoas não gostarem. A pornochanchada quando ela é colocada pras pessoas o contato é imediato, as pessoas se identificam e você vê que é um público cativo que prestigia. Eu acho que esse movimento que existe na internet é muito importante pra isso, levantar esse assunto outra vez. O produtor que tem o longa guardado tentar relançar, telecinar, vender pra algum canal e tudo mais. Existe uma outra coisa: esses blogs como o seu, eles cobrem assuntos que a grande mídia, os jornais, a televisão passa batido por vários motivos. Talvez porque eles tenham que falar de assuntos que milhões de pessoas estão querendo ouvir, mas existem aquelas que não são milhões mas também estão necessitando de informação sobre cinema nacional, cinema paulista e não tem essa referência. É muito interessante como você vê uma pessoa como ele está hoje, o que ele está fazendo. Isso é feito de uma maneira com exaustão no Exterior e é impressionante no Brasil como não se faz esse tipo de coisa. Então, as poucas publicações que estão por aí são muito importantes. Isso não somente com pornochanchada, mas o cinema brasileiro em geral. Eu já tive amigos que vieram de fora do Brasil, acharem que iam achar filmes nacionais aqui e não acham. A gente ouve falar que foi lançado o filme em DVD e você não acha, os do Khouri, do Fauzi. O “Macunaíma” acabou de sair em DVD e é muito difícil de você achar ele. Então, cinema nacional é impressionante: você não acha em lugar nenhum, é muito difícil de achar e eu acho que precisa ter um público querendo e pedindo. A internet é um mundo novo, são outros os caminhos e ela realmente é uma rede, só você estando dentro entende. Eu acho que tem muita gente interessada ainda dentro desse Brasil, porque a gente vê muito São Paulo, Rio. Tem muitas pessoas que tem esse mesmo interesse que eu, que você em Minas, no interior porque o cinema brasileiro passou nesse país inteiro. O Tony Vieira fez muito sucesso, David Cardoso também e assim por diante. A maioria foi realizada aqui em São Paulo, mas muitos foram realizados no Rio que também tem uma Boca de cinema mas são pessoas de todos os lugares do Brasil. Eu fico surpreso que as pessoas estão tomando contato com o blog.
Z- Então, o blog está tendo um retorno maior do que você esperava ?
BI- Sim. Fiquei surpreso com a surpresa das pessoas vendo a imagem. Porque o máximo que você pode falar é a imagem, a fotografia do set que é muito difícil porque na época não se fazia making off. Então, quando você vê uma câmera com um ator na frente, é algo muito difícil. Essas revistas foram outra coisa que eu fiquei muito surpreso porque foi uma das coisas que mais teve interesse no blog porque muito tempo, você não acha mais essas reportagens. É gozado porque muitas vezes elas te levam pra aquele momento, então muitas vezes é até uma besteira, mas é um retrato daquele momento. O pensamento da época, a passagem do erótico pro explícito, as atrizes que apareciam, o que elas falavam, usavam. Então, eu acho que é uma maneira de dar uma brisa pras pessoas que gostam disso. Eu fiquei muito surpreso.
Z- Como era ser cinéfilo de pornochanchada na época do auge dela ?
BI- Na época, você passava por tarado. Achavam que tinha problema com mulher, eu comentava somente com as pessoas que eu sabia que gostavam disso. Muitas vezes você falava até com as pessoas que tinham feito e elas não levavam muito a sério. O pornô, então, nem se liga. Mas nada como o tempo, as coisas vão passando, a ótica hoje é completamente diferente. As pessoas vão vendo como um todo, as rivalidades que existiam na época, o ciclo é visto de outro modo. Hoje você encontra pessoas e comentam outra coisa, uma identificação imediata e mudou o enfoque das coisas. Quando se iria falar de pornografia numa faculdade ? Na época era tudo misturado o que se produzia na Boca, mas hoje você consegue ver a coisa um pouco mais de cima.
Z- Como assim ?
BI- Hoje o pornô é separado da pornochanchada, antes teve o Cinema Marginal que veio o Candeias, Carlão, Sganzerla. São períodos diferentes, que na época como as pessoas tentavam avacalhar diziam que tudo era filme pornográfico. A grande maioria não era filme pornográfico, a pornochanchada não é um filme pornográfico e sim erótico. Nada haver com o outro: a atriz de pornochanchada é a Helena Ramos, Aldine Müller, são essas. As atrizes de pornô é a Márcia Ferro...na época se misturava muito isso. Hoje em dia alguns programas de televisão insistem em misturar, passou a Helena passou apertado num programa. O filme do Khouri, dizem que “Amor, Estranho Amor” é um filme pornográfico, ainda existe mas isso é muito pouco somente pra quem quer causar um sensacionalismo. Na visão geral, mudou muito a pornochanchada foi inserida no seu lugar dentro do nosso cinema com todos os demais movimentos com suas qualidades e defeitos, com baixa qualidade mas resolvendo o problema econômico de exibição que até hoje é o problema nosso. Enfim, tem lá seu lugar e sua sessão no Canal Brasil inclusive.
