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Especial Jovem Cinema Paulista dos anos 80

Guilherme de Almeida Prado

As Taras de Todos Nós
Brasil, 1981.

Flor do Desejo
Brasil, 1984.

A Dama do Cine Shanghai
Brasil, 1988

Por Gabriel Carneiro

Guilherme de Almeida Prado chegou ao auge da carreira em 1988, quando ganhou, entre outros, o Festival de Gramado, por A Dama do Cine Shanghai, e viu seu filme levar por volta de 800 mil pessoas ao cinema. Os anos 1980 agraciaram o cineasta que começou a na Boca do Lixo, como assistente de direção de, entre outros, Ody Fraga.

Começou, sem grandes pretensões, com As Taras de Todos Nós, pornochanchada em três episódios, que foi uma das maiores bilheterias de 1982. Nele, Guilherme já rascunha sua maneira de olhar o cinema, através do metacinema e do deboche das comédias eróticas (que o acompanham até hoje). Por mais que os dois primeiros episódios, O Uso Prático dos Pés e O Tesourinha, sejam convencionais enquanto produto típico da Boca do Lixo (em especial pelo uso do fetiche) – ótimos ambos, diga-se -, é no terceiro, Programa Duplo, que o cineasta cinéfilo experimenta sua metalinguagem.

Programa Duplo fala do público das pornochanchadas, do espectador que freqüentava as salas especiais em busca de conforto e de distração. Além de vermos trechos dos filmes que em Guilherme trabalhou como assistente de direção (O Império das Taras, de José Adauto Cardoso, A Fêmea do Mar e Palácio de Vênus, ambos de Ody Fraga), há menções a outros tantos filmes, de ...E O Vento Levou a Emmanuelle 2.

É em As Taras de Todos Nós que o cineasta começa a trabalhar com sua musa-mor, Matilde Mastrangi, que estaria em todos os seus demais filmes.

Pouco depois, o diretor fez, a muito custo, Flor do Desejo, que se passa em Santos/SP. Ao contar a história de Sabrina, uma prostituta do cais, e de Gato, um trambiqueiro, Guilherme faz seu filme mais político – e ainda assim não deixa de lado as principais características de seu cinema autoral e do cinema da Boca do Lixo. Esperava, com o longa, arrecadar dinheiro suficiente para realizar seu projeto mais ambicioso, A Hora Mágica (que só foi feito e lançado no final dos anos 90). Em Flor do Desejo, há uma participação da cantora Cida Moreira, que se destacou nos filmes da dupla Ícaro Martins e José Antônio Garcia.

O segundo longa-metragem de Guilherme foi um fracasso. O cineasta resolveu escrever para descontrair e nisso saiu seu melhor roteiro até o momento: A Dama do Cine Shanghai.

O filme é o exemplo perfeito de sua releitura do cinema noir americano. Todos os elementos estão lá, mas pelo próprio conteúdo e narrativa, não se mostra um exemplar autêntico – tampouco é uma paródia. O longa-metragem de 1988 é uma farsa do cinema noir, provinda do deboche da Boca do Lixo. O humor vem da ironia, do não se levar tão a sério, tal como eram as produções do local, desde o Cinema Marginal. Ele dialoga com os elementos do film noir através das lentes da Boca do Lixo, do cinema brasileiro, não simplesmente como um similar nacional – muito importante na tentativa de fazer um produto mercadológico no Brasil -, mas como reflexão sobre os produtos que incorpora à sua obra.

Por trabalhar a releitura do cinema de gênero, muitos o apontaram como um cinema Pós-Moderno, e pela forma com que dialoga com o cinema noir, foi vinculado ao neon-realismo (uma conceituação para o filme que tem elementos realistas, mas que cria situações não verossímeis ao nosso mundo, além, claro do uso de muitas luzes artificiais e coloridas).

O filmes de Guilherme propunham-se a voltar à ficção clássica, mesmo que sempre jogando com ela. Guilherme de Almeida Prado tem uma estrutura clássica, especialmente em como se relaciona com o público, mas não deixa de brincar o tempo todo com conceitos. Talvez, daí venha o conceito de pós-moderno, a pós-ruptura.

Guilherme terminou os anos 80 no auge, com projetos em mente, só à espera para filmar. Nessa época, a Boca do Lixo já estava falindo e a Embrafilme seria fechada em 1990 pelo então presidente Fernando Collor de Melo. O dinheiro para filmar não veio, e a carreira de Guilherme não deslanchou como poderia. Ainda assim, lançou mais um curta-metragem (Glaura, 1995) e três longas (Perfume de Gardênia, 1992; A Hora Mágica, 1998; Onde Andará Dulce Veiga?, 2007) – todos eles dignos de atenção.



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