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Dossiê André Klotzel

Entrevista com André Klotzel
Parte 4: Os anos 2000

Entrevista e fotos por Gabriel Carneiro

Zingu! – Porque filmar Machado de Assis e seu Memórias Póstumas de Brás Cubas?

André Klotzel – Porque eu gostava. Eu reli Machado, o que não fazia desde a adolescência. Li e falei: ‘tenho que fazer um filme!’ As decisões são intuitivas.

Z – E como foi o processo de adaptação do livro?

AK – Quando eu li, falei: dá para fazer um filme. Foi meio no ímpeto a decisão. Esperei duas semanas para ver se não me arrependia do que tinha dito. (risos) O problema era o Machado de Assis, um ícone da cultura brasileira. Fiquei receoso de que houvesse aquela idéia pré-concebida sobre o autor. Primeiro escrevi, para depois me informar sobre ele. Reli o livro de novo, e sentei no computador com ele à mão. A transposição para o papel é minha primeira impressão, o primeiro impulso de fazer o filme. Meu receio era que o impulso inicial se diluísse no meio de muitas opiniões e reflexões em torno do Machado. Queria evitar. Fiz esse roteiro, com o Torero, meu parceiro. Havia falado com ele e perguntado o que ele achava de Memórias Póstumas. ‘É o livro que mais leio’, disse. Ótimo. Precisava de alguém para escrever junto comigo, diálogo. Não sei escrever bem. Escrevo por decorrência de filmar, não porque é meu instinto básico – que é conceber pelo viés da visualização. Eu escrevi o roteiro após algumas tentativas, e o Torero, os diálogos – que é uma coisa que ele tem muita habilidade.

Z – Porque o uso da narração em off em seus filmes?

AK – Não sei. No próximo uso também. É considerado um recurso pouco cinematográfico. Mas é impressionante. Quando vou ver, estou lá. Tirando Capitalismo Selvagem, todos têm.

Z – Como surgiu Reflexões de um Liquidificador?


AK – Ele caiu no colo. Estava com outro projeto, já com dinheiro captado – não tinha off -, que era Corpo e Alma. Aí surgiu Se eu Fosse Você, e a história parecia muito com a do filme Global. Tinha até uma major interessada em entrar no filme. Era a história de duas mulheres que trocam de corpo, num cabeleireiro. Uma era uma dentista recém separada, deprimida, que queria mudar de cabelo e de rosto, e uma mulata toda meio puta que ia se casar com um argentino para ele poder ficar no Brasil. A dentista ia parar no corpo da gostosa mulata – que nem chegava a ser puta, era encrencada e encrenqueira -, e esta ia parar no corpo da dentista toda tímida e retraída. A idéia veio logo depois de A Marvada Carne, mas não cheguei a escrever até o fim e deixei lá. Quando reescrevi, o roteiro ficou bem bacana. Estava com dinheiro no banco e aparece Se eu Fosse Você. E fez sucesso. A major que ia entrar deu pra trás. Achei que ia ser considerado uma cópia, um filme chupado. A idéia surgiu 10, 15 anos antes. Perdi o filme e devolvi o dinheiro. Nesse período, quando estava preparando esse Corpo e Alma, apareceu o Reflexões de um Liquidificador, que é do José Antonio de Souza, um cara que conheci durante Capitalismo Selvagem, envolvido com teatro, em que havia pedido a ele que me ajudasse com uma versão do roteiro. Ele escreveu o roteiro de Reflexões e me ligou, pedindo para eu ler. Quando li, falei: ‘vamos fazer o filme!’ O roteiro caiu no meu colo, a idéia é do José Antonio. Ele reescreveu completamente, 7 ou 8 versões. Fui dirigindo a escritura do roteiro, mas é inteiramente escrito por ele.

Z – E do que se trata?

AK – É um filme de humor negro, narrado por um liquidificador. Ele conta a história de um casal.

Z – Como foram as filmagens?

AK – Foram ótimas. Fazia tempo que não filmava. Em parte, por conta da Superfilmes, por eu estar me reestruturando, por ter de abortar um projeto prestes a ser filmado. Tudo isso foi muito tempo sem filmar. Mas é bacana. Tem uma lenda que diz que filmar é que nem andar de bicicleta, você nunca esquece. È verdade, você sem dúvida sabe filmar ainda. Minha formação de Boca fez com que eu fosse um cara de set de filmagem, adoro, e conhecer o ambiente é muito importante. Foi um grande prazer. Filmei no final do ano passado, por 6 semanas, devo finalizá-lo em dezembro, com previsão de lançamento, espero, que em março de 2010.

Parte 3



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