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O que a Crítica sabe?!
Por Gabriel Carneiro

TOP 10
o que de melhor eu vi que a Crítica viu de pior em 2006

Ou o de que agradável que se lançou que foi esculhambado. Não necessariamente os melhores do ano. Ou os filmes mais subestimados do ano pela Crítica.

Critério de análise: filmes lançados comercialmente no Brasil em 2006.

10 – Brasília 18% (Idem, 06) Dir.: Nelson Pereira dos Santos

Eu não entendo. Um dos maiores mitos do cinema brasileiro faz um novo filme após 11 anos, um filme contemporânea à Era do Mensalão, Corrupção e Afins, um filme que não cai em formalismos, que se renova, que foge dos banalismos tradicionais do gênero, e há uma comoção para ignorar o filme ou criticá-lo piamente. Carlos Alberto Ricelli fica longe por 7 anos, e ninguém fala nada... Nelson relaciona diversos eventos atuais com maestria, inclui todos as caricaturas que o Brasil julga ocorrer e brinca com os nomes com o intuito satírico. E tudo que dizem é que o filme não é sutil. Talvez seja um filme de sua época, fora de sua compreensão. Simplesmente, não entendo.

9 – Memórias de uma Gueixa (Memoirs of a Geisha, 05) Dir.: Rob Marshall

Eu sinto que as pessoas esquecem de todo o filme quando o final é ruim. Creio que a grande razão de terem crucificado Rob Marshall e seu filme seja essa. O final é deveras ruim, clichê e sentimentalóide. Mas não se deve esquecer que a primeira metade da saga da gueixa de olhos azuis, desde sua infância é belíssima. Marshall recria a atmosfera da época, usando ao máximo os recursos que lhe foram cedidos para mostrar exatamente o lado ingrato de algo que é visto com glamour, principalmente hoje em dia. Criticaram o fato do filme ser falado em inglês e se passar no Japão. Isso é ridículo, só porque estamos numa era em que Eastwood e Gibson gostam de fazer o filme na língua original? Não vi ninguém reclamando disso em Ben-Hur, por exemplo, que se passa na antiga Palestina. Memórias de uma Gueixa seria um dos melhores épicos atuais se não tivesse se deixado influenciar pela moral e pela “bela história de amor”.

8 – Rent – Os Boêmios (Rent, 05) Dir.: Chris Columbus

Há uma certa birra em relação a Chris Columbus. Devo ser um dos poucos que realmente gostam de seus filmes. Eles podem não ser inovadores, mas são sensíveis e divertidos. Cinema é também entretenimento, e Columbus é seu cultor. Rent, baseado no musical da Broadway, trata de um tema delicado como amor, drogas e AIDS. Assim, cria o mundo boêmio principalmente pelas canções e suas encenações, jogando momentos distintos num mesmo patamar e criando com louvor um belo musical. Usa momentos sem cenários, e momentos em que ele é fundamental. Com essa brincadeira, Columbus confia plenamente em seus atores-cantores, remetendo a filmes antigos do gênero, sem o ritmo frenético dos atuais. Columbus é um grande diretor de filmes sessão da tarde, e isso é um baita de um elogio.

7 – O Maior Amor do Mundo (Idem, 06) Dir.: Cacá Diegues

Uma persona bem criticada no Brasil é o cineasta Carlos Diegues, sejam pelos seus filmes, seja pela sua postura. Diegues foi o protagonista da declaração que rebaixava a Mostra Internacional de Cinema, dizendo que o Festival do Rio é o único grande festival. Polêmicas à parte, devo dizer que O Maior Amor do Mundo foi meu primeiro contato com o seu cinema, e definitivamente não foi a decepção que me marcou. Acusam o filme de meloso, clichê, global ao excesso, pretensioso... Diegues, na verdade, faz uma bela expressão do romance à lá Romeu e Julieta, uma história de amor deslocado por condições sócio-econômicas e familiares, que invariavelmente passa por lugares comuns, mas para dar uma nova dimensão à sua dramaticidade.

6 – Verdade Nua (Where the Truth Lies, 05) Dir.: Atom Egoyan

Atom Egoyan é um cineasta que cada vez mais chama menos atenção para seus filmes. O curioso que após seu boom na crítica, o homem minguou. Dizem que seus filmes não tem mais força, agridem sua estética e já vi comentários chamando-no de maniqueísta, inclusive. Egoyan preocupa-se, em Verdade Nua, na construção do glamour da época retratada, evocando uma história de sexo, prazer, assassinatos; mas seu glamour não tende o realismo – como Dália Negra, filme lançado aqui quase que na mesma época, rendendo diversas comparações, que, tirando o contexto, parece-me um tanto quanto equivocadas -, é algo mais visual – vanguardista, por que não? -, com exploração de cores e texturas, contrapondo sua estética com noir. De sombrio, só a temática trágica de assassinato sem pudores e ausência de culpa.