Z- Você vê Canal Brasil ?
BI- Infelizmente não. Será minha próxima aquisição, mas no momento ainda não tenho. Mas eu acho que o Canal Brasil é responsável pela retelecinagem de todos esses filmes e até agora sabendo de novos espectadores que conheceram por este canal de televisão. Coisa inclusive que poucos países tem, não são todos os países que tem um canal com programação de filmes 100% nacional. O importante é que tem um lugar, algo que não me passava pela cabeça e eu acho que inclusive vai acontecer com o pornô. É uma questão de tempo.
Z- “Rebuceteio” do Cláudio Cunha passou no Canal Brasil inclusive.
BI- Eu nunca imaginei que um filme como esse ia passar e que inclusive ia ser telecinado um dia. Eu não achei mesmo, durante algum tempo você não achava nem aquela cópia antiga dele inclusive. Estamos nessa parte bem melhor que muitos países por aí. A visão dos órgãos públicos mudou também, porque a Cinemateca não faz descriminação pelo período histórico do filme produzido no Brasil. Então, eu acho que está começando a ser mais bem tratado e mesmo na época dos anos 80, o guardar o filme sempre foi tido como bobeira. Tem histórias disso tanto sobre a Cinemateca do MAM no Rio, como aqui na Cinemateca paulista. O último lugar que você deveria levar o seu filme era prum órgão público pra guardar, mas hoje não. Eu participei da transferência de filme do Fauzi pra lá e a atenção que eles deram pra gente foi 10. Realmente, o pessoal conhecia os filmes, tinham assistido e em nenhum momento ele quis deixar um filme explícito em algum canto. A atenção foi a mesma. Isso me surpreendeu muito e eu acho que isso vai dar muitos frutos no futuro.
Z- Fala um pouco da obra do Fauzi, que é um dos seus diretores preferidos.
BI- Ele tem uma filmografia invejável. Inclusive que vai mudando com o tempo, na década de 70 é uma forma, no final ele é o mestre da comédia de situações: “Sexo As Avessas”, “Me Deixe de Quatro”, que nada tem haver com o título inclusive. O título era escandaloso e muitas vezes o cartaz tinha haver com isso, os cartazes do Benício que é mestre nisso, se sugerindo no cartaz coisa que você não ia ver na tela. Isso mudou no começo dos anos 80, quando a coisa do cartaz tinha no filme. “Noite dos Bacanais” é sobre bebê de proveta, então o cara contrata uma moreninha e o Ênio Gonçalves faz enciminação artificial mas acaba se apaixonando. São coisas que vemos hoje em dia, o Jota Santana faz o médico (risos). Ao mesmo tempo que você vê coisas surreais e coisas que acontecem todo o dia.
Z- Outro que tinha muito isso da comédia era o Miziara. Você gostava dos filmes dele ?
BI- Gostava sim. Ele também tinha um humor bem refinado, como “Pecado Horizontal”. Eles pegam coisas do nosso dia-a-dia, essas figuras que você vê nos filmes estão nas esquinas, nos botecos, numa delegacia. Aquele ajudante de delegado, aqueles comendadores da vida você vê até hoje. Tem um filme que eu sonho em assistir que é o “Amor Palavra Prostituta” do Carlos Reichenbach que infelizmente sumiu e é um filme maravilhoso com a Alvamar Taddei, inclusive.
Z- Com a Patrícia Scalvi também.
BI- Eu acho que sim...Faz tanto tempo que eu vi rapaz ! Eu vi no cinema e aquilo me chocou tanto, me chamou tanto a atenção que do filme em si eu já nem me lembro mais mas dos personagens eu vejo todo o dia na rua. Tem um personagem do Roberto Miranda, que é um pequeno empresário, filho da mamãe que pisa na secretária. É um tipo que você vê nas padarias, o cara come de pé no balcão mas quer o guardanapo igual a mãe dele coloca. É um tipo que você vê até hoje nas padarias comendo nas padarias na hora do almoço e a atitude é a mesma. Eu gostaria muito de rever esses filmes.
Z- E esses personagens te chocam de certa forma.
BI- Isso te choca porque muitas vezes você não se consegue ver isso nos grandes diretores, em outras estéticas do cinema brasileiro. Eles não conseguem ver esses tipos tão brasileiros que um cara da Boca muitas vezes semi-analfabeto conseguia transmitir pra gente. Então, eu espero mesmo que esses filmes, que muita coisa venha a tona ainda.
Z- Pra gente fechar Betão, o que você acha que fica de você como cinéfilo da época ?
