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Dossiê André Klotzel


O Bom Retiro é o Mundo
Direção: André Klotzel
Brasil, 2006.

Por Gabriel Carneiro

O curta-metragem O Bom Retiro é o Mundo foi feito para o projeto Documentário dos Bairros de São Paulo, promovido pelas Secretarias Municipais de Cultura e Educação. O objetivo era retratar um bairro de São Paulo, respeitando algumas regras, como filmar o local e suas pessoas, e utilizar imagens antigas do bairro. O cineasta André Klotzel, conhecido por filmes como A Marvada Carne e Memórias Póstumas, foi um dos selecionados. O bairro a ser tratado era o Bom Retiro.

Klotzel, apesar de famoso pelos longas ficcionais, é um hábil documentarista, em especial de curtas. Talvez por uma peculiaridade: sabe, como poucos, condensar o gênero documental com a ficção. Sua narrativa, através do off, conduz os personagens, as histórias locais e os espectadores. Muito se crítica o aspecto anti-cinematográfico da voz over, por ser um recurso essencialmente literário. Mas o que Klotzel faz em O Bom Retiro é o Mundo, assim como em seus demais curtas documentais, é dar um ar de fábula e prender o interesse de seu espectador na história. O documentário é, ainda hoje, por muitos, considerado chato, pois pouco se cria nele, exceto pelo amontoado de informações, de imagens de arquivos e de entrevistas. Se não for bem construído, pode ficar mesmo azucrinante.

A vantagem de Klotzel é que, usando ou não todos esses recursos tradicionais, sabe costurar de maneira original. A narração é leve, informativa e irônica, sem nunca ser desrespeitosa. Para o narrador, tudo é novo. Cada episódio é único. Por isso que, quando vemos um senhor correndo em meio a carros no filme - o que cada vez tem se tornando mais comum na capital paulista -, olha, detecta e rastreia sua história. Os personagens vão surgindo e costurados, numa espécie de colcha de retalhos. O objetivo não poderia ser diferente: é na diversidade que se encontra o mundo do título. Cada qual acrescenta algo. Vemos os italianos, os orientais, os judeus, cada um com sua particularidade, que, em conjunto, formam um mosaico.

Ao longo de 26 minutos, a câmera de vídeo do cineasta passeia pelo Bom Retiro e através de sua história. Descobre-se, por exemplo, que o nome do bairro surgiu por ser um lugar isolado do resto da cidade, e procurado para habitar justamente pela sua tranqüilidade, e que hoje, através do transporte público, é o contrário – há de tudo um pouco lá.

Documentários como esse parecem um alento. O que faz um bom documentário são bons personagens, pessoas com histórias para contar. Mas isso não é mais suficiente, tem que saber estruturar um filme e utilizar diferentes recursos para torná-lo atrativo ao final. Se não, é mais do mesmo. Esse, felizmente, não é o caso.



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