5 – Serpentes a Bordo (Snakes on a Plane, 06) Dir.: David R. Ellis

Abdico-me de escrever sobre este. Já que tem um post solitário na Edição #1.

4 – X-Men 3: O Confronto Final (X-Men: The Last Stand, 06) Dir.: Brett Ratner

O maior achado do terceiro filme da saga dos mutantes da Marvel é a subversão e ousadia em relação aos quadrinhos originais. Não há receio em desfazer os sonhos dos fanáticos pelos gibis, em destruir mitos, em sublevar personagens centrais à segunda instância, em matar o herói, em mostrá-lo idiota, em considerar o vilão o grande cérebro. Os dois anteriores seguiam à risca o ideal de mundo Marvel para mutantes – aliás, belos trabalhos também -, mas o cinema é uma nova linguagem e fazer-se uma adaptação como mera reprodução deixou de ser satisfatório desde o fim de Selznick. Quadrinhos são o melhor material para isso, já que brincar com super-heróis é coisa que todos – ao menos os garotos – fizeram na infância, e imaginar uma história que não seja totalmente fiel ao rumo das personagens, era a grande diversão.

3 – Pai, Filhos & Etc. (Père et fils, 03) Dir.: Michel Boujenah

Pai, Filhos & Etc. é mais um filme feito para ator brilhar. Nesse caso o veterano e recém-falecido Philippe Noiret. O filme é um simpático road-movie com descobertas e desculpas, com o mérito de garantir uma agradável diversão de uma hora e meia, sem grandes reflexões e sem grandes compromissos. Sua terceira posição se dá por condenarem o roteiro, dizendo-o ser pouco complexo e um tanto fugaz. A questão é que o filme é uma comédia familiar, dotado de sensibilidade e de momentos dramáticos, numa incursão cômica por caracterização. Noiret brilha como pai turrão que quer a qualquer custo fazer as pazes entre os filhos, mesmo que tenha que dizer que está à beira da morte. Situações hilárias, e momentos comedidos garantem o sucesso da estréia de Boujenah na direção.

2 – Soldado Anônimo (Jarhead, 05) Dir.: Sam Mendes

Inexplicavelmente desde que ganhou o Oscar com seu primeiro filme, Beleza Americana, Sam Mendes parece estar cada vez mais em baixa. Estrada para Perdição – o seu melhor – angariou algumas menções entre os críticos, principalmente sobre a excelência técnica. O seu terceiro longa, essa ótima amostra de que foi a Guerra do Golfo chamada Soldado Anônimo, foi um completo fracasso. Mendes foi menosprezado, assim como seu filme, que, com uma excelente performance de Jake Gyllenhaal – a melhor desde Donnie Darko -, critica a guerra pelo petróleo, numa época em que justamente essa guerra estava de volta. Sem medo, abusa de cenas de marasmo, de elucubração governamental, e do desperdício de vidas. O que de melhor em quesito filmes de guerra se teve nos últimos anos.

1 – A Máquina (Idem, 05) Dir.: João Falcão

A Máquina é cinema de paixão. Um filme que se reinventa o cinema brasileiro de ficção, seja pela temática, seja pela estética. A película não pretende ser realista, mas sim buscar um mundo de fantasias, de excentricidades, de romances espetaculares, coisa muito escassa no cinema daqui. O uso de um cenário arcaico e primário, uma fotografia muito colorida com um quê de desgaste, casebres rústicos – aliás, a montagem dos cenários lembram-me muito o aspecto de Dogville -, uma trilha sonora que varia desde a música regional, até a música popular e nomes da poesia musical, figurinos característicos... Tudo isso para criar um mito para uma cidade pernambucana minúscula, a cidade de Nordestina. Todos querem sair dessa cidade, querem conhecer o mundo, e em troca de uma paixão, é que se ativa uma máquina do tempo, justamente para se dar o mundo em troca. Renova-se aqui o romance, que não é mais fruto de clichês, mas de situações novas, de misticismos, de descrenças. Mariana Ximenes e Paulo Autran estão em seu auge de carisma e interpretação. Para mim, o que se tem de mais próximo em carne e osso das animações de Miyazaki.




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