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Musas Eternas...
PORQUE O QUE É BOM, É ETERNO...

Emmanuelle Béart



Por Sergio Andrade

Uma das atrizes mais belas e sensuais da atualidade, a leonina Emmanuelle Béart tem a poesia e o cinema no DNA. Seu pai é o poeta e cantor Guy Béart, enquanto sua mãe, Geneviève Gálea, foi atriz de uma das obras-primas de Jean-Luc Godard, Tempo de Guerra. Nascida em 14 de agosto de 1963, em St. Tropez, na Riviera Francesa, tem três irmãos e uma irmã.

Estreou no cinema bem novinha, em 1972, no policial O Homem que Surgiu de Repente, pelas mãos de um mestre na direção de crianças, René Clement (é dele o clássico Brinquedo Proibido).

Adolescente, foi mandada para Montreal, no Canadá, onde passou quatro anos estudando inglês, trabalhou durante um ano como babá e encontrou o diretor Robert Altman, que a incentivou a seguir a carreira de atriz (Obrigado, Bob!).

De volta à França, começa a estudar arte dramática e ganha alguns papéis na TV, até que David Hamilton a escala para ser uma de suas ninfetas em Premiers Désirs (1984), embora ela já tivesse passado da idade para ser chamada como tal. No ano seguinte, trabalha num filme importante por vários motivos: o diretor é o ótimo Edouard Molinaro, seu nome aparece em terceiro lugar nos créditos, e fica conhecendo seu futuro marido, o sortudo Daniel Auteuil. O filme: L’Amour en Douce. Mas a consagração local só viria em 1986, quando Claude Berri a coloca no papel-título de A Vingança de Manon, sequência de Jean de Florette. Inesquecível é a cena em que dança nua no meio de seu rebanho de cabras. Emmanuelle ganhou o César de Melhor Atriz Coadjuvante por tal papel.

Logo em seguida, pagaria o maior mico quando, ao tentar seguir carreira nos Estados Unidos, participa de um filme chamado Encontro com um Anjo. Claro que ela tinha physique du rôle para ser o anjo, mas entrava muda e saía calada.

Depois de alguns filmes menores, já estava na hora de uma obra-prima. E ela veio em 1990, quando o grande Ettore Scola adapta a novela de Theophile Gautier A Viagem do Capitão Tornado, belíssima declaração de amor ao teatro, em que dividia a cena com a igualmente linda Ornella Muti.

Segue-se um filme ainda maior (tanto em qualidade quanto na duração), A Bela Intrigante, de Jacques Rivette, inspirado em A Obra-Prima Desconhecida, de Honoré de Balzac. Edouard Frenhofer (Michel Piccoli) é um pintor aposentado que resolve voltar ao trabalho ao conhecer a modelo Marianne (Béart), tentando moldar-la do jeito que quiser, obrigando a moça posar nas posições mais desconfortáveis, mas ela não se deixará manipular tão facilmente, criando uma relação de dominado-dominador. Com este filme, Emmanuelle ficou conhecida internacionalmente, não apenas porque aparecia nua durante um bom tempo das suas quatro horas de duração, mas principalmente pelo seu desnudar emocional.

Em 1992, encontra o diretor Claude Sautet, cuja musa era Romy Schneider (com quem ela costuma ser comparada), em Um Coração no Inverno, no qual aprendeu a tocar violino para interpretar uma virtuosa especializada em Ravel e dividida entre o amor de dois amigos. Pelo esforço, foi recompensada com um David di Donatello de melhor atriz.

Utilizando um roteiro nunca filmado por Henri Georges Clouzot, Claude Chabrol analisa, em Ciúme - O Inferno do Amor Possessivo, o caso patológico de um marido convencido, apesar de todas as evidências em contrário, que a bela e jovem esposa o está traindo. Como essa última, Emmanuelle dá um show de sensualidade e ambigüidade.

Desejos Secretos é um filme autobiográfico de Regis Wargnier, no qual ele mostra como sua mãe nunca conseguiu ser fiel ao seu pai. Emmanuelle foi melhor atriz no Festival de Moscou. Essa foi a última vez que atuou com o ex-marido Daniel, com quem tem uma filha, Nelly.