BI- Olha, eu acho que fica o prazer de você assistir o filme. De todo o cinema, fica o prazer do espectador. Por que as pessoas revêm tanto um mesmo longa ? Pelo prazer de você assistir, de você rever e é isso que fica. Também ficam algumas lições de como foi feito o mercado, em algum momento o cinema brasileiro se auto sustentou. Não quer dizer que o cinema vá pra esse lado, que você vai conseguir fazer uma pornochanchada mais uma vez, mas fica o filme algo que você deve guardar, dando suporte porque as mídias vão mudando pra futuras gerações assistirem. Eu acho que o importante realmente é o prazer do espectador assistir. Como eu disse uma vez pro nosso amigo Luiz Gonzaga dos Santos, eu acho que o diretor é o dono do filme até o dia do lançamento da obra. A partir desse momento, ele é de todo mundo. Por exemplo, eu vi um extra do filme do Jabor “O Casamento”, que foi relançado agora em DVD. No extra tem uma entrevista com ele e o Jabor fala inclusive que como realizador do longa ele tirou algumas cenas que achava muito forte. Pelo pior que sejam essas cenas, você não tem a dúvida que alguém assistiu o filme com essa cena e marcou a pessoa e quando ela foi assistir e a cena não estava mais foi uma decepção pra ela. Por mais que o diretor ache não é mais, porque você pode ter gostado da legenda, do final, de um personagem...e aquele momento já pertence ao espectador. Talvez o direito autoral, a fita, a película não se possa levar pra casa, mas o filme pertence um pouco a ele. Ele tem o direito de vez em quando de rever o filme, as pessoas não devem tirar pedaço de filme. Eu acho que todos tem muita importância: o ator, o diretor, o técnico, toda a mística em volta que todos elementos geraram esse filme. Mas o mais importante de tudo ao meu ver como espectador é isso: a relação do espectador com o filme.
BI- Gostava sim. Ele também tinha um humor bem refinado, como “Pecado Horizontal”. Eles pegam coisas do nosso dia-a-dia, essas figuras que você vê nos filmes estão nas esquinas, nos botecos, numa delegacia. Aquele ajudante de delegado, aqueles comendadores da vida você vê até hoje. Tem um filme que eu sonho em assistir que é o “Amor Palavra Prostituta” do Carlos Reichenbach que infelizmente sumiu e é um filme maravilhoso com a Alvamar Taddei, inclusive.
Z- Com a Patrícia Scalvi também.
BI- Eu acho que sim...Faz tanto tempo que eu vi rapaz ! Eu vi no cinema e aquilo me chocou tanto, me chamou tanto a atenção que do filme em si eu já nem me lembro mais mas dos personagens eu vejo todo o dia na rua. Tem um personagem do Roberto Miranda, que é um pequeno empresário, filho da mamãe que pisa na secretária. É um tipo que você vê nas padarias, o cara come de pé no balcão mas quer o guardanapo igual a mãe dele coloca. É um tipo que você vê até hoje nas padarias comendo nas padarias na hora do almoço e a atitude é a mesma. Eu gostaria muito de rever esses filmes.
Z- E esses personagens te chocam de certa forma.
BI- Isso te choca porque muitas vezes você não se consegue ver isso nos grandes diretores, em outras estéticas do cinema brasileiro. Eles não conseguem ver esses tipos tão brasileiros que um cara da Boca muitas vezes semi-analfabeto conseguia transmitir pra gente. Então, eu espero mesmo que esses filmes, que muita coisa venha a tona ainda.
Z- Pra gente fechar Betão, o que você acha que fica de você como cinéfilo da época ?
BI- Olha, eu acho que fica o prazer de você assistir o filme. De todo o cinema, fica o prazer do espectador. Por que as pessoas revêm tanto um mesmo longa ? Pelo prazer de você assistir, de você rever e é isso que fica. Também ficam algumas lições de como foi feito o mercado, em algum momento o cinema brasileiro se auto sustentou. Não quer dizer que o cinema vá pra esse lado, que você vai conseguir fazer uma pornochanchada mais uma vez, mas fica o filme algo que você deve guardar, dando suporte porque as mídias vão mudando pra futuras gerações assistirem. Eu acho que o importante realmente é o prazer do espectador assistir. Como eu disse uma vez pro nosso amigo Luiz Gonzaga dos Santos, eu acho que o diretor é o dono do filme até o dia do lançamento da obra. A partir desse momento, ele é de todo mundo. Por exemplo, eu vi um extra do filme do Jabor “O Casamento”, que foi relançado agora em DVD. No extra tem uma entrevista com ele e o Jabor fala inclusive que como realizador do longa ele tirou algumas cenas que achava muito forte. Pelo pior que sejam essas cenas, você não tem a dúvida que alguém assistiu o filme com essa cena e marcou a pessoa e quando ela foi assistir e a cena não estava mais foi uma decepção pra ela. Por mais que o diretor ache não é mais, porque você pode ter gostado da legenda, do final, de um personagem...e aquele momento já pertence ao espectador. Talvez o direito autoral, a fita, a película não se possa levar pra casa, mas o filme pertence um pouco a ele. Ele tem o direito de vez em quando de rever o filme, as pessoas não devem tirar pedaço de filme. Eu acho que todos tem muita importância: o ator, o diretor, o técnico, toda a mística em volta que todos elementos geraram esse filme. Mas o mais importante de tudo ao meu ver como espectador é isso: a relação do espectador com o filme.