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Dossiê Guilherme de Almeida Prado

Glaura
Direção: Guilherme de Almeida Prado
Brasil, 1995.

Por Gabriel Carneiro

Escrito originalmente para compor o longa de episódios Felicidade É..., não ficou pronto a tempo de ser incluído. Esse fato não impediu Guilherme de lançá-lo em carreia solo, fazendo bonito em importantes festivais internacionais. Glaura é o único curta-metragem oficial do diretor, e digo oficial, pois descarto sua produção caseira em Super-8. Talvez por lhe ser estranho esse modo de fazer cinema, seja o que menos gosto dos filmes que vi do diretor.

Dentro da obra autoral de Guilherme de Almeida Prado, Glaura é um estranho no ninho. Por mais que a construção sutil das cenas remeta aos melhores momentos de Perfume de Gardênia, pelo olhar sobre a criança, e pela observação da ambigüidade do feliz/triste, as múltiplas referências cinematográficas – que são de grande deleite para os mais aficionados pela arte -, e a criação de um imaginário muito além do que está em cena são deixados de lado. O filme é aquilo o que vemos, e monta, sem grande inventividade, uma simples história, uma farsa, através de elementos do cotidiano. Um casal e sua filha têm que morar com o pai dele por questões financeiras. A nora é uma pessoa frustrada, que se incomoda muito com a felicidade do sogro, assim como se irrita de ter de carregá-lo para cima e para baixo.

O diretor diz que o filme tem estrutura de longa, condensado em 15 minutos de duração. Não! Certamente, funciona melhor como episódio, porém sua construção se adequa bem ao formato. Hoje em dia, muito dos curtas que não pretendem-se experimentais ou revolucionários bebem nessa linha de retrato do cotidiano. Em Glaura, o gênero farsa se revela, e cria uma espécie de lição de moral reversa. O último plano, mostrando a personagem de Júlia Lemmertz quase ironicamente, pretende-se como sacada, porém, a farsa que fabrica parece um tanto blasé, sem graça, que provoca um sorriso amarelo, no máximo. Essa tentativa de discutir a felicidade de forma reversa deixa o filme pálido, perdendo sua força: torna-se artificial.

Os destaques ficam para as performances, em especial a de José Lewgoy, como velho simpático, que possui uma doçura intrínseca. Sua atuação, somada às suas falas, todas citações de pessoas célebres, dão uma vida à parte a Glaura. Enquanto o velho Orestes reflete em seu livro infantil, e em sua forma de compreensão do mundo, o filme mostra-se de grande poder, e capaz de problematizar o tema felicidade.

Não só em Glaura, mas como nos curtas brasileiros da retomada, o final falha. Há um desejo tão efêmero em fazê-lo, em muitas de suas vezes, ou por não saber dar um acabamento, que o filme não empolga, e torna-se mais um exemplo razoável. Talvez Guilherme estivesse certo: Glaura não é um curta-metragem, é um longa com 15 minutos, a questão que fica é se a continuação está por chegar...



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