Volta a encontrar Sautet em Minha Secretária, outra demonstração da sensibilidade característica do diretor, sobre uma jovem em processo de divórcio e desempregada que vai trabalhar como datilógrafa para um magistrado aposentado. Entre os dois se estabelece uma relação das mais delicadas.

Em 1996, participa do curta-metragem Le Dernier Chaperon Rouge, bizarríssima versão do conto de Perrault; e da superprodução americana Missão: Impossível, de Brian De Palma, ao lado de Tom Cruise, que foi um estrondo de bilheteria, mas parece não ter agradado a atriz, visto que até agora não voltou a trabalhar num filme americano.

No mesmo ano, nasce Johan, de sua relação com o produtor musical David Moreau. E é, também, manchete na televisão, nos jornais e nas revistas - não por causa de um novo filme ou algum escândalo sexual, mas por ter sido retirada à força de uma igreja de Paris num protesto em defesa dos direitos dos sans-papiers (imigrantes ilegais na França). Hoje é embaixadora da UNICEF.

Apesar do título e de ter no elenco atrizes como Penélope Cruz, Ariadna Gil e, claro, Emmanuelle, Don Juan, de Jacques Weber, é broxante.

O sempre criativo Raoul Ruiz levou às telas uma adaptação do último volume de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, O Tempo Redescoberto, com grande elenco: Catherine Deneuve, John Malkovich, Pascal Greggory, Vincent Perez, Marcello Mazzarella, Marie-France Pisier, Arielle Dombasle, Chiara Mastroianni, Melvil Poupaud, etc. Emmanuelle ficou com o papel de Gilberte, num filme muito bem produzido, reverente e, em termos “ruizianos”, bem-comportado.

Os Destinos Sentimentais, de Olivier Assayas, é visualmente deslumbrante, mas por demais acadêmico.

Na comédia-musical-policial Oito Mulheres, de François Ozon, é a criada Louise e, como as colegas de elenco (Isabelle Huppert, Catherine Deneuve, Fanny Ardant, Danielle Darrieux, Virginie Ledoyen, Ludivine Sagnier, Firmine Richard), tem seu momento de brilho cantando Pile ou Face.

Anjo da Guerra, de André Téchine, acompanha uma mãe e seus dois filhos fugindo de Paris em junho de 1940, pouco antes da invasão nazista. Eles vão para o campo, acompanhados de um misterioso rapaz e se escondem numa casa abandonada. Nesse cenário de medo, miséria e desolação, nasce o amor entre a mulher madura e o adolescente.

Volta a trabalhar com Rivette em Histoire de Marie e Julien, mas o filme nunca chegou ao Brasil.

Nathalie X é uma prostituta contratada por uma esposa (Fanny Ardant) para descobrir se o marido (Gérard Depardieu) lhe é infiel. Apesar do esforço dos atores, a diretora Anne Fontaine tem a mania de tratar assuntos “quentes” de forma um tanto gélida.

Inferno (não confundir com o filme do Chabrol) é outro drama intenso na carreira da atriz. Trata dos conflitos entre três irmãs (Emmanuelle, Karin Viard e Marie Gillain) que carregam um peso do passado (o pai foi acusado de pedofilia). Dirigido pelo bósnio Danis Tanovic, baseado num roteiro do polonês Krzysztof Kieslowski.

Seu último filme exibido em nossos cinemas foi As Testemunhas, nova parceria com Téchine, que mostra as vidas de várias pessoas que vivenciaram uma época, a do surgimento da AIDS, com toda a intensidade possível, sem motivos de arrependimentos, e sobreviveram (ou não) para contar a história.

Depois desse, já foram lançados lá fora mais 3 filmes, sendo o mais digno de nota Vinyan, de Fabrice Du Welz. Um casal sofre com a morte do filho no tsunami da Ásia. Assistindo um vídeo gravado na região tempos depois a mãe acredita ter visto o filho e convence o marido a viajarem até uma região remota da Tailândia para o encontrarem. Emmanuelle mergulha sem medo na dor dessa mãe, carregando com firmeza o filme nas costas.

Uma mulher linda, talentosa, humanitária: essa é Emmanuelle Béart.




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