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Dossiê Cinema de Bordas


A Curtição do Avacalho
Direção: Petter Baiestorf
Brasil, 2006.

Por João Pires Neto

A busca por representar a essência da Canibal Filmes parece ser o elemento motor das últimas produções de Petter Baiestorf, entre elas A Curtição do Avacalho, de 2006. É a metalinguagem da anti-arte, do Kanibaru Sinema. O questionamento sobre a impávida existência da produtora catarinense, que ultrapassou uma centena produções, se manifesta numa das primeiras falas do filme, quando o Padre Carcass dispara “Canibais em pleno século XXI?”

A discussão se estende, através de imagens, sobre a antropofagia cinematográfica proposta pelo videasta Baiestorf: é o cinema devorando o cinema e vomitando na tela uma sequência de transgressões visuais. Mas nada é levado tão a sério assim pela produtora, que faz questão de avacalhar a hipocrisia dos bons costumes, da Igreja e do Estado, colocando numa batalha campal pecadores, um padre, um cientista ensandecido, um exército revolucionário de dois homens sós e zumbis putrefatos. Afinal, todos querem apenas dominar o mundo, e a ferramenta para isso é uma múmia de Cristo prestes a ser ressuscitada.

Ainda que Petter Baiestorf não se incomode com o rótulo de trash, este não se aplica com justiça a A Curtição do Avacalho, apesar dos momentos escatológicos que são marca registrada do diretor. Existe certo requinte na desconstrução proposta no filme, com a alteração constante do foco narrativo, que passa da personagem para a equipe de produção, com comentários crus do diretor como “Quem faz cinema sem dinheiro tem mais é que ir pra puta que pariu mesmo”. Em outros momentos vemos propositalmente microfones em cena e os atores lendo as suas falas. Este trash forçado ao extremo reforça a mensagem manifesto destrutiva sugerida nas entrelinhas do roteiro.

Alguns momentos surreais se destacam, como quando o personagem Santeria é ferido por um tiro. Da ferida jorra, em vez de sangue, rolos e rolos de fita VHS. O personagem, desesperado ao descobrir que é apenas um personagem, esgoela em portunhol: “Mi vida és una farsa!”. Em outro momento, o próprio diretor mastiga DVDs enquanto o ator Coffin Souza recita um poema em ode aos produtos artísticos descartáveis.

Como na maioria dos filmes de Petter Baiestorf, em A Curtição do Avacalho predomina a estética provocativa, responsável por parte da elevação de sua produtora, a Canibal Filmes, ao status de lenda no cenário underground, influenciando a expansão e a propagação do cinema independente, realizado com poucos recursos e muita atitude.

*O filme pode ser adquirido diretamente com Petter Baiestorf, por R$ 15,00, pelo email baiestorf@yahoo.com.br.




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